O escritor Paulo Coelho

Paulo Coelho: Meus pensamentos sobre SOPA (e pirataria)
Artigo datado de 20/01/2012, extraído do blog do próprio autor (clique aqui)
Traduzido do inglês por Antonio Celso Barbieri

Na União Soviética, no final dos anos 1950 e 60, muitos livros que questionavam o sistema político começaram ser circulados em forma mimeografada. Seus autores nunca ganharam um centavo em royalties. Pelo contrário, eles foram perseguidos, denunciados pela imprensa oficial e, enviados ao exílio, para os notórios "gulags" na Sibéria. No entanto, eles continuaram escrevendo.

Por quê? Porque eles precisaram compartilhar o que estavam sentindo. Dos evangelhos aos manifestos políticos, a literatura tem permitido às ideias viajarem e até mesmo mudarem o mundo.

Não tenho nada contra pessoas que ganham dinheiro com seus livros que, é o que eu faço na minha vida.

Mas vejam o que está acontecendo agora. Stop Online Piracy Act (SOPA) pode parar a Internet. Este é um perigo real, não só para os americanos, mas para todos nós, porque se esta lei for aprovada vai afetar todo o planeta.

E como me sinto sobre isso?

Como autor, eu deveria estar defendendo  a "propriedade intelectual" mas,  não estou.

Piratas do mundo, uni-vos e pirateiem tudo o que eu já escrevi!

Os bons velhos tempos, quando cada ideia tinha um dono, se foram para sempre.

Primeiro, porque tudo que o povo faz é reciclar os mesmos quatro temas: uma história de amor entre duas pessoas, um triângulo amoroso, a luta pelo poder e, a história de uma viagem.

Segundo, porque todos os escritores querem que o que escreveram seja lido, seja em um jornal, blog, panfleto ou em uma parede.

Quanto mais vezes ouvimos uma canção no rádio, mais interessados ficamos em comprar o CD. É a mesma coisa com a literatura.

Quanto mais as pessoas 'Pirateiam' um livro, melhor. Se eles gostarem do início, eles vão comprar o livro inteiro no dia seguinte, porque não há nada mais cansativo do que ler longas linhas de texto em uma tela de computador.

1. Algumas pessoas vão dizer: Você é rico o suficiente para permitir que seus livros sejam distribuídos gratuitamente.

Isso é verdade. Eu sou rico. Mas era o desejo de fazer dinheiro que me levou a escrever? Não. Minha família e meus professores todos disseram que não havia futuro na escrita.

Eu comecei a escrever e eu continuei escrevendo porque me dá prazer e dá sentido à minha existência. Se o dinheiro fosse o motivo, eu poderia ter parado de escrever há muito tempo. Invariavelmente me salvaria de ter de aturar as críticas negativas.

2. A indústria editorial vai  dizer: Artistas não podem sobreviver se não forem pagos.

Em 1999, quando tive meu livro publicado pela primeira vez na Rússia (com uma tiragem de 3.000), o país estava sofrendo uma escassez de papel grave. Por acaso, descobri uma edição 'pirata' de O Alquimista e postei na minha página web. Um ano mais tarde, quando a crise foi resolvida, eu vendi 10 mil cópias da edição impressa. Em 2002, eu tinha vendido um milhão de cópias na Rússia e, até agora, já vendi mais de 12 milhões.

Quando viajei de trem por toda a Rússia, conheci várias pessoas que me disseram que tinham descoberto meu trabalho através da edição 'pirata' que eu postei no meu site. Hoje em dia, eu tenho um site chamado 'Pirata Coelho ", dando links para todos os livros meus que estão disponíveis em sites para baixar. E minhas vendas continuam a crescer - cerca de 140 milhões de cópias em todo o mundo.

Quando você comeu uma laranja, você tem que voltar à loja para comprar outra. Nesse caso, faz sentido pagar no local.

Com um objeto de arte, você não está comprando papel, tinta, pincel, tela ou notas musicais, mas sim a ideia nascida da combinação destes produtos.

"Pirataria" pode agir como uma introdução à obra de um artista. Se você gosta de ideia dele ou dela então, você vai querer tê-la em sua casa, uma boa ideia não precisa de proteção.

O resto ou é a ganância ou ignorância

Paulo Coelho