Os 80 anos de Robert Crumb (1943-2023)

robert_crumb 30 de agosto de 1943, os 80 anos de Robert Crumb: o cartunista do underground
(Mário Pazcheco)

 Embora eu possa gostar muito de indivíduos específicos, a humanidade em geral me enche de desprezo e desepero. (Robert Crumb - em sua autobiografia póstuma)

 Agora, quando entrei em contato com a contracultura americana e conheci o Robert Crumb, através do Luiz Gê, achei demais. Pra mim o Crumb era o guru daquele movimento. Eu guardo até hoje com orgulho o número 1 da revista ZAP. Ele representa a possibilidade de você desenhar e escrever o que você pensava. Inclusive ele soube ironizar a esquerda com o Fritz the Cat. Ele era pirante! (Paulo Caruso)

 No CONIC, na loja de quadrinhos 'Kingdom Comics', encontrei o fanzine 'EI!' com filosofia, música e arte. Sentado esperando a cerveja no meio das filipetas me levaram o fanzine que tinha o rosto do Crumb na capa... Podiam pelo menos ter esperado eu ler... 

Um mês depois, finalmente eu consegui ler o fanzine e neste momento surgiu a motivação pra este texto de aniversário.

Leo Saraiva me mostrou uns números sem as capas da revista 'O Grilo' e cuidadosamente recomendou-me que lesse e devolvesse que não eram dele... Lá eu descobri, Angelfood McSpade, Mr. Natural, Snoid, Fritz the Cat; Whiteman...

1985, uma década depois da extinção da 'O Grilo', Robert Crumb voltaria às paginas de uma revista brasileira, nas cinco edições da revista 'Porrada' (com excelente textos do ligado Franco de Rosa) Crumb era o carro chefe com seus clássicos quadrinhos... Depois destes números surgiu uma nova revista 'As aventuras de R. Crumb' da Press Editorial da qual saíram dois números: no último número, vinha uma elucidativa entrevista e uma introdução definitiva de JFB e no número inicial, vinha o encontro sexual da família Blow; Joe, o pai, Lois a mãe e os filhos Joe JR. & 'Sis' é de arrepiar os cabelos do escroto, "irmãos apaixonados e canais uretrais mal desenvolvidos por penetração de testículos animais, perdem! Outra historieta de incesto, o levou às barras dos tribunais e a posterior condenação por obscenidade, em Nova York.

Era uma vez uma família americana dos anos 50. O pai, um reacionário veterano de guerra, gostava de descontar sua agressividade espancando e insultando as crianças. A mãe era viciada em remédios para dormir. O casal teve vários filhos... Foi nessa família que nasceu Robert Crumb.
    
Do Próprio Bolso Crumb é a nossa maior influência - Edvar Ribeiro - que é um fausto ilustrador com uma pupila em Crumb e outra em Warhol, arte-finalizou a nossa opulenta logomarca - nosso maior tributo ao incomum artista.

 De acordo, com o crítico/historiador dos quadrinhos, Álvaro de Moya e a extinta revista de quadrinhos, 'Animal': "Robert Crumb não recebeu nenhum 'royalties' por obra publicada no Brasil, já que ele foi por muito tempo uma das vítimas preferidas dos pirateadores locais... E os jornais e revistas esporadicamente nos mantiveram informados sobre a errática carreira do desenhista. Trajetória coberta por outros veículos como a www.fantagraphics.com e www.tcj.com. E em território brasileiro em dezembro de 2002, a Conrad Editora em edição especial lançou 'Fritz the Cat'

 Há 13 anos um anúncio que trazia um auto-retrato irritado de Crumb tampando os ouvidos para não ouvir MTV, foi veiculado em revistas como a 'Rolling Stone'.
No álbum espanhol 'Meus problemas com as mulheres' (título de uma historieta sua). Em 66 páginas musicais reuniram-se algumas HQs sobre música criadas por Robert Crumb.

 Histórias de bluesman em meio a histórias de terror e infelicidades e pactos na encruzilhada dão o tom realista, dramático e desesperador que nos remete aos seus 'acidcomics' mas substituindo o ácido pelas blue notes - o leitor ouve os gemidos, o êxtase e as súplicas em ambientes ausentes de esperança.

 Musicalmente Crumb odeia a música moderna e, na sua acepção toda a música produzida depois de 1940 é "moderna". Uma de suas HQs se chama "Que fim levou a boa música dos nossos avós?", e nela o próprio Crumb aparece como personagem para falar mal de Bruce Springsteen.

 Em 1994, Robert Crumb abriu as portas de sua casa a um amigo de longa data, o cineasta Terry Zwigoff que entrevistou mãe, irmãos, mulheres e namoradas. Um relato cru e honesto de sua obra e criador. E os pesadelos ainda não haviam acabado. Charles seu irmão esquizofrênico com quem havia começado a desenhar e editar gibis nos anos 60, se suicidou pouco depois de terminadas as filmagens.

A nova onda conservadorista americana fez Robert Crumb trocar a sua fazenda na Califórnia e montar uma banda no velho estilo oeste no sul rural da França onde mora atualmente ("em uma casa que trocou por uma pilha de desenhos"), com sua esposa e filha. Recentemente o 'Museée de L'erotisme', em Paris, exibiu seus trabalhos. Seu último trabalho editado é o segundo volume da revista 'Art & Beauty' onde Crumb desenha as belezas das campeãs femininas. Até hoje Crumb sente aversão pela cultura e o american-one-way-of-life!

Descansar apontar fogo! Em 2003, a Conrad Editora colocou nas bancas, uma bela edição especial da revista "ZAP" ("o gibi que te deixa ligado!") Com um belíssimo artigo assinado por Rogério de Campos.

A biografia de Robert Crumb, por ele mesmo
Bob era um garoto míope, desengonçado, introspectivo, complexado e cheio de problemas com a repressão paterna e a loucura da mãe. Um dia, ele resolveu dar rosto, corpo e movimento aos seus traumas. Sua arma mais poderosa contra o mundo externo era a ponta de um lápis. Mas a revolta em relação à sociedade norte-americana reacionária nunca deixou de existir. A vingança? Tornar-se um cartunista famoso. Hoje, do alto de seus 40 anos de carreira, é o próprio Robert Crumb quem está bem na mira do humor sarcástico característico de sua obra. Minha Vida, recém-lançado pela Conrad, traz as melhores tiras do trabalho original do artista retratando passagens de sua existência nada convencional. Há uma autobiografia mais recente do artista, também revista por ele, lançada recentemente nos Estados Unidos.Em Minha Vida, reunindo material de 1969 a 1994, o próprio Crumb aparece em situações inenarráveis. "Cara, eu tô com o diabo no corpo hoje! Não dá pra saber que tipo de desenho depravado e doentio vou inventar!", o autor avisa, logo no primeiro quadrinho, na história As Confissões de R. Crumb. E não espere que ele seja bonzinho: não há espaço para auto-indulgência ao longo das 136 páginas do livro. Além do conteúdo, no mínimo, genial, a obra possibilita a visualização da evolução técnica e ideológica da trajetória do artista, considerado por muitos um dos maiores do século 20. Não é para menos: nascido em 30 de agosto de 1943, Crumb começou a carreira nos anos 60 na revista Help, dirigida por Harvey Kurtzman - criador e editor do período mais anárquico da famosa revista Mad. Tempos depois, o cartunista deixou Nova York para morar em São Francisco, onde encabeçou o movimento das revistas underground dos EUA. Autor de verdadeiros clássicos dos quadrinhos, como Zap Comix, Mr. Natural, Fritz The Cat e Blues, Crumb casou-se com Aline Kominsky, também cartunista, e hoje vive no interior da França com a filha do casal, Sophie. Seu próximo projeto é uma versão ilustrada do Gênesis.

Agencia Estado, 19 de dezembro de 2005 |

robert crumb 

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