PAULO ATAÍDE: VALENTE COMBATENTE DA ARTE DO CERRADO (2021)
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Faleceu Mestre Ataíde
28 de outubro de 2021
Vítima de um câncer, que o debilitou nos últimos dois anos, o artista plástico Paulo Ataíde Cavalcante, o Mestre Ataíde, faleceu hoje, 28 de outubro, no Hospital de Alexânia, em Goiás.
Mestre Ataíde era um dos mais influentes artistas do Guará. Aglutinador, seu ateliê era ponto de encontro da militância cultural e ele próprio era um importante mediador da classe.
Ataíde veio para o DF com 10 anos de idade, juntamente com seus pais e seis irmãos. Cresceu brincando no cerrado, desfrutando deste bioma tão rico e diversificado, e naturalmente um laço foi criado entre o garoto aventureiro e o meio ambiente que ele amorosamente chama de “velho amigo”. Aos 12 anos foi convidado por um professor da UnB para frequentar aulas na universidade, onde os desenhos do garoto na calçada chamaram a atenção do professor, mas Ataíde não levou a sério o seu talento e não prosseguiu nos estudos. Considerado um autodidata ele pintava, desenhava, escrevia e esculpia, mas nada profissional, mas apenas um hobby.
Ao longo da vida adulta trabalhou em diversas áreas, morou em muitas regiões do país, e aos 50 anos se descobriu enfim, mestre artesão e ecoartista. Inventou uma técnica a partir de matérias-primas encontradas no cerrado, e a denominou ecoarte.
Sementes, folhas, frutos secos, flores, cascas de árvores, “é tudo encontrado no chão, nada é arrancado da natureza e ao manuseá-los cada item é conservado como foi encontrado, não furo as sementes, não corto, procuro manter o mais original possível”, afirma o mestre artesão. A ecoarte é também um elemento para inclusão social, educação e conscientização ambiental, e que pode ser geradora de renda através da produção autossustentável.
Despretensiosamente também foi a forma como ele produziu uma série de quadros que pintou e intitulou “Pensando Oscarmente”. As telas ecologicamente corretas utilizam o papelão (como tela), e as molduras são feitas de talos de buriti, madeira típica do cerrado, que são retiradas sem agredir o meio ambiente. Os quadros homenageiam o arquiteto Oscar Niemeyer – seus traços e suas colunas – e os pioneiros que idealizaram e construíram a capital federal. As obras retratam também o cenário político pelos olhos do mestre artesão, e, claro, não podia faltar uma pitada de ironia em meio a tanta autenticidade.
Paulo Ataíde Cavalcante por muitos anos morou na cidade, viu boa parte de sua construção e crescimento nos anos 70 e garante que, para ele, “é a melhor cidade no DF para se morar, porque é perto de tudo, tem uma feira que é referencial, um complexo cultural (Cave) incrível, apesar de estar sendo mal utilizado, e é a cidade com maior número de praças no mundo. 99% dos meus amigos de verdade são do Guará”.
"Diversas vezes eu e vários amigos artistas ou não, fomos ao seu atêlie de EcoArte, fazer arte, filosofar, musicar, divergir, fogueirar e esperar o Sol nascer. Certa vez comemoramos nossos aniversários junto com muita música, fogueira e jam session. Bons momentos, lembro com carinho dele, até das vezes que discutíamos. Apesar de me sentir triste com sua passagem, sei que ele levará sua arte para outras esferas agora. Vá em paz Mestre Ataíde!" (Luciana M. Ribeiro)
"Descanse em Paz Mestre Ataide Cavalcante... que seja merecido o seu descanso .. enquanto ficam alguns tristes na terra, o outro plano regozija-se com sua chegada." (Lucas Rafael)
"Mestre Ataíde se foi. Conheci ele por meio da sua obra, expostas no Festival de Cinema de Brasília no Cine Brasília, fiquei impressionado de cara!
O amigo Luckinha da Galeria Mundo Vivo me levou à casa dele pra conhecê-lo melhor, novamente me impressionei. Um cara de jeito simples, fala mansa, foi me mostrando os projetos dele com muita humildade, aí me mostrou uma maquete que ele construiu para um Parque ecológico, me mostrou uma planta arquitetônica que ele desenhou, e me falou sobre sua obra em homenagem a Niemeyer e a técnica que ele criou com elementos da natureza, a sua 'Eco-arte' e foi me encantando com o seu trabalho... Ali percebi que não era só um cara simples com um grande dom artístico, estava conhecendo um Mestre... Conversávamos muito, sobre tudo, política, religião, história, e Arte, claro, e quanto mais eu conversava com ele, mas eu tinha certeza que era um cara muito vivido, com muita sabedoria, e muita coisa pra ensinar... Brigamos muito também...rs Mas sempre fizemos as pazes rapidamente porque não conseguia ficar com raiva dele muito tempo! Trabalhamos em 2 projetos meus juntos, no primeiro ele foi um dos Arte-Educadores no Hospital de Apoio de Brasília, e o projeto foi homenageado com uma placa de agradecimento do HAB... No segundo fizemos uma exposição virtual com a sua coleção 'Pensando Oscarmente', pra homenagear o Catetinho, Niemeyer, Juscelino, e os 60 anos de Brasília, e a exposição foi premiada pela Secretaria de Cultura no Festival 'Gira Cultura' (dos melhores projetos em homenagem aos 60 anos de Brasília). No início deste ano, já fazendo tratamento do câncer em estágio avançado me surpreendeu de novo. Me convidou pra Olhos D'Água pra me mostrar um galpão onde ele queria construir seu novo ateliê, seus sonhos eram do tamanho da sua vontade de viver, e há poucos dias atrás ainda conversávamos sobre nossos projetos futuros juntos. Ele estava no meu próximo projeto do FAC, e irá fazer muita falta, pra mim, e pra todos que iam poder se beneficiar com o projeto. Mestre Ataíde, partiu, mas sua Arte, suas Amizades (da qual me orgulho de fazer parte), e suas estórias vão ficar, e o que depender de mim vou sempre honrar sua memória e sua Arte!"
(Marcelo Motta Fonteles)
O quatro patas é o Moleque, Paulo Ataide, ao centro e eu mais conhecido como...
Ataíde era muito doido!
O espírito de porco, de Ataíde era mais gorduroso do que o meu, por isso, ele nos protegia e nos dava conselhos entre uma fumarada e outras xícaras de café. Foram várias as visitas e bingos na sua capela. Nossas brigas eram combinadas como um telecath para assustar aos vizinhos. Que ele encarava com a devida intolerância, por isso, sobreviveu tantos anos à margem da rodovia. Amante dos cachorros. Ele tinha um par de cachorros, o Fantasma e o Moleque sempre a nos acompanhar pelos cômodos.
Foi intensamente artístico enquanto durou. Era decidido. Queria ir para Cavalcante. Das conversas em seu atelier norteavam os rumos da cultura guaraense. Foi açougueiro antes de artista. Evoluiu o seu complexo cultural até a ultima faísca. A cerveja era nosso elixir.