HOWARD SOUNES TRECHOS DE 'DYLAN - A BIOGRAFIA'
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Trechos de Dylan - A biografia
(Howard Sounes)
O ontem se foi, mas o passado continua vivo. O homem tinha uma nadar estranhamente lépido, como uma marionete manipulada por cordas invisíveis. Sua cabeça parecia se mover com um ritmo próprio. Ele usava roupas mal-ajambradas que o faziam parecer um peixe fora d'água em uma área elegante de Manhattan, tendo quase a aparência de um sem-teto. Contudo, vistas mais de perto, as roupas pareciam novas. Ao ser olhado mais próximo ainda, o rosto pálido, a barba por fazer, esse homem de meia-idade e corpo franzino parecia familiar. Sob o chapéu, o nítido nariz adunco, as feições delicadas emolduradas por um filete de barba. Ao coçar o nariz, notam-se as unhas compridas e sujas. Ao olhar para atravessar a rua, os olhos que se via eram de um azul quase tão intenso quanto o dos ovos do tordo norte-americano.
—"É o Bob Dylan!"
As pessoas freqüentemente o reconheciam, berrando animadamente saudações, quase não acreditando que estavam vendo uma lenda na rua. Bob odiava quando elas o agarravam, mas ele era, no fundo, um educado cidadão do interior e não se importava em dar um alô. Quando falava — talvez somente para dizer algo como "Aí, cara, como é que é?" - sua voz era tão característica, com as palavras saindo aos trancos do diafragma e então parecendo deslizar através do nariz quase cômico, enfatizando a palavra errada na frase e encurtando outras palavras, que só podia ser Bob Dylan. Bob foi até a esquina da 57"' Street com a Lexington Avenue e entrou em um pequeno bar, o Irish Pavilion. Tommy Makem, o dono, era um velho amigo do início dos anos 1960 - quando Bob era aprendiz em seu ofício -, um irlandês de fala mansa que tinha tocado canções folk tradicionais com os Clancy Brothers nos bares de Greenwich Village, em Nova York. Makem não via Bobby - como o conhecia - há muitos anos. "Não havia ninguém com ele, nenhum motorista, nenhuma companhia, ninguém. Estava só", relembra ele. Makem acomodou Bob em uma mesa reservada, onde ele não seria visto por outros fregueses. Depois foi buscar seu banjo e subiu ao palco para o show. Makem tocou as antigas baladas que Bob adorava, canções vigorosas como "Brennan on the moor" e a melancólica "Will you go, Lassie, go". Houve um intervalo antes da segunda parte e ele foi até onde Bob estava comendo e bebendo alguma coisa. "Se estiver a fim de cantar uma música, me avise", disse. Mas Bob preferiu ficar sentado em silêncio, sozinho. Ele estava se divertindo imensamente. O Irish Pavilion o fazia lembrar de seus primeiros dias em Nova York e das pessoas que lá conhecera, artistas como John Lee Hooker, "Cisco" Houston e "Big" Joe Williams. Para ele, esses homens eram monumentais: tinham inspirado e influenciado toda a sua carreira. Depois que a platéia se dispersou, Makem puxou uma cadeira e conversou com Bob enquanto os funcionários varriam em volta das mesas. Era do passado que Bob queria falar - velhos amigos dos velhos bares, pessoas que ele não via fazia trinta anos, e antigas lembranças, como a da noite em que ele correu até a casa do irlandês na 6th Avenue, entusiasmado com uma música que escrevera.
"Deus, deviam ser 2 e meia ou 3 horas da madrugada", diz Makem. "Foi até lá para me mostrar a letra de uma longa balada sobre um assassinato que tinha escrito para a melodia de alguma música que ouvira Liam [Clancy] e eu cantarmos. Havia uns vinte versos nela, ele cantou a música toda. Eu pensei, Deus, que coisa interessante esse cara está fazendo". Poucas semanas depois da inesperada visita de Bob ao Irish Pavilion, na primavera de 1992, Tommy Makem recebeu uma carta da gravadora de Bob, a Sony Music. Ele estava sendo convidado a se apresentar em um show comemorativo dos 30 anos da carreira de Bob (embora, na verdade, ele viesse gravando há 31). Bob não tinha dito nada quando eles se encontraram, mas isso era típico dele; nunca fora muito falante. Makem não tinha certeza, a princípio, de que tipo de show se tratava. Pelo jeito contido com que Bob perambulava sozinho pela cidade, vestido como um vagabundo, podia-se pensar que seus dias de grande astro tinham acabado, e que uma comemoração de sua carreira seria realizada em um teatro modesto em um lugar qualquer com alguns velhos amigos. "Foi extremamente glamoroso, um evento muito maior do que eu imaginara", diz Makem. "Foi gigantesco." O palco do Show de Comemoração do 30º Aniversário de Bob, como foi chamado, foi o Madison Square Garden, o enorme complexo esportivo em Manhattan. Quando foi anunciado que Bob se apresentaria juntamente com alguns dos nomes mais famosos da música, 18 mil lugares foram vendidos em uma hora. E olha que os promotores do evento estavam cobrando entre 50 e 150 dólares por pessoa, preços recordes. Quando chegou ao Riliga Royal Hotel, onde os músicos estavam hospedados, Makem descobriu que a lista de convidados incluía não apenas antigos cantores folk como também superastros como Eric Clapton e George Harrison, amigos de Bob.
Biógrafo de Bob Dylan quer contar a vida de Paul McCartney
www.jornaldeangola.com
21 mar. / 2008 - O autor de uma elogiada biografia de Bob Dylan está a negociar para escrever a história de Paul McCartney. Depois de “Dylan: a Biografia”, Howard Sounes quer dar um “tratamento épico” à vida do ex-Beatle.
“Howard vai colocar tudo dentro do contexto. John Lennon recebeu esse tratamento épico várias vezes, mas ninguém falou de Sir Paul deste jeito”, disse Gordon Wise, representante do autor, à agência de notícias Wenn.
Segundo Wise, o livro quer cobrir todos os aspectos da vida pessoal e particular de McCartney, inclusive o seu recente e turbulento divórcio de Heather Mills. “Ele vai tratar desse caso de forma independente, mas a biografia não vai varrer a sujeira para debaixo do tapete”, contou. A editora HarperCollins confirmou as negociações mas disse que não há ainda nenhum acordo fechado.
Sir James Paul McCartney, nasceu em Liverpool, a 18 de Junho de 1942. Ficou conhecido como integrante do lendário grupo de rock The Beatles. Com John Lennon, formou a dupla de compositores mais famosa da história da música.
Após a dissolução dos Beatles em 1970, McCartney lançou-se numa carreira a solo recheada de sucessos. Com a sua primeira mulher Linda McCartney, formou uma banda os Wings. Em 1979, o Livro Guinness dos Recordes declarou-o como o compositor musical de maior sucesso da história da música pop mundial de todos os tempos.
Sienna Miller nega que filme difame imagem de Bob Dylan
Cantor teria tentado impedir lançamento do filme.
Produção retrata musa de Andy Warhol que se suicidou aos 28 anos
Do G1, com agências
1º jan. / 2007 - Hayden Christensen e Sienna Miller em cena de 'Factory Girl' A atriz Sienna Miller negou em entrevista ao jornal britânico The Observer que seu novo filme, Factory Girl, difame a imagem de Bob Dylan. O cantor teria tentado impedir o lançamento da produção, que acaba de estrear nos cinemas norte-americanos em tempo para se qualificar para a disputa do Oscar.
Factory Girl retrata a vida da atriz Edie Sedgwick, musa do artista Andy Warhol nos anos 60 e que teria servido de inspiração para algumas composições de Dylan. Ela se suicidou aos 28 anos.
"Eu sou a maior fã de Bob Dylan. Estou horrorizada por ele ter se enfurecido", disse Sienna Miller ao Observer. "Ela [Edie Sedgwick] precisava de ajuda e ninguém a ajudou. Não foi Dylan que a levou ao vício de heroína".
O nome de Bob Dylan não é citado no filme - e sim o do personagem fictício Billy Quinn - mas Hayden Christensen (Star wars) apresenta todos os trejeitos do cantor na composição do papel.
O advogado de Bob Dylan enviou uma carta aos produtores de Factory Girl afirmando que o personagem é "difamatório".
Bob Dylan quer impedir filme sobre ex-atriz de Andy Warhol
UOL- (Com informações da agência Ansa)
14 dez./ 2006. Bob Dylan pediu aos seus advogados para impedir o lançamento de um filme sobre uma das atrizes de Andy Warhol que, na sua opinião, o difama.
O filme Factory Girl conta a história trágica de Edie Sedgwick, uma das modelos preferidas de Warhol. Nos anos 60, Sedgwick estrelou alguns dos filmes do artista norte-americano, como Kitchen e Beauty nº 2. Depois de um breve momento de fama, a atriz se viciou em heroína e morreu em 1971 de overdose.
Factory era o nome do estúdio permanente em Nova York onde Andy Warhol produzia suas obras, entre elas pinturas e curta-metragens.
No filme, com Sienna Miller no papel principal, é dado um amplo destaque à história de amor entre Bob Dylan e a moça que, segundo o roteiro, é deixada pelo cantor e mergulha em uma profunda depressão.
No filme o personagem de Dylan é chamado pelo nome de Danny Quinn, mas qualquer um que o assista não tem dúvidas sobre a identidade do cínico amante da modelo. O cantor sempre negou qualquer envolvimento amoroso com a atriz, entretanto, acredita-se que algumas de suas músicas dos anos 60, como "Just Like a Woman", sejam inspiradas em Sedgwick.
Os advogados de Dylan pediram que o filme não seja exibido por ser "difamatório". Factory Girl deveria sair nas telas norte-americanas em 27 de dezembro deste ano.
Mais de 30 anos após sua morte, Edie Sedgwick segue como influência para diferentes gerações de artistas pop, especialmente músicos. A banda The Cult gravou no disco "Sonic Temple", de 1989, a faixa "Edie (Ciao Baby)", sobre a atriz, e o novo grupo inglês The Long Blondes cita o nome de Sedgwick em uma de suas canções, "Lust in The Movies".
Fita com primeiras gravações de Dylan será leiloada
Ric Kangas, amigo de infância do cantor, encontrou fita que pode ser adquirida por US$ 100 mil, segundo estimativas
AP
27 set. / 2006 - MINNEAPOLIS - Quando adolescentes, Ric Kangas e Bobby Zimmerman passavam horas tocando guitarra e cantando no final da década de 1950, em Minnesota. Durante um desses ensaios, Zimmerman pediu para seu amigo gravá-lo.
Kangas na época não tinha ideia de que estava gravando o homem que logo se tornaria Bob Dylan. Anos depois ele encontrou a fita em que Dylan canta três músicas e toca guitarra em uma outra.
No começo de outubro, a casa Heritage Auction Galleries, em Dallas, irá leiloar a fita. Kangas disse que um expert em Dylan acredita que a fita valha cerca de US$ 100 mil, mas ele não tem ideia se chegará a esse montante.
Kangas afirmou que Dylan, que estava dois anos atrás dele no ginásio, ficara impressionado com a performance de Kangas durante um show de talentos escolar. "Não muito tempo depois disso nos encontramos na rua. Ele me disse: ´eu sei que você escreve letras´". Nas semanas seguintes, eles cantaram e tocaram músicas juntos. Poucos anos depois, Dylan partiu para o estrelato.
Kangas, que hoje em dia vive em Santa Barbara, na Califórnia, vagou pelos Estados Unidos durante vários anos trabalhando como fotógrafo, ator e sósia de Elvis. Ele viu Dylan algumas outras vezes - a última vez foi no camarote do cantor em 1974.
Kangas disse que encontrou a fita há alguns anos, mas não pôde tocá-la até encontrar, em uma venda de garagem, um modelo semelhante ao velho tocador de fitas que possuía.
O amigo afirmou que Dylan canta três músicas, duas delas em um tom muito mais melódico do que seu estilo atual. A terceira, porém, tem muito do estilo Dylan de fazer música. "Ele canta como um sapo", disse Kangas.
O leilão será feito em Dalas nos dias 6 e 7 de outubro. Os lances online terminarão um dia antes e competirão com os lances dos dias 6 e 7.
Bob Dylan se abre em documentário de Scorsese
AFP
'No Direction Home' narra a meteórica ascensão de Dylan até a notoriedade que ele diz não ter buscado
"A verdade é que eu não tinha ambições de nenhum tipo", diz Dylan em No Direction Home
Nova York - "A verdade é que eu não tinha ambições de nenhum tipo", afirma Bob Dylan no começo de No Direction Home, o novo documentário de Martin Scorsese que mostra os primeiros anos da carreira do cantor e estreará em poucos dias no mercado americano.
Em três horas e meia, No Direction Home narra a meteórica ascensão de Dylan até chegar ao que ele afirma ter sido uma notoriedade não buscada. As ferramentas usadas por Scorsese são pouco comuns entrevistas frontais com o próprio músico, com admiradores e detratores da mesma geração.
Para os dylanianos, o filme representa o acesso a um conjunto de tesouros ocultos: resultado do cantor ter permitido a Scorsese analisar seu arquivo pessoal de fotografias, filmes, gravações e manuscritos.
Mais longo que a maioria das biografias documentais que cobrem uma vida inteira, o filme de Scorsese focaliza principalmente os seis anos (1961-66) que viram Dylan chegar a Nova York como um compositor de baladas do interior dos Estados Unidos e que teve que se reinventar, primeiro como um herói folk do Greenwich Village e depois como um roqueiro com guitarra elétrica nos braços.
Completando algumas lacunas da autobiografia Crônicas: Volume 1 publicada no ano passado, o filme mostra Dylan, de 64 anos, dando um depoimento sobre os eventos e apresentando seu trabalho em um contexto musical e histórico.
Disponível nos Estados Unidos como DVD duplo a partir de 20 de setembro, o longa-metragem estreará uma semana mais tarde no canal de televisão público PBS.
O áudio inclui trechos da primeira gravação de Dylan, "When I got Troubles", feita em 1959 por um amigo da escola secundária em Hibbing, Minnesota. Nas entrevistas, Dylan fala sobre suas primeiras influências, ouvindo Hank Williams, Muddy Waters e Johnny Ray. "O que mais me pegou foi o som. Não era quem tocava... era o som", explica.
As memórias de Dylan se contrastam com entrevistas - passadas e do presente - de outros luminares da época, como Joan Baez, Allen Ginsberg e Pete Seeger.
Um dos aspectos ignorados em Crônicas, mas ao qual o documentário concede uma relevância substancial, é a célebre transformação de seu som de acústico a elétrico, que provocou a ira de muitos fãs leais.
O filme inclui cenas da apresentação de 1965 de Bob Dylan no Newport Folk Festival, onde pela primeira vez empunhou a guitarra e foi vaiado, tendo que abandonar o palco depois de tocar apenas três canções. "Não tinha idéia de por quê me vaiavam", lembra. As vaias e gritos de "traidor" e "Judas" o acompanharam pela turnê britânica do ano seguinte.
Porém, se alguns puristas do folk se sentiram traídos, os mesmos foram superados por um imenso número de novos fãs atraídos pelo novo som. O nível de adulação cresceu exageradamente, acompanhado de intermináveis entrevistas coletivas com perguntas inverossímeis: "Você se importaria se eu chupasse seus óculos de sol?", perguntou a Dylan um desconcertante jornalista.
"As coisas haviam saído do controle", disse. "Em um determinado ponto, por alguma razão, as pessoas pareciam ter uma visão distorcida, retorcida de mim. O porta-voz de uma geração, a consciência de não sei o quê, disto e daquilo. Coisas com as quais eu não podia me relacionar".
O documentário chega ao fim com o acidente de moto de 1966, depois do qual Dylan mudou de vida e passou a uma relativa reclusão com a família. Ele só voltaria aos palcos oito anos mais tarde.
A voz de Scorsese não é ouvida no filme, que não tem narração. As primeiras críticas sobre o documentário aclamaram o filme. A revista Rolling Stone considerou o mesmo "uma eletrizante versão de uma vida sem precedentes" e a revista Variety o elogiou como um "triunfo".
*O Estado de S. Paulo, 14 set. / 2005 - AFP
Música de Bob Dylan "mudou o mundo", diz pesquisa*
Single foi lançado há 40 anos
Sexta, 5/ago./2005. A canção "Like a Rolling Stone", de Bob Dylan, ficou em primeiro lugar em uma pesquisa para escolher os ícones do rock e do cinema que mudaram o mundo, marcando as cem edições da revista britânica de música e cinema Uncut.
Um painel de especialistas que incluiu Paul McCartney, Noel Gallagher, Keith Richards, Lou Reed e Robert Downey Jr., entre outros, escolheu entre músicas, filmes, atores, programas de TV e livros marcantes.
A roqueira Patti Smith disse que a canção vencedora "a acompanhou pela adolescência".
O single "Heartbreak Hotel", de Elvis Presley, ficou em segundo lugar.
Colocações
O ex-Beatle Paul McCartney votou em "Heartbreak Hotel" como número um. Segundo ele, "é a maneira como Elvis canta, como se estivesse cantando das profundezas do inferno".
"O fraseamento, o uso de eco, é tudo lindo. É musicalmente perfeita."
Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, foi o filme mais bem colocado na pesquisa, em quinto lugar, seguido por O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão II.
O Prisioneiro foi a série de TV que recebeu mais destaque, conseguindo o décimo lugar, enquanto Pé na Estrada, de Jack Kerouac, foi o livro mais bem colocado na lista, em 19º lugar.
Os atores Edward Norton, de Clube da Luta, e Juliette Lewis, de Gilbert Grape, e o ex-Beach Boy Brian Wilson também foram citados.
Segundo o editor da Uncut, Allan Jones, a compilação da lista foi um trabalho enorme e, "considerando-se que filmes tiveram impacto cultural mais forte que David Bowie, por exemplo, a lista também gerou várias discussões".
"Dylan foi a declaração artística mais seminal das últimas cinco décadas, mas com certeza outros vão discordar disso", finaliza Jones.
Músicas, filmes, programas de TV e livros que 'mudaram o mundo'
1.Bob Dylan - 'Like a Rolling Stone'
2. Elvis Presley - 'Heartbreak Hotel'
3. The Beatles - 'She loves you'
4. The Rolling Stones - '(I Can't Get No) Satisfaction'
5. 'Laranja Mecânica'
6. 'O Poderoso Chefão' e 'O Poderoso Chefão II'
7. David Bowie - 'The Rise and Fall of Ziggy Stardust'
8. 'Taxi Driver'
9. Sex Pistols - 'Never Mind The Bollocks Here's The Sex Pistols'
10. 'The Prisoner'
Revista Uncut
*BBC Brasil
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Bob Dylan ganha exposição em Londres
Sexta, 5 ago. - 2005. A Proud Camden Gallery, de Londres, está preparando uma exposição de raras fotografias de Bob Dylan.
O músico americano autorizou a mostra de cem imagens que cobre toda sua carreira.
O evento, que vai ficar em cartaz entre os dias 16 de setembro e 15 de outubro, conta com trabalhos de Elliot Landy, Fred W McDarra e Don Hunstein, responsável pela capa do disco The Freewheelin' Bob Dylan".
O fotógrafo Don Junstein registra a imagem de Dylan e do guitarrista Michael Bloomfield em 1965 gravando a clássica "Like A Rolling Stone".
Fotos de Elliot Landy registrando Bob Dylan em Woodstock (a cidade) em 1968
Bob Dylan e o evangelho da mudança
(Por Ana Maria Bahiana)
Na sede da SNCC, movimento pacifista pelos direitos civis, em Greenwood, Mississippi (1963): cronista e personagem da vida americana
Foto Danny Lyon/Magnum Photos
Saem no Brasil as memórias do compositor que ajudou a definir música e comportamento de meio século
Bob Dylan é um dos maiores nomes da música popular do século 20, um dos definidores de uma era — o rock dos anos 60 em diante — e um dos principais artistas americanos de sua geração. Trabalhando obstinadamente sozinho e usando uma palheta de recursos vastíssima, do folk e bluegrass ao pop mainstream, de jornais da época da Guerra Civil a Tchekhov, Dylan criou um conjunto de obra que, em estilo e tema, traça os contornos e as perspectivas da canção popular da metade do século passado.
É bom saber disso antes de ler Crônicas, Vol. 1, que sai agora no Brasil pela editora Planeta (tradução de Lucia Brito, com revisão e posfácio de Eduardo Bueno). Trata-se do primeiro tomo de uma coleção de memórias que Dylan escreveu a duras penas (“Não sei como alguém consegue fazer isso como trabalho”, ele disse ao jornal USA Today, acrescentando que só o texto para canções lhe dava prazer) por sugestão do diretor editorial da Simon & Schuster, David Rosenthal. Porque a primeira impressão de um leitor — e mesmo de um leitor informado — é de que se trata das anotações de um homem sofrido, atormentado por demônios praticamente invencíveis, em conflito com um Eu público que nunca consegue definir ou controlar e um Eu privado que jamais revela — e que, portanto, jamais saberemos se se compreende inteiramente.
A astrologia e a psicologia junguiana talvez expliquem: Dylan, nascido Robert Allen Zimmerman numa família judia de classe média no mais profundo meio-oeste norteamericano, é um nativo de Gêmeos, a dualidade em pessoa, a própria definição do termo “mercurial”. Seu modelo de ação é, ele mesmo diz em Crônicas, “a velocidade”: velocidade em absorver informação, em produzir, em se comunicar com seus pares e público.
Quando algo mais pesa sobre este ágil veículo em movimento — a responsabilidade de ser o Porta Voz da Juventude Rebelde da América, como ele ouviu, com horror, no discurso de um reitor de Princeton que tentava lhe outorgar o título de doutor honoris causa —, Dylan não fica apenas furioso (“sou capaz de morder a mim mesmo”). Ele fica fisicamente doente, ou propenso a acidentes — como o famoso de motocicleta no final dos anos 60, que ele admitidamente usou como pretexto para se esconder.
Há uma extraordinária tensão, ao longo de todo o livro, entre o desejo de interferir na história, de ser conhecido e reconhecido, de ter um peso, um significado e um lugar no Zeitgeist, e o horror de ser conhecido e reconhecido, de ser cobrado por ter um lugar na história. Os lamentos do Dylan dos anos 80 são pungentes: “Eu era o chefe de um Estado que ninguém conhecia, vivendo no poço sem fundo do esquecimento cultural”, “meu público antigo ia aos shows para testemunhar e não para participar, e as novas plateias não se importavam comigo”. Mas batem de frente com longos parágrafos em que ele descreve seus fãs como “gárgulas, espantalhos, sanguessugas, mulheres vazias, de olhos esbugalhados”.
É uma oportunidade rara e especial de olhar, ainda que de relance, para dentro da alma de alguém realmente importante e levar em consideração o que acontece com a humanidade implícita mesmo nos maiores ícones culturais.
Revista Bravo! MAIO DE 2005, NELA CONTÉM A ÍNTEGRA DO TEXTO DE ANA MARIA BAHIANA, UMA LISTA DAS PRINCIPAIS COMPOSIÇÕES DE DYLAN E TRECHOS DO LIVRO CRÔNICAS