Sharon Lawrence amiga íntima de Jimi Hendrix escreve biografia sobre o músico (2007)
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Jimi Hendrix ganha biografia escrita por amiga íntima
A Tarde On Line
14 nov. / 2007 - Três anos de carreira foram suficientes para o guitarrista norte-americano Jimi Hendrix virar mito. Até hoje, 37 anos após sua morte, o músico é lembrado como um visionário que antecipou basicamente tudo o que viria a acontecer na música pop na era pós-Beatles. O interesse de ouvintes jovens, que nem eram nascidos quando Hendrix morreu de overdose, em setembro de 1970, é grande o bastante para deixar brechas à indústria cultural, que não costuma desperdiçar produtos com potencial de venda. Uma nova biografia do ídolo, Jimi Hendrix: A Dramática História de Uma lenda do Rock (Jorge Zahar Editor, 356 págs., R$ 39,90), da jornalista americana Sharon Lawrence, é lançada para concorrer com outras já no mercado, entre elas a escrita há dois anos pelo jornalista Charles R. Cross (Rool Full of Mirrors), também biógrafo de Kurt Cobain.
Os fatos são inalteráveis, mas não sua interpretação. Se Cross concedia mais atenção à infância de Hendrix em Seattle, revelando sua luta contra a segregação, um pai ausente e uma mãe alcoólatra, Sharon Lawrence concentra seus esforços na carreira do guitarrista, que conheceu em 1968, um ano após sua apresentação no histórico Festival de Monterrey. Ele já era, então, relativamente conhecido nos EUA. Ao ler o capítulo em que a jornalista, ex-repórter da UPI, dá carona ao agente do guitarrista e atende a seu pedido para assistir a um show do músico, a impressão que fica nos leitores mais novos é a de que, graças a pessoas como ela, Hendrix chegou ao topo. Evidentemente, trata-se de um exagero.
Em outros capítulos a jornalista é menos subjetiva e esquece que escreveu a biografia por ter sido amiga íntima do músico - tão íntima que leiloou dois maços de cigarros Salem fumados por Hendrix, servindo ainda como testemunha de defesa no processo que o músico enfrentou por entrar com heroína e haxixe no Canadá, em dezembro de 1969. Nesse episódio, a biógrafa garante que Hendrix estava limpo. Alega que a droga foi plantada em sua bagagem. Ela faz outras acusações sérias nessa biografia que não poupa a meia-irmã do guitarrista, Janie, nem a mulher que estava com ele na hora da morte, Monika Dannemann. A groupie, ou amante, teria demorado para avisar a polícia e chamar o hospital. Hendrix morreu de uma superdosagem de barbitúricos, sufocado no próprio vômito.
Teorias conspiratórias não são desconsideradas nessa como em outras biografias anteriormente lançadas. No entanto, o modelo do livro de Sharon Lawrence é mais convencional e menos policialesco: quer mostrar, como se diz, o homem por trás do mito. A jornalista é do tipo que ajuda os amigos a escolher roupas e atende a pedidos de socorro às três da madrugada - e Hendrix, em ambos os casos, sempre recorreu a ela, a considerar o relato da autora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
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Jimi Hendrix
A dramática história de uma lenda do rock
Sharon Lawrence - TRECHO DO LIVRO
PRÓLOGO
9 de fevereiro de 1968
Observei aquela extravagante auréola de cabelos negros cuidadosamente eriçados. O rosto, com luminosos olhos castanhos mirados
direto em mim, era meigo. Seu aperto de mão foi firme. Ele sorriu de maneira cordial, até mesmo respeitosa, e disse em voz baixa e sussurrada: “Obrigado por ter vindo esta noite.”
Então esse era Jimi Hendrix. As estranhas fotos que eu vira nas revistas musicais inglesas transmitiam uma imagem de certa forma assustadora. Naquela noite, no entanto, conheci uma pessoa tímida e educada.
— Sharon – disse-me Leslie Perrin ao telefone, — acabei de chegar de Londres, gostaria de apresentá-la a Jimi Hendrix. Ele é muito especial. E vai tocar perto da Disneylândia hoje à noite!
Há muitos anos Leslie Perrin se destacava na imprensa e nos círculos musicais londrinos. Jovial – embora esperto –, decidido e fumante
inveterado, já na meia-idade, era perito em relações públicas. Seus clientes iam de Frank Sinatra aos Rolling Stones. Agora ele incluíra em sua clientela o Jimi Hendrix Experience. O lema em seu papel timbrado era: “Telefone-me a qualquer hora do dia ou da noite.”
— Seria ótimo, Les, mas não poderíamos deixar para outra hora? Eu adoraria ver você, é claro. Podemos almoçar amanhã. Essa semana foi terrível de tanto trabalho, não estou nos meus melhores dias. E, com toda essa chuva, não é uma noite legal.
Todos os dias eu encontrava e entrevistava celebridades, em especial grandes estrelas de cinema, como parte de meu trabalho de repórter novata no escritório de Los Angeles da United Press International – UPI –, uma poderosa organização de notícias. Les ficou decepcionado, o que me fez sentir vergonha. Ele não conhecia bem L.A. e ficara desorientado com aquele súbito aguaceiro na ensolarada Califórnia. Além disso, precisava de carona. Lembrei também que ele era um grande companheiro de vários jornalistas amigos meus em Londres, e que fora muito amável e hospitaleiro comigo numa visita que fiz à Inglaterra.
— Onde eu lhe apanho, Les?
Foi assim que conheci Jimi Hendrix, então novo astro a brilhar no cenário da música internacional: só porque estava fazendo um favor a um amigo – e meio de má vontade.
Os pneus de meu Dodge Dart azul cantavam pelas auto-estradas encharcadas e escorregadias enquanto eu dirigia, debaixo de uma chuva incessante e lúgubre pelos cerca de 50km, desde o sudeste de Los Angeles até Anaheim.
Fumávamos nossos cigarros, e Les me divertia com as últimas novidades musicais da Swinging London. Afinal, saímos da auto-estrada e seguimos por ruas tortuosas até dobrarmos para a via que levava ao Anaheim Convention Center, cuja lotação era de 78 mil pessoas. Ao manobrarmos até uma vaga perto da entrada reservada para o pessoal autorizado, atrás do palco, pudemos ver que o estacionamento estava lotado.
Hesitante, segui Les Perrin até os camarins repletos de gente, e ele me apresentou ao baterista Mitch Mitchell e ao baixista Noel Redding, dois rapazes ingleses absolutamente adoráveis e delicados. Conversamos sobre aquele último round da “invasão britânica” – modo como todos se referiam ao crescente número de bandas inglesas que percorriam os Estados Unidos nos anos 1960 – e a recente entrevista coletiva do Experience em Nova York, no último andar de um arranha-céu no centro comercial da cidade. Tudo que eles diziam me fazia rir, até bobagens como: “Isso é o que eu chamo de ficar alto!”
Les me pegou pelo braço e passamos pela porta. Lá estava Jimi Hendrix, com uma camisa roxa de crepe de seda, calças de veludo e jaqueta preta também de veludo. Eu nunca tinha visto um músico pop vestido daquele jeito, com toda essa sutil elegância. Parecia que Hendrix fora convidado a posar para a capa da Vogue. O rosto e a voz revelavam timidez: — Eu estava afinando minha guitarra – falou.
Dez minutos mais tarde, Les Perrin, que saíra para conversar sobre o pacote “invasão” com outros músicos – que incluíam Eire Apparent, Soft Machine, Eric Burdon e The Animals, tendo o Experience como atração principal –, retornou com um sorriso de aprovação ao ver que Hendrix e eu estávamos numa animada conversa. Eu dizia a Jimi que assistira ao Experience logo depois do Monterey Pop Festival, quando o trio abriu o show do Mamas and the Papas no Hollywood Bowl.
— Achei fabuloso vocês chegarem ao palco tocando “Sgt. Pepper” – falei. — Uma música perfeita para conquistar aquela multidão.
Os olhos de Jimi se iluminaram: ele gostou daquele elogio, parecia compreender que eu apenas dizia o que pensava. Eu amava música,
conhecia música, de Tchaikovski a Ella Fitzgerald, Ray Charles e os Beatles. Minhas lembranças mais antigas são as de um lar em que o toca-discos estava sempre em atividade, com vozes maravilhosas e melodias cativantes, dos spirituals negros aos concertos de Gershwin.
Tive um namorado, Ron, meu colega de colégio em Nova York, que era um ávido colecionador de discos. Ele era louco pela nova música
pop. Pessoas que não ligavam para música normalmente não me interessavam.
— Minha mãe achou que vocês foram maravilhosos no Bowl – continuei.
— Adorou suas músicas, e também suas roupas. Ela me disse: “Aquele rapaz tem um bom gosto incrível.” Mamãe adora roupas bonitas.
Ele arregalou os olhos:
— Você levou sua mãe para ouvir a gente?
— Na Califórnia, o Hollywood Bowl sempre foi um local freqüentado por famílias, onde se pode fazer piquenique e escutar música olhando as estrelas. É uma tradição no verão – expliquei.
Ele fez um gesto afirmativo.
— Por favor, diga a ela que também gosto muito de roupas.
Esperava que Hendrix encerrasse a conversa, mas, como ele parecia estar gostando, prossegui:
— Mamãe coleciona materiais de costura, debruns, franjas... Ela é uma costureira maravilhosa.
Ele pareceu encantado ao ouvir isso, e comentou:
— Se eu tivesse um lugar apropriado, também colecionaria essas
coisas.
— Só coleciono discos. Tenho centenas de álbuns. Comecei a comprá-los quando tinha dez anos. E uma das melhores coisas do meu trabalho é que hoje sou convidada para ver quase todos os filmes que estréiam, e as gravadoras me mandam muitos discos de graça.
— Devem gostar muito de você!
— Não – respondi. — Acho que é mais por causa da publicidade.
Larguei os estudos e tive de fazer alguns bicos até chegar ao meu trabalho atual. Acho que eu era ingênua, pois só há pouco tempo me dei conta de que quando as pessoas nos dão alguma coisa, quase sempre esperam algo em troca.
Hendrix lançou-me um olhar sério:
— Isso não é verdade – falou.
Les juntou-se a nós e lançou uma olhadela para o relógio.
— James, acho que já está na hora de você ir para o palco.
Hendrix sorriu-me afetuosamente:
— Até logo!
Enquanto ele se dirigia ao camarim, surgiu Eric Burdon, vindo de outra direção. Eu já o encontrara algumas vezes. Com exuberância, agarrou meu braço e disse:
— Venha, vamos lá para a frente. É sempre emocionante ver Jimi tocar.
Eric acabara de “esquentar” sete mil jovens no primeiro dos dois shows daquela noite. A maior parte da platéia aguardava ansiosa pelo Experience.
Sem dúvida alguma, não eram poucos, entre aquela garotada, os que haviam assistido no verão anterior à emocionante estréia do Jimi
Hendrix Experience no Monterey Pop Festival.
No instante em que Hendrix subiu ao palco, aquele camarada contido que eu há pouco conhecera transformou-se no mais sensual, escandaloso e espetacular artista que eu jamais vira. Em retrospecto, o show no Hollywood Bowl parecia bem-comportado. Ele agora atacava a guitarra com os dentes, com a língua, tocava-a nas costas e deitado no chão, numa brilhante exibição de talento cênico e sonoridade. Embora eu já houvesse assistido aos Beatles, aos Stones e a Bob Dylan, nunca dei muita importância à guitarra. Como muitos outros aficionados por concertos, costumava me concentrar no cantor. Mas, naquela noite, um mundo ousado, de cores brilhantes, de novos ritmos e sons emanava daquela Stratocaster branca que Hendrix tocava com tanta facilidade que ela parecia fazer parte de seu corpo. Sim, pensei comigo, isso é importante. A platéia, hipnotizada, mal parecia reparar que havia outros dois músicos no palco, até que uma inspirada seqüência da bateria de Mitch Mitchell a pegou de surpresa. Apesar de todos os holofotes estarem sobre Hendrix, aquele era um verdadeiro conjunto: a apresentação do Experience parecia ao mesmo tempo rígida e espontânea, uma combinação rara e revigorante.
Noel Redding e Mitch Mitchell formavam uma poderosa base para Jimi: os três juntos sabiam como criar um ambiente mágico. Contínuas ondas de aplausos cresciam até se tornarem rugidos entusiásticos de aprovação. A multidão ficava suspensa a cada nota, com o canto comovente e sussurrado, com os rápidos e tímidos comentários ao microfone. Sentado atrás de mim, um adolescente disse ao amigo: “Hendrix está falando com a gente!”
Um ano antes, eu me convencera de que toda aquela agitação em torno do Experience não passava de um fenômeno de imprensa e moda.
Agora entendia por que todos os principais guitarristas britânicos não paravam de falar a respeito de Hendrix.
Atrás do palco, depois da performance, Jimi voltou a ser a mesma pessoa suave que eu conhecera duas horas atrás. Ele me impressionou, parecia uma criatura – mais um espírito que propriamente uma pessoa.
Sem saber o exato motivo, percebi estar diante de alguém ímpar.
Les Perrin murmurou algo estranho enquanto voltávamos a Hollywood: “Espero que você venha a conhecer Hendrix melhor. Ele pode ser útil como amigo.” No banco de trás do carro, o grandalhão Chas Chandler, ex-baixista dos Animals e co-empresário de Jimi, sorria enquanto
contava os milhares de dólares em espécie arrecadados com o show. A chuva caía com mais força. Eu, porém, acelerava ainda mais o carro. Estava com os nervos em frangalhos, queria que Chandler colocasse logo aquele dinheiro no cofre do hotel.
Eu não sabia que Les Perrin dera meu número de telefone a Jimi. Por isso, fiquei surpresa, uma semana mais tarde, ao ouvir no serviço de recados que um senhor Hendrix havia telefonado para agradecer por minha presença no concerto. Ele deixara o número do hotel em que se hospedava.
Quando liguei de volta, me agradeceu de novo. Nossa, pensei, Les deve ter pintado uma imagem minha como alguém que de fato vale
a pena conhecer em L.A. Será que Hendrix gostaria de visitar algum estúdio de cinema, ou o quê? Outros músicos ingleses que conheci sempre insistiam para que eu lhes mostrasse onde Elvis morou e para levá-los ao Grauman’s Chinese Theatre, ou ao Hollywood Boulevard, para verem as impressões de mãos e pés dos artistas de cinema. Mas enquanto prosseguíamos em nossa conversa, Jimi não parecia querer nada além de trocar idéias. Quando lhe perguntei sobre a vida na estrada, fiquei espantada pela maneira como falou abertamente sobre os problemas que enfrentava por ter se tornado um astro do rock de uma hora para outra.
Seu tom de voz era tenso, quase desesperado. “O grupo cresceu tanto e tão rápido... Estou deixando muitas pessoas tristes, não quero ofuscar ninguém.”
Eu não sabia o que responder. O mundo da música agarrara Jimi pelas entranhas. Seu sucesso parecia sem limites. Esperava que ele me
dissesse que estava no topo do mundo.
Veio-me à lembrança um anúncio de congratulações da Track Records publicado alguns meses antes, numa edição da Melody Maker: TODOS SAÚDAM O REI JIMI. Na capa, o autodidata Jimi Hendrix recebia seu troféu de Maior Músico Pop do Mundo, com a cabeça baixa e uma expressão de profunda humildade no rosto. Recordei-lhe aquele momento.
— Que honra fabulosa. Imagino que você tenha ficado muito feliz!
Um sorriso coloriu sua voz:
— Ah, é!
Conversamos sobre as novas gravações apresentadas no rádio e no cinema. Ele me disse que admirava Marlon Brando, James Dean e Sidney Poitier. Falou:
— Não tenho muito tempo para ir ao cinema, mas gosto muito deles. O último filme a que assisti foi No calor da noite. Extraordinário. Você viu?
— Formidável – respondi. — Poitier é um grande ator! O que eu gostaria de saber, no entanto, é por que Brando e Dean? O selvagem, Juventude transviada – é assim que você se vê?
Eu brincava com ele e ria enquanto falava. Ele riu também e acrescentou em tom sério:
— É, tenho a ver com esses filmes. Eu me inspiro muito nesses filmes. Gostaria de ter uma jaqueta vermelha em homenagem a James Dean. É tão triste que ele tenha morrido tão jovem, não é?
— Muito triste, muito mesmo – respondi.
Em meados de março, Hendrix me telefonou de Nova York para dizer que vira no jornal um artigo meu para a UPI. Fiquei surpresa por dois motivos: receber notícias suas mais uma vez e constatar que ele costumava ler jornais. A maioria dos músicos que conheci não os lia, a não ser as matérias sobre eles próprios. Jimi parecia cansado.
— Há quase um ano e meio que estamos em turnê e gravamos. Desde que apareci em Londres, no outono de 1966, conheci centenas de pessoas, além de fãs. Essa parte em geral é tranqüila. Mas, em cada país, tentar estar sempre em contato com gente do rádio e das gravadoras, produtores, agentes, diretores de programas, a imprensa, a publicidade e blablablá... Isso é, ahn... ahn...
— Difícil? – interrompi.
— Exato, é difícil. É como viver numa montanha-russa. Não quero me queixar. Só estou cansado. E se a gente juntar também todas as pequenas tragédias da banda e da administração, e mais toda essa estonteante papelada legal, isso com certeza acaba nos afastando da música.
Eu gostaria de ter três horas para me concentrar e compor uma música.
Ele parecia mais alegre só de remover temporariamente aquela angústia do peito.
— Não tem nada de errado comigo que uma semana inteira de sono não possa dar jeito! Estava pensando nisso quando conversávamos sobre filmes. Assim que me sentir mais revigorado, gostaria de ir ver dez filmes seguidos!
— Por que você não arranja um tempo para ir em casa ver sua família?
Saia de circulação por um tempo – sugeri.
O tom de Hendrix modificou-se por completo.
— Não tem nada para mim em Seattle – disse de forma taxativa.
— Lá é muito lindo, mas eu não poderia ficar. Eles não compreendiam antes. E não compreendem agora.
Ouvindo Jimi falar, eu jamais poderia saber como ele precisava com urgência de um confidente, de alguém com quem pudesse se abrir, um amigo verdadeiro que não estivesse envolvido em sua carreira. Nem conseguiria imaginar que, nos próximos anos, iria vê-lo muitas vezes, numa variedade de lugares, situações e sobretudo estados de espírito que variavam da alegria ao medo.
Jimi não se reprimia muito em nossas conversas. Parecia que eram tantos os sentimentos aprisionados dentro dele, e por um tempo tão longo, que às vezes ele engrenava e despejava tudo para fora. Eu era uma boa ouvinte, fazia algumas perguntas enquanto ele relembrava sua vida, e só uma vez ou outra tecia algum comentário. Houve momentos em que me senti surpresa e consternada diante de sua sinceridade. Ele não chorava em meu ombro ou me pedia que sentisse pena dele, apenas relaxava. Ao menos era assim que eu via as coisas. Impressionou-me a forma como falava com sensibilidade inata a respeito de seus momentos especiais e de suas descobertas musicais. Compartilhávamos algumas risadas cínicas pelos absurdos e desilusões no lado comercial de nossas carreiras.
Achei que seria importante lembrar tudo o que ele disse sobre seus problemáticos anos de formação. Decepções, sonhos e objetivos, além do divertimento e da paixão pela música. Mesmo assim, quem poderia esquecer aquela cabeça tão poderosa e vibrante, e a maneira como ele se expressava?
Ver e ouvir o prazer que ele obtinha em “praticar e trabalhar com palavras e frases musicais” sempre fez com que eu me sentisse uma privilegiada por estar presente em alguns desses momentos de criação.
Esperei anos para escrever este livro. Não sabia se queria revisitar o doloroso e torturado território dos “Anos Hendrix”, e estava convencida de que a perspectiva do tempo e a experiência acumulada de vida iriam me fazer ver Jimi de outro ponto de vista. Mas eu estava errada. Meus sentimentos acerca de quem foi de fato Jimi Hendrix e de tudo que se relaciona a ele permanecem como eram na época.
Jimi foi o maior músico e também a pessoa menos entediante que já conheci.
Los Angeles, novembro de 2004
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Título original: Jimi Hendrix The Man, the Magic, the Truth
Tradução autorizada da primeira edição norte-americana, publicada em 2005 por HarperCollinsPublishers, de Nova York, EUA
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