Maranhão 2014!
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HORROR!
(Sobre presídio no Maranhão)
por Emanuel Medeiros Vieira - 2014
“É uma barbárie como eu nunca havia visto”, disse Maria Laura Canineu, diretora do Humans Right Watch Brasil, sobre o vídeo em que presos do complexo presidiário de Pedrinhas, no Maranhão, comemoram a decapitação de detentos rivais.
O Conselho Nacional de Justiça, várias entidades nacionais e órgãos internacionais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, têm solicitado providências urgentes.
Não é novidade.
Mas mesmo para os parâmetros “aceitos” no Brasil, o que ocorre no Maranhão é demasiado!
Horror! Estaremos tão anestesiados, tão entorpecidos, tão resignados?
Será a vitória completa do individualismo?
Mais de 62 presos foram mortos desde o ano passado, resultado de brigas entre grupos rivais, além do estupro de mulheres que visitavam os presídios.
A governadora Roseana Sarney ficou indignada – ao que parece – com a divulgação do vídeo sobre a barbárie e não com a selvageria em si.
A renda per capita do Maranhão, de R$360, é a pior do Brasil; 96% de seus domicílios não têm acesso adequado à rede de saneamento básico; mais de um quinto de sua população com 15 anos ou mais não saber ler ou escrever.
(Enquanto isso, a governadora iria comprar 80 quilos de lagosta fresca, uma tonelada e meia de camarão e oito sabores de sorvete para abastecer a sua residência oficial e a sua casa de praia Desistiu, porque o plano foi descoberto.)
Em qualquer país civilizado, haveria intervenção no presídio.
Mais que isso: intervenção federal no Estado.
O clã Sarney infelicita o Maranhão há meio século.
Repito a indagação: estaremos todos tão entorpecidos, anestesiados, resignados?
Não haverá intervenção: a governadora é da base aliada. A presidente precisa do seu apoio para a reeleição.
O problema das masmorras medievais não começou hoje, eu sei. Atravessa a nossa história.
Nos anos do reinado do príncipe FHC – o “Patriarca da Dependência”– também não foi feito nada, além da venda do Brasil na bacia das almas e a compra de votos para a sua reeleição.
Mas uma barbaridade não justifica outra.
Horror, horror, horror – repito.
Como resgataremos o mínimo de humano – algum valor civilizatório?
(Brasília, janeiro de 2014)
Nos seus mercados discute-se política. Os mais informados comentam o fim do reinado de Sarney como feudo, outros temem os pacotes do Lula.
Jornal no Maranhão tem o mesmo acabamento do jornal da sua cidade, uma homogênea rede de informações e interesses, um jornalismo mais cabeça-quente é praticado pelo Jornal Pequeno.
Neste cartaz: sinais de ativismo político mostram a insatisfação da Periferia mal cuidada. O Centro Histórico engessado pelo selo de Patrimônio da Humanidade, amarga um desprezo que o turista descuidado pode confundir com um enorme esforço para a preservação de sua história.
Os casarões se transformam em estacionamentos para automóveis e seus cômodos são redimensionados para abrigarem mais turistas.
Em pleno Centro Histórico de São Luis alguns casarões exibem vegetação no telhado, são comuns alguns desabarem conforme as chuvas; na periferia os casarões têm suas fachadas vedadas com tijolos para impedir invasões ou são cuidadosamente escorados. Somente os casarões com boa posição especulativa recebem reformas.
No quarteirão central que abriga a Junta Comercial de São Luís e outros bancos, o centro financeiro é o mais maltratado com os mosaicos de pedras das calçadas completamente descaracterizados, é um setor perigoso com tráfico de entorpecentes e prostituição homossexual em praças próximas à igreja e hotel de luxo, um perímetro ainda mais perigoso com a greve dos policiais civis, perigo também encontrado nas ruelas que abrigam a delegacia: os policiais fazem repressão aos cabeludos e tatuados vendedores de artesanato. Após as 18 horas, pela falta de seguranças as lojas fecham e os assaltos a turistas consideravelmente aumentam.
No Centro Histórico é normal a presença de câmeras e documentaristas ‘gringos’ a caminho dos Lençóis Maranhenses. O documentarista, Gleyser Azevêdo flagrado no excesso de peso encaminhava sua câmera submarina para documentar o mito de São Sebastião na Ilha dos Lençóis no Norte, é importante frisar que fica no Extremo Norte do Maranhão, (Próximo do Pará) e que não é "Os Lencóis Maranhenses" (Próximo ao Piauí).
A Ilha de São Luís é conhecida como a Jamaica Brasileira, seus bailes de reggae estão espalhados desde Alcântara a São José de Ribamar.
No ‘Roots Bar’ o embalo é até as 4 da manhã, é um local mais aberto. Outros salões de reggae usam artifícios para atrair o turista lembrando em muito as competições das equipes de som. Geralmente, o som é mecânico e até repetitivo sem o ativismo das letras originais e só rola novidade, mas eu posso estar equivocado e doente do pé, lá se dança agarradinho!
O jovem aprendiz inicia-se no aprendizado de colorização: azulejos pintados à mão, fachadas de casarões, máscaras africanas e artesanato indígena. Não vi azulejos do tempo do Império, vi alguns grudados às paredes dos casarões e outros azulejos recentes e menores expostos em vitrines. O turista desatencioso leva pra casa um azulejo vindo do sul e estampa de mau gosto impressa em serigrafia. Fique com os pintados à mão, um pouco mais caro e escasso.
No Atelier da Rua da Estrela, 173 (Reviver) o atencioso artista plástico Flávio Aragão, reproduz as fachadas azulejadas e seus diversos formatos em telas à óleo. É uma oportunidade de adquiri aquele azulejo de quando o Brasil era Império.
Airton Marinho é outro artista plástico com a “Exposição Pungar” no Centro de Criatividade de São Luís. Exibe a recente coleção de xilogravuras coloridas cujo tema é o Tambor-de-Crioula e outras mandalas.
Perdi a tarde procurando pelo Rosenbach e encontrei o “Poeme-se”
O “Museu Rosenbach” sebo de livros e discos pode ter deixado de existir há 18 anos, o mais estranho é que ninguém nunca ouviu falar nele e no nº 491 da Rua 3 no Bairro São Francisco que o abrigava também desapareceu... Será algum daqueles hotéis com novo número?
No Sebo “Poeme-se”, encontrei o raríssimo livro “Os Sete Sonhos” lançado em 1967, e também vários livros importados sobre cinema dos anos 40 só que 25 vezes mais caros que este de Samuel Rawet!
Depois uma hora e meia cruzando o Mar, na Lancha Diamantina, cheguei a Ilha de Alcântara.
É um passeio de quase três horas carregado de adrenalina, sacolejos e enjôos. A lancha sai às 7 horas e, a volta acontece à tarde ou na manhã seguinte.
Em Alcântara, o indicado é o pernoite.
Lá procure por Hyala! Além de guia ele é canoeiro e conduz os turistas para passear na praia de Itatinga, geralmente deserta nos dias de semana onde o céu encontra o mar e a água que corre na areia é quente.
Voltando pelo mangue de canoa você aprecia a revoada dos Guarás: aves vermelhas que batizaram a pousada homônima com bangalôs e excelente peixada.
Forte São Sebastião: sede da aristocracia rural do Maranhão. Construções com mais de três séculos e meio de história. E o inesquecível sofrimento dos negros africanos escravizados. À noite andando pela Rua da Amargura você pode ouvir o sofrimento dos escravos!
A Ilha de Alcântara eternamente marcada pelos tiros de canhão e os gemidos do povo africano e também alvo de sabotagem enfrenta um inimigo silencioso o lixo e o progresso lentamente avançam entre suas entranhas.
A rede de ônibus e vans funciona e há mais LAN Houses do que você imagina.
O problema capital é o abandono das passarelas para pedestres nas pontes e o fechamento dos buracos nas estradas e bueiros.
A água no Centro Histórico de São Luís falta dia sim dia não. Incrivelmente a Rua Grande está preservada só que o seu comércio não é diversificado. É difícil encontrar padaria ou supermercado.
O problema da população do Centro Histórico e da periferia de São Luís é saber o que fazer com o lixo das residências e o esgoto a céu aberto. A prefeitura utiliza máquinas para limpar becos, coloca homens para recolher o lixo e ela sabe que sozinha está perdendo a batalha o problema parece ser educacional.
Enquanto que na Litorânea não param de edificar em áreas de Acomodação Ambiental.
Logo na entrada do Bar do Léo o desenho de um músico e seu sax me fez sentir em casa. Na mesma entrada um balcão reservado serve à velha guarda ou como queiram a diretoria. Dentro mesas espalhadas, e sentado atrás do balcão um senhor calmo compenetrado na trilha daquela noite que poderiámos ouvir o inesquecível Jessé ou Alaide Costa.