HEKRREKNHÉÉKNHEKRREKNHEEKNHEKRREKNHHÉÉKNHEKRRKNHEEKNHHEKRR!
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(*Rogério Duprat)
Única atitude realmente radical seria suspender toda a atividade ao nível da representação: o espetáculo, a obra de arte ou de não-arte, a TV, o livro, o objeto de consumo, o status, a propaganda, o disco, a poesia, a venda, o filme, a cultura, o carro, a teoria, a imprensa, a música a estrutura, todas as linguagens e (aí!) a comunicação.
Todo o papo pop e contestativo foi ainda operação ao nível da representação, da imagem, do que aquele americano (?) chama de "pseudo-evento".
Toda sociedade - primitiva ou não - viveu do ícone, do totem, que a cultura pop simplesmente maximizou criando uma sorte de pantotemismo. A chamada vanguarda e os teóricos da comunicação se encantaram com o signo, construindo uma pan-representação: o happening. A jogada dos artistas americanos - arte brinquedo de adulto - e o mesmo papo. A antropofagia (canibal mesmo ou teórico-oswaldiana): ingerir com o deglutido suas qualidades e virtudes, ou ainda eliminar os próprios pecados, defeitos e tabus. A aldeia maclunática, a loucura da automação, que pintava levar ao velho ideal do lazer e do ócio, só alterou as "áreas de representação". Das antigas às novas religiões do ícone concreto ao misti-semantismo.
A representação é a imagem, o pseudo-evento, a coisa da coisa, e a coisa-da-coisa-da-coisa, a imagem da imagem do evento, o signo do signo, encantamento pavlóvico das sociedades consumísticas ou não. Nesse mundo da representação, os sistemas acenam com a sedução do tópico: o artista, o gênio, a teoria, o barato, o cantor, a erva, o dinheiro, o livro etc. ... operando em torno de topicidades, numa "aliança para o sucesso pela liquidação do típico". Não basta constatar o pseudo-evento como pan-cultura: é preciso escapar dele, eliminar a representação, dar fim ao paradigma, que é a imagem-modelo, lead-behaviour, protótipo, e só pensar e viver o evento, a coisa, aquilo que a filosofia toda chamou de noesis, essências, sei lá mais o quê. A fossas são buscas frustradas de novas formas de representação (louca corrida atrás do novo). Os "artistas" se recusam a invadir o típico e a se confundir com ele: querem ainda ser tópicos, franksinatras e maotsetungs. O ídolo, o topo, o paradigma que alimenta o sistema e dele se alimenta. O sistema procura manter viva a idéia de representação e de que o sucesso está aberto a todos, transformando no processo qualquer anticódigo em novo código, jogando com of ato de que o próprio status de "gênio" é um pseudo-evento. É até possível imaginar-se um gênio frio, inventado, cuja existência acaba sendo legitimada pela zorra e pela imageria literária dos pasquins. O grupo OEL começou um treco desse tipo com um nome inventado - Loefgreen -, que sabia de todas as coisas e que já estava começando a ter certo sucesso... As citações não projeções grupais no sistema através de um tópico, de um pseudo-evento.
Tudo porque o único ato típico (evento) é a sobrevivência, e com ela o trabalho. Para isso, as sociedades construíram enormes edifícios-imagens (um macro-semiótica) que é praticamente no que e para que vive o homem de hoje. Brucutu já era tópico: meia dúzia dos que se consideram mais aptos tomam o poder e cavalgam bilhões de "menos aptos", salvando-se à base de manter viva a imagem, a representação, o código. A lei é o código máximo, a opressão.
Representar para não presentear Signi-ficar para não eventuar. Sintatizar para não semantizar. Estruturar para não realizar. Imagem contra objeto.
Manter-se no topo (ser tópico) exige desprezar o típico e os signos que lhe correspondem, que o representam. Os novos arautos da contracultura, engalanados com aparatos dizendo-se "marginalizados do sistema", mas espreitando-lhe as brechas (talentosas e sub-repticiamente "esquecidas" abertas pelo próprio sistema) que conduzem ao sucesso na cultura, na arte, no jornalismo etc. E esse desprezo ao típico, ao trabalho, se evidencia na rejeição de signos que se tipificam no uso geral de Office-boys da rua 15 ou das meninas da Mooca, e que recebem logo dos vanguardeiros os nomes de careta, cafona, por aí afora.
A maior tristeza é a invasão da representação, da imagem, na área do trabalho: milhões sobrevivem à base ofícios pseudo-eventuais que não existem: professores, corretores, motoristas, artistas, políticos, psicologistas, soldados, jornalistas, burocratas, juristas, espiões etc... tudo, enfim, que serve para organizar, exigir ou iludir a aplicação dos códigos. Essa é a terrível imposição: compelir a maioria da humanidade a operar ao nível do código, daquilo que seria só uma forma de disciplinar o comportamento coletivo, e que acaba por se tornar a própria razão da existência do indivíduo e da sociedade. Flanar montado em bolhas de sabão. Robotização kafkiana. O pseudo. O nada. O prestígio. O signo, a representação. O chato é que, em cada caso, o fascínio do paradigma está lá, para tentação dos pretendentes-aprendizes-candidatos a topo. Por simples e elementar comparação, optar pela grande vida do prestígio e do sucesso é mais cômodo... A gênesis já dizia que no princípio era o verbo.
*Rogério Duprat. 5 de abril de 1972, de manhã. Só possuo xerox. Impossível identificar a revista...