Aos desesseis
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Quando se tem dezesseis anos, o mundo é muito pequeno para tanto sonho e desejo. Não há espaço para pensar em doenças, em fatalidades, em impossibilidade alguma. Nessa época, a gente acredita piamente que nada de mau pode nos acontecer e que viver, mesmo com aquelas inevitáveis chateações da adolescência, é uma festa sem compromisso, interminável. Lembro que, apesar de ter começado a trabalhar cedo, como oficce-boy (leia-se menor estagiário) do Banco do Brasil, a atividade laboral (chique falar assim!) me era prazerosa. Até nisso a adolescência é fantástica, pelo menos pra mim, pois achar prazeroso o ofício de boy de um banco é no mínimo, como dizia o “Jovem” Chico Anysio, coisa de jovem, mãe! Os discos, bolachões maravilhosos de capas ainda mais fantásticas (nem todas, é claro) eram meu sonho de consumo. Havia os tênis, também cobiçados, mas o vinil do Led Zeppelin, álbum duplo, fotografia de um prédio com suas janelinhas cortadas na capa, era puro prazer. "Physical Graffiti" era a jóia da minha coleção de LPs. Outros discos que nos seduziam pela capa eram os do Pink Floyd, do Nazareth. Quem não se deliciou com a capa deslumbrante de "Tarkus", do Emerson, Lake and Palmer, com a cara enorme no disco do King Crimson, as paisagens surreais dos álbuns do Yes, ou não ficou maravilhado com capa tenebrosa de "Sabbath Bloody Sabbath", do bom e velho Black Sabbath? O espaço da adolescência ainda é lúdico, e esse limbo cobra um preço. Aos dezesseis, mesmo que a realidade nos chegue pela carência do bolso e pelos bancos escolares, pela necessidade de algo aparentemente inevitável, sempre resta o território do desejo e do delírio, e esse é o campo de nossa deliciosa batalha de viver.
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