SCHULZ, O PAI DE SNOOPY (O GLOBO – 2020)

O PAI DE SNOOPY

'Charlie Brown tem muito das minhas decepções da infância'

O Globo resgata uma entrevista com o criador de 'Penauts', que morreu há 20 anos
 
O americano Charles Monroe Schulz em imagem de 1955, quando tinha 33 anos | Foto de arquivo

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Charles M. Schulz, na época de sua aposentadoria, em 1997| Foto de arquivo/AP

12 fev. / 2020 – O americano Charles Monroe Schulz tinha menos de 30 anos quando desenhou os primeiros traços da série Peanuts, que tornou famosos no mundo todo os nomes de personagens como o menino Charlie Brown e o cachorro Snoopy, para não falar de outros, como Linus e Lucy. Em seu auge, as tirinhas de Peanuts estava sendo publicadas por 2600 jornais em 75 países, com um número estimado de 355 milhões de leitores. Peanuts também obteve enorme sucesso na TV, com animações como O Natal de Charlie Brown. Em homenagem aos 20 anos da morte de Schulz, que faleceu no dia 12 de fevereiro de 2000, vítima de complicações causadas por um câncer no cólon, o Blog do Acervo reedita uma entrevista publicada pelo GLOBO no dia 1º de novembro de 1977, quando o cartunista se dedicava ao lançamento do especial É seu primeiro beijo, Charlie Brown. Veja, abaixo, os principais trechos da conversa com a jornalista Sônia Nolasco-Ferreira, que aconteceu em Nova York.

 TRABALHO AUTOBIOGRÁFICO

"Charlie Brown tem muito de mim mesmo, das decepções que esofri quando era garoto e me metia a fazer coisas que não conseguia. Quase todas as minhas ideias são lembranças da infância, gente miúda que conheci, meninas mandonas como Lucy e crianças sensíveis como Linus. Eu era solitário, tinha problemas de relacionamento com as pessoas que faziam tudo depressa e não sofriam de insegurança congênita. Até hoje, tenho as melhores ideias quando estou triste, introspectivo, com nostalgias".

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A turma da série 'Peanuts', sucesso criado por Charles Schulz | Imagem de reprodução

SONHO DE SER CARTUNISTA

"Não sei por quê, mas parece que tenho o dom de traduzir as pequenas coisas da vida de forma que as pessoas reconheçam, se lembrem e riam. Sempre quis ser cartunista, desde garotinho. Gostava de desenhar e ver meus desenhos impressos. Quando eu era pequeno, a maior atração desta vida era ir ao cinema, sábado à tarde. Acompanhavámos todos os seriados de cinema e os quadrinhos. Comprava para mim quatro jornais aos domingos. Fui fanático por Walt Disney, copiava Mickey Mouse e Pato Donald em todos os cadernos que tinha na frente, incluindo os cadernos dos colegas. Adorava Popeye, desenhava a cara dele nas capas dos livros escolares. Não haveria outra carreira para mim. Se a ideia dos Peanuts tivesse fracassado, eu teria inventado outra e mais outra, até fazê-la pegar".

O PODER DOS QUADRINHOS

"Acho que um cartunista tem aresponsabilidade de ser decente, de levantar a moral. Adoro meu trabalho, deve ser por isso que os outros também gostam. Me sinto feliz da vida quando estou desenhando. Fico frustrado quando alguém diz que os quadrinhos são formas pobres de expressão, pois eu acho que são maravilhosas, que comunicam em muito maior escala".

A primeira tirinha da série 'Peanuts', de Charles M. Schulz | Divulgação

LINUS, O FILÓSOFO

"Adoro desenhar Linus, com os cabelos espetados para cima, quando Lucy acabou de berrar com ele. Linus me dá milhões de ideias. Este é o personagem mais filósofo da turma, o que olha para um céu estrelado, durante uma hora, em silêncio, e diz a Charlie Brown; "Faz a gente se sentir insignificante, nâo é?' e Charlie não entende.

PIADA OU FILOSOFIA

Crianças não saem tomando nota de coisas engraçadas para soltarem em certas ocasiões, Dizem o que pensam, è pode sair como piada ou filosofia.

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A estreia da série 'Peanuts' nos jornais dos Estados Unidos, em 1950

OS MISTÉRIOS DA INFÂNCIA

"Criar filhos é um mistério para mim (Schulz era pai de cinco filhos). Quanto mais eles crêscem, mais perplexo eu fico. Pais e professores estão sempre me consultando sobre crianças, como se eu fosse uma autoridade. Recebo centenas de cartas por semana, isso me preocupa. Não me sinto qualificado para dar conselhos sobre como criar filhos. Tive minhas próprias impressões e tento infundi-las em meus personagens de quadrinhos. Acho que a maior carga que os pais se impõem é a de terem medo de influenciar os filhos em cada frase que dizem. A verdade é que crianças e adolescentes tomam muitas vezes atitudes idiotas, é normal. O problema deles continua o mesmo de outras gerações: aprender a crescer. Não é fácil nem agradável".

 

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