Como é duro ser celíaco (2022)
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Como é duro ser celíaco
por Marizan Fontinele
Grande parte da população desconhece que sofre da doença celíaca, que é uma desordem relacionada ao glúten, proteína presente no trigo, ao malte, presente na cevada (hummm...a cervejinha, esquece) e ao centeio, e vão convivendo com os sintomas sem descobrir a causa.
Os efeitos são muitos e variam de pessoa pra pessoa: inchaço na barriga, diarréia, fadiga, feridas no corpo, ressecamento da pele, mal cheiro no couro cabeludo, e por aí vai.
E como não há pílula mágica como ocorre com a intolerância à lactose, o único remédio é uma dieta com abstenção completa desses alimentos.
Tem ainda a tal da contaminação cruzada, onde os alimentos não podem ser preparados em ambientes contaminados com o glúten, panelas, fornos, utensílios, talheres, etc e por falta de conhecimento há quem chame isso de frescura, ou doença de rico. É não, minha gente, o caso é sério e precisa ser encarado com atenção.
Desde 2003, a Anvisa obriga os produtores de alimentos a descreverem nos rótulos das embalagens a informação aos alérgicos se contém ou não contém glúten. É lei. Mesmo que ela venha em letras minúsculas e você precise de uma lupa, foi uma conquista para os consumidores.
O dia 16/05 é o dia mundial de conscientização sobre a doença celíaca.
Eu poderia dizer que não é fácil ser celíaco nesse mundão onde quase tudo o que se vê nas prateleiras de padarias e lanchonetes é feito com trigo, mas convivendo com celíacos percebi que há uma disciplina, e que eles não morrem de fome, aprenderam a se resignar diante de um pastel, uma coxinha, um bolo de aniversário e fazem suas próprias receitas em casa, se alimentando bem antes de sair, ou levando seu lanchinho na bolsa, afinal, nunca se sabe se terão a sorte de encontrar uma salada de frutas por aí.
O custo é alto, mas a segurança alimentar é tudo.
A ACELBRA - Associação de Celíacos do Brasil, presente em vários estados, inclusive no DF, tem forte atuação no segmento, e disponibiliza em seu site uma lista de parceiros e produtores de alimentos seguros para celíacos, além de promover encontros e palestras para esclarecimento de dúvidas e troca de experiências.
Os grupos de celíacos são bastante dinâmicos e os participantes se ajudam mutuamente.
O encontro presencial é uma festa de pães, bolos, pizzas e outras gostosuras. É como entrar no paraíso.
Em Brasília já temos casas seguras com produção e manipulação de alimentos para celíacos, que surgiram de pessoas com a doença e que conhecem bem o problema, como a Nutribakery, a SeLeve, a Pinoli pizzaria, a Quitutices, a Há Hamburgueria, a Senhora Amêndoa e outras.
Mas ainda falta muito! Nao é fácil encontrar um pãozinho feito na hora, com farinhas especiais ou um bolo fofinho sem o terrível risco de se contaminar.
No Guará as opções são restritas, mas é possível comer um pão de arroz na Padaria Cinco Estrelas (QI 04 e Área Esp.04) e algumas opções de bolo no Bolos do Flávio (QE 13), saborear um açaí e um bom chocolate quente no Empório Salute (QE 30), encomendas de bolos e tortas especiais na La Chica Celíaca e ainda tomar caldos deliciosos na Garagem do Caldo na QE 19, e no Morgannas na QI 27.
Mas os celíacos com alta sensibilidade não podem nem sonhar em passar perto das duas primeiras casas. Na verdade, não é seguro para os portadores da doença, pois, mesmo que os sintomas não se manifestem de imediato, internamente ja está causando danos ao intestino.
Fica o alerta: se há risco de contaminação cruzada não é seguro consumir.
Na Feira do Guará tem bancas que vendem todo tipo de ingredientes para fazer as receitas. Eu gosto de comprar farinha de amêndoas, psyllium e goma xantana a granel para fazer meus pãezinhos. Lembrando que, por segurança, o ideal é comprar os sachês ou pacotinhos fechados onde se conhece a procedência dos produtos e seus fornecedores pra não haver risco de contaminação cruzada.
E por falar em gostosuras da Feira, eu tô sempre na banca Araxá comprando meu queijo minas frescal, o presunto defumado fatiado na hora e o parmesão em lascas. A turma de lá é simpática e a "baixinha" dá um show de eficiência no atendimento.
Turistas relatam que em países como Itália e Espanha existem restaurantes e casas de massas que tem duas cozinhas, sendo uma delas para preparo exclusivo de alimentos "gluten free", sem risco de contaminação cruzada.
Nos Estados Unidos, os alimentos são identificados nos rótulos, mas por lá sabe-se que consomem muito trigo.
Na Índia eles usam o trigo sarraceno em alguns pratos, que é uma alternativa ao trigo comum.
E para os turistas vai uma dica: tem aplicativos que listam os lugares seguros para se alimentar no Brasil e no exterior.
Ah! Nunca diga a um celíaco: só um pedacinho não faz mal. Não é tão simples assim. Ele vai rir de você. Como é duro ser celíaco!
Observação:
Marizan Fontinele é celíaca, mas não é médica ou nutricionista.
Em caso de suspeita de "intolerância ao glúten", recomenda procurar um gastroenterologista para o diagnóstico e tratamento correto.