Ray Bradbury morre na Califórnia aos 91 anos
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Autor escreveu ‘Fahrenheit 451’ e ‘Crônicas marcianas’
O escritor Ray Bradbury em foto de 1997
STEVE CASTILLO / AP PHOTO
6 jun. / 2012 - LOS ANGELES — O mestre da ficção científica Ray Bradbury morreu na noite de terça-feira na Califórnia, aos 91 anos. Bradbury transformou seus medos de criança e da Guerra Fria em marcianos telepatas, monstros marinhos e na visão de um futuro de alta-tecnologia onde os livros seriam queimados, em "Fahrenheit 451". O escritor nunca venceu um Pulitzer, mas foi citado em 2007 por sua "significativa, prolífica e profundamente influente carreira como um inigualável autor de ficção científica e fantasia".
Durante a vida, Bradubry vendeu mais de oito milhões de cópias de seus livros em 36 idiomas. Entre eles estão os contos "Crônicas marcianas", "Uma Sombra Passou por aqui", “The Golden Apples of the Sun” e os romances “Fahrenheit 451” e “Something Wicked This Way Comes”.
Bradbury vendeu sua primeira história para uma revista chamada "Super Science Stores" antes de completar 21 anos. Aos 30 já havia criado uma reputação com as "Crônicas marcianas", uma coleção de contos publicados nos anos 1950 nos quais questionava a moralidade do mundo durante a Guerra Fria, usando eventos em outro planeta para comentar a vida na Terra.
Ele se referia a si mesmo com uma "escritor de ideias", para se diferenciar dos eruditos e acadêmicos.
"Eu me divirto com ideias; brinco com elas", dizia, "Não sou uma pessoa séria e não gosto de pessoas sérias. Não me vejo como um filósofo, isso é muito tedioso. Meu objetivo é entreter as pessoas."
O escritor descrevia seu método de trabalho como "associação de palavras", muitas vezes desencadeada por um trecho de poesia. Sua paixão pelos livros foi expressa no romance distópico “Fahrenheit 451”, publicado em 1953.
Mas ele também buscava inspiração em sua infância em Illinois. Bradbury se gabava de ter lembranças perfeitas de seus primeiros anos de vida. Os leitores não tinham motivo para duvidar. Em suas melhores histórias e em sua autobiografia, o escritor dava voz as alegrias e medos da infância.
Raymond Douglas Bradbury nasceu em 22 de agosto de 1920, em Waukegan, Illinios. Seu pai, que trabalhava na empresa de energia elétrica da pequena cidade, contava entre seus ancestrais uma mulher julgada como bruxa em Salem.
A criança pouco atlética que sofria com pesadelos, encontrava conforto nas histórias dos irmãos Grimmm e do mágico de Oz, que sua mãe lia. Uma tia, Neva Bradbury, o levou para suas primeiras peças de teatro, o vestia de monstro no Dia das Bruxas e apresentou histórias de Edgar Allan Poe.
Eventualmente o menino descobriu as revistas de ficção científica e começou a colecionar quadrinhos de Buck Rogers e Flash Gordon. Uma conversa com um mágico chamado Mr. Electrico sobre o tema da mortalidade gerou no garoto de 12 anos o ímpeto de se tornar escritor.
Em 1934 a família se mudou para Los Angeles, onde Ray se tornou fascinado por cinema, assistindo filmes até nove vezes por semana. Encorajado por um professor de inglês e pelos escritores profissionais que encontrou na Liga de Ficção Científica da cidade, deu início a uma rotina de bater pelo menos mil palavras por dia em sua máquina de escrever.
Seu primeiro grande sucesso veio em 1947 com o conto "Homecoming", narrado por um garoto que se sente deslocado numa reunião de família ente bruxas, vampiros e lobisomens, pois ele não tem poderes sobrenaturais. A história, pinçada de uma pilha de material não-solicitado na revista "Mademoiselle" por um jovem editor chamado Truman Capote, deu a Bradbury, aos 27 anos, o primeiro prêmio como um dos melhores contos americanos do ano.
Com 26 outras histórias similares, "Homecoming" apareceu no primeiro livro de Bradbury, “Dark Carnival”, publicado também em 1947. No mesmo ano, se casa com Marguerite Susan McClure, que ele conheceu em uma livraria em Los Angeles.
Numa explosão de criatividade, entre 1946 e 1950 ele produziu a maior parte da série "Crônicas marcianas", "Uma Sombra Passou por aqui" e o embrião do que seria "“Fahrenheit 451”.
Enquanto os puristas da ficção científica questionavam o descaso de Bradbury com os fatos científicos - ele deu aos marcianos ficcionais uma atmosfera impossível -, os meios literários demonstravam entusiasmo. Um dos heróis do escritor, Aldous Huxley, o definiu como um poeta. Em 1954, o National Institute of Arts and Letters homenageou Bradbury por “suas contribuições para a literatura americana", especialmente o romance “Fahrenheit 451”.
Conforme sua reputação crescia, Bradbury conseguiu espaço para mostrar seu talento em outras áreas. Ele escreveu roteiros para uma adaptação cinematográfica de "Moby Dick", em 1956, além de participar da série "Alfred Hitchcock Apresenta". Em 1966, o cineasta francês François Truffaut fez uma adaptação bem recebida do livro “Fahrenheit 451.
Enquanto defendia o programa espacial como em desafio do qual a humanidade não deveria se desviar, ele se contentava em manter suas próprias aventuras no reino da imaginação. Viveu na mesma casa em Los Angeles por mais de 50 anos, junto com as quatro filhas e a esposa, que morreu em 2003. Por muitos anos se recusou a andar de avião, preferindo os trens, e nunca aprendeu a dirigir.
Apesar de ser atraído pela vida sedentária de escritor, Bradbury não era recluso. Desenvolveu um gosto por falar em público, tornando-se uma figura requisitada no circuito de palestras nos Estados Unidos. Falava sobre sua luta para reconciliar os sentimentos quanto a vida moderna, tema de boa parte da ficção que lhe deu fama. Falava sobre o futuro, talvez seu assunto favorito, descrevendo como ele o atraia e assustava ao mesmo tempo, deixando-o sempre com apreensão e esperança.
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