O livro mais engraçado do mundo
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01/04/2011
O livro mais engraçado do mundo... e o fim de um mistério
Escrito por André Barcinski - http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/
Se eu fizesse uma lista de meus livros prediletos, ele estaria bem no topo.
Estou falando de Uma Confraria de Tolos (A Confederacy of Dunces), de John Kennedy Toole (1937-1969).
Gosto tanto desse livro que, sempre que encontro um exemplar dando sopa no Estante Virtual, compro e dou de presente a algum amigo ou parente. Virou um dever cívico apresentá-lo para o maior número possível de pessoas.
E olha que achar um exemplar em Português é bem difícil. Não lembro de ter visto nenhuma edição brasileira posterior a 1980. Uma pena.
Uma Confraria de Tolos é, junto com Don Quixote, o livro mais engraçado que conheço. Na primeira vez que li, tive ataques incontroláveis de riso.
As semelhanças com a obra-prima de Cervantes não param por aí.
O personagem do livro é uma espécie de Don Quixote do século 20, Ignatius J. Reilly, um nerd obeso, glutão, fedorento e desagradável. Reilly despreza a modernidade, ridiculariza a cultura pop e se acha o centro do Universo. Um delirante megalômano e fracassado.
A história se passa em New Orleans, nos anos 60. E a forma como Toole descreve a cidade, cheia de malandros, biscateiros, policiais desonestos e aposentados ridículos, é um primor. A cidade vira um personagem.
É difícil resumir a trama. A rigor, é só a história de Ignatius – que ainda mora com a mãe – procurando por um emprego. O que acontece com ele durante essa busca é o interessante.
Tão incrível quando a história de ignatius é a saga de seu criador, John Kenedy Toole.
O talento de Toole nunca foi reconhecido – pelo menos enquanto ele estava vivo.
Depois de ter o livro rejeitado por inúmeras editoras, Toole, que sofria de depressão, cometeu suicídio, em 1969.
Sua mãe, Thelma, disposta a provar o talento do filho, passou os anos seguintes enviando cópias do livro para editoras. Nenhuma se interessou.
Até que, sete anos depois, o conhecido escritor Walker Percy, cansado da insistência de Thelma, aceitou ler o manuscrito. Ficou tão impressionado que convenceu uma editora a publicá-lo.
Uma Confraria de Tolos foi publicado em 1980. No ano seguinte, ganhou o Prêmio Pulitzer de melhor romance.
Mesmo com o prêmio, o livro ainda é um “cult”. Nunca foi uma obra popular, apesar de ser citado como influência por gente bacana como o escritor chileno Roberto Bolaño.
Conheço muita gente que adora literatura e nunca tinha ouvido falar de Uma Confraria de Tolos .
Pra piorar, parece haver algum tipo de maldição sobre o livro.
Ao longo dos anos, vários atores e diretores tentaram adaptá-lo para as telas, mas uma série de tragédias aconteceram.
Em 1982, John Belushi estava escalado para o papel de Ignatius, mas morreu. O mesmo aconteceu com John Candy e Chris Farley. Assustador.
Anos depois, Steven Soderbergh chegou a anunciar que filmaria a adaptação, com Will Ferrell no papel principal. Mas o furacão Katrina destruiu New Orleans e o filme nunca foi feito.
No livro, Ignatius J. Reilly vai ao cinema apenas para ridicularizar os filmes. Seria esta sua vingança contra Hollywood?