ALCOVAS DE ALUGUEL 4 (DENTRO DO TÚNEL DO TEMPO, DO PARADISE MOTEL)
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NO TÚNEL DO TEMPO DO PARADISE MOTEL
Era sábado à noite e eles queriam se entregar à devassidão.
O longo dia começou entre gôndolas gigantes do hipermercado e a benção da mãe da guria, que naquela manhã conheceu o cabra, na hora em que eles saíram para as compras do mês. Gostou dele, segundo ela “dava pra ver que - Não era um cabra de peia!”
Passaram o restante do dia assoberbados com as suas tarefas de famílias, casas, amigos e tudo mais.
Naquela noite, se encontraram na estação de sempre e se deixaram a mais uma noite de aventuras.
Entraram cheios de expectativas n'O Paradise, no setor de motéis do Núcleo Bandeirante. A moça sempre via com curiosidade aquelas placas daquele cenário.
Escolheram uma das suítes em promoção; pois o país inteiro está em contingência de despesas, eles não são exceção.
A garagem sinalizada, na porta, uma seta de sobe e desce do toldo elétrico.
Seguiram pelo vão de escadas para o andar. Onde o túnel do tempo e o túnel do amor se fundem no Paradise Motel.
O quarto absurdamente Kitsch, os acolheu com espelhos recortados nas paredes e no teto. A dramática alcova redonda, divisórias chinesas, plantas de plástico... Ainda está difícil de se encontrar semelhante mal gosto.
Da luz negra à central de som somente com duas opções, a de sertanejo-dor-de-corno e outra de músicas dos anos 60/70/80... Tudo em brilho à proposta da decoração, mas, a trilha não foi descartável. Ouviram The Hollies, Bee Gees, Tommy James & The Shondells, Percy Sledge, e outros que os lembraram dos bailinhos mela-cueca dos tempos do ensino médio.
O banheiro imenso, com hidromassagem e sauna que não funcionava mais, os trazia à lembrança uma suruba gay, e não o enlace do casal apaixonado que ali se encontrava.
Fizeram as observações com os olhos aguçados de sempre, pois o desinibido escrutinamento faz parte do projeto de conhecer todos os motéis da região e relatar as visitas íntimas.
Entregaram-se ao vinho e a tão esperada picardia.
Ela havia se esmerado na toalete da noite, elegantemente vestida, penteada e maquiada.
Por baixo de tão distintas vestes, escondia-se a calcinha preta e rosa, fio dental escolhida dentre as fotos que ela havia enviado a ele.
Unhas pintadas de vermelho, perfume afrodisíaco, instintos de fêmea em um corpo pulsante de tesão, louco para se entregar àquele macho viril que a comia com os olhos desde a manhã daquele dia e àquela hora demonstrava sua gula naquele pau esmerilhado que ela devorava com sofreguidão.
Ela explorava cada centímetro de seu corpo másculo como quem descobre o mapa do tesouro e ele a devorava, não deixando nem uma gota de suor cair no lençol vulgar que os abraçava.
Tudo era vorazmente sugado por aqueles amantes sedentos.
O tempo, inimigo do férvido casal, insiste em correr, não dá uma trégua para o descanso, o relógio grita e avisa que as tão minguadas duas horas estão próximas do fim.
O tesão entre eles só relaxou mesmo, após os três gozos selvagens, escandalosos e abafados pelas paredes decrépitas do sinistro lugar.
Eles não resistem e se entregam mais uma vez aos braços da paixão; ela, agora mais romântica, cheia dos “eu te amo” e ele, subversivo, a come com voracidade e depois a abraça, a protege...
O encontro foi registrado em uma fotografia que jamais será vista por terceiros.
E se vão daquele labirinto em que na saída, no carro da frente, há duas mulheres que depois do amor continuam se beijando, sem pudores.
Justine de Sade
ALCOVAS DE ALUGUEL
Paradise Vegas motel
SPM Qd 03 S/N - Núcleo Bandeirante - Brasília - DF.