Stewart Brand: O relógio do longo agora
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Tempo medido sem pressa
O relógio mais lento do mundo estimula a pensar a longo prazo
Cláudio Fragata Lopes - Revista Galileu110 - Editora Globo S.A
O começo
O mostrador do protótipo indica o ano 2000
2002 - Se os planos dos engenheiros da Long Now Foundation, EUA, derem certo, em alguns anos será criada a máquina mais lenta do mundo: o Relógio do Longo Agora. Ele não marcará o tempo em segundos, minutos e horas, mas em anos, séculos e milênios. Projetado para funcionar ininterruptamente durante 10 mil anos, será um relógio monumental e vagaroso, colocado estrategicamente no deserto do Estado de Nevada. A estabilidade geológica do terreno e o clima seco devem garantir, ao longo dos séculos, a durabilidade da estrutura de mais de 18 metros de altura.
O propósito do empreendimento é estimular a humanidade a pensar a longo prazo, sem o imediatismo dos tempos atuais. Surpreende que a iniciativa não tenha partido de nenhum crítico da vida moderna. Ao contrário, ela nasceu de um dos pais dos chamados supercomputadores, o engenheiro Daniel Hillis , destacado cientista de computação do Vale do Silício. Segundo Hillis, o ritmo acelerado da civilização obriga as pessoas a lidar com períodos de tempo patologicamente cada vez mais curtos. É isso que ele quer mudar.
No livro O Relógio do Longo Agora, lançado pela Editora Rocco, o presidente da Long Now Foundation, Stewart Brand, conta como tudo começou e o que ele e seu grupo pretendem demonstrar. O protótipo está sendo aperfeiçoado. Tem 2,5 metros de altura e foi construído com ligas metálicas resistentes e de pouca dilatação, as mesmas que serão usadas no relógio definitivo.
O protótipo
Tecnologia avançada na busca da precisão e longevidade
Biblioteca secular
Logo no início do projeto, em 1993, Daniel Hillis descreveu o relógio assim: "Seu tique será ouvido uma vez por ano, um bong a cada século, e o cuco sairá a cada milênio". A idéia básica é do engenheiro, mas foi aperfeiçoada pelos membros da Long Now Foundation, ao longo de anos de conversas online. Com isso, o monumento passou de relógio a relógio-biblioteca. Nele serão depositadas as informações que podem interessar por muito tempo, tais como pesquisas científicas de longuíssimo prazo.
Não é só a sobrevivência dos materiais que desafia os construtores do relógio. Eles querem que o seu significado e manutenção fiquem claros tanto para as gerações futuras, com pouquíssimo conhecimento do distante século 20, como para eventuais visitantes alienígenas. Por isso, não têm pressa. Brand declarou a Galileu que o imenso relógio do deserto só será construído quando as lições aprendidas com o protótipo forem assimiladas, "nem que isso leve décadas".
Ele afirma que a concepção do tempo a longo prazo requer um novo tipo de responsabilidade, principalmente em relação aos futuros habitantes do planeta. "Em geral, penso que velocidade é uma coisa boa, mas não é a única coisa boa", explica. Brand acredita que o relógio-biblioteca terá sobre a idéia de tempo o mesmo impacto que as fotos da Terra tiradas do espaço tiveram sobre o conceito de ambiente.
Os cinco princípios de funcionamento
Longevidade
Mostrar a hora correta por dez milênios
Manutenção
Se necessário, com tecnologia da Idade do Bronze
Transparência
Princípios operacionais que sejam evidentes
Evolução
O relógio poderá ser sempre aperfeiçoado
Escala
A mesma concepção deve funcionar da maquete até o monumento definitivo
O Padrão Gravado na Pedra
Daniel Hillis. Editora Rocco. Rio de Janeiro. Tel. (21) 507-2000. 160 págs. R$ 25
A computação é a especialidade de Hillis e o tema desse seu último livro, lançado no Brasil, junto com O Relógio do Longo Agora. Para mostrar que o funcionamento dos micros não é tão complicado como parece, ele lança mão de recursos como o prosaico jogo-da-velha. "É um bom exemplo de computação porque oscila na fronteira do simples e do complexo", afirma o cientista.
Paradoxalmente, Hillis projetou o computador mais rápido do mundo. Ele afirma que são idéias simples (ou padrões gravados na pedra) que fazem esses equipamentos funcionarem. O computador, diz, tem mais componentes do que um automóvel ou um rádio mas a sua forma de interagir é mais banal.
Dolly, a Segunda Criação
Ian Wilmut/Keith Campbell/Colin Tudge Editora Objetiva. Rio de Janeiro. Tel. (21) 556-7824. 394 págs. R$ 43,90
Pioneira Dolly, o primeiro clone de uma série
Em 1997, a revista Nature anunciava o nascimento da ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado de uma célula não-reprodutiva adulta. Com a notícia, começava uma nova era para a biologia. Nesse livro, organizado pelo divulgador científico ColinTudge, os a utores da proeza, o embriologista Ian Wilmut e o biólogo Keith Campbell, ambos do Instituto Roslin, da Escócia, contam toda a trajetória que os levou a Dolly. Falam também sobre clones geneticamente modificados para fins terapêuticos, como a ovelha Polly, e o significado de suas pesquisas para o futuro da humanidade. Segundo eles, a ciência da clonagem, a genômica e a engenharia genética formarão o trio biotecnológico que deve influenciar todos os setores da vida humana. É o que chamam de "a era do controle biológico", que dará ao homem poderes absolutos sobre a natureza. Para surpresa de muita gente, a clonagem de humanos não faz parte dos planos dos cientistas, que a consideram até reprovável, embora dediquem um capítulo inteiro ao tema.
Trecho
"Com a clonagem firmemente inserida no cânone moderno, é como se a ciência e as técnicas de biologia tivessem sido liberadas de limitações que outrora pareciam insuperáveis."
Ian Wilmut e Keith Campbell