O Confessionário Poético de Fernanda Fatureto

Breve Resenha Critica
O Confessionário Poético de Fernanda Fatureto

por: Silas Corrêa Leite – E-mail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

“... Adquirimos sabedoria?
Eis um belo paradoxo,
já que a sabedoria é fruto das perdas
e não das aquisições." (Alma Welt)
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Vivendo e aprendendo a chorar... A faca cega do olhar, a cismar, perquirir; porque açoda refinamentos íntimos, até as 'bijuteliricas' dessa nossa amarga 'vidamorfose'. Vida-víbora as vezes? Tempo-rei... Escrever é apagar incêndios? As vezes é propagar incêndios... Inconformismos e outros ismos (perdas não suturadas), tristices (buscando na poesia o ansiolítico); alma poética vertendo lágrimas-lampejos em poesia de grosso calibre, baixo escalão e curtume de dilacerações em estrofes...

Intimidade Inconfessável, o livro de poesia de Fernanda Fatureto, e o germe da dor e da não aceitação soltando labiriscas de palavras, da alma triturada, num pensar-sentir-cismar, momentos e perguntações... reflexões... e desatinos desse “ver-sentir-reinar” a vida. Vida? Sentições tenebrosas dão bons poemas. Eis o livro.

Ana Cristina Cesar dizia de “ancorar (amarrar) navio no espaço”. Fernanda Fatureto quer lixar a ferida de sua alma no que escreve, quer vazar “limonódoas” de tudo isso junto e misturado, como se plantasse incêndios em lampejos de palavras... Teias (traços), traumas, neuras, véus (ranços, limos, húmus), vis-lumbres, reconhecimentos, desacomodações do Eu de si. Cortes de palavras e resíduos a trufados versos situados e sitiados a palo seco. Ah a lavoura de mordaças, cisternas, e incêndios íntimos. Risos, cafés, duelos: a infância in(contida) em suas chagas de sensibilidades não devidamente auferidas no lustral e nem talvez decodificadas...

Tintas de extintores de incêndio vencidos: a mágoa, a neura, a tristeza-dor, e as afinidades com as palavras buscando retrazer das entidades e afins, os cadarços, borbotões de laranjeiras interiores. Feridos venceremos? Não, não há sensações no esquecimento. Vidráguas amargas? Vitrines no parir das armadilhas de percursos, mais o espolio-fertilidade da dor-poesia.
-“É mais corajoso quem não tem medo de voar pelo mundo ou quem aguenta ficar dentro de si?”, disse Tati Bernardi. Reconstruir-se é sair do inconformismo, sacudir e poeira e dar uns volts por cima. Haja arte. Sorte nossa que Fernanda escreve seus rasgos e toca ressentimentos com asperezas de um olho na alma e um olho na vida real. Existir dói.

O poema “Ao Pai” ´quase mantra em sânscrito.
“Meu pai/Como é ter-te e ter perdido?/
Como é passar pela vida?(...)/ Estás comigo./
O fio não se perdeu(...)/ Conta, sorrateiro,
ao vento, o que é a eternidade” (In pg 19/20)

O breve livro de Fernanda Fatureto traz esse incomodo: acaba perto do quase, com sabor de quero mais, e fica o dito no sentido com a alma: ela tem muito mais o que contar, em verso e prosa (sorte nossa?), seu universo criador grita na silencitude de seu trejeito de dizer a dor a sério e levar a escrita com talento. Lava-se, quando se enleva e evoca? Que venham outras páginas de sua vida-livro aberto sobre si mesma...

O Edson Cruz que faz orelha e prefácio, bem a retrata em rápidas e belas pinceladas: “Escrever o primeiro livro de poemas é como retirar o véu de nosso Eu mais caro(...) Seu livro e um ajuste de contas com o tempo(...) Onde o que prevalece é a sensibilidade”. O que foi arrancado de nós, ainda permanece em nós?

Versos rastros (pegadas íntimas): “Há uma gota de sangue nesse apelo//... Ou: “Enunciação. Crivo em crise. Sintoma// ou... “Havia uma luz a meio tom/A espreita no salão./Uma bailarina antiga/Dançando a valsa do adeus”. Essa é a poeta Fernanda Fatureto: creme e coragem, palavras e vultos lacônicas que perpassam palavras.

Bela estreia. Que venham outros livros. Estaremos esperando com café, capa, espada, elmo e os olhos prontos para ver pontos de fugas de poemas arrancados da dor da sobrevivência in/possível. Vá se confessar assim na Poesia. Oráculo, genuflexório? Melhor viver de poesia do que dessa realidade bruta que é a existencialização dura e sofrível perto de nossa impura solidão-cadáver


*Autor de GUTE-GUTE, Barriga Experimental de Repertório, Romance, 2015, Editora Autografia, RJ - Blogue: www.portas-lapsos,zip.net

 

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