COSMOcoca cosmoCOR: romper o entorpecimento
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COSMOcoca cosmoCOR: romper o entorpecimento
por: Mário Pacheco
foto: Bob Wolfenson
Me sinto sentado em cima de um barril de pólvora, enrolado em bananas de dinamite. (Hélio Oiticica)
Tecos noturnos e imagens do inconsciente
O Projeto Cosmococa divide-se em 4 ambientes interativos de caráter lúdico que absorve os ícones da cultura pop para criticar a ordem capitalista. “Necessidade vital de desintelectualização”.
Em março de 1973, devido à sua participação na cerimônia do Oscar, o cineasta espanhol Luís Buñuel se tornou capa do suplemento de cultura do jornal “The New York Times”. Neste mesmo mês e nesta pré-condição explosiva, O artista elástico oz, Hélio Oiticica ao lado do cineasta Neville D’Almeida pariram a primeira CC1 (Cosmococa). A foto do jornal serviu para veicular a afirmação e a associação da navalha ocular do cão andaluz ao vislumbre oxigenado de Marylin Monroe; o anti som cagista de John Cage reverberando nas entonações primais de Yoko Ono, tendo como trilha ambiente o disco “War Heroes” com a face do guitarrista Jimi Hendrix à fina máscara sensorial riscada à giz.
No final dos anos 60, a cocaína a chamada droga dos reis, difícil obtê-la estava em toda parte. O tráfico rapidamente trouxe acesso a ela.
Todos os retratos da Cosmococa são salpicados com a iluminura branca do pó avançando septo nasal adentro; retratos radicais perpetuando o escândalo.
Do apartamento/ninho/laboratório em que foi processada para a instalação operava-se um complexo movimento simultâneo de paragens, slides, redes de dormir – (sleeping bags). Pintura da alma trilhas pinchadas de branco-sonoras da percepção.
Ilha narina
O experimento Cosmococa pratica o rompimento da costumeira relação passiva expressa diante da arte conformista – transformando o ato/ator caricato em espectador livre do trabalho de agentes externos -, a pesquisa cada vez mais livre acerca da acomodação e da espacialidade, a utilização de procedimentos e recursos relativamente estranhos aos frios corredores do mundo das artes.
“Enquanto Hélio era vivo, Cosmococa nunca foi exibida publicamente porque era muito subversiva. Com esse trabalho pretendíamos mostrar a força da cultura latino-americana”. Neville D’Almeida.
Na obra “in progress” de Hélio Oiticica que havia subido os morros e se tornado um excelente passista de samba, a concepção de “ambiente” é mais importante que os desenhos salpicados de cocaína. “O Hélio colava sua obra transgressora com sua vida, não menos. Nisso ele repetia o feito dos dadaístas”. Wally Salomão.
Cosmocápsulas
Em setembro de 2002 – foram encontrados 12 filmes em Super-8 com os artefatos à mão – sensitivos – curtidos – elos de programação do experimento Cosmococa sob o olhar novíssimo de Neville.