Sérgio Sampaio Especial (Folha do Espírito Santo)
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Folha do E. Santo
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SÉRGIO SAMPAIO ESPECIAL
SÉRGIO SAMPAIO
Cantor e compositor
“...Tenho os olhos muito atentos E os ouvidos bem abertos. Quem sair de casa...”
26 jun. / 2011 - Um artista da chamada contracultura brasileira que recebeu, como alguns outros, o carimbo de “Maldito” não poderia fazer parte de panelinhas da MPB. Poucos tiveram a felicidade de privar da sua amizade que variava do ranzinza ao “cara de peito aberto e falador”, segundo seus amigos de palco e de copo. Cobrado por uma participação tímida contra a ditadura militar, ele compôs letras cifradas como a frase que abre esse especial e que faz parte da canção Filme de terror. Como descrever com mais habilidade os anos de chumbo e a perseguição aos intelectuais?
Esse foi Sérgio Moraes Sampaio, nascido a 13 de abril de 1947, em Cachoeiro de Itapemirim, filho do maestro e fabricante de tamancos Raul Gonçalves Sampaio e Maria de Lourdes Moraes, uma professora primária. Aos nove anos começa a ajudar o pai na pequena oficina caseira e ali, segundo o próprio Sérgio, se apaixona pela música.
Na escola, é um aluno aplicado, eventualmente o melhor da classe. Isso graças a um pequeno expediente: Dona Maria de Lourdes o colocava para estudar em casa todos os dias. E cobrava resultados
O samba Cala a boca, Zebedeu composto pelo velho pai, em 1963, inspirado numa vizinha da Rua Moreira que espinafrava o marido diariamente, foi sua inspiração maior. “Fiquei vidrado”, dizia em entrevistas. Só que o cantor e compositor passaria por outra via artística: a locução. Assim, em 1964, ingressa como locutor na mítica Rádio Cachoeiro, ZYL-9 e suas primeiras “viagens” musicais ficam no estilo samba-canção que, à época, tinha como principais intérpretes Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Sílvio Caldas.
Com um pé no Rio de Janeiro e outro em Cachoeiro, Sérgio passa três meses de experiência como locutor da Rádio Relógio Federal, no Rio de Janeiro, no ano de 1965. Tudo isso ainda era muito novo para o franzino Sampaio da Rua Moreira. Mas em 1967 decide se mudar de mala e cuia para a Cidade Maravilhosa na base do tudo ou nada: locutor ou cantor-compositor. Uma dessas seria a sua profissão de vida.
No Rio de Janeiro
Mais uma vez, o rádio começou a abrir as portas para o cachoeirense e Sampaio teve passagens pelas emissoras: Mauá, Carioca e Continental. Nesta última faz sua primeira parceria com Erivaldo Santos, no samba Chorinho inconseqüente, que mais tarde ele incluiu no LP "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez".
A virada dos anos 1970/1971 foi primordial para Sérgio que conhece Raul Seixas e assina com a gravadora CBS. Por Raul, ele é apresentado ao rock e o pop internacional de todos os estilos.
Com Raul Seixas
Abril: Sol 40 graus, com o Trio Ternura, é a primeira letra de Sérgio Sampaio a ganhar as rádios. Ele assina a música como "Sérgio Augusto" e seu parceiro Ian Guest, como "Átila". Na sequência vem o compacto Coco verde/Ana Juan, direção artística de Raul Seixas e arranjos de Ian Guest. O disco toca muito, devido à ajuda de amigos disk-jockeys de Sérgio, mas vende pouco.
Setembro: LP "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez", com Raul Seixas, Míriam Batucada e Edy Star, que causa na época o maior fordunço na gravadora CBS. Também pudera: o disco era uma verdadeira sessão de escracho musical, uma coleção de pastiches de rock, samba e ritmos nordestinos, com letras sarcásticas, entremeadas por piadas e sátiras ao cotidiano em forma de vinhetas malucas.
Pelas mãos de Raul Seixas, que já estava na gravadora, Sérgio ingressa na Phillips, dirigida por André Midani, para trabalhar com o produtor Roberto Menescal. Gravação de Eu quero é botar meu bloco na rua, inscrita no VII Festival Internacional da Canção, com presença de Piau no violão, Ivan Machado no baixo, os "Cream Crackers" na percussão, Raul Seixas e membros dos Golden Boys no coro.
Sérgio “estoura” no FIC com o "Bloco", que invade as rádios de todo o Brasil. Em poucos meses, vendas de mais de 300 mil compactos.
Meu bloco na rua
Em março de 1973 sai o LP "Eu quero é botar meu bloco na rua". Mesmo contendo a música de grande sucesso, torna-se um fracasso comercial e de crítica. No entanto, permanece até hoje como o disco preferido da maioria dos sampaiófilos. Apesar da boa execução nas rádios de músicas como Viajei de trem, uma toada-rock de alta lisergia, a valsa pop "Leros e leros e boleros" e os sambas "Odete" e "Cala a boca, Zebedeu", a vendagem não ultrapassa as 5 mil cópias.
Em outubro do mesmo ano, Sérgio recebe o "Troféu Imprensa", o "Oscar brasileiro", do programa "Sílvio Santos", na TV Globo, como "Revelação de 72".
Sampaio em Pessoa
Em abril de 1974 casa-se com Maria Verônica Martins (Ponka), numa cerimônia hippie em Cachoeiro. Aplica um beijo na testa do Juiz de Paz no final. Tinha que ser Sérgio Sampaio. Em junho, rescinde o contrato com a Phillips e retira-se por algum tempo em Mimoso do Sul-ES, onde compõe o samba "Velho bandido".
A vida no interior dura pouco e, em 1975, retorna ao Rio de Janeiro onde ingressa na gravadora Continental.
Shows
Em agosto de 1977, no Teatro Tonelero, organizado por universitários, com Fágner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo e Lô Borges; Novembro de 1978 lota por uma semana o Teatro Opinião, do Rio, com o show "Agora".
Julho 1979: temporada de 15 dias na Sala Funarte/ Sidney Miller, no Rio, ao lado do compositor Carlos Pinto.
1988 Outubro: temporada de 10 dias na Sala Funarte, do Rio, com Jards Macalé.
Novembro de 1990: shows no Segredo de Itapuã, Bahia, ao lado de Xangai. Sérgio começa a namorar a produtora de shows Regina Pedreira e resolve mudar-se para a Bahia.
Os ares baianos fazem muito bem a Sampaio, que vivencia uma espécie de renascimento artístico e pessoal. Novas composições e diversos shows em bares da periferia de Salvador e em outros estados nordestinos.
Em outubro de 1992 participa do show "Baú do Raul", na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, na Bahia, cantando músicas do LP "Sociedade Kavernista...". Já em 1993 Fevereiro: no aniversário do filho João, Sérgio anuncia que deixou a bebida. Ao longo do ano, shows em Brasília, Goiânia, Vitória e Rio de Janeiro.
O epílogo
1994: Convite do selo paulista Baratos Afins para gravação de um CD de inéditas. Abril: aniversário no Rio com presença de amigos como Sérgio Natureza, Chico Caruso e Luiz Melodia. Maio: internação no CTI do Hospital IV Centenário com crise aguda de pancreatite. Sérgio falece às 5 da manhã do dia 15 de maio.
“... Eu tenho os dias contados
Um encontro marcado
E as mãos na cabeça
Eu tenho o corpo fechado
Que soltem as feras
Diante da mesa
Eu sou aquele que disse
Tanto limão pelo chão
Soltem cachorros nos parques
No pátio interno os ladrões
Cante, converse comigo
Antes que eu cresça e apareça
Mesmo eu não estando em perigo...”
“Eu sou aquele que disse” – Sergio Sampaio
Pesquisa: Redação Folha do Espírito Santo