William Burroughs: o junkie mais lido do mundo


William Burroughs: o junkie mais lido do mundo
(Mário Pazcheco)
 

 

 
Timothy Leary & William Burroughs


Will Dennison em "The Town and the City", Will Hubbard em "Vanity of Duluoz", Old Bull Lee em "On the Road", Frank Carmody em "The Subterraneans", Bull Hubbard em "Desolation Angels" e "Book of Dreams", William Burroughs participou em quase todos os livros de Jack Kerouac.

Depois, o Beat dos beats, “o poderoso chefão do underground americano”, líder intelectual da geração beat, padrinho dos punks e heavy-metal kids (termo extraído de "Nova Expressa") autor de - The Ticket that Exploded, The Western Lands, Junkie, The Soft Machine, Naked Lunch - o último livro a ser banido por obscenidade nos Estados Unidos. Nasceu em Saint Louis, da melhor extração WASP (White Anglo-Saxon Protestant) neto do famoso Mr. Burroughs, que aperfeiçoou a máquina de calcular; por parte de mãe, descendente direto do General Lee. Apesar de todo esse pedigree, o sonho de Burroughs era ser pistoleiro. Acabou se tornando drogado, maluco e escritor. Ginsberg assumiu seu homossexualismo e tornou-se amante de Burroughs, que era bissexual. Joan Adams, uma amiga de Edie Barker, que se tornara a primeira mulher de Jack Kerouac, largou o marido e passou a viver com Burroughs. Em 1947, Jack Kerouac levou Neal Cassady até o México, onde Burroughs, depois de fracassar em heterodoxas experiências agrícolas no solo do Texas, tentava cultivar papoulas de ópio. Em 1951, “tive aquele acidente terrível com Joan Vollmer, minha mulher. Eu tinha um revólver que estava planejando vender a um amigo. Eu o estava examinando e ele disparou – matando-a. Começou um rumour de que eu estava tentando acertar num copo de champanhe na cabeça dela, no estilo de Guilherme Tell. Absurdo e falso”*. Fugiu para Tanger, onde fundou uma filial dos beats.

Se nos anos 60 enfurnado num quarto de hotel parisiense Burroughs passava meses sem pisar na rua, foi com surpresa que na última semana de março de 1990, William Burroughs esteve presente à inauguração do 10º Salão do Livro em Paris, o escritor de bengala branca e chapéu adentrou o aristocrático Grand Palais ao lado do ministro da Cultura, Jack Lang. Ninguém sabe por que Burroughs, tão pouco afeito às formalidades, aceitou participar.

Burroughs se controlou como pôde, se comportou direitinho. Mas tudo tem limite. No meio da visita ao estande dedicado ao Leste europeu (Polônia, Hungria e Tchecoslováquia), o escritor resmungou qualquer coisa para seu secretário, James Grauerholz, vestiu seu casaco de couro preto, cumprimentou Lang no meio de uma frase e desembestou à procura da porta de saída, seguido por seu prestativo secretário e por um representante de seu editor francês Christian Bourgois.

Burroughs, atravessou os corredores formados pelos estantes, e empilhados de gente, como alguém com falta de ar correndo na direção de uma tenda de oxigênio. Grauerholz ia atrás, esbarrando em admiradores e chatos que insistiam em dar uma palavrinha com “o drogado mais velho do mundo”.

Seu culto na França, por exemplo, ultrapassa as vias da razão. Para boa parte dos franceses blanchés (ligados) ele é um dos últimos escritores mais visionários de uma literatura forte, da experiência. Culto reativado com sua aparição nas telas vivendo o pastor junky de "Drugstore Cowboy" (1989), de Gus Van Sant e com a adaptação de "Naked Lunch - Mistérios e Paixões, 1991" que o discípulo canadense David Cronenberg levou às telas. Relativamente marginalizado pela crítica, ele tem sido absorvido por poetas como John Ashbery e os escritores cyberpunks, músicos como Laurie Anderson, Frank Zappa e John Zorn, diretores de teatro como Elizabeth LeCompte e cineastas como Gus Van Sant. Também não é à toa que seja dele o libreto da ópera de Bob Wilson - Black Rider -, uma fábula do século 18 com música de Tom Waits, encenada em Hamburgo, na estréia o elenco teve que voltar 13 vezes para o palco e posteriormente chegou a Paris em setembro.

O mesmo espetáculo deveria ser apresentado em agosto em São Paulo, durante o festival Tucano Artes, mas a decretação do Plano Collor adiou a realização do evento. Uma história em que o diabo dá ao escriturário Wilhelm balas mágicas que sempre atingirão o alvo, mas aproveita para misturar entre elas três balas diabólicas, cujo alvo será determinado pelo próprio diabo. É uma delas que acaba atingindo Kathe, a noiva do homem no dia de seu casamento. Um Burroughs fortemente autobiográfico que não resiste à tentação de uma analogia contemporânea. As balas mágicas “levam diretamente à obra do demônio, exatamente como a marijuana (Burroughs: marywanna) leva à heroína”- essa é a deixa para um personagem invisível, a droga.
http://www.dopropriobolso.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=220:bob-wilson-volta-a-cena&catid=52:teatro&Itemid=54

*(William Burroughs em entrevista a Conrad Knickerbocker). Tradução de Alberto Alexandre Martins para “Os escritores as históricas entrevistas da Paris Review”. Seleção Marcos Maffei. Companhia das Letras, 1988

 


Para Burroughs o U2, era "me too"

Longe das drogas desde o início dos anos 60, William Seward Burroughs, o Old Cowboy Bill (nome de uma música do Velvet Underground em sua homenagem), morreu aos 83 anos em 2 de agosto de 1997, após ter sofrido um ataque cardíaco.

Em 24 de maio de 1997, o caos foi instaurado e de pneus para o ar ficou o trânsito. Enquanto a cidade americana de Kansas City assistia a Burroughs personificar uma força maligna que destruía a civilização ocidental condenada ao consumismo no vídeo de Last Night on Earth, do álbum do U2.

“Dia legal a Quarta-feira com a banda ‘Me Too’ em Kansas City. Gosto dessas apresentações públicas como injeções de boa vontade recíproca sincera”.

Foi assim que Burroughs registrou em seu diário, sua partição no vídeo da banda irlandesa, a qual chamava de Me Too (Eu também).

Antes da gravação para Last Night on Earth, os irlandeses do U2, procuraram Burroughs para dizer que clipes da excursão Zoo TV haviam sido influenciados pelos cut-ups, uma técnica muito utilizada pelo escritor que consistiria, nesse caso, em sobrepor textos, imagens e som em uma ordem aleatória.

William Burroughs em parceria com o também falecido Kurt Cobain lançou o CD "Priest They Called Him".


about recording the guitar part - " I just masturbated for 20 mins " -? Kurt Cobain.

 

The ‘Priest’ they called him

O que se pode esperar da reunião de William S. Burroughs e Kurt Cobain? No mínimo uma peça musical de arrepiar e é isso o que acontece em "The ‘Prist’ They Called Him", uma novela radiofônica.
Enquanto Kurt Cobain funde o hino americano, "Star Spangled Banner" à cantiga de natal "Jingle Bells", Burroughs narra a saga de uma mala velha de couro propositalmente largada na porta de entrada de um prédio. Nessa noite de natal única, todos estão presentes, os tuberculosos, velhos junkies, perdedores, devedores. Da escória à decadência, da podridão à metrópole. Nessa noite de neve, o padre chega com uma capa preta de frio e enquanto procura informações dentro do prédio; um outro sujeito que o observava carrega a mala num pinote até um local aberto onde ele possa abri-la. Enquanto corre ele ouve seu companheiro cobrando-o - Se não trouxer os três centavos, não volte! Ele a carrega pensando em conseguir uns trocados. Finalmente quando ele abre a mala, um par de pernas de cadáver salta pra fora e ele grita histericamente - Estou enrascado!

Adiante na narrativa, o padre visita um médico, de imediato interessado em três notas acima da sua mesa.
O padre fornece a senha: — Estou com problemas. Ao que o médico, abre a gaveta ruidosamente e pega o prontuário de receitas.
O médico, resmunga — Sou profissional e não tenho que me envolver com isso.
O pregador retruca: — Pode me emprestar cinco centavos? Irritado, o médico o manda cair fora.

No banheiro do quarto dezoito, o padre pega a droga e levanta a manga. No quarto vizinho ele ouve gemidos de criança. 
— Chega de notícia ruim, não me meto com criança. Não posso me envolver, ligado com essa medicação, mesmo assim ele foi... Afinal é um padre.

Um menino de short, com os olhos negros sente câimbras e está sem remédios, O Pregador também não os têm, - nós de madeira sobem pelas pernas do menino.

Com as mãos levantadas O Pregador fez uma prece e enquanto isso o menino dormiu. Depois ele retornou ao seu quarto, sentou na cama e voltou-se a injetar. O grosso é isso, é daí que surgem as pernas na mala. Só que o tom enfastiado da voz de Burroughs e a guitarra grunge de Cobain, tornam essa história mais terrível do qualquer cena de cinema.

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Trecho


1993. Durante esta primeira semana da excursão, Alex MacLeod levou Kurt de carro até Lawrence, Kansas para conhecer William S. Burroughs. No ano anteior, Kurt havia produzido um single com Burroughs intitulado The Priest they called him - Eles o chamavam de O Pregador, na T/K Records, mas eles haviam realizado a gravação simplesmente enviando e recebendo de volta as fitas. "Conhecer William foi um coisa sensacional para ele", lembra MacLeod. "Era algo que ele jamais imaginou que aconteceria". Eles conversaram durante várias horas, mas Burroughs depois afirmou que o assunto das drogas não foi aventado. Quando Kurt partiu no carro, Burroughs comentou com seu assistente: "Tem alguma coisa errada com aquele menino; ele fica emburrado sem motivo nenhum".
Mais Pesado que o céu - uma biografia de Kurt Cobain pág. 346 Charles R. Cross/Editora Globo, 2002.

“Dirigida contra aqueles que estão determinados, por estupidez ou por desígnio, a fazer explodir o planeta ou torná-lo inabitável. Como o pessoal da publicidade (...) estou interessado na precisa manipulação da palavra e da imagem para criar uma ação, não a de sair para comprar uma coca-cola, mas a de criar uma mudança na consciência do leitor”. William Burroughs, sintetizando sua obra.


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“Drogas, computadores, rock’n’roll, qualquer método de expansão da consciência é válido e crucial”.

William Burroughs para David Bowie.


Leituras e audições

Pode-se encontrar três CDs de Jack Kerouac, o primeiro, Kerouac on the Beat generation com leituras da Verve; o segundo, Jack Kerouac Collection, da Rhino e Readings By Jack Kerouac, da Polygram. A lista dos Cds de Burroughs é mais extensa, Call me Burroughs, da Rhino, Break Through in Grey Room, da Suro, 10 Percent, da Dei-ok, Naked Lunch, da Wave, Scare Ass Annie & Other Tales, Ida Isla e, Dead City Radio. Burroughs/Van Sant, Elvis of Letters, da Tim/Kerr Records e Burroughs/Cobain, The “Priest” They Called Him, da Tim/Kerr Records. De Allen Ginsberg, Lion For Real, da MOU e Holy Soul Jelly Roll, da Rhino Records.

Foram publicadas no Brasil várias traduções de autores beat, em meados dos anos 80. Todas fora de catálogo. Diretamente ligadas ao assunto desse capítulo, Pé na Estrada e Os Subterrâneos, de Jack Kerouac, da Brasiliense, O Livro dos Sonhos, da L & PM. A coletânea Uivo, Kaddish e outros poemas, incluí um resumo histórico sobre a Beat e Ginsberg, preparado por Claudio Willer e Planet News, de Allen Ginsberg, pela L & PM. Da mesma editora, ainda sobre alucinógenos, As Cartas do Iage, de Burroughs e Ginsberg. Junkie (Circo das Letras) e Almoço Nu (Brasiliense) de William Burroughs. De repente, acidentes, de Carl Solomon, traduzido pelo filósofo, José Thomaz Brum. O Primeiro Terço, de Neal Cassady, tradução de Mauro Sá do Rego Costa. L & PM editores. 7 Dias na Nicarágua (L & PM) e Parque de Diversões da Mente (L & PM) de Lawrence Ferlinghetti. Alma Beat, coletânea da L & PM. No volume 130 da coleção Primeiros Passos, André Bueno e Fred Goes, assinam - O Que é Geração Beat, da Brasiliense. No número 8, da revista Boom, é feita uma radiografia de 12 páginas sobre o revival iminente da Beat generation. As declarações de Ginsberg sobre a conexão jazz - Kerouac estão, entre outros lugares, em sua coletânea de depoimentos Allen Verbatim (editada pela McGraw-Hill) e no número da revista francesa Entrettiens, de 1975, dedicado à beat. Para maiores informações sobre o tema, a revista Beat Scene, (o endereço é 27 Court Leet, Binley Woods, New Coventry CV3 2JQ, Warwickshire, England) especialmente seu número 13, no artigo The Beat Generation and Afro-American Culture, do poeta negro Ted Joans. Recomendáveis são as biografias de Jack Kerouac, como a de Ann Charters, publicada aqui (Kerouac, pela Editora Best-Seller) e o alentado trabalho de Gerald Nicosia, Memory Babe (Penguin Books).



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Biblioteca de NY compra arquivo de William Burroughs 

Folha Online, da France Presse, em Nova York

1º mar. / 2006 - A Biblioteca Pública de Nova York anunciou nesta quarta-feira a aquisição dos arquivos do escritor beat William Burroughs, incluindo esboços de seu romance mais importante, "Naked Lunch".

O arquivo, que contém os manuscritos e a correspondência de Burroughs da parte mais rica de sua carreira de escritor, do início dos anos 50 ao início dos 70, teve dois proprietários particulares e nunca foi aberto ao público.

Ele será integrado à Coleção Berg da biblioteca, especializada em material beat, e que já incluiu o arquivo de Jack Kerouac.

"Burroughs não foi apenas um dos três pais do movimento Beat. Ele também pode ser lembrado como um dos maiores sátiros americanos do século 20, "ferozmente sinistro e corrosivo", disse Isaac Gewirtz, curador da Coleção Berg.

"O arquivo é particularmente interessante porque Burroughs claramente tinha a intenção, em função de sua organização e das ilustrações em suas pastas, de que fosse absorvido como um trabalho de arte em si mesmo", disse Gewirtz.

Burroughs morreu em 1997, no Kansas, após complicações cardíacas. Ele tinha 83 anos. A biblioteca não informou quanto pagou pelo arquivo.

 

JUNKY

PUBLICADO NA REVISTA PSICODÉLICA ‘DE QUANDO O ROCK ERA CONTRACULTURA’ VOLUME I

 

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