RELÓGIOS E O TEMPO (2021)
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Relógios e a gestão do tempo
Rita Mangueira
Semana passada me deparei com algumas situações que me fizeram pensar com certo saudosismo de coisas muito boas que a modernidade vem tirando dos mais vivídos e também de jovens que não puderam desfrutar de coisas e situações que tinham seu charme, e fizeram a cabeça de algumas gerações.
A banca de jornal onde pedíamos informações, passávamos tempos preciosos nos inteirando de notícias de muito e pouco vulto, contudo de muito entretenimento, da cultura bairrista, onde podíamos conversar com todos, regar velhas amizades floridas na vizinhança, na praça da esquina, nos botecos da vida.
Ai, percebemos o quanto estamos perdendo a cada dia, um pouquinho de coisas significativas.
Faz tempo que o jornaleiro não consegue se sustentar somente de impressos, passou a vender livros antigos, os quais já não encontram público, este, dominado pela Amazon com suas práticas questionáveis sob o ponto de vista dos escritores mal remunerados. Precisam se reinventar cotidianamente caso seja dali que saia o pão de cada dia.
Lembro-me fácil do tempo em que me autodefinia como uma leitora ávida até de bula de remédio, hoje, minha filha também uma consumidora voraz das publicações literárias, em especial, as inglesas, já se contenta com um Kindle, o cheiro do livro novo já não mais a seduz.
A produção nacional não encontra entrada no mercado como as estrangeiras.
Amizades com vizinhanças??? Bem... Difícil mantê-las! Hoje temos os grupos de whatsap, damos bom dia, boa tarde, boa noite, somos super gentis na tela do celular, contudo não conhecemos o rosto da moradora do portão de frente.
E nem podemos dizer que isto é coisa da geração XYZ, mesmo entre os idosos, é muito mais fácil teclar do que conversar com os presentes, mesmo que estejamos falando de pessoas sentadas na mesma sala com seus aparelhos celulares em punho.
Os botecos se tornaram bares, cada qual em sua mesa, claro, respeitando o distanciamento social, ou, sem nenhum respeito nas conturbadas distribuidoras de bebidas onde seus frequentadores com seus carros pesados de som automotivo não conhecem o bom senso e muito menos o direito alheio.
O tal distanciamento pretendido alcançou níveis preocupantes! Faz-se presente dentro de casa, entre os casais, famílias, amigos... Estamos divididos por tribos, classes, partidos políticos e as suas ideologias, muito mais que por distância física, esta, um tanto necessária em nossos dias pandêmicos.
Não se trata de saudosismo puro e simples e só um olhar um tantinho delicado sobre nosso micromundo.
Nosso cineminha de cada semana ou mesmo do mês foi trocado pela Netflix e suas comparsas que nos enchem com tanta diversidade de conteúdo que a tudo vemos e nada absorvemos.
O tempo passa de forma tão automática, com seus relógios digitais por toda parte, temos fusos horários dentro de casa.
Na Ótica Jéssica, você se enxerga por completo
Com esses mesmos olhos que passeiam pela vizinhança, entramos pelos portais da Ótica Jéssica na QE 15 do Guará II,a visita era para consertar os relógios analógicos da família.
Por lá encontramos tempo, recordamos das viagens com as amigas, e talvez pensarmos em mais tempos juntas em novas viagens, dos filhos crescidos, agora perfazendo seus próprios caminhos, de joias que apesar de perdidas no tempo, ficaram na lembrança daqueles que as possuíram e hoje se contentam com o brilho fácil das bijuterias de valor raso as quais tentamos dar o valor da emoção para compensar.
No interior da Ótica Jéssica encontramos um espelho, lindo, limpo, imenso, onde podemos constatar que ainda podemos nos enxergar de corpo inteiro, harmonizar os óculos e olhares não só com rostos mas também com essa realidade rápida e pulsante, podemos enxergar uns aos outros.