O MISTÉRIO E O FASCÍNIO DA BELA AGATHA CHRISTIE (2001)
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Angus McBean Photograph. © Harvard Theatre Collection, Harvard University
O MISTÉRIO E O FASCÍNIO DA BELA AGATHA CHRISTIE
por Maria Cristina Valente - revista Boa viagem - 1 nov. / 2001 - O Globo
A capa desenhada por Robin Macartney para a primeira edição de Murder in Mesopotamia de 1936
SUSPENSE, MISTÉRIO, ENIGMAS.
Os ingredientes que fizeram das centenas de livros da escritora inglesa sinônimo de boa leitura também estão presentes na exposição Agatha Christie and Archeology: Mystery in Mesopotamia, cartaz do British Museum de 9 de novembro de 2001 a 24 de março de 2002. A mostra reúne achados arqueológicos dos locais onde ela trabalhou com o marido, Max Mallowan, em Ur, Nineveh e Nimrud, além de documentos e fotografias onde a Rainha do Crime aparece em meio a escavações. Muito desses cenários serviram de inspiração para a dona de casa que conquistou milhões de leitores em todo o mundo com seus romances policiais.
Agatha Christie: Putting the ‘Ur’ in Murder
ELA FOI RESPONSÁVEL PELO assassinato de dezenas de pessoas. Seus crimes só não foram perfeitos por conta da genialidade de um detetive, o famoso senhor Poirot, um de seus personagens mais emblemáticos. Mas poucos sabem que a Rainha do Crime era uma mulher simples e muito tímida, apaixonada pelo segundo marido, o arqueólogo Max Mallowman, que conheceu no Oriente Médio, quando já era uma escritora de sucesso.
Depois que se casou com Max, em 1930. Agatha passou a ser vista em todas as exposições que ele organizava fotografando a speças que eram encontradas, ajudando a equipe a recolhe rmaterial e, é clarro, armazenando informações para seus romances policiais.
Essa faceta da escritora, que poucos conhecem, é o tema da exposição Agatha Christie and Archeology: Mysterys in Mesopotamia. Arquivos, objetos, fotografias e filmes feitos pel aprópria escritora poderão ser apreciados na mostra, que também reúne cartazes e capas de livros.
Ela "matava" o bom senso em nome da poesia
Escuros galhos nus contra um céu azul
(E o silêncio dentro do bosque)
Folhas inertes que jazem a meus pés,
ousados troconcos esperando su ahora
(E o silêncio dentro do bosque).
A primavera foi bela, à maneira da juventude;
O verão, com os langorosos dons do amor:
O outono, com a paixão que se transforma em dor;
Folha, flor e chama - caíram e falharam,
E a beleza - a beleza pura é deixada no bosque!
Escuros galhos nus de encontro à lua louca
(E algo que se move no bosque).
Folhagem que sussurra e se ergue entre os mortos,
Galhos que acenam lubricamente na claridade
(E algo que caminha pelo bosque).
Rangendo e rodopiando, a folhagem está viva!
Levada pela morte em diabólica dança!
Os gemidos e o balanço das árvores apavarodas!
O vento que perpassa soluçando e tremendo...
E o medo - o medo, nu, sai do bosque!
De 17 a 28 de setembro / 1990, na Cultura Inglesa, Brasília comemorou o centenário de Agatha Christie. Além dos painéis, dos livros e dos filmes, houve uma palestra do escritor James Melville
Mrs. Agatha na vida deles
CONCEIÇÃO FREITAS - Correio Braziliense
9 de setembro / 1990 - Um dia perguntaram a Agatha Christie como ela conseguia escrever tantos livros. A escritora respondeu: “É simples. Pego um monte de papel em branco e coloco ao lado esquerdo da máquina. Vou escrevendo e passando o papel para o lado direito. Quando o monte do lado esquerdo estiver todo par ao lado direito está pronto o livro”. Para o escritor J.J. Veiga esta foi uma resposta “formidável” – a primeira coisa que ele lembrou ao ser indagado sobre o trabalho da ficcionista. “Não d´apara explicar como se escreve um livro”, diz o autor de A Hora dos Ruminantes, que quando jovem foi leitor de Agatha Christie.
Edilberto Coutinho autor de Maracanã Adeus, tem também lembranças indissipáveis da dama da ficção policial. Findava a década de 50 quando Coutinho, então correspondente do Jornal do Brasil e da revista Manchete em Madri, foi entrevistar o ator Tyrone Power nas filmagens de Ana e o Rei do Sião. Power tinha feito um dos papéis principais em Testemunha de Acusação, baseado no original de Agatha Christie. Coutinho havia gostado muito do filme e por isso foi encaminhando ao livro e a partir daí não mais largou a literatura d Christie. Minutos após a entrevista com Tyrone Power o ator sentiu-se mal e morreu pouco depois, em um sanatório de Madri.
Coutinho derrama elogios à centenária autora e rebate possíveis críticas ao suposto gênero menor que ela exercita. “Se fosse formado um time dos craques do romance policial possivelmente não se chegasse aos onze, mas ela seria incluída”. Estaria escalado também, lembra, Edgar Allan Poe, o fundador deste gênero literário. “Agatha Christie fez o gênero à medida dela e desse modo não há gênero maior ou menor”.
Duas leituras – A habilidade com que a escritora britânica manipula os destinos dos personagens, o modo como arma a estrutura do romance fazendo com que o leitor não seja demitido antes de terminar o livro, levando-o à empatia ora com um, ora com outro personagem são qualidades da escritora vivamente apontadas por Edilberto Coutinho. Agatha Christie também faz parte do time que o público gosta de ver jogar mais de uma vez. “Na primeira leitura para ver o mistério desvendado e na segunda para ver a qualidade dos recursos da imaginação criadora com que ela arma o romance”.
Na condição de delegado de polícia e consultor informal do escritor Rubem Fonseca, Ivan Vasques também reconhece na autora competência no que faz. É uma literatura policial muito lógica”, diz, só que “não tem nada a ver com a realidade brasileira”. E o espaço geográfico e histórico onde se desenrolam as tramas possibilita o tipo de suspense muito peculiar a Agatha Christie. No Brasil, o excesso de espaço, a “pasmaceira” das pequenas cidades e a usual forma de obter confissões sob tortura impedem, num primeiro momento, a formulação de um ambiente no estilo de Christie, afirma Vasques.
O delegado recorre a Rubem Fonseca para mostrar que mesmo diante de todas essas dificuldades um brasileiro soube recriar o suspense de Agatha Christie. Exemplo está em Bufo e Spallanzani, onde ele desloca para uma cidade do interior o clima para um assassinato. A diferença surge na atualidade dos romances de Rubem Fonseca, que pode descrever com minúcias o funcionamento de uma pistola Magnum, artifício que Agatha Christie não dispunha.
O filólogo Antônio Houaiss não chegou a visitar as obras da ficcionista. “Não tenho muito interesse. Seria pouco sincero falar sobre ela. É um gênero que eu não soube cultivar”, diz sem mistério.