RESSACA! (HELOÍSA DUTRA, 2021)

medo

RESSACA! (This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it., DE BRASÍLIA)

O que não faz uma ressaca né?

Está havendo uma revolução interna: o rim, puto da vida porque eu não dei água a ele e apenas álcool, exigiu uma reunião urgente, aquele bafafá dos infernos.

O cérebro atendeu correndo, atropelando todo mundo, sempre rápido e tentou botar ordem na casa, neste caso, a minha pessoa.

Ninguém ouviu o coitado.

O rim, histérico, agarrado em seu irmão gêmeo siamês, o outro rim, chorava copiosamente e ameaçava:

– Eu paro, viu? Eu paro de filtrar tudo aqui nesta bagaça. Quero ver quem comprará um rim que não filtra. Eu juro por Deus que eu acabo com isso tudo!

O coração velho e quebrado, cheio de cicatrizes na cara, tentava consolar, mas um certo risinho cínico escapulia. O coração sabia que não corria este risco e achava engraçado aquele ataque de pânico. Ai, ai, os rins, tão rígidos, vivem cheio de frescura, juntando coisas, vivem com pedras nas mãos.

E batia nos ombros dos rins em ritmo compassado. Tum, tum. Tum, tum. Tum, tum.

O fígado quando puto, é o maior comprador de briga do mundo. Estava até meio embriagado e repetia o tempo todo:

– Ah, se fosse comigo, repeti ele todo vermelhinho – eu daria uma azia nela, uma dor de cabeça nela, um ataque de vomitação, e lascava com ela, ah, eu lascava ela de verdade!

Nessa hora, o útero, juntamente com os ovários (eles não se largam, a coisa mais bonitinha), resolveram dar a sua opinião, afinal, se iam foder comigo, de certa forma iam foder com eles também e começaram a falar coisas sem sentido, que dependia da Lua, se fosse Lua cheia. Aí, era foda mesmo, mas se fosse na minguante, aí, dependia, mas que sei lá, tudo varia. O assunto dava arrepios e era até bom aqueles arrepios, mas tudo aquilo tudo era realmente triste pra caramba e começaram a chorar. Lágrimas de sangue, praticamente.

O mais rabugento de todos, todo enrodilhado, lá no seu canto, só repetia frase: – "Isso vai dar merda. Isso vai dar merda". O intestino sempre foi assim, um tanto enfezado.

Ao seu lado uma coisa inútil, tremia. O apêndice pensava: "se o rim tá por um fio, imagine eu". Tremia, covarde.

A confusão estava armada e eu, absolutamente revirada ao avesso.

O estômago contnuava ali firme e forte. Meio caladão, mas tava lá. Ao lado do pâncreas que não parava de chorar um minutinho se quer. Chorava a cântaros, chorava as dores do mundo. Chorava as amarguras de toda uma vida. O estômago, praticamente um troglodita, se irritava com aquilo, mas ficava na sua porque parceria é parceria. Mas estava achando aquilo um saco e resolveu produzir gases, só para ter o que fazer. O intestino não gostou disso e berrava. "bonito você, vai acabar sobrando para mim!"

Os pulmões nem davam as caras. Viviam doidões de nicotina e achavam aquilo tudo muito engraçado. Riam abestalhadamente, abraçados um ao outro.

A glândula pineal sugeriu: "vamos vibrar, vamos elevar estas vibrações, tá todo mundo se contaminando com as energias nefastas. Vamos rezar de mãos dadas, minha gente? Vamos? Vambora? Aummmmmmmmmmmmmm. Todo mundo junto. Auuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmm"

Ouviu-se um " vá paputaquetepariu minha filha" vou dar um murro bem dado no pé da orelha. O baço não era dado a sutilezas. Vai rolar porrada!

Rola? Onde? Rola? Tem rola aqui também? Virgem cruz, isso aqui tá uma loucura – o duodeno tinha um senso de humor estranho e saiu dançando e cantando "Rola, tá tá tá. Rola, tá tá tá. Rola, tá tá tá". Levou um tapão no pescoço da vesícula biliar e saiu catando cavaco, do cóccix até o pescoço.

A jugular olhava, de um lado para o outro, mas já estava com a mão na espada, caso fosse necessária alguma atitude mais agressiva. – Eu mato um, se necessário eu mato um.

O cérebro tentava acalmar todo mundo, tentava ser sensato, mas os ovários não deixavam ele se expressar direito porque, de nervoso, soltavam litros e mais litros de hormônios que afogavam o coitado do cérebro que já não sabia mais porra nenhuma, tinha hora que gritava, tinha hora que calava. Estava confuso, o coitado.

A situação estava saindo do controle, realmente.

Aí, ela chegou, ela que manda no mundo, ela que é a rainha de todos os reinos, a mãe da vida, o começo e o fim de tudo e de todos.

Aí, a trompa chegou esculhambando todo mundo, deu uns cascudos nos rins para deixar de seu arruaceiro e de criar confusão, colocou ele de castigo para deixar de ser viadinho. Deu uns quatro berros no resto do povo que foi cada um pro seu canto trabalhar sem dar um pio sequer.

O cu suspira aliviado. Estava percebendo que ia sobrar pra ele já, já. Estava vendo que ia parar na praça porque sempre que dava confusão, ele é que tomava na cabeça.

Moral da história:

Quem tem cu, tem medo.

 

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