Coisa De Fã: Alexandra Nery - PE (2021)
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Foi em um grupo do Facebook, do Rock brasileiro dos anos 70, que encontrei Alexandra Nery. Fiz um apontamento sobre a banda carioca, paulista Unziotro. Para minha surpresa, ela me conhecia de nome e também o livro escrito por mim "Balada Do Louco". Alexandra Nery se mostrou cativante e segura e uma avis rara. Ela é a autora do logo abaixo desta linha. E nas próprias linhas escritas por ela, o leitor perceberá que Alexandra Nery é uma definição radiante de fã. (Mário Pazcheco)
"Às vezes acho difícil expressar em palavras alguns sentimentos, até porque existem vários tipos de fã, mas, pra mim, acredito que ser fã permeia entre amor e loucura. Acho algo muito bonito. Acho que é como um chamado. É admiração, gratidão, valorização. Acredito que fã tem um papel muito importante. Eu mesma me preocupo, principalmente, nesse tempos difíceis, se alguém que sou fã está conseguindo se manter, por exemplo. Penso nessas coisas. O lado humano do ídolo também, a sobrevivência. Não é só gostar do som. É gostar de som, e sempre que tiver oportunidade, poder agradecer de alguma forma a tudo que um ídolo proporciona de bom pra você." (ALEXANDRA NERY)
ALEXANDRA NERY: DE CERTA FORMA, EU ESTOU LÁ E ELE ESTÁ AQUI. SÓ FLUINDO AS ENERGIAS BOAS
Valeu à pena ter investido alguns salgados reais no livro Balada Do Louco?
Alexandra Nery – Plenamente. Finalmente, o livro chegou para mim, agora à tarde... Estou folheando e já estou pirada... cada foto maravilhosa. Imagine o conteúdo... Estou muito feliz!
Como foi que Arnaldo Baptista a ajudou no seu renascimento artístico?
Alexandra Nery – Conheço e gosto dos trabalhos do Arnaldo há anos, porém, mais recentemente tive um reencontro com a música dele e foi algo muito profundo. Estar em contato com o som do Arnaldo, seja solo, com a Patrulha do Espaço ou com os Mutantes, cada um com sua devida importância, foi me reencontrar na minha essência, musicalmente falando também, porque todo som que sempre quis fazer na vida foi e é o rock 'n' roll, e a psicodelia também. Foi muito importe pra mim. Foi e é inestimável essa reaproximação. Eu andei um tempo ouvindo outras coisas, fazendo outro tipo de som. Mas esse reecontro trouxe algo que estava ali, não totalmente guardado, mas que eu tinha me distanciado um pouco e agora voltou a ser algo forte. Voltou até o estímulo pra estudar música, me esforçar, tentar aprender a cantar e tocar direito mesmo.
Qual foi o momento mais próximo com o ídolo? Houveram ramificações? Vocês trocaram correspondência?
Alexandra Nery – Se a gente for pensar no sentindo de pessoalmente, de ver mesmo a pessoa, o momento que tive mais próxima dele foi em 2012. No show Sarau o Benedito? no lindíssinmo Teatro de Santa Isabel, localizado no centro daqui de Recife, pelo festival da MIMO. Mas se a gente for pensar em outro sentindo, algo mais de energia, digamos assim, agora, este é o momento da minha vida que me sinto mais próxima do Arnaldo. Em contato completo com a música, a arte, a obra dele. De repente, bateu a ideia e a necessidade de tentar agradecê-lo de alguma forma por tudo que ele me proporcionou e proporciona. Fiquei um tempo pensando e tomando coragem pra perguntar. Sou muito agradecida também a Lucinha, esposa dele, que proporcionou a possibilidade de poder enviar uma carta pra ele e sempre é muito gentil. Fiz uma arte também de lembrança pros dois. Ele fez uma arte, um quadro, pra arte que eu fiz. Estamos todos juntos, reunidos numa pessoa só. Agora mais ainda pois tenho um pedacinho do universo dele aqui também. Tenho uma obra dele. Então, de certa forma, eu estou lá e ele está aqui. Só fluindo as energias boas. Acredito muito que o amor e a música constroem pontes magnéticas, energia. Só pra concluir, gostaria de falar um pouco mais do show. Assisti, lá de cima, do quarto andar do teatro. Mas antes teve um episódio na fila lá fora, ele chegou de carro bem onde eu estava, coincidentemente, que era no portão de entrada de carros. Nós fãs, ficamos em transe de alegria, um até ficou batendo no vidro do carro... por um momento, me senti no anos 60, Beatlemania...acenamos pra ele e ele acenou pra nós. Ficamos muito felizes. Após o show emocionante, fui pra outra fila, esperar pra falar com ele, tirar foto, pedir autógrafo...essas coisas de fã, mas tive um imprevisto e tive que ir. Até hoje, por um momento, fico triste quando lembro dessa parte. Ele esteve aqui de novo, uns quatro anos depois, em outro festival, mas não pude ir. Guardo com o maior amor, cuidado e carinho as fotos, o vídeo e os papéis do dia do show que fui. Aguardo pelo momento, quando todo esse caos da pandemia se acalmar, para revê-lo de volta aos palcos e dessa vez, finalmente, poder abraçá-lo.
Na foto você aparece segurando uma guitarra. Qual a sua experiência com o instrumento? Teve bandas? Sonha com esse pesadelo? E nas artes, você faz arte gráfica, escreve ou só curte? Está estudando?
Alexandra Nery – Eu amo guitarra. Na verdade, nutro um desejo de ser multi-instrumentista, ou 'one girl band' , como diz Arnaldo. Tenho vontade de aprender a gravar as coisas, fazer as coisas sozinha. Às vezes facilita mais e você não tem muita preocupação com divergências e nem com a falta de músicos dispostos a encarar mesmo o lance de levar uma banda a sério. Já tive uns projetos, já gravei algumas coisas mas nunca lancei. Acho que nem tenho mais esses sons que gravei. Sonho em ter uma banda sim. Na verdade, tenho um projeto que estou indecisa quanto ao nome ainda. O processo é lento. Mas também acho legal ter uma banda, juntar as ideias, fazer experimentos. Acho massa estar com os amigos, se divertindo. O irônico é que hoje em dia, mesmo com tantas facilidades do mundo moderno, de certa forma, ainda é difícil sim, gravar, lançar som e conseguir espaço e visibilidade. Quando leio os livros sobre Mutantes, Beatles e Rolling Stones, apesar de tudo daquela época, me parece que antigamente era mais divertido, todo o processo naquele contexto. A impressão é que hoje, o mundo anda mais careta, mais precisamente o Brasil. Eu componho umas letras, penso em umas ideias paras as músicas...melodia... já o arranjo, por enquanto, é num sentindo das ideias sonoras... estudo pra aprender a colocar isso em prática da melhor forma. Ainda não sei escrever partitura feito maestro. Quanto à pintura, eu gosto, pinto umas coisas...camisa, tênis, faço uns desenhos e mexo em algumas coisas digitais também, mas por diversão. Eu estudo guitarra na ETECM (Escola Técnica Estadual de Criatividade Musical). É como um conservatório de música, só que algo mais liberal, digamos assim. Aprendemos muita coisa que vemos na universidade de música, por exemplo. Estudamos instrumento, teoria, solfejo, percepção, canto e coral, história da música, harmônia, estética e até mesmo ética. Tem as aulas de prática em conjunto onde são formados grupos com os alunos e é legal também. Estou estudando porque pretendo seguir carreira. Música é minha vida.
O que foi que você mais superou neste ano difícil?
Alexandra Nery – Eu já tinha passado por momentos difíceis antes, mas esse ano foi a gota d'água. Mesmo me preservando e mantendo o isolamento por conta da pandemia, alguns meses atrás, todo mundo que eu morava/moro pegou Covid-19. Ninguém sabe como foi ao certo. Eu e minha filha não saíamos pra nada. Meus avós saíam pra ir ao médico, poucas vezes, e meu companheiro que só saía pra ir ao supermercado ou farmácia, com todos os cuidados necessários: máscara e álcool 70 em gel, sempre. Perdi meu avô. Um pai pra mim. Foi muito doloroso, foi tudo muito rápido e inesperado. Inesperado porque a gente já tinha um ano de pandemia sem pegar o vírus. Minha avó ficou mais de dois meses no hospital e foi uma aflição muito grande, mas ela conseguiu vencer a doença e está fazendo vários tratamentos, o processo de recuperação é lento. Voltando pro turbilhão que passei, fora tudo isso, e os problemas pessoais de ansiedade, ter que estudar paras as provas de conclusão do curso de Formação Básica em Música, para poder fazer outras provas e ingressar de volta ao curso Técnico de Música. Altas pirações na minha cabeça. Tristeza, ansiedade...Mas hoje estou bem. Devo muito isso à música do Arnaldo. Foi nesse momento que me reecontrei mais completa e profundamente com a música dele. Chorei muito mas voltei a sorrir. Me fez muito bem. Me senti totalmente preechida por amor. É como se me transportasse pra outra dimensão. As músicas, as artes, o livro. Tudo da obra dele. E é isso...Fico por aqui, ouvindo som, lendo, estudando, cuidando das coisas, além de continuar me cuidando em relação à pandemia: máscara, álcool 70, isolamento o máximo que consigo, sem aglomerações, só saio pro necessário, principalmente na questão das aulas que são híbridas, tem as remotas, mas tenho que ir para as aulas presenciais que estão sendo só duas vezes durante a semana. No mais, tudo bem. Às vezes uma coisa ou outra, mas, o negócio é viver um dia de cada vez, e como canta Arnaldo: 'Contente com o tente ser feliz'. Espero que continue assim: tudo na paz e saúde.
Você conhece, o CD-tributo a Arnaldo Baptista ONDE É QUE ESTÁ O MEU ROCK'N'ROLL? O que acha dele?
Alexandra Nery – Conheço sim. Acho legal a iniciativa de fazer novas versões das músicas do Arnaldo. Acho sempre válido e importante homenagea-lo de alguma forma, difundindo a obra dele. Porém, confesso que muitas das versões tem uma pegada mais hard core, o que não costumo muito ouvir. O que mais gostei foi que incluiu a gravação de uma partitura original, tocada ou foi gravada, não sei ao certo, por Arnaldo aos sete anos. Sei que saiu em um livro através da mãe dele, ela contribuiu pro livro, acho que o nome do livro é 'Dança do novo tempo'...