Two Virgins: faça uma pilha de pedras para coisas boas na sua vida
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por: Rodrigo Souves
Dia desses, via Whatsapp, recebi uma foto da capa do disco Two Virgins, John Lennon e Yoko Ono de costas e nus, com a ótima piada quando você se sentir triste, lembre-se da bunda da Yoko Ono. Além das gargalhadas, isso me remeteu a uma lembrança do início dos anos 2.000, ou seria fim dos 90? Com a ajuda do semi-deus Google, tirei minha dúvida, foi no ano de 1998, instalações no Teatro Nacional, eu com CNH há dois anos tinha apenas 20 anos, muito rock e pouco roll.
Um drama da época era já estar cansado da companhia da rapeize, vinho suave em garrafas de plástico, maconha e fliperama, violão mal tocado e muito Mutantes em fitas cassetes no toca fitas de um bom Fiat Uno, gasolina barata e pouca experiência lisérgica. Mario Pazcheco, primo de um bom amigo, construía sua casa aos trancos e barrancos e já ruminava uma hostil preparação com revólver enferrujado e poucas balas para o enfrentamento contra grileiros sinistros que simplesmente traziam gente tosca dos confins da Bahia e ordenava “fica por aqui que em breve vou cercar e murar para você morar, fica ai porra!”. Tudo muito legal, ir na casa do Mario era o canal, mas não dava para o cara ficar recebendo gente o tempo todo. Um certo dia fomos sem aviso e o anfitrião não estava, resolvemos pegar mangas antes de ir ou aguardar o cara chegar, porém, o pai do cara com um facão na mão, parecido um cangaceiro louco para cortar orelhas de macacos do governo, nos disse “quando o dono da casa não está, a visita tem que se retirar”, lição mais que aprendida, nunca mais passei por situação análoga.
O rock é bom, custo dinheiro e um pouco de esforço, é desmotivamente as vezes por conta dos envolvidos se dizerem quebrados e estorvados demais para terem algum trocado para dividir despesas, sendo exemplar disso um imbecil com roupas Adidas e tênis Nike Air Jordan à beira da violência vociferar na época “Chico Sciense vem fazer show de graça e eu que não sou otário de pagar um real para ver essas bandas de merda”, isso de frente a um bar chamado Mutantes que cobrava simbolicamente um real para abrir espaço para qualquer banda de rock a tocar, eu tinha apenas vinte anos e era menos imbecil que esse otário revoltinha, que para minha surpresa, mesmo depois de debandada a galera em geral, continuou ali, só e com um garrafão de Sangue de Boi pela metade, bêbado e cantando “cadê Rogê, cadê Rogê, cadê Rogê ô”.
Na época, li no Caderno 2 do Correio Brasiliense sobre a pseudo arte da Yoko Ono, convidei uma conhecida das rodas de violão, vinho doce e maconha a ir comigo ver as instalações da artista no Teatro Nacional, de graça! Ela que era brutalizada por playboys com dinheiro e libido desmedida topou e até se emocionou, “poxa, que legal cara, vamos sim”. Fomos ouvindo Mutantes e ela educadamente manifestou cansaço das mesmas músicas, eu gentilmente pedi para ela trocar o som, sacou da bolsa uma fita do Pink Floyd e fechou os olhos em contentamento por estar sendo bem tratada, não era comum. Chegamos e pegou na minha mão, eu falei “olha, sem romance valeu? Você é agradável e não se sinta na obrigação de ficar comigo, numa boa!”, ela sorriu e me beijou, “você é muito legal”. Senti o pau apertar a cueca, mas não estava numas de trepar, eu não via problemas em ser amigo de uma mulher, ela estava cheirosa e super atenciosa comigo. Vimos um quarto partido ao meio, tudo branco, um corredor cheio de espelhos, pedras amontoadas e um cartaz com instruções, Faça uma pilha de pedras para coisas boas na sua vida, faça outra com as coisas ruins, ao final saberá se sua vida está sendo boa ou ruim, minha companhia fez uma enorme pilha que se desmanchou e ela catou pedra por pedra do chão e pôs no devido lugar, perguntei e ela triste respondeu “não lembro de nada bom, aquilo era tudo memória ruim”, peguei uma pedra só e falei “essa aqui é sobre hoje, está joia, não quero lembrar nada ruim” ela satisfeita me abraçou, me senti o cara vestindo jeans no encarte do disco Dois da Legião Urbana.
Menos de uma hora depois, comecei a considerar tudo uma merda, um dinheiro público gasto com toda aquela besteirada, uma sequência de gaiolas vazias com nomes de pássaros, pensei em John Lennon, o que esse cara viu nessa mulher? E eu nem tinha visto a bunda da Yoko Ono na capa do Two Virgins, havia tarjas pretas quando aparecia em jornais ou revistas, caso visse diria “que cara mais sem lógica!”. Minha parceira de passeio entendeu meio enfado e falou para irmos embora, falei que por mim tudo bem ela dar outra volta e eu esperar, estava tranquilo, mas ela já estava satisfeita e rumamos para a EPTG. No caminho da volta, para minha surpresa, falou para fechar os vidros fumês, abriu meu cinto, botões da calça surrada da Fórum e abocanhou meu pau que estava rijo como aroeira, chupou demoradamente e reclamou do maxilar dolorido, enfiei o dedo no cu dela, fez uma garganta profunda com vontade, aguentou o tranco, e eu gozei muito, quase sai da estrada, foi lindo! Ficamos em silêncio ouvindo mais Pink Floyd. Voltei a pensar em John Lennon, talvez Yoko Ono tivesse um maxilar indolor, talvez... o cara sabia das coisas. Ao final da escrita desse curto relato, notei o pau duro na cueca já apertada, porém, lembrei de novo da bunda da Yoko, a libido foi embora no ato e me senti aliviado e sem tristeza.
19/03/2015