500 Reais, Um Feiticeiro e Seis Braços: O Preço de um Reflexo (2025)

Bah! Histórias só acontecem quando há uma gratificação (e esse é o meu caso). Sem grana, sem storyboard—afinal, no Guará, na cultura, ninguém trabalha de graça. E foi nesse cenário de luxo e champanhe que fui escalado para carregar um enorme espelho. Ao ver meu reflexo, não tive dúvidas: batizei-o de "espelho mágico"!

Fui conferir o preço do frete e, além do valor do transporte, ainda teria que pagar a comissão de dois ajudantes. Fazendo as contas, a brincadeira já chegava a 500 reais! E nem assim o translado era garantido. Eu ainda precisava ter uma manhã livre para encontrar os ajudantes. Avaliei as possibilidades, mas o motorista do caminhão não me inspirava confiança. Suas perguntas foram diretas:

— É pesado?
— É apartamento?

Não senti firmeza. Demacol.

Para alcançar o espelho, tive que enfrentar desafios em etapas. Ele estava bem protegido, firmemente apoiado sobre duas colunas de mármore dentro de uma fortaleza. O que eu não sabia era que o espelho e seu feitiço já haviam se materializado em mim e em minhas ações—eu estava sob seu domínio, a serviço de libertá-lo.

Para a missão, precisei me preparar e colocar o pé na estrada. Diante do portão da fortaleza, o acesso estava trancado. Eu precisava atravessá-lo de qualquer jeito.

— Tem fé? — perguntei.
— Para isso, não! — foi a resposta.

Diante disso, lancei mão dos truques do escotismo: esfreguei a bateria do controle e, com uma faísca, o portão se abriu. Mas o caminho ainda não estava livre. Para finalmente apreciar o espelho, precisei superar as barreiras das grades e das portas com suas chaves emperradas—o que não foi problema, pois eu já tinha alguma experiência em arrombá-las.

Lá estava ele, repousado, à minha espera. De cara, gostei dele. Agora, o verdadeiro desafio: como retirá-lo dali? Para isso, eu precisaria de pelo menos seis braços—quatro deles fortes e dois dispostos a sangrar como sanguessugas.

Estamos na estrada, e a desconfiança é essencial—dos locais, das pessoas—mas a maioria ali está apenas no suor sagrado, ganhando o dia.

O espelho mágico me conduziu até os limites das Arniqueiras, diante da pista movimentada que levava ao Riacho Fundo. Agora eu sabia onde estava.

Perguntei ao frentista do posto de gasolina:
— O responsável por aquele caminhão de frete já foi embora?
Ele respondeu:
— Não, ele mora aqui perto, é só ligar.

Uma hora se passou até que o motorista do caminhão e seu ajudante—um sujeito magricela, de chinelos e camisa do Flamengo—aparecessem. Partimos rumo ao castelo do espelho mágico.

Enquanto o caminhão abastecia, dei uma volta e, logo após um retorno, fui surpreendido. Do nada, surgiu um feiticeiro de branco, como se tivesse acabado de fugir de um hospício. Falava uma língua que eu não entendia e gesticulava pedindo para eu abaixar o vidro. Ele deu a volta no carro e, aparentemente, havia ido embora. Mas não.

De repente, começou a bater uma garrafa vazia contra a própria testa. Pegou um pedaço de asfalto e avançou em direção à traseira do carro. Ainda tive tempo de pensar: dou a ré e resolvo isso de vez ou acelero e sigo em frente?

Depois do abracadabra para acessar as dependências do castelo, iniciamos o transporte do espelho mágico com toda a cautela. Para esse translado, o ideal seria usar ventosas duplas ou pedaços de borracha de câmara de pneu para garantir aderência e aliviar o peso.

E lá fomos nós, seis braços empenhados na missão. Durante o trajeto, ouvi uma máxima que fazia todo sentido: "A responsabilidade de transportar um bem sem quebrá-lo desgasta mais do que o próprio peso do objeto."

Após enfrentar o trânsito caótico, chegou a hora das manobras complicadas para posicionar o caminhão próximo à entrada da minha casa e descarregar o espelho. Ele era uma chapa translúcida de 10 mm de espessura, com as bordas jateadas e lapidadas.

Com a tensão finalmente aliviada, veio a pergunta fatal:
— Quanto lhe devo? 450 reais pelo esforço está bom?
O combinado era 350, mas, no fim, respondi:
— Gostei do ajudante, pagarei 360 reais!

E assim, fim de festa. O magricela de chinelo, que parecia esgotado, ainda brincou:
— Ainda bem que tínhamos fé!

Já o motorista do frete puxou papo: disse que tinha um quiosque na Arniqueira e me recomendou o trio "bomba"—refrigerante, fritas e hambúrguer com tiras de picanha, tudo por 15 reais. Se um dia eu passasse por lá, deveria experimentar.

Fiquei salivando.

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