se eu não tivesse juízo, seria um monossílabo (2021)
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O bom pensar evita falar merda
Me emprestaram um livro longo, longo. O que significa? Como se descreve isto? Na biblioteca de casa, que era um quartinho de ferramentas. Ficava no alto, um frasco âmbar que, aberto, cheiro forte ainda absinto. Era com isso que se desentupiam pias. Será aquela literatura o ácido perigoso sem alcance? A maioria daqueles livros parecia não ter a palavra fim. E quem os traduzia? Para uns trazia liberdade demais; para mim retraduções. Comecei a desconfiar do sapato Vulcabrás 757 e das calças de tergal. Não dispensei nada.
A observação atravessa a praia, com a sua mãe, uma leitora desenvolvida. Me pediu o livro, leu alguns parágrafos e tachou-o de uma leitura insuportável que transforma os olhos em locomotivas. Dá para ouvir o apito soando de dentro do estômago. Foi isso que fez a minha cabeça. Fez mais do que vinho e maconha, ah!, e fazia – no pretérito perfeitamente imperfeito – o sexo de todas as idades.
O bom rock'n'roll de nosso tempo é como uma avaliação. As mensagens de áudio do Antônio revivem pieguices desgarradas e desgraçadas de boa. Voar no tempo, na fala do Antônio, me transporta àqueles dias de glória – rota e maltrapilha glória –, àquela mina de olhos grandes.
Pronuncio o nome dela: “Sandra”. Antônio reage, “... essa mesma!”, e falando segue, sobre a linha do trem, nossa divisa, nossa subida da rua que nos separava e confrontava.
Retz sobe a ladeira mais uma vez. Desabafa que na última parada o elevador do ônibus não funcionou e teve de contar braços solidários para desembarcar. O papo acessibilidade era assunto o tempo todo quando nos encontrávamos.
Então, como quem tem um drops doce na casaca, Retz, tirava da cartola um fio de cabelo, um acessório, um brinquedo de plástico e exibia. De face iluminada, eu ria. Suas performances estavam geneticamente ligadas à música. Da cueca, ele tirava notas musicais.
Não sei quem produzia quem. Nesse laço, ele me defendia: “O Marão!?... ele não curte essas coisas”. Ainda rindo, que tal uma cerveja? Precisávamos beber. Afogar as dores e inebriar a alma.
Conheci muito roqueiro doidão, uma galeria. Quando eu ouço MC5/Stooges só consigo me lembrar de Ricardo Retz, aí vem à mente todo tipo de besteira que não cometemos juntos. Agora mesmo solto uma risada. Aquele lance de mostrar os dentes quando se é jovem. A única coisa que temos é o tempo de carteira. Ou quantos anos estão fazendo que fizemos isto? e etc. Queria uma terça-feira livre, mas sempre ocupado em preservar e avançar. Para ver quanto tempo aquilo permanecerá suspenso. Quem sabe hoje posso atropelar mais um chopp e duas latinhas. Tenho as portas de casa e o carro para trancar. Uma cama para me atirar sem tirar as roupas. Tenho a mim mesmo e meu planejamento. Uma coisa não pode gerar mais problemas. O preocupante é que as pessoas estão beligerantes comigo quando não atendo a vontade delas. Então, vou beber é mais recíproco e seguro. Não posso ficar analisando doido que me dói na cabeça.
Ainda gostamos de Ricardo Retz – ele ainda nos faz derramar lágrimas quando ouvimos MC 5 ou Stooges –, lembrando de seus mirabolantes planos culturais para riscar a caretice do mundo, ainda estamos ao seu lado, acedendo a pira. Hoje, mais do que nunca, este espíritio de porco está na churrascaria. Que fiquem os momentos onde a nossa amizade sobreviveu a terremotos, espancamentos, orgias, atropelamentos – tempos que superamos a dó por nós mesmos.
Eu regrido além, mas passo pela história do Retz para fincar bandeira naqueles idos do Guará 1, de 1982. Há pessoas importantes desse período que, preservando privacidades, nunca as cito. A onda jovem aconteceu na praça, onde os de perfeição e de esplendor físico jogavam vôlei. A cada encontro, uma ribalta. Era meio superconhecendo os caras, um a um. Na cabeça, era tipo acessar os Beatles. Todos os malucos iam pintando no pedaço e euzinho acreditava, piamente, serem os Beatles na parada. Beatle Zenas, Beatle Cécé, Beatle Manel, Beatle Ismael, Beatle Tuca. Na aba interna dos Magrelos, eles me apresentaram ao rock “Patrulha Do Espaço”, mas gostavam mesmo era de “Casa Das Máquinas”. Ainda não tinha aquela febre de “Mutantes”, tinha chá. Aí, os Magrelos fizeram o chá Reza Pahlevi, empurraram garganta abaixo do Renato Russo. Nisso, os Magrelos de empurrar garganta abaixo eram como os Mutantes colorindo os drops e sorvetes de casquinha. Mas, antes de fechar este ciclo, em 1979, na curva do André Luiz, eu acompanhava os pegas de carros, só pra ver o bundalelê. Depois contarei isto e outras lorotas – “lorotas” era fala preferida de Ricardo Retz.
Na Asa Norte, no estúdiodo “Extremo”, o interior cheirava a ovo, eram centenas de caixinhas de dúzias de ovos para abafar o som e muitos ovos de baratas. Espátulas riscavam as paredes e o contâiner cheio. Ali em quatro canais gravaram uma fita clássica do rock Brasília. O estúdio era alugado em nome do irmão mais velho do Cécé. Era 1983-84. No Cruzeiro Center, que era deserto como um cemitério, ficava o estúdio do “Sepultura”. Para trocar ideias, fazíamos uma linha da Asa Norte para ali.
Capturar uma boa gravação foi principalmente uma questão de configurar uma estrutura, colocar um par de microfones e conectá-los em nosso fiel gravador cassete de quatro canais.
No Guará, o primeiro estúdio só poderia ser usado pelos filhos do ventre. Vi alguns bons shows em estúdio, como “Anjos e Arranjos”. Então, sempre o Jonessy enchia o saco, até hoje é o baixista mais chato das Asas.
Recomeçamos 1997 com uma bateria Ludwig inglesa. De vez em quando uma visita insistia para sentar nela “só cinco minutos”. O engraçado é que estes bateristas nunca tiraram a bateria do apartamento. Um dia, Cécé chegou com um par de caixas de som manufaturadas. Desde o design até a escolha das madeiras. Ele tinha a manha de encostar o microfone no amplificador e captar o maior som. Cécé morreu e a aparelhagem evaporou, foi para a Bahia. Passávamos vergonha, quanto fazíamos um blues dentro de casa.
Dez anos depois, novamente recomeçamos do nada em 2007, quando, um dia, eu dei a Robson o cabeçote Tremendão, porque o Guri, num momento crucial de nossa cruzada, nos tirou um fantástico amplificador Musicman e trouxe este cabeçote que ficou oito anos em casa esperando pelo Guri. Comprei caixas que, quando queimadas, ele falava que ficava caro o conserto. Depois do orçamento, dizia que ficar com o alto-falante. Tive dezenas de aparelhos de som. Tive guitarra acústica 1957. Tive guitarra americana. Comprei violões Del Vecchio e Denver. Comprei bateria e amplificador Jaguar. Coloquei um pedal na boca do microfone e ele rugiu. Fiz um piso-palco com sete de espessura centímetros e quatro metros quadrados de carpete. Numa mesinha antiga liguei três monitores. Ainda tenho um pequeno, porém potente amplificador Giannini. Dudu me deu os pratos da bateria. Outras peças voaram. Não acho que seja um som sujo, do tipo que você perde uma hora regulando.
Fico nessa até janeiro que vem. Depois vou catar coquinho.
RETÓRICA DE PEÃO
A cultura de massa mexida por nós
O milagre do saco de cimento bem aplicado
Você pergunta: “E o show?”. Respondo que, mais uma vez, “fomos rock de peão”. Gostei da sua reação ao espaço. Materializei a estética do morro que, entre paredes inacabadas, há vidros-negrumes. Internamente, eu acho que seja um safari noturno pela selva de pedra. Na realidade, me inspirei em Andy Warhol, mas o espaço é todo o Velho Azul da capital. É incompleto, é selvagem, é magnífico, é tudo que faço. Foi todo milimetricamente produzido por João Alves, coisa fina de peão. Quero colocar um carpete e queria arrumar tudo em fina taxidermia de zebras, elefantes leões leopardos onças aves, tudo empalhado e espalhado; claro que não precisa ser em tamanho natural.
O som ainda estamos ajustando. Da guitarra ao microfone, tudo é DO PRÓPRIO BOL$O que paga; além da conta de luz. Ah, lavo também os copos. Foi bom o vinho, melhor a fumaça; o som foi quente, celebrando a chuva, celebrando a nossa vida de peão. Não dá para querer ser artista neste nosso mundinho.
Não esquente a cabeça, eu devastadoramente vacilei ao esquecer a torneira do jardim ligada por 24 horas, isto significa que vou ter que vender o violão. Aprendi que não posso culpar ninguém pelas minhas tragédias. O som do coração ecoa sustentado pelas cordas.
Estamos vivos e isto é ótimo.
Me sinto como um sobrevivente em condições de amargura, dor e esperança. Há futuro. Desenvolvi a corrente Rock de Peão, como aperitivo como tira-gosto. É nisto que eu acredito. Assim afugento os blasés. Só quero coisas com quem trabalha e depende de salário. Somos ordenanças, vigias. Ideologicamente operários do rock padrão. Gente que lixa parede, maridos de aluguel; professores, motoristas e autônomos. Entre nós não há superstars, mas gente que faz, gente que pensa e que faz o que pensa. Retomo minha parceria com Celso Barbieri que a vida interligou cada vez mais. O peão cultural avança casas e também pode dar cheque-mate ao rei.
“Está na hora de voltar com os rocks. / Carregar sacos de cimento nas costas cansa.”
Imagine um escaravelho ou uma barata carregando um saco de cimento em cima de suas asas. É assim que (ab)sinto. Nem dei importância. Cocei os botões. Paramentaram os trabalhadores da limpeza e eles fizeram uma varredura nos laboratórios. Pessoas mais inteligentes que a média jamais conjecturam sobre a palavra surto. O que vivemos é um surto (ou susto). Não passa um dia sequer em que não sejamos informados de que uma pessoa contraiu a Covid-19. Toda hora na tevê, a domicilio, nos boteco ou nas redes virtuais, falam que a variante delta infecta as pessoas, falam que já tomaram a dose dupla da vacina. Fico feliz por ter privacidade e não passar muito tempo em locais públicos ou em coletivos. Vem de mim um surto de responsabilidade e, como um ramo novo numa árvore adulta, imagino situações –sempre fui assim. Isto não significa que todo mundo tenha que ter o comportamento induzido pela lógica dos trovões: se é dia de chuva, há obrigação de se molhar.
KARTAS QUE FALAM
Houve tempos em que o nome Mário Pacheco saía na mídia. Em 2006, ele escreveu sobre a volta do Mutantes, formação de O A E O Z com foto da volta no whiplash. Ameaça de processo pelo baixista custou-lhe a amizade com Cláudio. À revista Caros Amigos, apresentou um pedaço do livro “Rebelde entre Rebeldes”. Novas ameaças judiciais vindas de Juiz de Fora. Desconhecem que Brasília é a capital dos juízes parciais. Na capital, também existem advogados. Porém, não se deve apertar a corda no pescoço do cavalo que a corda partirá do lado mais fraco. Na mesma edição da Caros Amigo (2006) foram publicadas fotos coloridas e inéditas dos Beatles no psicodélico 67. As fotos vieram neste ano das mãos da fotógrafa Lizzie Bravo, que vivendo em Londres se correspondia com Marcus Rampazzo. Certamente um dos maiores mitos da guitarra do Brasil. Mário Pacheco teve a oportunidade de conversar com Marcus Rampazzo. Este lhe afirmou que num cofre sua casa eram guardadas fotos inéditas dos Beatles e partituras de George Martin! Dez anos se passaram e, finalmente, a Caros Amigos revelou aquele tesouro. As fotos foram usadas para uma colagem psicodélica, com uma sobra musical da era Pepper. O vídeo começava a sua ascensão no Youtube, quando um e-mail mal-humorado de Lizzie Bravo reclamou que o mundo tinha visto as suas fotos e, claro!, elas agora deixavam de ser inéditas! Alguém retrucou que as fotos pertenciam à revista. Lizzie Bravo treplicou: "já falei sobre isto com o Rampazzo". Para encurtar o papo: o vídeo foi retirado, mas, como não poderia ser diferente, a relação ficou abalada. Amadurecido, entendi o tamanho do prejuízo financeiro. De toda forma, as fotos vendidas ajudaram-na a se manter em Londres. Quando ela via este tipo de material em Londres, amargava que tinha perdido para sempre os compactos com as mensagens de Natal, do fã-clube inglês dos Beatles. De volta ao Brasil, mais uma vez, passaram a perna em material raro dos Beatles da sua coleção. Ainda assim, logo que publicou o livro (já chegando à casa dos 500 reais), Lizzie autografou um exemplar para Mário Pacheco.
SABEDORIA POPULAR / ESCOLHAS FATAIS
Comportamento
Não transforme o seu criadouro de cobras em um Facebook.Ou não deixe que o serpentário do Facebook te tranforme.
Pessoas tóxicas conseguem fazer com que você sempre sinta que lhes deve algo. Eles também conseguem te machucar e, em seguida, dizer que estavam fazendo tudo por você.
É o saber que permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida nos apresenta a partir do conhecimento próprio e rotineiro do povo.
Entre fumar maconha e enlouquecer ou beber e ir em cana, a melhor opção é permanecer no serviço, a casa dos sábios.
São os anjos dos absurdos que costumam solfejar coisas do tipo Arnaldo Baptista: "Eu costumava ter um bom coração.”
Estava abalado em transição para abaladíssimo. Mas, eu ainda não escorraço nenhum dos meus demônios para cima de ninguém. Esperava a caixa preta do som ser devolvida. Abri o portão, e eis que Joe, mais bêbado do que um elefante que passou a noite inteira bebendo. E depois de brigar com o motorista do Uber, gritava:
“Sou Lula! Vou acender um baseado! Vá tomar no cu Mário Pacheco!”.
Fiquei cego e doido. Aquele lance de se identificar como Lula mexeu com as minhas entranhas. Já tive vontade de matar; agora, vontade de partir para cima das pessoas nunca. Se eu tivesse um machado arrancava a cabeça dele do pescoço. Me dirigi a ele:
“Fora, fora, run out!”
Joe continuou gritando no portão:
“Vou acender um baseado: Gastei 100 contos para vir na sua casa... e você nem gosta de mim, Mário Pacheco! Me chama um Uber!
Eu esperava uma caixa preta e pensei que era ela chegando de Uber:
“Será isso que eu exalo, será essa a essência? É o que eu atraio? Todos contra a minha corrente devem estar se divertido. Eu não te disse?”
Deixei Joe como um cara na cadeia, com o vaso e sem papel higiênico. Do vizinho, que é pastor e é um cara jóia, devia rir: “O Mário deve estar abalado, deixou o cara gritando no portão”. Tive que tomar providências. As pessoas devem segurar a própria onda e não afogar ninguém. Só dão de doido para cima de mim. “É, Mário Pacheco, foi aquele comportamento liberal seu, de aceitar as coisas sem limites como cheque em branco”, rabujo-me. Não estou aceitando impropérios grátis. Não é por não rebater que eu vou atender telefonemas. Não vou fazer som sem alegria ou necessidade. Nem vou esquentar. Os anjos poderiam levar caras como Joe para as profundezas do inferno.
Sendo compreensível, bandalheira sem muito alarde soaria como baixaria. Uma ação que não é totalmente desprezível como o significado de bandalheira. A palavra pode assumir outras formas. Bandalheira era encontrar estes dois cavalheiros e formar uma trinca do vindouro fim do mundo. Vivíamos como se o mundo fosse acabar naquela tarde. E, depois de tudo isto, voltava bêbado como um gambá para casa. Foram várias as vezes, carregadas por baixarias terríveis, traumáticas e inesquecíveis, abusando diria que "coisa de homem". Ao enquadrar, me lembro de um Conic fervilhando de bandalheiras. Com todos nós ainda vivos. Dai-me um cigarro da mesa ao lado. Se vira! Como o peão vira o traço de cimento. Vida é sentimento. Apesar de todas as cagadas ímpias que cometemos contra nós mesmos. Sinto dó, sinto falta. Ainda sinto a perseguição, a discriminação. E nós dando um foda-se! Tinha que ser da bandalha mesmo para arriscar o pescoço na nicotina. É isto que esta foto me traz.
Nenhuma máquina jamais produz tanto quanto consome
Início
Facadas, ele foi morto a facadas. Um cadáver com vida própria, vamos descobrir conforme a fita avança para trás.
As luzes azuis atravessam o olho mágico da porta. É ensaiada à exaustão a cafetinagem superior nas multidões amontoadas. Reúna um harém e faça close no consolo sexual, mas que fique em dúvida, se é um homem no paraíso. Pessoas atiradas correm atrás de carros, do banco do ônibus. Câmera lenta insistentemente ligada, nunca a apagam. Frases estudadas, dirigidas, articuladas a pauladas. Pensamentos velhacos: os velhos mandam mais, pois ganharam mais dinheiro. Os jovens que não têm a mesma idade querem seguir seus passos. Lento desabrochar. O que faz o filme é o nome. A montagem salva do caos. Uma trilha com bom gosto refinado sem métrica. Um filme popular para pouca gente entender. Um filme que se pagou e não foi apagado. A arte honesta é a arte tosca, mas não dá rosca. Ela depende de uma frigideira e de um ovo duplo maltine.
"Bem. Parece que é impossível viver a vida sem cometer inúmeros erros".
Sem Spoilers
Quando o filme é bom, ele atira verdades na cara. Abrange o jogo sujo. Não faz intriga, se impõe e desmascara sem retoques o esquema de sobrevivência. Combinados desonestos. Corpos belos. A atriz jovem é desenvolta, gira em várias regiões. Sem incômodos e embaraços a velha atriz do sofá, próxima do microfone responde ao que quer. Mantém a temperatura ainda da cama, no relacionamento histórico com o diretor. Durabilidade: ela falou pouco, porém além. Se a pergunta não bater no ouvido, atrairá respostas, a garganta articulará: filmes se repetem em continuações. O crítico não existe sem bajulações.
“Foi tudo comprado. Atraímos o foco. Atraímos estudantes de cinema. Jogadores de cassino”.
Para entrar nesse negócio, além do talento é importante saber negociar, conhecer o tamanho do tombo. Depois, puxa-se o tapete. Um filme que pagou tudo e ainda lucrou, um filme feito com o dinheiro do petróleo do Texas. Um filme, de dia e de noite. Que me fez perder tempo.
Ainda ontem, ainda sobre o documentário THE OTHER ONES (da Netflix) sobre a trajetória de Bob Weir tocando guitarra rítmica no Grateful Dead desde o início. A saga dos samurais com suas guitarras cósmicas. Foi um dos melhores documentários que vi. Uma história carregada pelo vento. Pelo tempo, talento é este cara incrivelmente humano que é Bob Weir. Conhecemos a vida acidentada dos membros do Grateful Dead, só não sabíamos como Bob Weir teve carisma para superar tudo isto e se equilibrar. Ele é um dos caras que mais tocaram ao vivo no mundo, se brincar rivaliza com um tal de McCartney. Foi um documentário gloriosamente positivo. E matei as saudades de Neal Cassady e pela primeira vez o vi além das páginas dos livros. Neal Cassady também é além do seu tempo, supera a vida. Um bom dia cósmico para você, Lagarto, personagem de Rei Lear e do sensacional Jack Kirby.
Também há LONG STRANGE TRIP, um doc, muito bom sobre a Grateful Dead.
COISAS QUE ACONTECEM QUANDO VOCÊ FUMA MATO
“Sou iniciado na seita do chá do xarope Fontoura, desde meus 5 anos de idade...” (André Azenha)
Sou uma pessoa xaropeta ou xarope e acho que foi culpa do xarope Fontoura. Um estilo de escrita narcisista e egocêntrica quase fálica. É que posto nas costas das pessoas como cartazes. Abra a boca para a colher do milagroso xarope de groselha Milani batido com leite. O xarope rico em codeína para tosse. Comercializado, viciava e nunca foi proibido – é que nunca falhava.
asa drone máscara de gás cujo olho é de marfim
seres alados pássaros, aves
som das aves som das asas
fabulosos pássaros dodôs
menino perdido
ouve cantiga de grilo no mato
o som estalado do papel enrolado
canto do gafanhoto canto alto da cigarra
é quando ouve-se o próprio coração
Pensa que é infarto sua frio a pressão lhe cai
seus olhos são de rubis
Meu, não te chamo para tomar cerveja, pois, só tenho 6 reais que é o preço de duas latinhas; Cansei de chopp. Acabada a cerveja, fico ansioso por cigarro.
No meu aniversário, com o fogo crepitando, enquanto você apertava as notas, pensei em atirar o piano na fogueira. Colocar o lindo piano branco em cima do caminhão foi um dos maiores desafios. O lindo piano branco derretia nas pupilas das pessoas. Foi um grande momento das artes, do rock psicodélico, quando substituímos as guitarras furiosas por um som melódico como cristal. Keith Emerson curtiu.
Na volta às origens tenho chamado pessoas para uma onda chamada "Combinações" – ninguém entende o convite. Falam daquelas festas intermináveis para mais de 100 pessoas. Puro delírio. Tenho novos talentos na agenda. Talvez eu renasça chorando para valer. Podemos colar de sábado a terça-feira. Quando você cansar, posso colocar aquele LP europeu do Eric Satie. Queria grafitar, pintar telas circulares simultaneamente. Queria curtir sem me preocupar se eles vão arrancar os plugues da caixa de som com os dentes. Não me falem de dinheiro, não me cobrem cachê e nem cerveja. A onda agora é cachaça pitchula.
Teria você perdido o celular pela enésima vez ou poderia ser a falta do carregador acoplado ao peito? Juntos, seguramos a barra.
Diego Dutra nos repassou as necessidades da dispensa de mestre Ataíde (saudade de bater um copo com ele no Sinvas). São destas modéstias e de coisas boas que convivemos. Ah, aquele cheiro almiscarado na entrada da vila, na alameda do Zoológico – para onde foi transferido o chefe do almoxarifado, finado Zé Galinha, que desde então visitava o Ataíde.
O assunto ou os traços são grafite. Palavras embriagadas colam mais do que saliva. Muito boa a tua prosa madrigal no limiar da aurora – o toque do celular acordou até os cachorros. Tô fazendo uma coluna chamada Coisa de Fã e toda aquela coisa absurda que você falou de o grafite ser a arte mais democrática dos últimos 200 anos respingou no meu visor. Pensei que você tinha se mudado para a alameda do Zoológico também. Abrem uma nova pista por lá. Eu entendo essa pressão da arte que faz a gente suar frio. Entendo os contratempos da falta de selos para mandar a carta. Sei que a situação econômica é dramática. Mas me seguro na sua esperança. Só quero agora o ato da arte pela sobrevivência, não pela vaidade. Deixe a arte para aqueles que estão com dinheiro público. Eu estou sempre planejando uma mudança em casa para combater a minha mudança de humor. Faço uma exposição na sala de entrada. Estico panos coloridos. Penduro cabeças. Agora vou ligar o som dos LPs. Estou a fim de ouvir o Blue Cheer. Quero paz. Não quero ser sugado como uma mosca pela sopa. A ressaca é nossa fiel amiga. Você que é mais jovem terá mais tempo pela frente. Eu tenho que estacionar, pois os faróis estão queimados e a noite chega. Tô na área. Pensando em gim com farofa de miúdos. Pensando em decorar. Pensando em rebocar paredes. Da grana é uma visão distante e difícil para nós.
O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO SABE LER
Anti-rock estrela do Xingu – em um tempo em que na Secretaria de Saúde tenho que gritar a plenos pulmões: “USEM MÁSCARAS!”. Fico desfalecido pelo estado atual de Davi Kaus. Na lista de desejos ardentes queria ver o Davi com a Ira de Titãs. Não deu, o tempo foi curto e o medo maior de beber até cair e ser atropelado pelas emoções. Faltam a este mundo atual muitos ingredientes de forno e fogão. Lembro-me da fala de Arnaldo Baptista sobre a importância do artista: "Até na guerra, os artistas vão para entreter". Nesta guerra diária, Davi reinventava os modos mais desvairados para atender a urgência de se manifestar contra a caretice contra esta imposição do ridículo contra a arte de viver. Pô, Davi, não tivemos muito tempo juntos atualmente. Porém, considero você um dos caras essenciais na transformação do rock em poesia, em energia, em tudo do que ele carece. Torcemos pelo seu restabelecimento rápido. E todos os seus parceiros poético-musicais-embriagados pela chama se reunirão com você em um super-show celebrando a vida. Beijo!
Chuva, cadê você? Lembrança molhada de quando debaixo da forte chuva com guarda-chuvas e galochas, eu acompanhava o rumo da enxurrada. Quando as panelas corriam para aparar as goteiras. Atrasou em muito os frutos do bacupari, da jaqueira, da mangueira e da jabuticabeira. Escaparam aquelas plantadas em vasos. A conta d´água subiu enchentes. O freezer comeu a energia – que luxo o ligar! E agora até os pássaros fenecem. A grama sumiu debaixo do vasto campo de folhas secas. Os dias molhados são uma miragem.
Na semana passada, Macarius teve o seu novo trabalho anotado pelo Correio Braziliense. Anos atrás, ele me deu uma cópia do seu CD de estreia. Com o seu trabalho relançado em streaming – fiz uma reavaliação de um trabalho autoral de raiz e sabemos como o parto é difícil. Já o estúdio Formiguero, uma das fontes confiáveis do novo rock, passa por reformas na nova sala A, do estúdio ali na QE 40, com o melhor preço: 35 contos a hora. Jornal Do Guará faz uma da cobertura das mais fortes da cultura na capital. É o nosso termômetro. A coluna notavelmente diagramada instiga as próximas, renovando o formato. Essa coluna foi uma metralhadora do rock'n'roll, conseguiu empurrar o Desonra goela abaixo.
A arte é longa e a vida é breve O único artista é o rebelde – para mim, hoje é dia do rebelde e de rebeldia –, dia de ir para o mato e penetrar em uma imensa caixa de som e ficar surdo com os ouvidos sangrando notas de acordes hemorrágicos.
Hoje, mais tarde, a Heaven and Hell vai estar na Ponte Alta. Volto ao passado pássaro, vejo Cécé rindo e dando curtos passos de dança afinados e arranjados.
“E aí, rapaz?”
No meu corpo, uma camiseta novinha pintada por Mancha, que trazia uma releitura do abismo baseada na capa do WHO'S NEXT. Com tanto azul respingado, você não sabia se também poderia ser o céu.
Que louco! Para minha surpresa começa a tocar “Balada do Louco”, que foi uma das que mais propagaram Arnaldo Baptista. Ele ainda é bonito, ele é mais que Alan Delon.
Das galerias das cabeças rebeldes de minha estante, com olhos caleidoscópicos e agora quase míopes, encontro o velho John, dos Beatles. Ele diz: “Eu nunca fui solo. Fui o tempo todo banda. Nunca houve Long John and the Silver Beetles”. Você não sabe como eu ajudei aqueles moleques.
Nós sabemos, John. John está barbudo na cama com Yoko, ela é muito inteligente e rapidamente pisca os olhinhos: “John, o Mário é como aqueles fãs do Texas que podem segui-lo pelo mundo”.
Respondo que “é melhor deixar o casal criar. Mas, John, você conheceu o Raul Seixas?”
John, reponde: – Aquele que me disse que Café Filho foi presidente do Brasil!?
Santa fumaça, o ambiente é de luxo. Corpinho feminino na penumbra. Tenho o meu crachá e sou amigo do Gilberto Gil. Estamos em plena loucura do dia 9 DE OUTUBRO, enigmaticamente envoltos em sentimentos que giram desde a extinção ao amor e pensando em tudo que você amou. Brilhante como o sol: Zenas, Cécé, Morrison, Retz, Zé eu e todos os metidos a rebeldes a insultar a arte das galerias. Dos tais críticos de rock, alguns não sabem escrever e nem tocar. Não pense que os rebeldes morrem cedo, alguns duram a vida toda: o Orson Welles, e agora este louco apaixonante que é o Szukalski. Não dá para esquecer o Bukowski. É tanta gente genial atrapalhada da cabeça tipo o Torquarto. Ah, e há os sábios, o Caetano, o Rogério Duarte. Gosto de construção do imaginário, do livro ser independente brochura colad ano gesso e letras de ouro na capa. Haverá partes manuscritas e fotocopiadas. Será o reinventário. Como escritor, farei mais sucesso do que qualquer outro escritor de Brasília? Como? Respondo: “Veja os preços de mercado dos meus livros e que fiquem assim”. E que Deus me dê mais talento e disposição para jogar palavras escritas ao vento, pois é mais seguro do que a conversa. E, penso em Wilson Brother e no maior poeta do planalto: Pezão!
CONVERSANDO COM OS MEUS BOTÕES
Quem guarda, bebe
Na Terra do Nunca, perto da Terra do Jamais, uma agremiação de meninos maus cresceu. Trocaram de fraudas e de sisos e docemente apertaram com a boquinha o seio. Tinham cabelo na testa como as hienas. A saudável Tara agora controla a janela das pessoas no WhatsApp, uma coisa mundana para países subdesenvolvidos e horas mal vividas. Tara puxa a guia junto com o pescoço da cachorrinha. Vacinar é cafona, vacilar é pisar a merda. Seus dentes eram verdes e seus olhos brancos como quem viu fantasma. Abriu a gaveta de títulos, pois acabara de receber a medalha dos aduladores dos genocidas. Antônio foi cutucado por infringir o preto e o branco. Tony da Vila, me pediu 70 contos para uma extrema-unção. Tony queria me vender suas revistas importadas de caixas de som, fazendo uma proposta de 40% de desconto abaixo de qualquer tabela. Eu ria, eu sempre dou risadas. Na cama é onde mora o prazer: “Sou milionário”. Tenho plano de saúde e um “4 rodas. Modelo Gol”. E tomo café todos os dias.
O capitalismo continua industrial e nesta era, ainda do capital humano, o contingente de bestas é grande. Bestas é analogia às cabeças de gado (que era a medida de riqueza nos tempos antigos).
“Vamos rachar um pacote de açúcar com 2 quilos e meio?”
“Me tire desta, tire o Alan e o Félix que estamos quebrados.”
Me prometeram uma pequena grana que seria de um celular redivivo. Tony queria vender o LP nacional por 350 reais, eu disse que venderia o meu americano por 200 reais. Que ele economizaria. Tony votou na patota do Guedes. Ele não dá o braço a torcer, vive como os reis do funk de Miami. Vão para todos na cadeia, pois agora dar calote no Paraguay virá óbito que é alta. O Paraguay dos índios dizimados é mais sábio. Lá a milícia não escolhe alvo. Um dia a milícia paraguaya chegará à capital. Nesta nova guerra do Paraguay, iremos combater a milícia que fala guarani com a nossa milícia que fala latindo.
Estou tipo este blues do Blue Cheer (fruit-and-icebergs). Na arte que fiz suei, me cansei, quase me acabei. Com o estômago cheio de poeira e os dedos cheios de pólvora. Fiz tinta para pintar, mas eu gosto mesmo é de varrer superfícies com os olhos. Pendurei cadeira na parede. Conectei as caixas ao cubículo do som nosso. Fiz texto em que me autocensurei. Agora vou aguardar a chuva. Quem sua a mão não tem medo – o tédio deixei na caderneta de contatos –, nem tiro mais extratos, pois sei que estou devendo. Meu novo xampu restabelecedor das ideias pneumáticas. A peça que cruzou o caminho me deu xeque. (Dez)acelerar as ideias; sobrou cerveja para terça-feira. Faltam-me lâmpadas e desinfetante de boca e de pia – Aaaargh!
Quem guarda. Bebe. Não é xampu!
Aí, meu saquinho! Deixar a garganta umedecida, bebendo a cada 15 minutos, previne o mau humor
Ontem foi dia de chutar o balde. De levantar a taça a bem da verdade. A cerveja nos eleva e leva fielmente a ver o que é verdadeiro, expressando a exatidão e a realidade dos fatos, das circunstâncias. Por isso bebo. Tomo consciência da natureza das relações humanas dentro da sociedade em que vivo, da relação explorado/explorador, e de como sobreviver a essa exploração. Não resolvi muito dos meus problemas. Aliás, vocês não podem fazer parte dos meus problemas. Você acha que eu farei parte ou analisarei problemas alheios? Darei importância? Segura a sua onda que eu não sou prancha, cantaram os Sex Pistols, depois dos Monkees.