Livro 'Tropicália: um caldeirão cultural' será lançado no aniversário do movimento
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Cultura
Livro 'Tropicália: um caldeirão cultural' será lançado no aniversário do movimento
1º abr. / 2011 - Fruto de mais de 30 anos de pesquisa, Tropicália: um caldeirão cultural (R$ 59) será lançado no dia 6 de abril, na livraria Saraiva do Ouvidor, trazendo uma coletânea de depoimentos de diversos personagens que viveram os bastidores de um dos maiores movimentos culturais do país. Enquanto os holofotes sempre se concentraram nos baianos Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, entre outros, considerados os líderes do movimento, outras figuras significativas tiveram participação efetiva e apresentam na obra outro olhar sobre tudo o que aconteceu, como por exemplo, Jards Macalé, que afirma ter havido um grande mal entendido.
“Houve um mal entendido. Até hoje eu e outros companheiros somos considerados malditos, não comerciais. Eu não acho isso. Nossas canções podem fazer sucesso, basta ligar o rádio. Há coisas boas, mas a grande maioria é uma porcaria”.
No livro, Macalé afirma ainda que ele e muitos de seus parceiros da época foram rotulados como não-comerciais.
“Eu gravo pouco porque determinadas pessoas das gravadoras até hoje acham que nós, os ditos malditos, não somos comerciais. Eu, Jorge Mautner, Luís Melodia e Sérgio Sampaio somos considerados malditos Eu não acho nada disso. Qualquer faixa de nossos discos pode fazer sucesso. Basta ligar o rádio e comparar. Há coisas boas, mas a grande maioria é uma porcaria”, desabafa, acrescentando que a Tropicália não foi um movimento, mas um a discussão estética e cultural.
A obra contém ainda declarações inusitadas como o do diretor e ator José Celso Martinez: “Eu senti que tinha de me desligar de uma série de coisas, tinha que sair da cidade, cortar os vínculos com a família. Tinha que matar a família, a instituição família, os papéis, pai, mãe, irmão e propriedade”, diz fazendo referência ao desligamento de todos os padrões em que vivia para poder seguir a vida artística e ao Tropicalismo.
De acordo com Rogério Duprat, que também contém depoimento na obra, quando conheceu Gilberto Gil, ele percebeu que também estava interessado em mudar de linguagem, pois também havia sido cantor de banquinho no programa semanal da Elis Regina, O Fino da Bossa, na TV Record. “O Gil cantou muito lá. Sempre foi bom violonista. Caetano não era tão bom músico. Era mais conhecido como letrista”, lembra. Duprat recorda ainda, que bem antes disso tudo, ele era o único entre os tropicalistas que dizia, já naquela época, que a arte acabou no sentido de que tudo virou arte.
“A classe média intelectualizada sempre foi como é hoje: elitista. Ela classifica como brega ou como cafona as coisas que não interessam a ela. Quando a classe C toma conta de uma linguagem, as classes A e B rejeitam. Rejeitam e inventam um nome para ridicularizar.”
No ano de seu 43º aniversário, a Tropicália é brindada por essa obra que promete remexer com crenças e mitos sustentados até os dias de hoje. De autoria do pesquisador e músico Getúlio Mac Cord, o livro a ser lançado pela Editora Ferreira, traz mais de 40 entrevistas, somando mais de 50 horas de conversas, gravadas em mais de 55 viagens e quase 5 mil shows. Segundo o autor, o Tropicalismo, embora tenha sempre sido associado à política, foi em sua essência um Movimento cultural a altura da Semana de 22 e do movimento antropofágico de Oswald de Andrade. “Havia sim uma insatisfação com a ditadura e os horrores dos militares na época. Mas a Tropicália ultrapassou essa questão. Foi além. Tratou de repensar a nossa cultura, uma reflexão cultural 40 anos depois da semana de 22”, afirma Mac Cord.