CONIC, É A MELHOR VIAGEM NO TEMPO!
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THIS FUCKING CRAZY TIME MACHINE!
Texto: Mário Pazcheco
Revisão: Roberto Gicello
Livro: Refrescando a Memória
O Conic é a única obra arquitetônica projetada inteiramente por Lúcio Costa em Brasília – de quem só se tem a ideia de ter projetado o traçado urbanístico da cidade. Neste retângulo labiríntico de luz e de sombras, há tempo, muito tempo, nós frequentávamos o Jegue Elétrico (primeiro sebo de Brasília), tocado pelo palhaço-jornalista Ary Para-raios, com o Válter no balcão de venda – que me olhava desconfiado por passar horas em pé dentro da loja folheando livros da contracultura no original, em inglês, especialmente Allen Ginsberg. Compramos os LPs Clara Crocodilo e Quando a Sorte te Solta um Cisne no Meio da Noite e, lógico, discos de Arnaldo Baptista e Itamar Assumpção.
O Conic é mais dramático (no sentido grego da palavra: "ação" – δράω) graças a Dulcina de Morares, que no centro plantou uma faculdade de artes e um teatro de glorioso passado e doces memórias. Mas além do espaço concedido à representação de comédias e tragédias, o Conic já foi profundamente literário (no sentido livresco da literatura). Outra grande figura que por lá perambulou carregando uma lanterna na mão foi o jornalista Wanderley Lopes Pinho – editor do jornal Rajneesh, da revista Transe e, por último, do tabloide político-sideral Fogo Cerrado (ainda tempos em que a democracia tupiniquim não era ameaçada à luz do dia). As publicações do Wanderley atingiam tiragens fenomenais. Recolhíamos exemplares destes exemplares no restaurante-alternativo Cheiro Verde (de onde se tinha uma visão terra-ar feérica da Esplanada dos Três Poderes). Lá, com um pratinho de queijo de soja e rúcula nas mãos, conheci Renato Matos.
Na filial da Livraria Presença, reuniam-se os bardos e é onde encontrávamos as edições de Morangos Mofados e Feliz Ano Velho e as novidades de Umberto Eco e Gabriel García Márquez. No socovão da Presença, encontrávamos os livrinhos de rock da Editora Brasiliense.
Lá se encontravam, em dias e noites de balbúrdia literária, feijoadas dançantes e jogos de futebol da seleção brasileira, os escritores Roberto Gicello, Celso Alcântara, Olímpio Pereira Neto, Ézio Pires, Heitor de Andrade, Anand Rao, Hélio Ricardo Vidal, Ézio Flávio Bazzo, Adriano Aragão, Francisco Vasconcelos, Carlos Augusto Cacá, Márcio Catunda, Luiz Paulo Pieri, Adirson Vasconcelos e Zeferino Alves Neto (nome de palco, “Zan”), ainda com culpa no cartório, desculpo-me por não me lembrar de todas as almas poéticas que povoavam o torvelinho daqueles luminosos metros quadrados.
Carlão, anos 2000, ainda século XX - via Josibel Rocha
Dos poetas do Conic, tive a felicidade de conhecer Jorge Amâncio, José Menezes de Morais, Zé Edson, Pezão e Dedé de Olinda.
Outras livrarias havia: a Thot, a Casa do Livro, do Heargraves, a livraria Galilei, ligada ao Partido Comunista Brasileiro. Funcionava, em uma das centenas de salas para escritório, o Jornal do Lago, do Joanfi – com os cartuns do Kleber Marques. A generosa e rica consultoria sobre futebol e política com Carlão e Dudu Mariano era garantidas em um dos incontáveis botequins daquela cidadela do bem-querer à vida.
O rock só pintou no final dos 80s; quando Gilmar Batista Santos abriu a filial da paulista Devil Discos, cuja matriz era do Chicão em São Paulo e Antônio Celso Barbieri era o designer criador da logomarca; logo depois dessa loja fechada, inaugurou-se a Berlin Discos. No Conic, coincidentemente, a banda Akneton participou do lançamento de um número da Víbora no subsolo, nas boates, e levou seu show Que Tudo Vá Para O Inferno ao Cine Ritz. Mestre Cascão, eventualmente conhecido por Afonso Ligório Araújo Mesquita, quando da sua jurisdição como prefeito do Conic, organizou um show de rock debaixo da Praça Vermelha – onde aconteciam os gritos de carnaval e celebravam-se os Primeiros de Maio.
Mauricinhos, skinheads, heavy metal: são muitos os rótulos da juventude.
Aos sábados, as turmas reuniam no Conic. Nas duas lojas de rock: a Head Collection, do Fellipe CDC, e a Subway – nesta última a galera se reunia para assistir aos vídeos dela mesma entrevistada num programa local, que passava no canal 2.
Os shows de hardcore, punk rock, pós-punk e thrash eram realizados, na sua maioria, no Conic, no Galpãozinho do Gama, naquela área da Funarte, Zoonna Z e no Gran Circo Lar. Iam a todos os festivais que faziam parte da cena local. O MAP (Movimento Anarco Punk) era composto majoritariamente por punks e por góticos – tudo muito importante, porque eles começaram a entender sobre os problemas sociais. As músicas daquela época fazem parte da vida deles até hoje.
Nasceram daqueles dias longas amizades, que permanecem, e contam histórias... Do Movimento eram Rubens (‘Blue’), Ana Cristina, Flávio, Ancelmo, Ednei, Buti, Alan, Fernando Carpaneda, Tiago Rabelo, mas este último não era punk não. Tinha o ‘Grilo’, o ‘Frango’, e o Fernando não fazia parte. Mas andava com a gente. A Gleicy Kelly e a Thania Vieira faziam parte.