RELEMBRANDO MAGNÓLIO POR CELSO BARBIERI
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Relembrando Magnólio!
Magnólio nos anos 70. Foto retirada dos arquivos de Mário Pazcheco.
Relembrando Magnólio!
Escrito por Antonio celso Barbieri
Faleceu Magnólio! Para aqueles roqueiros que viveram intensamente os anos 70, Magnólio foi uma figura lendária, apresentador dos festivais que aconteceram no Parque do Ibirapuera, apresentador e um dos organizadores da lendório teatro de shows chamado Tenda do Calvário. A "Tenda" teve uma história curta e tumultuada, tendo sofrido nas mãos do DEIC num momento em que a Ditadura Militar estava no pique da coisa.... A última vez que encontrei-me com "Mag" foi quando ele foi o irreverente mestre de cerimônias de um show acontecido no Playcenter onde , entre outras bandas, apresentou-se a banda Joelho de Porco.
Qualifica-lo simplesmente como "Palhaço", com todo respeito à esta profissão, é pouco! Ele sempre preferia definir-se como um "Palhaço Ecológico". Ele, além de ser um artista performático, sempre foi um grande ativista engajado que, divertindo, sempre passava uma mensagem de cunho humanitário e cultural.
Sempre que o encontrava, cobrava dele a devolução de umas fitas K7s que tinha gravado ao vivo num dos festivais do Ibirapuera e lhe emprestado. Entreguei as fitas em suas mãos dentro da Tenda do Calvário mas, a posterior invasão policial culminando com a prisão de todos os presentes mais toda a confusão e insegurança futura, de uma forma ou de outra, fêz com que nunca mais conseguisse recupera-las, não era para ser, estas fitas se perderam no tempo... Isto nunca impediu-me que sempre guardasse um enorme carinho por ele! Sonhava com o dia que pudessemos nos ver novamente! Descanse em paz caro amigo!
Quando Mag leu minha matéria sobre a Tenda do Calvário mandou-me esta mensagem:
“Celso, que bela obra, que linda leitura, que viagem me proporcionaste! Magnólio |
Quando eu fiz 60 anos ele me mandou esta mensagem hilárica:
“Comece a fazer SEXO à sério! Magnólio |
Quando tive que fazer uma operação muito séria ele me enviou esta mensagem:
"Celso, receba daqui da Amazônia toda a força da mata e da floresta em pé! Magnólio |
Lá na Tenda do Calvário, um dia à tarde eu estava no palco ajudando o técnico de iluminação. Mag aproximou-se todo silencioso, sério, me pegou pelo braço e sem dizer uma palavra me levou por uma pequena porta para atrás do teatro onde existia um jardim isolado. Lá havia uma meia duzia de pessoas já sentadas em círculo no chão. Nos sentamos juntos e aí passaram o "cachimbo da paz"! Ele era um guru!
Descoberta acidental de uma catacumbaUm dia, próximo da escada de acesso para a torre da igreja, durante os trabalhos de limpeza do local, um tijolo solto, quando retirado, revelou uma área aparentemente secreta. Vários tijolos foram retirados e revelaram um pequeno corredor que dava para uma escada de concreto sem corrimão que descia para uma grande sala. O Mag arrumou uma lâmpada com uma extenção e descemos as escadas para explorar. Nas paredes podia-se ver entradas seladas com tijolos. Tudo indica aquela sala era um grande túmulo. Será que a Tenda do Calvário foi castigada por tirar os sossego dos mortos? Leiam minha matéria sobre a Tenda do Calvário: (clique aqui)
Magnólio. foto: Tatiana Cardeal
Magnólio: Livro Aberto
Escrito por Cristovam Sena
(13/05/2016)
Se não me engano, ele é paulista. Seu nome é Paulo Roberto Sposito. Conhecido como Magnólio. Cognome que recebeu quando ainda jovem estudante, sua acentuada rouquidão deixava sua voz parecida com a de um personagem de novela que se chamava Magnólio. O conheci através de trabalhos que envolviam a Emater e o "Projeto Saúde e Alegria" - PSA. Organização fundada pelo médico Eugênio Scannavino Netto, em 1985, que veio de São Paulo e trabalhava nas comunidades ribeirinhas onde, por falta de informação da população sobre cuidados básicos com a saúde, o índice de mortalidade infantil provocado pela diarréia era alto. Eles começaram distribuindo cloro para combater essa calamidade que caracteriza as regiões pobres, que ainda persiste na rica Amazônia.
Mangnólio em ação no Circo Mocorongo
Nessa época, mantínhamos um programa radiofônico na Rádio Rural, "Fruto da Terra", criado quando o amigo Rubens Cardoso era Supervisor Regional da Emater em Santarém. Programa semanal, no início apresentado pela Meive Piacese e eu. Eugênio foi entrevistado no programa para falar sobre sua atuação nas comunidades de várzea, mais de uma vez. Retornando ao Magnólio, fiquei sabendo que ele era formado em técnicas circenses pela Academia Piolim, em São Paulo, e tinha concluído curso na área de serviços sociais. Essa mistura de circo com sociologia temperou seu caráter, suas ações profissionais ainda hoje estão alicerçadas na alegria e consciência social. Características cada dia mais escassas, que precisam ser valorizadas.
Como tínhamos algumas coisas em comum, principalmente gostar de livros e cerveja, nos aproximamos. Ele chegou a montar com sua companheira Gorda, o bar Relicário, onde íamos aos finais de tarde atualizar o papo com os amigos. Passou a me convocar para participar de algumas reuniões do PREA - Tapajós (Pólo Regional de Educação Ambiental), que ele comandava. Atendendo seus convites, fui falar sobre "Sustentabilidade Cultural" em comemoração à Semana do Meio Ambiente, na ULBRA. Em outras ocasiões, sobre desenvolvimento global enfocando o meio ambiente, o lucro e a população do município. Sempre atendia suas solicitações.Um dia me telefonou, comunicava que o PSA estava montando ao longo do Rio Tapajós, nas comunidades trabalhadas por eles, bibliotecas comunitárias. Queria adquirir os livros regionais editados pelo ICBS. Ao todo Magnólio ajudou a montagem de cinco bibliotecas, sendo uma itinerante, dentro de um barco. Além das bibliotecas ele bolou o Circo Mocorongo, assim poderia aplicar as técnicas circenses adquiridas na Academia Piolim, guardando pra si o papel de palhaço.
Magnólio sempre brincalhão!
Passamos bom tempo sem nos encontrar. Voltamos a nos ver em 2009 na residência do Antenor Giovannini. Aposentado da Cargill, Antenor resolveu estimular a criação de um grupo de amigos com o intuído de encaminhar debates e propostas sobre alguns problemas da cidade, dentre eles o abastecimento de água nos bairros periféricos. O grupo teve vida curta, como era de se esperar, pela variada opção política dos seus componentes e a complexidade dos problemas selecionados. No início denominado de "SOS Santarém" pelo Jota Ninos, o grupo foi rebatizado pelo Magnólio de "Santarém Pai d'Égua" e sumiu devido a divergências políticas internas. As reuniões aconteciam aos sábados, com direito a cerveja e tira-gosto preparado pelo anfitrião Antenor. Após novos desencontros, fui rever Magnólio já em 2012, nas telas do cinema. Fazia parte do elenco do filme "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios", contracenando com Camila Pitanga. Só isso!
Em 2013 ganhei de presente um trabalho produzido por ele, denominado "Eu, lúdico, brinco, logo existo!". Um livro aberto, com folhas soltas, impresso em papel 180 gramas, com desenhos que ilustram as brincadeiras tradicionais das crianças do nosso tempo, que hoje nossos netos não brincam mais: pião; papagaio, aviãozinho e barquinho de papel, carrinho fabricado com latas de sardinha, bolinha de gude, botão de mesa, etc... A última, ou primeira página do seu livro aberto - as folhas soltas não são numeradas - é um poema que estimula nossa imaginação a entender a realidade dos meninos e meninas das beiradas do Rio Tapajós, que se confundem com "os meninos e meninas do Brasil, que a gente passa e finge que não vê!" Realidade que ele tentou transformar com seu trabalho no Projeto Saúde e Alegria.
Esse é o Magnólio que, de relance, cheguei a conhecer e conviver. Ontem conversei com o professor de história Paulo Lima, fui informado que o Magnólio retornou para São Paulo. Está dodói.
Crianças e palhaços como o Magnólio não deviam adoecer. Aqui meu reconhecimento pelo muito que realizou!
Dedico ao amigo os versos do poeta e filósofo iluminista francês Voltaire (1694/1778):
"Um livro aberto é um cérebro que fala; Voltaire |
Eu, lúdico, brinco, logo existo!
livro infantil publicado por Magnólio
Confira a mensagem postada na página do Projeto Saúde e Alegria
Magnólio, nosso amigo, parceiro, irmão
Hoje parece que você foi até ali na beira do rio Tapajós pegar um barco pra viajar até uma comunidade para educar os jovens, fazer os adultos voltarem a ser crianças e com o sorriso delas ensinar como a vida pode ser feita de alegria e uma eterna crença no futuro. Ensinar que a alegria não tira a seriedade das coisas importantes pelas quais devemos lutar, que o mundo espera o melhor de cada um de nós. Pegamos todos passagem nesse mesmo barco chamado vida e tivemos a sorte de ter você como nosso companheiro e comandante. Muitas vezes você foi o próprio combustível que fez o motor deste barco, as vezes com dificuldades, conseguir navegar e ir mais longe, chegar a mais comunidades, a mais pessoas no mundo. Não importa! Sua frase para os momentos difíceis virou nosso lema pra enfrentar os desafios. Sua alegria, otimismo, energia transmitida naturalmente às pessoas que lhe conheciam moveu os sonhos de uma Amazônia viva e com cidadania para seus povos. Esta planta não morreu, está viva e será sempre regada com suas ideias. Nosso amigo, cada cor da nossa cortina do Circo Mocorongo é uma maquiagem sua e estará sempre renovada todas as vezes que um novo palhaço fizer uma criança sorrir, um jovem acreditar no seu potencial, um adulto viver melhor e com sabedoria, e um velho voltar alegremente a ser criança.Hoje você fez uma viagem mais longa. Maior que aquelas de vários dias fazendo circo e distribuindo alegria às margens dos rios da Amazônia. Mas você estará sempre ancorado no porto das nossas melhores lembranças e nos encontraremos em qualquer parte desse universo. Acredite, cada um dos sorrisos que você promoveu, viraram sementes que alimentarão os sonhos de um mundo melhor.
Confira a mensagem da poetisa Socorro Carvalho
Santarém está de luto. Socorro Carvalho |