Iolovitch expõe no jardim de casa

"Estão tentando impingir este tipo de mundo para nós. Temos que chorar muito. Não aceitemos viver esta vida sem arte. Sem poesia, sem o verdadeiro amor que une os seres que se sentem separados egosticamente que pelo corporativismo religioso, fillosófico ou político ou por outro motivo qualquer".

Paulo Iolovitch, O Azul - Brasília, 21 julho / 2010

 

Artista plástico deixa o circuito boêmio e expõe no jardim de casa

Ana Clara Brant - Correio Braziliense

Publicação: 27/08/2010 07:00 Atualização: 27/08/2010 08:04

O azul de Brasília mudou. Não estamos falando do céu da capital federal cantado em verso e prosa. Mas de Paulo Iolovitch. Artista plástico, 74 anos, paulista de nascimento, gaúcho de formação e brasiliense por adoção. Mora na cidade desde 1962, quando veio atrás de um grande amor. Depois de 19 anos, Azul, como foi apelidado pelo amigo Paulão, do bloco carnavalesco Pacotão, abandonou os bares. Ele ficou conhecido na cidade por percorrer botecos com suas telas a tiracolo. Praticamente todas as noites fazia o circuito boêmio passando pelo Bar Brasília, Mercado Municipal e finalizando sempre no tradicional Beirute. “O bar sempre foi um ótimo lugar para vernissage. Quem frequenta, tem dinheiro, já que está gastando ali com seu aperitivo, seu tira-gosto, além disso, está receptivo à arte É bom para o artista e para o cliente”, conta.

 

 

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Iolovitch: "Gosto muito de bar, sempre gostei. Mas já estava desanimado com isso. Não sei se é um abandono definitivo"

 

 
 
Entretanto, uma tendinite na perna surgida no começo do mês antecipou sua vontade de abandonar os bares. O problema de saúde, já sanado, só antecipou a decisão. “Gosto muito de bar, sempre gostei. Mas já estava desanimado com isso. Não sei se é um abandono definitivo, mas sinceramente, não estou sentindo falta”, revela.

Mas Azul encontrou uma nova maneira de expor e comercializar sua arte. Montou uma galeria a céu aberto bem no jardim da quadra onde vive, na 304 Sul. Amarrou uma corda entre as árvores e pendurou várias telas para que os passantes e moradores da região contemplem e adquiram suas obras. “É a melhor galeria de arte do mundo. Precisava continuar vendendo as minhas pinturas, ganhar dinheiro, e aí veio essa inspiração. Você encontra as pessoas, elas dão sugestões. E a cada dia temos uma exposição diferente. Porque a todo instante, troco as telas. Dou uma espiada pela janela, aí de repente desço, substituo uma tela ou outra. É ao mesmo tempo uma exposição de arte e uma forma de intervenção urbana”, destaca.

E o movimento é constante durante todo o dia. Do alto da janela do terceiro andar do prédio onde mora há 40 anos, o artista negocia com os possíveis compradores. Curiosos de todas as idades que ficam intrigados com os varais carregados de arte. “Você gostou? Fui eu quem pintei. Posso fazer duas (telas) por R$ 50 pra você. Preço especial”, grita Azul.

“EU SOU MUTANTE”
O apartamento onde mora é um mix de residência e ateliê. Paredes pintadas por ele, quadros de artistas consagrados como Portinari e Guignard se misturam a imagens de santos e recortes de revistas com mulheres seminuas. Brinquedos espalhados pela casa, miniaturas de carrinhos e, claro, muitas telas. Pelo menos 5 mil delas enchem a sala e os quartos de colorido e arte. É nesse local em que ele vive e sustenta a família formada pelos dois filhos, Ana Paula e Irineu, o neto Michael, e onde recebe as visitas constantes de uma grande companheira, Ruth, também artista plástica. “É minha musa”, assegura Azul que ficou viúvo, há 31 anos, da gaúcha Ivone, mãe de seus filhos. “O que temos é uma amizade contínua”, rebate ela.

Desenhista, gravurista, pintor e, sobretudo, vendedor de rua, como gosta de frisar, Azul já expôs em galerias brasileiras e estrangeiras ao longo dos seus 60 anos de atividade. Gosta de rememorar a todo instante os seus mestres de vida e aprendizado como o pintor cearense Francisco da Silva, e o antroposofista (aquele que estuda a natureza espiritual do ser humano) carioca Frederico Müller. Azul não para nunca de pintar. É uma ação permanente e, mais do que isso, sua vocação. “Sempre quis ser artista. Pinto todos os dias. A inspiração vem e aí me debruço sobre as tintas. Faço de tudo. Agora estou muito empolgado com meu netinho. O Michael tem apenas 7 anos e é já é um artista. Estou fascinado com o trabalho dele e isso me renova. Expor a céu aberto é uma nova fase na minha vida e espero que inspire outros. É bom mudar, evoluir. Sou um mutante”, resume.

 

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