VANDRÉ (REYNALDO JARDIM)
- Details
-
Hits: 2729
|
Vandré (Reynaldo Jardim*)
Fazer a canção exata medida e objetiva. Sem pensar em rima rara arranjar a rima viva. A rima viva não pára: seguindo vive e ativa. Fala de pasto e de gado de usina e de mina. De operário roubado de chacal e de chacina. Fala de fome e de greve e uma lição ensina: “Quem sabe faz a hora” é o Vandré quem doutrina. “não espera acontecer” que o esperar desanima. Canta o Vandré com amor em sua canção-menina que nos dá a emoção de uma dor aguda e fina cravada no coração numa ânsia repentina de ter um fuzil na mão ou mesmo uma carabina e sair o mundo afora fuzilando quem fuzila. Justiçando a injustiça e o ódio que destila a suja guerra do mundo. Acabar com tanto crime e tanta força assassina. Mas se detém a intenção que o pensamento examina: é inútil qualquer ação sem que a coisa se defina. É a razão quem define quem define e determina: A mudança principia quando todo o povo atina que “quem sabe faz a hora” e na hora vê a sina do que vai acontecer onde começa e termina a marca do mundo jovem mundo velho que declina. Vandré, o Brasil caminha com tua canção-menina cantando a viva lição que além de alegrar ensina. Ensina que sem lutar o povo não muda a sina. Ensina o verbo amar e amando o povo ensina.
|
*É poeta, é artista plástico, é jornalista, é uma pessoa contraditória, inquieta, um renovador em estado de tensão permanente. Já passou por todas: editor do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, que marcou por sua inovação de forma e conteúdo toda uma geração. CPC da UNE, poesia concreta, poesia social, esoterismo... Difícil qualificá-lo. Mais difícil, ainda, é entende-lo. Já que não conseguimos, buscamos dividir com o leitor, um de seus poemas, de uma de suas muitas fases. Quem gostou do cartaz do CULTURA NUA E CRUA, que ele criou recortando páginas coloridas de revistas, decerto gostará do poema. Se não gostar, não faz mal. Basta procurá-lo, que ele tem outros, muito outros.
**ORIGINALMENTE PUBLICADO NO JORNAL CUCA LIVRE – (Movimento Candango de Dinamização Cultural) NÚMERO 6 – ago. / 1985.