FERNANDO PESSOA SOBRE O ÚNICO VESTÍGIO DO POETA SER A PRESENÇA DAS ROSAS
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« Poesia em Sartre e o fotográfico: uma rápida pontuação.Pereio sem frescura com Lourenço Mutarelli: arte seqüencial, se enganar, anti-narcisismo e de novo o paradoxo. » (SSALVES)
FERNANDO PESSOA SOBRE O ÚNICO VESTÍGIO DO POETA SER A PRESENÇA DAS ROSAS
“Do poeta deve ser o ter passado sem outro vestígio que a presença das rosas. Para que os ramos quebrados, ainda, e partido o caule das violetas?”
Fragmento de Fernando Pessoa
Extraído de Páginas de estética e de teoria e crítica literárias.Lisboa: Ática, 1993. p. 132-133.
[Carta a um poeta, 1914]
“Meu caro poeta:
Escrevo-lhe a desoras da Delicadeza. Há meses que o Luís de Montalvor me fez chegar aos olhos o seu Livro. Embora o lesse sem tardança, tenho demorado o agradecimento para le´m dos limites que se usam. A licença poética não admite tanto. Eu tenho abusado do direito concedido aos camaradas de responder longe de propósito. Começo a minha carta por lhe pedir as desculpas a que este adiamento obriga.
Não sei que lhe diga do seu livro, que seja bem um ajuste entre a minha sensibilidade e a minha inteligência. Ele é deveras a obra de um Poeta, mas não ainda de um poeta que se encontrasse, se é que um Poeta não é, fundamentalmente, alguém que nunca se encontra. Há imperfeições e inacabamentos no seus versos. Veem-se ainda netre as flores as marcas das suas passadas. Não se deveriam ver. Do poeta deve ser o ter passado sem outro vestígio que a presença das rosas. Para que os ramos quebrados, ainda, e partido o caule das violetas?”
Continuaremos amanhã. Farei a ligação entre a postagem anterior e a presente.