Visibilidade Gay

Visibilidade Gay
(TekkaWhitman* for www.focando.org)
Imagem: Two Women, de Rachel Deacon
O amor venceu? Happy-end para as duas meninas da novela? A torcida pode parar de aplaudir, pois nada disso aconteceu nem vai acontecer. O que foi mostrado (alguns flashs da dupla ou casal “lés”) sucumbiu fragorosamente ao sistema: ou casam ou não tem brincadeira. Podem amar-se, mas “com moderação”. E tomem, que o filho é seu.
Aquilo que parecia uma transgressão ousada foi tragado pelo sistema. Embora alguns tenham se escandalizado com “tanto beijo, onde já se viu”, o eventual prazer do relacionamento teve que ceder lugar à responsabilidade. Primeiro a obrigação, depois a diversão.
As “meninas” tiveram que atar-se nos laços de família. Não por acaso, em três casamentos, “Leonora” pegou os três buquês!
O ponto aqui não é discutir a “normalidade”(ou não) do caso. Apenas especular por que a questão gay faz tanta questão de visibilidade, organizando paradas, passeatas, movimentos de “orgulho gay”.
Primeiro porque não é fácil ter orgulho do que tem que ser escondido ou escamoteado. Segundo, porque na vida o que mais precisamos é de uma testemunha de nossos atos. O amor que antes não ousava dizer o nome, agora quer proclamar-se de cima dos telhados.
A questão começa na ambigüidade do desejo homossexual, que tem que driblar a biologia, a psicologia e os dogmas sociais. Não existe conforto em confrontar tudo e todos ao mesmo tempo.
No caso da mulher, como diz a psicanalista neozelandesa, Joyce McDougall, “o percurso da infância até a feminilidade adulta é infinitamente mais complexo do que até Freud imaginava. Não só as raízes do erotismo feminino são estabelecidas no começo da infância, mas a identificação com a mãe genital, mesmo quando a mudança de objeto para a heterossexualidade foi adequadamente realizada, deixa ainda em aberto muitos problemas relativos à integração da libido homossexual feminina”. Aqui vai o terceiro motivo:
“TANTO É TRISTE NÃO PODER AMAR QUANTO NÃO PODER FAZER AMOR.” (caixa alta da autora)
A autora, em seus livros: “Em Defesa de Uma Certa Anormalidade” e “Conferências Brasileiras”, considera a exigência, no sujeito, de manter uma identidade. Ela é enfática no que chama de neo-sexualidades: [...] “esses cenários eróticos, complexos e inelutáveis não servem apenas para salvaguardar o sentimento de identidade sexual (como o faz todo ato sexual) mas freqüentemente mostram ser técnicas de sobrevivência psíquica, uma vez que são necessários para a preservação do sentimento de identidade subjetivo.” E continua:
“Para enfatizar o caráter inovador dessas invenções eróticas, denominei-as neo-sexualidades. Por meio dessa terminologia, eu quis evocar alguma coisa semelhante às neo-realidades que alguns pacientes frágeis criam, a fim de encontrar uma solução para uma dor mental que para eles se mostra inelaborável de outra forma. A libido homossexual serve, em primeiro lugar, para enriquecer e estabilizar nossa auto-imagem narcísica.”
Ninguém tem filho por imposição ou obrigação. Nem existe uma compulsão irresistível em adotar crianças. As criações intelectuais e artísticas são meios conhecidos de sublimação, pois neles se é homem e mulher ao mesmo tempo, e permitem gerar filhos simbólicos.
Não é sem nenhum sofrimento que se sai dos ‘armários’ do inconsciente. Nem é tudo tão “gay” assim, tão livre, leve, desencanado. Existe uma contrapartida depressiva e às vezes persecutória. Há um preço social que a pessoa decide se quer - e se pode - pagar. E ainda tirar algum proveito pessoal, já que “o coração exige antes o prazer, depois, desvencilhar-se da dor”, como diz Emily Dickinson.
Numa época em que “a” amante ganhou upgrade de primeira-dama, em que a “zona” virou motel, em que o quarto de casal veio para a sala, a questão da visibilidade gay tornou-se imperiosa: “eu também quero poder amar em público”.
Claro que não será num passe de mágica televiso que isso acontecerá – haverá muito choro e ranger de dentes nas famílias e na sociedade. Principalmente agora, que as “lés” já não precisam ter o aspecto-clichê masculóide: podem ser femininas, lindas, esguias, “normais”. Girls like that.
Entre “constituir família” e, aparentemente integrar-se à sociedade, ou permanecer em guetos, elas buscam outras opções e voz própria. Sem, necessariamente, um filho nos braços.

Visibilidade Gay
por TekkaWhitman
Rachel
Imagem: Two Women, de Rachel Deacon

O amor venceu? Happy-end para as duas meninas da novela? A torcida pode parar de aplaudir, pois nada disso aconteceu nem vai acontecer. O que foi mostrado (alguns flashs da dupla ou casal “lés”) sucumbiu fragorosamente ao sistema: ou casam ou não tem brincadeira. Podem amar-se, mas “com moderação”. E tomem, que o filho é seu.

Aquilo que parecia uma transgressão ousada foi tragado pelo sistema. Embora alguns tenham se escandalizado com “tanto beijo, onde já se viu”, o eventual prazer do relacionamento teve que ceder lugar à responsabilidade. Primeiro a obrigação, depois a diversão.

As “meninas” tiveram que atar-se nos laços de família. Não por acaso, em três casamentos, “Leonora” pegou os três buquês!

O ponto aqui não é discutir a “normalidade”(ou não) do caso. Apenas especular por que a questão gay faz tanta questão de visibilidade, organizando paradas, passeatas, movimentos de “orgulho gay”.

Primeiro porque não é fácil ter orgulho do que tem que ser escondido ou escamoteado. Segundo, porque na vida o que mais precisamos é de uma testemunha de nossos atos.

O amor que antes não ousava dizer o nome, agora quer proclamar-se de cima dos telhados.

A questão começa na ambigüidade do desejo homossexual, que tem que driblar a biologia, a psicologia e os dogmas sociais. Não existe conforto em confrontar tudo e todos ao mesmo tempo.

No caso da mulher, como diz a psicanalista neozelandesa, Joyce McDougall, “o percurso da infância até a feminilidade adulta é infinitamente mais complexo do que até Freud imaginava. Não só as raízes do erotismo feminino são estabelecidas no começo da infância, mas a identificação com a mãe genital, mesmo quando a mudança de objeto para a heterossexualidade foi adequadamente realizada, deixa ainda em aberto muitos problemas relativos à integração da libido homossexual feminina”. Aqui vai o terceiro motivo:

“TANTO É TRISTE NÃO PODER AMAR QUANTO NÃO PODER FAZER AMOR.” (caixa alta da autora)

A autora, em seus livros: “Em Defesa de Uma Certa Anormalidade” e “Conferências Brasileiras”, considera a exigência, no sujeito, de manter uma identidade. Ela é enfática no que chama de neo-sexualidades: [...] “esses cenários eróticos, complexos e inelutáveis não servem apenas para salvaguardar o sentimento de identidade sexual (como o faz todo ato sexual) mas freqüentemente mostram ser técnicas de sobrevivência psíquica, uma vez que são necessários para a preservação do sentimento de identidade subjetivo.” E continua:

“Para enfatizar o caráter inovador dessas invenções eróticas, denominei-as neo-sexualidades. Por meio dessa terminologia, eu quis evocar alguma coisa semelhante às neo-realidades que alguns pacientes frágeis criam, a fim de encontrar uma solução para uma dor mental que para eles se mostra inelaborável de outra forma. A libido homossexual serve, em primeiro lugar, para enriquecer e estabilizar nossa auto-imagem narcísica.”

Ninguém tem filho por imposição ou obrigação. Nem existe uma compulsão irresistível em adotar crianças. As criações intelectuais e artísticas são meios conhecidos de sublimação, pois neles se é homem e mulher ao mesmo tempo, e permitem gerar filhos simbólicos.

Não é sem nenhum sofrimento que se sai dos ‘armários’ do inconsciente. Nem é tudo tão “gay” assim, tão livre, leve, desencanado. Existe uma contrapartida depressiva e às vezes persecutória. Há um preço social que a pessoa decide se quer - e se pode - pagar. E ainda tirar algum proveito pessoal, já que “o coração exige antes o prazer, depois, desvencilhar-se da dor”, como diz Emily Dickinson.

Numa época em que “a” amante ganhou upgrade de primeira-dama, em que a “zona” virou motel, em que o quarto de casal veio para a sala, a questão da visibilidade gay tornou-se imperiosa: “eu também quero poder amar em público”.

Claro que não será num passe de mágica televiso que isso acontecerá – haverá muito choro e ranger de dentes nas famílias e na sociedade. Principalmente agora, que as “lés” já não precisam ter o aspecto-clichê masculóide: podem ser femininas, lindas, esguias, “normais”. Girls like that.

Entre “constituir família” e, aparentemente integrar-se à sociedade, ou permanecer em guetos, elas buscam outras opções e voz própria. Sem, necessariamente, um filho nos braços.

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