Fanzine, a revista do fã
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Fanzine, a revista do fã
texto Mário Pacheco
Os fanzines são os órgãos oficiais da comunicação e divulgação dos fãs-clubes, ligados intimamente a grupos ou artistas. Fanzine é um neologismo criado da contração de fan’s magazine, ou fanatical spectator’s. Significa “revista do fã”, e rapidamente se populariza na redução zine.
É um canal de comunicação que nasceu da necessidade de abrir caminho para a troca imediata de informações específicas, as que não são veiculadas pela tradicional imprensa, mas que interessam a um grupo de pessoas, pois cultuam a paixão por um esporte, o skate, uma banda, ou os quadrinhos. Também temas importantes são veiculados, a ecologia, manifestos apresentados através de colagens, poesias que influenciam a mídia - com suas informações apaixonadas e bem informadas. Antigamente, o grande barato era a Revista do Rádio, e os fãs-clubes dos ídolos da rádio. Com a chegada de Elvis Presley e os Beatles, os roqueiros começaram a debater entre si e a trocar correspondência.
As dificuldades de manter uma publicação são inúmeras, e começam a partir da necessidade de um bom troco, para comprar os selos e acompanhar as revistas e livros importados, mas o principal de tudo continua sendo tempo e dedicação. A tiragem varia de edição para edição, pode aumentar ou originar uma segunda edição (para um número esgotado). A tendência é de aumentar de número para número, pois com a rápida divulgação torna-se necessária uma maior, e aí começam os problemas financeiros – para custear a tiragem. Ainda assim, pode mudar de nome e formato, ou quem sabe vir na forma tabloide, chegar mensalmente às bancas, como revista, ou mesmo quem sabe ficar apenas no primeiro exemplar. A certeza é que sempre haverá um novo número, e que a cada dia nascem novas publicações no planeta que preenchem o vazio das mídias e quebram a monotonia das já tradicionais folhas.
A distribuição é gratuita, ou é cobrado um preço simbólico, que não custeia as despesas de impressão. Geralmente são impressas em off set, mais baratas, ou fotocópias, e seguem despachados pelos Correios, na postagem “impresso”.
No Brasil, com a morte de Lennon, em l980, surgiram vários fanzines dedicados aos Beatles, que dominavam a cena, e com o advento do “faça você mesmo” e o boom das bandas brasileiras proliferaram novos zines, com cada vez maior penetração e, acima de tudo, o menor custo de divulgar a própria ideia. Em Brasília, um pioneiro dos fanzines nasceu nas ruas do Guará. Chamava-se Jornal do Rock. Hoje existem os tabloides Delêcto Crudélis, Subskatezine, e, dedicados ao metal, o Metal Blood e o novato Hemorragia Cerebral. E mais outros há.
Nem só de rock vivem os zines. Em suas páginas, podemos encontrar quadrinhos, charges, mail-arts, e recursos gráficos incrementados em computadores, que evoluem para os chamados graphizines.
O fanzine serve de escola, e muita gente boa começou neles. Ali se desenvolvem projetos futuros, como livros, divulgação de desenhos, que acabam em revistas ou jornais, que encurtam o caminho entre a idealização e a obra impressa.
*Publicado em fevereiro de 1989, no fanzine "Rock'n'Roll News n.º18 - Edição Especial Arnaldo Baptista
Fellipe CDC entrevista Pazcheco
Várias perguntas em uma. Vamos lá! Por que começou a editar fanzine? Quando editou o seu primeiro impresso marginal e qual o nome dele? Ainda tem uma cópia do mesmo?
Tenho originais de tudo que realizei! Toneladas de arquivos! Guardei tudo o que eu toquei e guardei absolutamente tudo que vi li e ganhei. O primeiro zine (The Beatles Oldies but Goldies) saiu em abril de 1982. Já no número 3, como Jornal do rock, chamou a atenção do programa de TV Som Pop, dos jornais locais e do Renato Manfredini.
Quantos fanzines editou em sua vida antes de chegar aos seus livros? Quanto tempo, em média, durou cada fanzine seu?
Fiz zines entre 1982-87, foram 19 edições. A onda era trimestral. Quando tudo amargava eu soltava uma edição em meio ao show do Barão Vermelho ou dava uma festa. Dei muita festa por aí, pegava a Kombi do senhor Ivan (meu pai e maior incentivador, que me comprou muito disco). Ia na casa do Júnior e levava o som pra rolar na casa do Edvar. Lancei discos do Motorhead, ‘A Nice Pair’ do Pink Floyd, Júpiter Maçã, Mopho... Todas estas bandas os caras ouviram lá em casa. Daniel Matos (produtor) me passava os discos. Todo mundo quando comprava um disco que não gostava e queria trocá-lo me procurava! Eu, Luiz Punk, Ricardo Lima... Barbudos com carteira fichada correndo atrás de vinis e as mães dos garotões:
— Vocês não trabalham?
— Tamos de férias, dona Maria!
Olha, sei que o Rolldão o ajudou em um zine sobre o Black Sabbath. Foi um grande trabalho. Sei porque tenho um exemplar guardado, mas não lembro o nome e não vou perder tempo procurando, pois sou um arquivista de merda e não vou ficar preso a esse detalhe. Vou ser rápido como um bom gancho de direita: como era mesmo o nome do abençoada publicação e como descolavam as matérias e decidiam quais iam entrar?
Sleeping Village Sabbath Rock Club! Rolldão, além de patrocinador, era o impressor da parada, garantindo uma excelente qualidade. Guilherme ‘Iommi’, um grande colecionador de São Paulo, mandava as matérias que eram traduzidas pelo Antonio Carlos e editadas ou datilografadas pelo Maurício Melo, nas capas vinham artistas fenomenais, tipo Rogério ‘Punk’, William ‘Macha’, Pedro Bala, Diogo... esses revezavam-se... Caralho! Eu tinha mais amigos... Outro cara, outro sócio que não pode ser esquecido, é o Révero Frank. Me ajudou a trazer a Patrulha do Espaço! Révero trabalhou nos fanzines desde o início. Até hoje ele e o Rogério ‘Punk’ participam. 26 anos juntos! Mais tempo do que o meu casamento.
O poeta Nicolas Behr era zineiro e lançou livros, você era(é) zineiro e também lançou livros. O futuro de todo zineiro persistente é lançar um livro?
Eu nunca fui da geração mimeógrafo e sim da geração coca-cola. Nicolas Behr (que eu tenho um livrinho) não é parâmetro de produção alternativa. É mais um dos caras que se locupletaram com essa onda de ser enquadrado na lei de segurança nacional, assim como filho de diplomata. Só é capaz de realizar um livro tendo sido zineiro. O cara mais absurdamente generoso e surreal é o Kleber da Da Anta Casa Editora do Antarquismo. O único anarquista que eu pus os olhos, e olhe que quando você rotula alguém ele deixa de ser.