O pires da miséria de hoje, é o assassinato  do congolês Moise Mugenyide, mais uma vítima do cartel impune de assassinos que dominam o Brasil

Nas férias, passo o mês ensaiando para voltar ao serviço e não perder a hora:
Eu devia estar contente/Porque eu tenho um emprego/Sou um dito cidadão respeitável/E ganho 150 reais/Por diária – no interior da cabeça no ouvido interno – estes versos disfarçam a minha total inadequação e falta de adaptabilidade, – Me fodi, me acomodei. Coloco um par de roupa de tergal, verde com preto e sigo. A primeira pergunta é – Viajou?
– Só se for de trem. Devo o banco 1, o banco 2, o cheque especial está estourado. Mas deixemos de tragédias. Este resumo significa que eu não estou motivado a nenhuma mudança e viva quem vencer a eleição. O time está desfalcado, um sumiu desde segunda-feira. O chefe pegou covid e contrachefe está de férias. Novamente me prometem as sonhadas 40 horas, em que eu terei que lidar com gente. – Faço o serviço de mesa, mas lidar com gente não consigo. De boa, terei que atender no meu telefone em diversas horas do dia e da noite para regularizar pendências. De madrugada ou em fins semana liberar um guincho ou trocar pneus (pense em gente folgada, mas eu também sei ser). Tudo bem, o que acontece é que eu desisti das 40 horas, não sei se tiro primeiro a meia ou o tênis (deixa prá lá, a unha do pé tá grande). Ninguém mais toma café, pois a garrafa perdeu o calor. Quando não falta pó, falta açucar, falta quem faz... Deixam a porta do microndas aberta e o prato giratório está sujo como quem come farofa. Quem poderia limpar não apareceu na sala, mas é apenas uma observação. Fecho a tampa do microndas e peço que nunca precise aquecer a comida ali. Na rodinha, somos eu e três vigilantes (todos são ou foram bolsonaristas), eles fazem parte da ativa, da ação e tratam muito bem o povo e são confiáveis. Digo que mais uma vez em dezenas de vezes que o solta saldo do BRB está quebrando, um deles liga ao motoqueiro que atende estas solicitações. Há uma parede com uma longa rachadura (é inquietante). Parte do estacionamento diminiuiu, pois estão pintando um grupo gerador e isolaram. Isto quer dizer que a disputa por vagas será enorme. O nosso relógio de ponto está quebrado desde o dia 29. São algumas constatações. Ligo o ônibus e o caminhão para recarregarem a bateria do final de semana parado. Agora seremos dois homens que terão que dar conta do básico. O mundo das ideias sempre fica com o chefe ainda bem. O estômago roncou e peguei uma carona para o café na Vila Planalto. Desde o ano passado, a lanchonete não conserta o cabo da televisão, então não vemos os buracos do diário. Para mim, esta quarta era como uma segunda-feira. Os que na lanchonete não ostentavam cara de fome e sim cara feia, me chamaram a atenção é melhor tomar o desjejum em silêncio. Porém, o quase conhecido Moise, vem à baila dos fatos. O atendente faz uma premissa de que ele procurou a própria sorte e que os seguranças são justos, "os caras do tribunal". De que entre os africanos, os congoleses são os mais folgados etc. Engoli o pão de queijo assado pelo diabo, calado. Depois de aplicar a tese de advogado de que Moise foi responsável pel a própria barbárie. Pensei em palestras, em curso de cidadania. Não adianta! A cidadania morreu e com ela Moise morreu de novo. Um pintor de paredes, de vez em quando ataca a UnB, "dos maconheiros". Às vezes, eu respondo – Você está por fora. Tem fuminho tem, mas plantação é muita fertilidade de adubo na cabeça. Não falam do que realmente pode ter, por que eles moram ali e você vota neles. O Negão dá um sorriso. Mas não é todo dia que eu quero debater. É mais sábio falar do resultado do jogo do bicho e uma loteria de futebol muito interessante que tem palpites como bola na trave ou penalty etc. O infeliz comentário sobre o Moise, foi feito por um atendente preto e eleitor da esquerda. Eu me calei. E por dentro me dóia, até quando vou ter que aguentar esta merda?