40 anos de especulação literária (1982)
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ÉTICA E ETIQUETA
"Nunca levei puta em churrasco de família em Brasília deixando todo mundo desconcertado"
Uma fumaça meteórica me acompanhou enquanto afundava no brejo. Costumávamos plantar arroz até as canelas não pararem de coçar. Os olhos viram bilhetes furados que nos conduziram até o ponto final. – Acorda, vagabundo! Aqui não toleramos hippies.
Era Rosário, na Argentina, onde nasceu Che Guevara. – Procurem um hotel, e não fiquem na rodoviária.
Era a opressão mundial que qualquer mochileiro sofria.
Os travesseiros não eram de penas. Havia uma sensação de que a qualquer momento a portinhola de madeira, poderia ser forçada. Constantemente a luz fazia falta, era economia, o chão de madeira rangia. A cozinha não parava quieta – Dá-me um último cigarrillo.
Eu estivera em Juiz De Fora, em Beagá, em Sampa after. Nunca à noite, sempre pelo dia. Carregando um LP ou uma revista dentro de uma maleta de mão quadriculada e batida. Dentro, um gravador registrava o compasso e as batidas do coração. Era terror no metrô. Nas praças e nas galerias, até um ponto final cortado por uma rua vazia. E que dava uma imensa volta em torno da ponte do Tietê. Águas passadas e turvas ainda engarrafadas.
– Vamos subir, man!
Era o convite de um olheiro meio que abusador de meninos que vinham do interior fazer peneira no futebol.
– Estou com dor de dente.
– Man, no sábado teremos uma big festa e eu vou colocar você nela, será o meu convidado.
O tal técnico, o cara que me chamava de Man, foi em outro hotel recolher mais cocaína para os hóspedes do hospício.
Tomara que o sábado nunca chegue.
Na fila das putas, convidei uma garota para dividir uma cassete comigo, mascamos chicletes com campari. Como puta, eu mentia a idade e falava que era estudante de Letras promissoras. Do saguão, saia cedo antes do dia.
O Sol tardava para estampar os óculos escuros para encarar as vitrines e estufas. No banco da rodoviária mastigava pastel de queijo, esperando a banca abrir para comprar um jornal. Estava à deriva do próprio destino.
Nas rodovias de Juiz De Fora, a disputa entre bicheiros abandonava corpos nas rodovias. No hotel, eles me chamavam de – Brasília. No bolso com a passagem comprada, a aventura sem dublê voltaria ao ponto de origem.
Bicicletas voadoras: 'num tem mocinho'
VIGILANTE DE BRASÍLIA
Em cima de uma bicicleta, homem carrega poste de luz roubado. O ciclista do descuido, circulou por mais de um quilômetro entre o SIA e a Cidade Do Automóvel até ser preso, depois de uma denúncia. Ficou famoso.
Ladrões recorrentes atravessam a pista. Primeiro conseguiram retirar quase toda a tela de proteção do parque ecológico. Agora na outra margem, no Wet'n Wild, um projeto aquático embargado próximo ao Parkshopping teve a tela de seu alambrado subtraída. A tela da cerca do espaço embargado foi substituída por fios de arame farpado. Os ladrões agem na madrugada e vencem à vigilância. E os receptadores sem castigo.
Outra forma de roubo praticado é a expansão após a invasão de área pública, financiada por comerciantes.
Na 40, na recém reformada praça do bangue-bangue. Descarregaram metros de areia e centenas de tijolos. Ao meio-dia, dois homens uniformizados dobram pilares. Dá medo, o tamanho do redirecionamento desta invasão. Uns podem, você não pode.
Na ponta do comércio, o supermercado que tira cada nota a cada passada de cartão, paga férias e décimo terceiro e mantém empregos
No caixa, para pagar o PF, – 19 e 27!
– 27, o quê?
– Centavos
– ah, tá.
– Bolsonaro é honesto!
– Então, por que ele não ajuda a Bahia?
Este comerciante honesto incentiva a invasão do perímetro público.
– Ah, os servidores públicos estão de férias no litoral. Tomando uisque com calabresa e água de coco. Óculos escuros e bright e picanha. Acabaram de receber o décimo terceiro.
– Ih, este povo não trabalha. Blasfema o cara da escala 12 por 24, que ganha o dia em pé, sem fazer nada.
A pátria é uma grande máfia, aquele tal do grande acordo. Onde o lugar para morar torna-se perigoso. O sábio mantém a boca e a porta fechada.