ESTE ACERVO REÚNE EDIÇÕES DA REVISTA OZ, MARCO DA CONTRACULTURA
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ESTE ACERVO REÚNE EDIÇÕES DA REVISTA OZ, MARCO DA CONTRACULTURA
André Cabette Fábio 11 Ago 2018 (atualizado 11/Ago 18h17)
Material é variado o suficiente para que publicação possa ser lida como transgressora, assim como conservadora
FOTO: REPRODUÇÃO CAPA DE EDIÇÃO DA OZ DE SETEMBRO DE 1968
Lançada em primeiro de abril de 1963 em Sydney, na Austrália, a revista satírica OZ se internacionalizou nos anos seguintes. Entre 1967 e 1973, foi editada em Londres por Richard Neville, Jim Anderson e Felix Dennis, o que permitiu que capturasse a atenção de músicos, escritores e desenhistas importantes da cultura pop britânica.
Hoje, a revista é considerada um marco da produção gráfica da contracultura. As edições publicadas em Londres podem ser acessadas em um acervo online organizado pela universidade australiana de Wollongong.
Em um artigo publicado em 2014 no site The Conversation, os pesquisadores Michael Organ e Rebecca Daly descrevem o contexto da criação da publicação na Austrália da seguinte maneira: “Uma nova geração crescendo após a Segunda Guerra Mundial estava tentando reconciliar a cultura conservadora na qual viviam com um mundo em mutação no qual direitos civis, direitos das mulheres, pacifismo, e outros desafios às ideologias conservadoras existentes estavam emergindo”
FOTO: REPRODUÇÃO CAPA DA OZ DE JANEIRO DE 1967
Frequentemente, publicações satíricas são envoltas em controvérsias — que, além de trazer problemas, têm o efeito colateral positivo de gerar publicidade, apresentá-las a novos públicos e aumentar a circulação. O caso da OZ não é diferente. A primeira edição da OZ australiana exibiu uma chamada de capa para um dos textos, referente a aborto, que fez com que os editores precisassem responder à Justiça.
A sexta edição trazia uma capa em que a equipe de produção fingia urinar em uma estátua do escultor Tom Bass, que pouco tempo antes fora inaugurada em Sydney.
O período britânico não foi diferente. Algumas das edições da revista foram editadas por membros de movimentos convidados pelos editores. Entre eles, a Frente de Liberação Feminina e grupos de homens gays. Seguindo essa prática, os editores convidaram 20 estudantes para que ajudassem a editar sua 28ª edição, que foi nomeada de “School Kids Issue”, ou “edição dos estudantes”, em uma tradução livre. O convite foi feito em reação a uma crítica feita em 1970 segundo a qual a revista teria perdido a conexão com a juventude.
FOTO: REPRODUÇÃO CAPA DA REVISTA OZ DE DEZEMBRO DE 1969
Uma das contribuições dos jovens foi a criação pelo estudante Vivian Berger de uma paródia sexualizada de uma história do ursinho Rupert Bear. Nela, o personagem principal encontra uma mulher idosa despida e começa a fazer sexo com ela. Para criar a tirinha, Berger recortou imagens do personagem infantil e as colou em uma história em quadrinhos de Robert Crumb, um cartunista americano frequentemente apontado como misógino.
Os editores foram processados pelo poder público britânico sob a acusação de “conspiração para corromper a moral pública”.
O episódio foi um marco da contracultura. Entre os defensores da revista em uma ampla campanha pública estiveram figuras como John Lennon e Yoko Ono, que contribuíram com a gravação da canção “God Save OZ”.
Os editores chegaram a ser condenados e presos, e tiveram seus longos cabelos cortados. Mas apelaram da condenação e não chegaram a cumprir muito tempo de pena. Durante o auge da publicidade gerada pelo caso, a revista chegou a ter uma circulação de 80 mil exemplares.
Como é comum entre publicações satíricas, a revista manteve um posicionamento ambíguo. Ela se posicionou a favor do aborto, teve participação especial de grupos feministas e publicou críticas à violência policial. Mas também também publicou artigos e desenhos ofensivos às mulheres, assim como a outras minorias. Há material variado o suficiente para que seja lida como transgressora, assim como conservadora.
Mesmo se fosse publicada hoje, é possível que o conteúdo da tirinha que gerou a comoção fosse alvo de críticas não só daqueles preocupados com a moral infantil, mas também de feministas. Outras edições traziam caricaturas de pessoas negras, ou “black faces”, como era frequente entre cartuns da contracultura — marcados pela dominância da produção de homens brancos, como o próprio Robert Crumb.
O texto que apresenta o acervo afirma que os exemplares “contêm linguagem explícita e imagens que refletem atitudes da época em que o material foi publicado originalmente, e que alguns leitores podem achar confrontadoras”.
EXPRESSO Como é o maior acervo de revistas em papel do mundo
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