REVIVE EM BRASÍLIA A PUBLICAÇÃO CULT BRIC-A-BRAC (2007)

REVIVE EM BRASÍLIA A PUBLICAÇÃO CULT BRIC-A-BRAC
CADERNO 2 - O Estado de S. Paulo
Jotabê Medeiros

Revista, que durou 6 números e publicou de Chacal a Nise da Silveira, Mindlin aos irmãos Campos, ressurge em novo formato

14 jun. / 2007 - Hoje, às 19 horas, na galeria da Caixa Econômica Federal, em Brasília, será relançada uma revista referencial do jornalismo cultural nas últimas décadas, a Bric-a-Brac. Editada pela primeira vez em 1986, a publicação teve apenas seis números e o último saiu em 1991. Mas foi quanto bastou: em suas páginas, Augusto de Campos escreveu sobre o concretismo, editou-se pela primeira vez um poema erótico-pornô manuscrito por Manuel Bandeira. Ecoaram em suas páginas a poesia do urbano Chacal e do pantaneiro Manoel de Barros, o esforço civilizatório de José Mindlin, os sambas chiques de Paulinho da Viola, a utopia da psiquiatra Nise da Silveira e as idéias do compositor e cantor Caetano Veloso.

O retorno da Bric-a-Brac se dá em grande estilo. Poetas, artistas plásticos e gráficos fotógrafos e cineastas foram convocados a Brasília para comemorar os 21 anos da revista experimental. 'Isso aqui está uma maravilha!', exultou o fotógrafo Juvenal Pereira, convocado para a reunião, ligando logo que chegou a Brasília, no salão onde está instalada uma grande exposição multimídia, com curadoria de Marilia Panitz. Outros que já estão em Brasília são o cantor Chico César e o performático José Roberto Aguilar.

A exposição reúne fotos das diferentes fases, capas da revista ampliadas, uma vitrine com a correspondência trocada entre artistas e editores e fac-símiles dos 6 números. E a edição de um catálogo-revista com 110 páginas e inéditos de poetas como Arnaldo Antunes, Chico César, Francisco Alvim, Paulo Leminski, José Roberto Aguilar, Augusto de Campos, e Manoel de Barros, além de poetas de Brasília como Nicolas Beher, Ameneres, José Edson, Menezes y Morais, Cristiane Sobral, Angélica Torres Lima, Vera Americano, entre outros.

Outra atração será um documentário que está sendo produzido pelo poeta Luis Turiba e o cineasta André Luiz Oliveira sobre os seis anos de existência do grupo Bric-a-Brac. A produção traz um depoimento do compositor e cantor Zé Baleiro sobre a influência da revista no seu trabalho. Zeca Baleiro musicou como se fosse um blues o Poema Pornô de Manuel Bandeira, e o canta no documentário.

'Acho que a revista perdurou porque, ao longo dos seus seis anos de existência, procurou quebrar com as igrejinhas poéticas e tentou fazer um amálgama cultural, juntando a poesia mais ligada à etimologia, aquela relacionada aos candomblés, como de Antônio Risério na Bahia, os concretistas, os experimentais e a pureza pantaneira de Manoel de Barros. Tudo isso com o clima de Brasília, esse clima de vale-tudo', diz Luis Turiba, um dos quatro editores que idealizaram a publicação. O foco cosmopolita, nunca provinciano, é outra explicação para que ela tenha se tornado referencial.

'São Paulo. Noite fria. Festa na Livraria Cultura da Avenida Paulista. Lançamento da revista Bric-a-Brac na cidade. Vinda de Brasília - algo assim meio incomum. Festa incomum. Uma noite de autógrafos, mas os editores da revista se perdiam em meio aos convidados: artistas, poetas, jornalistas, editores, músicos. Dentro da livraria, uma imagem emblemática: o grande bibliófilo José Mindlin brinca com a fotógrafa, uma entre os tantos que registravam o evento. Esconde-se atrás das estantes. Deixa-se ver através dos livros. Em um próximo número da revista, lá estaria ele, falando de sua paixão', lembra a curadora Marilia Panitz. Os organizadores já marcam um novo lançamento em São Paulo, nos próximos dias, provavelmente na Livraria Cultura.

'Bric-a-Brac era o lugar certo para isso. Como foi o lugar para inéditos, da bela poesia de Manoel de Barros, ainda nos anos 80, antes que o mercado editorial nos brindasse com seu exercício magistral de linguagem pelo mínimo', ela continua. Um dos grandes colaboradores foi o poeta Augusto de Campos, que trouxe outros intelectuais para as páginas da Bric-a-Brac. Marilia crê que é possível fazer uma analogia da breve história da publicação com outras revistas que se tornaram cult, como a Documents, a Klaxon e a Malasartes.


Manuscrito de Leminski

Claro Calar Sobre
uma Cidade sem Ruínas

Em Brasília admirei, não a Niemeyer lei. Admirei a vida das pessoas penetrando nos esquemas, tinta sangue no mata-borrão, vermelho gente entre pedra e pedra, pela terra adentro. Em Brasília, admirei. Admirei o pequeno restaurante oculto, criminoso por estar fora da quadra prometida. Sim, Brasília. Admirei o tempo, que já cobre de anos tuas impecáveis matemáticas. Sim, Brasília, o erro sim, não a lei. Muito me admiraste, muito te admirei.

P. LEMINSKI, 84

 

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