Os ratos de Oropa, Brasília e Bahia
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Os ratos de Oropa, Brasília e Bahia
[Marcelo Torres]
“Os ratos estão soltos”, escreveu meu amigo Jolivaldo Freitas, na edição de domingo (13/03), na Tribuna da Bahia, preocupado com a movimentação dos ratos em Salvador - mas não só na Soterópolis, pois eles estão em toda parte.
Com a irreverência que o Senhor do Bonfim lhe deu, Joli diz que em Brasília a situação deve ser pior. “Não que a cidade criada por Niemeyer tenha muitos esgotos ou buracos ou boca-de-lobo, mas é que tudo que é rato do país se manda para o Planalto Central”.
E mandou mais: “Os ratos planaltinos seguem os mesmos princípios naturais dos seus parentes, dos melhores esgotos de Salvador, Nova Déli ou Bornéu, passando por Cuba e Venezuela, e não ache que não tem rato em Paris e Nova Iorque. Rato tem em todo lugar”.
Então eu lembrei de um texto de Clarice Lispector, escrito logo após a inauguração. “Brasília foi construída sem lugar para ratos”, escreveu ela, para depois ressalvar: “Mas os ratos, todos muito grandes, estão invadindo”.
E realmente eles invadiram a capital. Na época da construção, inclusive, descobriu-se aqui um ratinho típico de Brasília. A espécie recebeu o nome científico de juscelinomys candangus, como homenagem a JK (nosso Jotakristo) e aos operários que ergueram a cidade.
Os ratos, nem “todos muito grandes”, mas vindos de todas as partes, aqui espalhados entre quadras, eixos, setores, palácios, monumentos, buracos, esgotos, bocas-de-lobo, Esplanada, Praça dos Três Poderes e pelo “exu monumental” [copyright para TT Catalão].
Alguns deles foram eleitos - e pelo voto do povo; outros não; há os ratos togados, que saem na televisão, enquanto outros vivem entocados; uns são bípedes, outros são quadrúpedes; há os que vestem paletó e gravata e os que andam em pêlo nu. Rato para todos os gostos ou desgostos.
É tanto rato que um dos serviços mais realizados por aqui é a desratização. Há centenas de empresas deste ramo na corte, todas elas com nomes sugestivos: Matatudo, Veneno, Nocaute, SOS Pragas, Baratão, Cometa, Matabem, Formigão. E serviço para elas é o que não falta.
O pior é que muitos ratos são expulsos de Brasília e depois retornam; se uns são eliminados, outros aparecem aos montes, com a contribuição de brasileiros de todos os estados, do campo e da cidade, das igrejas, dos sindicatos, do patronato, do empresariado, do operariado, da zorra toda.
Não é à toa que há na Câmara dos Deputados um deputado eleito por eleitores do Paraná cujo nome é Ratinho Júnior. E outro dia o Correio Braziliense (com z mesmo) soltou a seguinte manchete: Ratos assustam servidores do Senado.
A coisa é tão séria que, outro dia, os ratos roubaram a cena no programa Fantástico, da Rede Globo. A repórter Delis Ortiz falava ao vivo de Brasília quando, atrás dela, passaram uns ratos de quatro pés – uma procissão de ratos. Será que estavam indo pedir alguma emendazinha parlamentar para levar às bases?
Depois que os ratos deram uma de “papagaio de pirata”, saiu esta notícia no site da Globo: “Telespectadores descobrem ratos em ministério; roedores foram flagrados no Fantástico”.
Mas, porém, contudo, todavia, ratos não há apenas em Brasília. Há rato em Oropas, França e Bahia. Como escreveu o amigo Joli: “Os ratos planaltinos seguem os mesmos princípios naturais dos seus parentes, dos melhores esgotos de Salvador, Nova Déli [...], Paris e Nova Iorque”.
De novo Clarice Lispector: “Brasília foi construída sem lugar para ratos. Mas os ratos, todos muito grandes, estão invadindo”. Sim eles invadiram, mas não dominam a cidade (ou será que dominam?). E, por fim, cabe uma perguntinha: de onde é que vem tanto rato, minha gente?
Marcelo Torres (This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.)