"O bé-á-bá de Brasília" (2011)
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"O bé-á-bá de Brasília" alguns termos e expressões
Pega o beco! Expressão imperativa com a qual se manda uma pessoa dar o
fora, vazar. “Pega o beco, malandro!” É provável que a expressão tenha sido trazida pelos cariocas.
Zebrinha. Microônibus. “Vou de zebrinha”.
Xô te falar. É o jeito brasiliense de dizer “Deixa eu te falar”, mesmo que você esteja calado. Ele liga para você, diz alô e já vem com um “xô te falar” arrastado. Todo papo começa com esse "xô te falar".
Blocos. Prédios, edifícios. Boa parte dos prédios tem nome, mas ninguém sabe nem lembra - o que interessa mesmo é saber a letra do bloco, pois assim não tem erro. (“Embaixo do bloco, subi o bloco, desci o bloco”).
Congresso Nacional. “Se gradear vira zoológico; se murar vira presídio; se cobrir com lona vira circo; se botar lanterna vermelha vira puteiro; e e se der descarga não sobra ninguém” (jornalista José Simão)
A2. É nome de um motel de Brasília. Como tudo aqui é na base do setor, e o setor dos motéis fica lá na casa do cacete, muitos casais acabam fazendo amor ali na Praça dos Três Poderes, à noitinha, sob a luz da Pira da Pátria.
Abadiar. Apoiar ou votar em Maria de Lourdes Abadia, que era candidata ao Governo do Distrito Federal em 2006; ela já estava governadora em mandato-tampão de quase um ano, mas queria porque queria um mandato de quatro, ou seja, de quatro anos. Mas pelo menos dessa tragédia nós nos livramos.
Bina. É a sigla de “B identifica número de A” [sendo A quem liga e B quem recebe uma ligação]. O inventor desse “identificador de chamadas” é um morador de Brasília - Nélio José Nicolai. A invenção está patenteada no INPI.
Tequinfin. Até que enfim.
Vovó Sara. Esse nome está todos os dias nos anúncios do jornal, dizendo que joga cartas e búzios e que faz e desfaz todo tipo de trabalho com poderosas entidades da "linha branca", contemplando amor, negócios, saúde, vícios e o diabo a quatro.
Beirute. Bar e restaurante de público LGBT (lésbicas, gays, travestis e transexuais). Toda fauna e toda flora de Brasília. Os simpatizantes o chamam de Beira. Os antipatizantes o tratam como Gayrute (de gay).
Camarote. É como o corretor de imóveis define o apartamento de alto padrão que tem visão privilegiada para os jardins presidenciais e para o Lago Sul. Nos classificados dos jornais eles anunciam com o nome “camarote”.
TNG. Ô mulherada...Duas brasilienses se encontram. “Nossa, que roupa linda!”, diz uma. A outra ri e responde laconicamente: “TNG”. Ambas
riem, sabendo que TNG é “Tem No Guará”, na Feira do Guará.
Vicente Pires. Cidade satélite de baixo poder aquisitivo que de forma irreverente é chamada Vip, VP, Vincent Paul e Vicente Paris. “Só glamour”, diz um morador. “Coisa globalizada, é chique de doer”.
Stop-in-a. Um dos termos usados por uns e outros para se referirem a “Paranoá”.
Puxar as esporas. Na gíria dos cowboys e peões, fazer amor, transar.
Tu vai vim?. Nossa senhora! Três violências à gramática numa frase de três palavras e oito letras. Bastaria “Tu vens?”. Como na música de Alceu Valença: “Tu vens? Tu vens?”
Acariocado. Tudo o que alguns brasilienses queriam na vida era ser carioca. Às vezes, o cara não é filho de carioca e nunca foi ao Rio, mas torce pelo Flamengo, fala um carioquês forçadíssimo e, na época do carnaval, ele sabe a que horas a Mangueira vai entrar.
Camelo. O mesmo que bicicleta.
Baú. Significa Ônibus
Primas. Entre os homens, é forma como são chamadas as garotas de programa que ficam nas paradas de ônibus da W3; o termo também se refere às prostitutas em geral.
Prumada. Conjunto de apartamentos superpostos, com uma entrada comum e servidos por um mesmo elevador ou uma mesma escadaria.
Trem Bala. Lançado pelo menos 171 vezes por Roriz nas 171 ocasiões em que se viu às voltas com denúncias. O trem, que ligaria Brasília a Goiânia, ganhou os singelos apelidos de Trem Pequi e Trem Empadão.
Trem Empadão. Esse é o nome da parte goiana, cabendo aí coisas como linguiça, guariroba, frango, costela de porco e outros saborosos petiscos.
Ceilândia. Surgiu da sigla CEI - Campanha de Erradicação de Invasões, que "limpou a área", expulsando os peões e miseráveis, que acabaram criando a cidade-satélite de Ceilândia.
Acompanhante. Moça poliglota que recebe altos cachês para chegar de mãos dadas com políticos em eventos. Procura ser discreta, mas todo mundo vê que é matéria paga. Como ela entra muda e sai calada, nem precisava (para isso) ser poliglota.
Agauchado. Cidadão com jeito, trejeito, sotaque e certidão de nascimento de gaúcho, que trocou frio por calor, loiras naturais por oxigenadas e chimarrão por pequi; só não trocou o Grêmio de Futebol Porto-alegrense pelo Brasiliense.
Agoianado. Brasiliense é goiano do quadradinho, mas só se refere a
goiano de formadepreciativa. Se você chamar o brasiliense de goiano (que
ele é), ele toma como ofensa; mas se chamá-lo de carioca (que não é),
ele tomará como elogio.
Pistoleiras. No geral, são mulheres caçadoras. No particular, são garotas de programas com atuação em algum pistão de Taguatinga.
Côncava Cumbuca do Congresso Nacional que fica virada para baixo. É o Senado. Supõe-se que o formato fechado indica a Casa onde geralmente um
projeto de lei é concluído. Para os maldosos, a cumbuca fica para baixo porque os senadores são velhinhos e não levantam mais para nada.
Convexa. Cuia que fica para cima. É a Câmara. Supõe-se que o formato
aberto indica a Casa onde um projeto de lei se inicia, por ser a "Casa
do Povo". Dizem que fica para cima porque, em relação aos velhinhos do
Senado, os deputados ainda levantam alguma coisa.
Piri. Menção carinhosa à cidade de Pirenópolis-GO. “Vou para Piri”.
Botar fé. Acreditar. Você fala uma coisa e o brasiliense fica
dizendo “Boto fé”. Fala outra coisa e ele continua dizendo “Boto fé”. Ele está a dizer que acredita piamente naquilo que você diz, mesmo que seja a
mentira mais culhuda.
Meus ovo. Gíria masculina. Usada quando se quer negar algo. "Você
vai meus ovo", ou seja, "você não vai". Sempre com o “meus” no plural e o
“ovo” no singular.
Detrito Federal. Expressão inspirada e expirada toda vez que você passa por alguma estação da Caesb, a Companhia de Água e Saneamento de Brasília.
Negão de Suspensório. Apelido do prédio da presidência do Banco do
Brasil, no Setor Bancário Sul. O edifício é preto com duas colunas
brancas, que lembram suspensórios.
Kit. Forma abreviada e carinhosa de chamar quitinete. A kit não
estava prevista no plano de Lúcio Costa. O jeitinho transformou salas
comerciais em residência.
Pleba. Forma com a qual alguns jovens de cidades satélites ser
referem aos playboys de classe média das Asas Sul e Norte, Lagos Sul e Norte e Sudoeste.
Gol. Vou de Gol”, diz alguém que vai pegar o buzu, ou melhor, o baú. Gol = Grande Ônibus Lotado.
Odorico Paraguassu. Um dos apelidos de Joaquim Roriz, que já governou Brasília 171 vezes.
Marimbondo. Na linguagem dos motoristas de táxi de Brasília, marimbondo é o passageiro que ele pegou na rua (diz-se, também, “pegou na pedra”). Por que marimbondo? Um deles responde: “Ora, porque ele pode te ferrar”.
Postinho. Toda e qualquer loja de conveniência dos postos de combustíveis. “Tomei uma cerva no postinho”.
JK. Duas letras que dão nome a tudo por aqui: aeroporto, ponte, prédio, faculdade, memorial, edifício, estádio, emissora de rádio, banca de revista, alameda, taxímetro, hotel, pensão, pousada, lavanderia, farmácia, funerária, lojas de baterias, drogaria, dedetizadora, desentupidora, distribuidora de calçados, chaveiro, limpa fossa, panificadora... Menos três coisas: igreja, terreiro de candomblé e casa de strip tease.
Chega dói. É um reforço sobre um juízo de valor. “O cara é feio chega dói”. Pode ser também: “Ela é tão bonita chega dói”.
Modata. É a junção de “mó” (maior) com “data” (tempo passado); maior data. “Pô, véi, modata que nos vimos”, ou seja, “poxa, cara, faz um tempão que nós nos vimos”.
Lacerdinha. É do tempo da construção. Carlos Lacerda, o Lacerdinha,
era o político mais contrário à construção de Brasília. Nos canteiros de
obras ou nos barracos, quando dava aquela ventania que levava tudo, derrubava ou destelhava barracos, os peões logo diziam: "Lá vem o Lacerdinha".
Cristal. Mulher de taxista, no código do rádio-táxi. A moça da central passa um rádio para o taxista: “Carro 28, cristal deixou recado”.
Periquito. Símbolo do Gama, time cuja cor principal é o verde. Perdeu tantas penas que, hoje, todo depenado, está a pedir penas. Caiu da Série A para a Série B, da Série B para a Série C, e é quase um time “fora de série”.
Marginal Arruda . Em SP tem Marginal Tietê, Marginal Pinheiros etc. No DF, a tal Linha Verde já ganhou um apelido - Marginal Arruda. É justo, foi ele que fez! Até porque, aqui se faz, aqui se paga...
Foi pra Goiás. Na gíria da peãozada, é montaria sem premiação; no geral, é levar calote, ficar no preju.
Gerúndio. Era um funcionário do GDF e foi demitido sumariamente pelo governador Arruda. A demissão foi publicada no Diário Oficial e na imprensa. Com a cassação e a prisão de Arruda, o gerúndio ameaça “estar voltando”.
Gorgonzola. Pessoa que tem chulé. Também chamada de “pé de queijo”.
PDS. Forma como a banda Paralamas do Sucesso era e é chamada por algumas tribos de Brasília. Dois integrantes do grupo moraram na capital. Numa cidade politizada, será que era uma referência ao partido da ditadura?
Ispilicute. No Ceará, a frase “She's pretty cute” virou “ispilicute”. Significa gracinha, lolitinha. Em Brasília, os cearenses até inventaram o Forró Ispilicute, que acontece às sextas no Cota Mil.
Corte. (côrte). Algumas pessoas que se acham com um rei na barriga acreditam e falam que Brasília é a corte. E talvez se acham os reis e rainhas da cocada preta.
Terroristas. Codinome carinhoso que se dá aos eleitores, apoiadores e cabos eleitorais de Joaquim Roriz.
Din-din. É um suco ou refresco congelado num saquinho plástico comprido; saco de picolé (em outros lugares tem outros nomes: sacolé, gelinho, geladinho, laranjinha, chipe-chipe, juju, sorvete de saquinho etc).
Arruda Tipo de panetone que traz agouro e azar.
Esplanight. Quem não tem dinheiro para ir para balada em Brasília, que é cara, vai para a Esplanada dos Ministério. É o Esplanight, onde rola violão, namoro, amizade, uma vodca, um baseado, uma bimbada...
PO. Sigla de Paulo Octávio. Ainda não virou "pó", mas pode ser o "pê-ó" político de Brasília.
Gabaritar. Na terra dos concursos, gabaritar significa acertar 100% de uma prova.
Demorô. Significa aprovação, concordância; que legal, que bacana, gostei.
GIM. É o nome de um senador sem voto.
Finlândia. Fim de linha de Ceilândia. No Plano Piloto, onde afloram piadas contra as satélites, os maldosos chamam a “Finlândia” de fim de mundo – como se o Plano fosse o início do mundo.
Tailândia Qualquer ponto entre entre as cidades satelites de Taguatinga e Ceilândia.
Brasília. “Pelo jargão do cinema: Brasília foi uma superprodução bancada por JK, com roteiro de Lúcio Costa e direção de Niemeyer. Não emplacou
na bilheteria; é um “miura” urbanístico, um belo “filme”, ao mesmo tempo obra aberta e hermética. O Brasil todo vem, assiste, mas não compreende”
[cineasta Vladimir Carvalho].
"Sou de Brasília, mas juro que sou inocente" [frase criada pelo poeta Nicolas Behr]