2024: 42 anos após a criação do meu primeiro zine (1982)
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O festival Us...
Lançamento do tocador de CD...
Estas eram algumas notícias do mundo musical que chegavam até nós através das revistas Manchete ou Somtrês, porém nenhuma delas ganhou destaque em algum 'lead' de nosso zine improvisado, feito na máquina de escrever no estilo 'na tora'. O nome era sofisticado, 'Oldies but goldies', sabe-se lá de onde tirei tal título pomposo. Agora me lembrei que era da coletânea 'A Collection of Beatles Oldies… But Goldies!'. Na minha cabeça, os Beatles eram velhos, porém imbatíveis para aqueles vizinhos próximos que os tratavam como antiguidades.
Meu hábito de colecionar tem uma data de nascimento bem definida: começou com a compra de um compacto duplo dos Beatles em 24 DE MAIO DE 1975, quando eu completei onze anos. As músicas eram "A Hard Day's Night", "I Should Have Known Better", "Can't Buy Me Love" e "And I Love Her". Se alguns anos atrás eu teria em memória todos esses dias e eventos, hoje só consigo relembrar os momentos que sobreviveram ao longo desses 49 anos desde que adquiri o compacto, presente dos meus pais, e o zine que, em abril deste ano de 2024, completa 42 anos.
Passei pela escola clássica dos roqueiros, avançando lentamente pelas biografias das bandas e seus LPs. Trocava ideias com quem encontrava nas lojas de discos e shows, além de manter muita correspondência. Sinto vergonha da minha formação limitada em inglês e da maior parte das informações retiradas das escassas revistas nacionais. Por isso, desenvolvi um estilo de escrita delirante e dei mais atenção ao que acontecia na capital do rock, Brasília.
Do primeiro zine, não me recordo da quantidade de cópias distribuídas; sei apenas que tinha um layout artístico. Quanto ao segundo número, nem mesmo sei se chegou a sair da gaveta, mas já estava experimentando diferentes tamanhos e formatos, acompanhados de um novo layout. Foi nessa fase que minhas colagens começaram a se desenvolver, alimentando minha criatividade ao longo dos anos. No terceiro número, intitulado 'Give Peace A Chance', demos um grande passo à frente, com uma edição maior que chamou a atenção da imprensa, tanto jornais quanto televisão. Era o sonho tomando forma.
O primeiro show que vi foi do Silvio Brito. Depois, consegui um autógrafo do Beto Guedes. Assisti a Ponte Aérea, 14 Bis, A Cor do Som, Pepeu Gomes e Baby Consuelo. Mas o primeiro verdadeiro show de rock foi o de Raul Seixas no Rock Cerrado em 1981, e o mais lendário foi ver Walter Franco no mesmo festival. Mais tarde, presenciei o primeiro show da Legião Urbana em Brasília, no Estádio do Cave, em cima do vestiário, no Guará 2. Também cruzei com Sting em uma praça da QE 32 e fui conhecendo pessoas como Arnaldo Baptista, até mesmo entrando em estúdio para ver a Patrulha do Espaço gravando. Nessa trilha atrás da fama, a última personalidade que conheci foi Roberto Menescal. Muitos outros eventos musicais se fazem presentes, porém sem o destaque dos primeiros shows internacionais com Venom/Exciter, Paul McCartney ou Ozzy Osbourne.
Após sete anos (1982-1989) produzindo zines, escrevi uma coluna de crítica de discos por um ano no jornal JOSÉ, que era semanal. Em 1991, lancei meu primeiro livro de uma série de quatro, "Balada do Louco". Confesso que aprendi na base do erro e acerto, método que continuo utilizando até hoje. As edições evoluíram, mantendo sempre o capricho dos primeiros dias dos zines, onde a ideia era ser "estranho". Posso dizer que, artisticamente, me realizei como escritor e pelo estilo de vida que adotei ao longo dos anos. Hoje, é tarde para uma revisão qualificada e não consigo apontar algum ganho financeiro, mas reconheço a obstinação em manter o interesse no meio musical e na sua divulgação.
Há 42 anos, em abril de 1982, Joe Strummer desapareceu durante uma turnê... Outros nomes em destaque incluíam John Lennon, Sting, Phil Collins, Adam Ant, Marco Pirroni e The Who. No último dia de abril, faleceu o respeitado crítico de rock Lester Bangs, da Rolling Stone, aos 33 anos de idade.
(mário pazcheco)