POR QUE A QE 40 É DIFERENTE? (JORNAL DO GUARÁ, 2018)
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POR QUE A QE 40 É DIFERENTE?
Por Mário Pazcheco - fotos: Mateus Lucena
"Em que parte cabe a arte?"
"É a parte que te cabe deste latifúndio".
Academias, bares, cafés, restaurantes, estúdios, barbearias e quitinetes diferenciam o perfil cultural da QE 40 no Guará 2. Alguns dos microempresários são pratas da casa, além de vizinhos que nasceram juntos com a quadra entre 1994-95.
No Distrito Federal, o fluxo musical e o eixo das artes voltam suas atenções e visitas para às satélites e suas periferias. E para concorrer com o êxodo de consumo cultural rumo ao Plano Piloto, a aposta é empoderar o programa artístico-cultural local: cortar cabelos, tomar café, visitar galerias, consignar peças ou consertar instrumentos musicais. A propósito, as andanças noturnas são facilitadas pelos aplicativos de transporte.
Decano das artes
Vestígios da iconografia mais antiga das artes plásticas e musicais da QE 40, podem ser encontrados na Letroarte. O guitarrista, luthier e comunicador visual Miro Ferraz cria, desde 1994, as placas e faixas dos diversos empreendimentos do Guará.
Laboratório de sons - não estranhe se um riff marcante do heavy metal cortar a conversa. Músico, colecionador de guitarras, “32 no momento”, Miro, na oficina, constrói e repara guitarras. O espaço é um misto de estúdio e loja virtual de música.
A Rosa do Atelier Rosa & Arte
O Atelier Rosa & Arte é um mostruário com as peças mais bonitas e legais: uma sucessão de pratos rococós, vasos, telas, porcelanas e formas discoides e coloridas. Cada peça é cuidadosamente planejada para expor os estilos variados do Ming ao grego, do egípcio ao oriental. “Todo mundo adora a arte independente de idade". Para adquirir uma peça, o que manda é o poder econômico: ‘acho lindo, mas não posso’, comentam alguns que acabam comprando uma que cabe no bolso.
A professora Rosa Machado integralmente desbrava o mundo das artes há sete anos na QE 40. Nas suas aulas semanais, ela ocupa e facilita o acesso e a compreensão às artes, suas aulas duram três horas e podem ser a domicílio.
Dona Rosa se mantém calma e sábia: uma paisagem clássica europeia é transposta do molde para o prato decorativo que, prontamente, e levado ao forno. Depois de pintada em azul, amarelo, rosa lilás e verde, a peça recebe novamente o calor e se transforma em arte
Galeria 40: loja colaborativa e aluguel de nichos
Nichos são vãos em paredes alugados por mês. Para comercializar artesanatos de porcelanas, bolsas, nécessaires, mochilas e produtos como perfumes importados e lingiries. Tudo vendido a preços módicos. A vitrine na entrada e as passagens entre os compartimentos, espelhos e a iluminação aliados ao burburinho geram impressão e impacto. A intenção da Galeria 40 “é abrir lojas em outros lugares e capitais além do Guará", ressalta Ranieri.
A otimista Ranieri, uma das sócias da loja colaborativa Galeria 40
Acervo, um café tradicional
Numa sobreloja, no mesmo conjunto H de frente para a Galeria 40, há dez meses o público seleto, vindo do Plano Piloto (estudantes da UnB), degusta café, bolos e pães de queijo. As três opções de cafés especiais são servidas em cálice de medida. A decoração é temática: moedor e sacas de café vazias, plantas ornamentais e livros numa estante. A luz ambiente é relaxante, o som é do Spootfy. Ali o pacato resiste à transição para o trânsito agitado de muitos carros na quadra.
Hoje em dia a palavra queer é considerada como um guarda-chuva que não só abriga todas minorias sexuais, mas principalmente refere-se àqueles cujas opções sexuais são tão ambíguas e alternativas que seus proponentes acreditam que o termo LGBT (Lesbian, gay, bisexual, and transgender) não é suficientemente claro para defini-los
Pilastra esperança de sustentação artística (arte queer)
No guia cultural Bsb Plano das Artes aparecem listados 21 endereços de espaços artísticos para visitas: dezessete em Brasília, dois em Taguatinga, um em Sobradinho e o único no Guará, na QE 40, é o Espaço Pilastra: “o circuito de visitação abriu infinitas possibilidades culturais", afirma Mateus Lucena, coordenador do Espaço Pilastra.
Desde outubro, a bandeira do arco-íris tremula na fachada do Espaço Pilastra, espaço de iniciativa privada, que visa unir artistas variados e exibir sua criatividade. A sobreloja, com 200 m2, abriga sete espaços. As duas amplas salas da entrada são bem iluminada pela luz natural. Duas outras salas gêmeas são oferecidas gratuitamente para desenvolvimento de performances, leituras, tatuagens, esculturas e pinturas. Ainda em implantação um café e a ilha de edições em vídeo.
Bandeiras anunciam o vento da mudança – Arrumações, sobe e desce intenso na escada. Bloquetes coloridos de gesso, tijolos de oito furos costurados numa alvenaria estrutural. A atual exposição é construção das artistas Cecília Lima, Raíssa Studart e Isadora Almeida. A curadoria é de Kabe Rodrígues.
No interior, quadros do mexicano Vicente Piva e do brasiliense, Ricardo Gauthama, que sublinha a inquietação sexual e o apelo pop. Os dípticos de Bia Leite provocam através do punk, com armas apontadas para a própria cabeça. O visitante, aguçando a percepção poderá captar “o bullying e chacota transpostos em pequenas celebrações de auto-estima e auto-aceitação”. As telas de Xibi Rodrigues redescobrem e discutem o papel da presença da mulher negra. No espaço podem ser também apreciados os trabalhos de Caleba Brasil e de Daniela Asantewaa. Algumas destas obras são comercializados pelo próprio Espaço Pilastra.
Outras artes - musicalmente, o duo experimental Kaiba apresentou Trip Hop, Bjork e Aphex Twin, na segunda quinzena desse mês, o público majoritário veio de Samambaia, Ceilândia e Taguatinga.
Serviço:
Letroarte (placas & faixas) : QE 40 conj. "A" lote 1b (fundos da Novapele Perfumaria)
Atelier Rosa & Arte: QE 40 conj. "L" loja 2
Galeria 40: QE 40 conj. “I” lote 5 - (61) 3047-4240
Acervo Café: QE 40 conj. "H" lote 18
Espaço Pilastra: QE 40, conj. "D", Lote 38, Apartamento 101
A palavra queer começou a ser usada lá pelo século XVI significando estranho, esquisito, excêntrico ou peculiar. Um adjetivo para alguém suspeitoso, não muito certo ou uma pessoa levemente “pinel” ou “variada” da cabeça que mostrasse um comportamento inapropriado ou fora do normal.
Em 1904, numa história do Sherlock Holmes chamada "A Aventura da Segunda Mancha" (The Adventure of the Second Stain) o personagem principal usa a palavra queer num sentido pejorativo. Então, coincidência ou não, a partir daí a palavra queer começou ganhar um significado de desvio sexual e imoralidade. Queer virou uma palavra ofensiva aos homossexuais (mais ou menos como nigger era (e é) usado contra os negros).
Foi só à partir do começo dos anos 80, em busca de uma identidade, que este adjetivo começou ser propositadamente assumido por parte da comunidade LGBT (apesar de usarmos esse termo hoje, ele não era utilizado na época). O queer também se estendeu ao campo da teoria em torno dos anos 90, virando um campo de estudos acadêmicos dessa identidade que não se encaixava nas normas
Hoje em dia a palavra queer é considerada como um guarda-chuva que não só abriga todas minorias sexuais mas principalmente refere-se à aqueles cujas opções sexuais são tão ambíguas e alternativas que seus proponentes acreditam que o termo LGBT (Lesbian, gay, bisexual, and transgender) não é suficientemente claro para defini-los.
Queer tem sido cada vez mais usado para indicar uma opção não normativa onde seus membros, se afastam não só do binômio homem/mulher como também não gostam ser classificados como LGBT.
Como era de se esperar, os críticos do uso desta palavra incluem membros da comunidade LGBT e outros que associam o termo mais com seu uso vulgar, como um insulto depreciativo ou que desejam dissociar-se do radicalismo queer. (texto de Antônio Celso Barbieri e Lana Chadwick)