NÓS COMPRAMOS TUDO COM O NOME WARHOL (2010)
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Lançamentos comprovam longevidade de Andy Warhol como fenômeno pop
SILAS MARTÍ
da Folha de S.Paulo
12 jan. / 2010 - Andy Warhol gostava de se olhar no espelho para não ver nada. "Um crítico disse que eu era o nada em si, o que não ajudou muito", escreveu o artista. "Mas, se perguntassem qual é meu problema, eu diria: pele."
Homem que se tornou o nome mais conhecido da arte no século 20, Warhol odiava a própria cara. No mundo de celebridades que ajudou a arquitetar, criou um personagem magnético para ocultar suas falhas. Virou marca rentável até hoje.
Quatro livros lançados nos últimos meses do ano passado exploram o mito Warhol e repetem nas livrarias o alvoroço provocado pelas obras do artista pop em museus e galerias.
"Andy Warhol", de Arthur Danto, e "Pop - The Genius of Andy Warhol" (pop - o gênio de Andy Warhol), de Tony Scherman e David Dalton, são análises biográficas do artista. Enquanto o primeiro traça um paralelo entre Warhol e nomes atuais, como Jeff Koons, Damien Hirst e Takashi Murakami, o segundo mergulha nos detalhes da década de 1960, a fase mais produtiva de Warhol.
"I Sold Andy Warhol (Too Soon)" (eu vendi Andy Warhol cedo demais), de Richard Polsky, dá a dimensão de mercado da história, narrando o aumento dos preços das obras do artista em leilões e galerias.
Lançado no Brasil há dois anos, "A Filosofia de Andy Warhol", primeira tradução para o português do livro escrito pelo artista, se junta a "Popism" no segundo semestre, livro que ele fez com Pat Hackett, que redigiu seu diário a partir de conversas telefônicas.
Ele mesmo tinha preguiça de escrever. Se nas festas em Nova York Warhol era a figura midiática, de óculos escuros e cabelos arrepiados, não escondia o lado frágil quando estava entre seus assistentes. Era inseguro, inepto. Dependia até das duas empregadas guatemaltecas, que recolhiam os embrulhos de doces e chocolate em torno de sua cama todos os dias pela manhã.
"A maior coisa que ele fez foi criar esse personagem, como Buster Keaton ou Charlie Chaplin, um tipo clássico", diz David Dalton, autor de "Pop", que foi assistente do artista. "Ele criou uma imagem indelével, virou o oposto do que era."
Dalton documentou a construção e o sucesso dessa segunda pele e agora vê seu livro chegar às listas dos mais vendidos."Ele era como o Mickey Mouse", diz Arthur Danto. "Ninguém sabia como era a cara dos outros artistas, mas todo mundo consegue desenhar o rosto de Warhol." No auge da fama, o artista chegou a contratar um sósia para dar palestras e fazer aparições em seu lugar.
Foi por seu "charme profundo", nas palavras de Danto, que Warhol chegou à condição máxima de celebridade, despertando adoração e ódio. Anos antes de John Lennon, sofreu um atentado. Levou tiros calibre 32 no baço, estômago, fígado, esôfago e nos pulmões. Sobreviveu, sabendo que passava a ser também um mártir.
Pouco importa que Valerie Solanas, a psicótica autora dos disparos, não tivesse o artista como alvo. "A beleza ameaçada fica mais bela", escreveu Warhol após o episódio. "Se eu não fosse famoso, não teria levado tiros por ser Andy Warhol."
"Ele é como os Beatles", diz Richard Polsky. "Todo livro lançado sobre ele é um sucesso de vendas, as pessoas compram tudo com o nome Warhol."
Tanto que, quando Polsky comprou uma obra de Warhol, escreveu um livro narrando o episódio. Um colecionador finlandês ficou de olho no trabalho até que o autor decidiu leiloar a obra descrita no livro cinco anos depois. "Ele tinha lido o livro, pegou um jatinho e veio comprar o quadro em Nova York", lembra Polsky, que fez outro livro sobre a venda.
Entre as muitas teorias e poucas explicações concretas para o fenômeno Warhol, ele mesmo resume a questão numa frase: "Isso é porque as pessoas, mais do que qualquer outra coisa, querem estrelas".