Krautrock (R. Hoffmann)
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Krautrock
(R. Hoffmann)
Na década dos 60, a música anglo-americana dominava o mercado do Rock e da música Pop na República Federal da Alemanha. Grupos como The Rolling Stones e Fleetwood Mac empreendiam tournées de grande sucesso na Alemanha, vendendo aqui disco em massa. Grupos alemães que quisessem ser de alguma forma reconhecidos, tinham que copiar o estilo dessas bandas. Só no final da década de 60 é que se formaram alguns grupos alemães com um estilo próprio. Nesta época, bandas como Amon Düül e Can lançavam seus primeiros discos e promoviam as suas primeiras tournées. Nos meados da década de 70, mais numerosos eram os grupos alemães que conseguiam se impor internacionalmente. Tangerine Dream e Kraftwerk se destacaram nas Paradas de Sucesso, não só na Europa, como também nos Estados Unidos. E no Brasil como na Austrália também eram procurados seus LPs. Finalmente podiam esses grupos agora viver somente da música - de uma música que na sua maioria liga, de forma refinada, instrumentos eletrônicos aos conhecidos aparelhos de rock e sons teimosos. Bandas alemãs começavam também regularmente a organizar tournées no estrangeiro; o cachê aumentara de 2.000 marcos por noite para 10.000 marcos; e, a venda de discos, de 10 mil para 100.000. Depois de tantos anos sem que os grupos alemães tivessem qualquer reconhecimento do público, parece que a música do Rock alemão consegue se impor internacionalmente.
Paris, no ano de 1976, na famosa sala de concertos Pleyel. Dois mil espectadores, na sua maioria jovens, aclamam o músico berlinense Klaus Schulze, antigo membro do Tangerine Dream e do Ash Ra Tempel, e desde 1971 solista de eletronic rock. Schulze, numa vestimenta branca de meditação, cumprimenta os seus fãs com o sinal de um V e senta-se junto aos seus instrumentos: dois grandes sintetizadores ARP e um órgão. Das suas máquinas de som saíam tons como de flautas, pianos, trompetes, violinos e coros a muitas vozes. Klaus Schulze, ao tocar, volta as costas ao público, mas isto não parece incomodar os jovens de 15 a 18 anos, dos quais muitos ainda ginasianos. Atentos, eles escutam o borbulhar e o trovejar das máquinas de Schulze. Le Rock allemand, como ele é apresentado aqui, é muito solicitado pelos jovens franceses. Depois do concerto parisiense, Schulze fez mais 17 apresentações na França com um sucesso considerável. Além disso, ele ganhou, nesta mesma época, o prêmio da Academia Charles Cros na coluna ‘Tendências Atuais’ pelo seu LP "Timewind".
Quando lhe perguntei quais os motivos pelos quais ele gosta do rock de Schulze, respondeu-me um jovem parisiense: “Tem-se que entender no mínimo um pouco desta música, como ela é construída, rítmica e harmonicamente. Ela é por vezes complicada. Isto me agrada. As formações inglesas se limitam mais ou um pouco menos ao rock. Os grupos alemães abrem uma nova dimensão”.
Uma ginasiana acha: “Muitos franceses apreciam uma música que estimula a fantasia - e isto são os grupos alemães que mais oferecem. Os franceses querem sonhar com esta música”. Em muitos lugares surgem em Paris bandas alemãs de rock. Em inúmeros muros de construção estão colados cartazes para concertos do Embryo e Ex-Magma; nas prateleiras das lojas de discos, nos lugares proeminentes, encontram-se as importações da República Federal da Alemanha: da Neu, Cluster até da Lokomotive Kreuzberg.
Nos 5.000 cafés parisienses ecoa dos autofalantes o sucesso "Radioactivity" do Kraftwerk. A imprensa especializada em música relata sempre, contínua e minuciosamente, coisas do rock allemand. Algo também parece ter desempenhado um papel neste desenvolvimento: na França, já havia muitos anos, Le Rock allemand é um prognóstico secreto entre os entendidos do tema. No início da década dos 70, exatamente em Paris, grupos alemães como o Amon Düül II foram recebidos, com simpatia. Naquela ocasião, os grupos não souberam aproveitar a chance de despertar o interesse de um grande público.
Um motivo importante para o sucesso das bandas alemãs de Rock no estrangeiro é também o trabalho em conjunto com empresários estrangeiros. Músicos como Edgar Froese e Klaus Schulze se separaram nos últimos anos dos seus agentes alemães, porque eles eram leigos no que se referia à prática no campo internacional no ramo da música Pop e do Rock. Os músicos foram, então, para Londres, eles mesmos, para a Mekka do Rock e da música Pop, firmando aí contratos com especialistas ingleses. Isto foi possível porque a Inglaterra já era membro da Comunidade Européia. Edgar Froese, por exemplo, relata que o grupo ‘Tangerine Dream’, em 1973, estava se dissolvendo. Com uma montanha de dívidas nas costas, eles tentaram a última salvação antes da falência: o grupo viajou a Londres e gravou nos estúdios da Firma Virgin, recém-inaugurada, o disco "Phaedra". Subseqüentemente, ele foi vendido pela própria firma. Durante algumas poucas semanas foram vendidos, só na Inglaterra 100.000 exemplares. Desde que os músicos da Tangerine Dream abandonaram seus empresários alemães e trabalham com a firma londrina Virgin, os negócios da banda só têm melhorado. LPs de grupos como Tangerine Dream estão regularmente entre os 20 primeiros da lista de discos mais vendidos. O Kraftwerk chegou até entre as single-hit-bands, com uma canção.
Nos Estados Unidos, os grupos alemães de rock se sobressaem menos do que na Inglaterra, França ou outros países europeus, devido à grande quantidade de ofertas de música de rock nacionais. Na lista de importação nos Estados Unidos encontram-se os nomes de exatamente 30 grupos alemães. Eles se estendem de Amon Düül II, Atlantis, Embryo, Guru-Guru, Kraan até Passport e Wind. Em 1975, a banda Kraftwerk de Düsseldorf vendeu nos Estados Unidos 450.000 exemplares do seu long-play "Autobahn", ao lado dos 500.000 do compacto, que da mesma forma levava o nome de ‘Autobahn’. No segundo lugar estava, nessa época, o grupo Nektar, com mais ou menos 300.000 long-plays vendidos, seguido pelo grupo Triumvirat, do que foram comprados na América 160.000 discos.
Apesar deste sucesso, informam os entendidos, todas as gravações de grupos alemães somente são encontradas em algumas casas de disco das grandes cidades como Nova Iorque e São Francisco. O dono de um casa de discos de Nova Iorque é da opinião de que: “O público de rock americano quer ouvir, naturalmente, antes de tudo, uma música com a qual se possa dançar - a música de rock eletrônico é composta, ao contrário, par ao intelecto. Eu acho que uma banda como a Triumvirat tem uma chance bem maior de agradar um grande público. Ela procura dirigir-se não só ao corpo como também à cabeça”. Não há dúvidas de que este sucesso de grupos alemães de Rock no estrangeiro é digno de admiração. Não se deve no entanto lhe atribuir demasiada importância. Finalmente, hoje, um lugar na parada de sucessos do estrangeiro já pode ser atingida com a metade dos disco que eram necessários no tempo dos Beatles. E, além disso, as bandas anglo-americanas ainda continuam nos primeiros lugares. Le Rock allemand, The Kraut-Rock, The German Rock - ou de tantas quantas forem as maneiras como é denominada a música de rock da Alemanha, ela pode de qualquer maneira, num futuro bem próximo, já pertencer ao passado - como, aliás, já aconteceu nos últimos anos com muitas ondas de moda.
Amon Düül pertence aos Kraut-Rockern da primeira geração, a banda está modificada: agora, com grande sucesso, apresenta-se como a Amon Düül II;
Birth Control e Guru Guru demonstram a sua riqueza em fantasia nos seus nomes;
Embryo se impôs no mercado francês;
Klaus Doldinger, está há mais de uma década é uma figura inseparável das cenas ‘Pops’ alemãs, encontra-se hoje com o seu grupo Passport entre o rock e o jazz;
Klaus Schulze arranca do seu aparelhos sons ambientais em parte sonhadores, em parte destruidores de nervos;
Kraan sucesso nos Estados Unidos;
Kraftwerk se deixou fotografar numa nostalgie-look
Tangerine Dream a decoração também faz parte da música;
Triumvirat de Colônia quer dirigir-se ao corpo e ao intelecto;
R. Hoffmann, in ‘Scala’ número 12 - 1977, revista da República Federal da Alemanha Edição Luso-Brasileira.