Aumenta que isso aí é rock'n'roll
Leonardo Almeida Filho - This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

Logo que casamos fomos morar num apartamento da 407 Sul. Estava cursando o ultimo semestre de Economia, por isso nossa vida era um corre-corre sem fim. Uma jornada de oito horas na matriz da Caixa, que era emendada com as aulas noturnas na UDF. Voltava cansado e com todas as fomes do mundo. Reservamos os sábados para a faxina do apartamento, cabendo a mim, o varão da história, as tarefas pesadas, encerar a sala e os quartos, lavar os banheiros. Essas tarefas eram feitas com muita música e muita disposição. O que hoje para mim é simplesmente impensável, como lavar um banheiro, era pura diversão naquele segundo semestre de 1984. Dois discos constituíam a trilha sonora dessa atividade braçal que nos consumia a manhã inteira dos sábados: uma antologia de João Gilberto e o Tattoo you, dos Stones. Maior ecletismo, impossível. Quantas vezes me peguei cantando “O pato, vinha cantando alegremente, quem quem...” enquanto esfregava um vaso sanitário? Ou então espalhando a cera no piso de madeira sob os versos de Insensatez? Uma maravilha ter uma trilha sonora dessas para cantoria de trabalho.

Mas o que não me sai da memória era dançar alucinado com uma enceradeira quando Mick Jagger gritava “Neighbours...” e eu pensava realmente: fodam-se os vizinhos.

Aumenta que isso aí é rock'n'roll.