Alienbalada: 1973. Passamos da Terra ao céu
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"É importante distinguirmos muito bem entre Alienbalada (o livro, a matéria completa, incluindo Balada do Louco e minhas respostas) e apenas as minhas respostas, que são narrativas só minhas, assim como o texto de Balada é só seu, Mário". (CCDB).
Introdução (CCDB)
"Quem espera por um transplante sempre alcança a morte. Eis o Brasil atual, onde os robôs nas indústrias e as almas dos escravos romanos no céu riem-se dos desempregados; pois, pela tevê, a estes só é dado o circo, e não o pão. O Espártaco brasileiro morreu no fordismo, atropelado pelo toiotismo; e a cruz do Jesus daqui se espeta num calvário de cocaína, cercada por duas polícias, sob o céu da infra-estrutura jurídica invertida, donde chovem facínoras.' (CCDB: Este parágrafo é um excerto da obra Géa, de CCDB, autorizado para publicação exclusiva em doprópriobol$o).
"Não sou fã de capitalismo e de ismo nenhum. Acontece que as pessoas não são iguais e que o comunismo serve-se da máscara chamada Estado, da destruição sem construção e da pretensa igualização para manter o poder em mãos de gente oculta por detrás dessas coisas, o que é muito pior do que ser mais aberto, como o capitalismo, e mais próximo da natureza humana, porque ninguém (felizmente) é igual a ninguém, e todos os regimes que tentem tal igualização fadam-se ao que ocorreu na União Soviética. Qualquer sistema representativo, aliás qualquer sistema em lugar da anarquia, terá sempre suas falhas. Cumpre simples descobrir o ponto de equilíbrio, e isso varia em função do tempo. Não é tão difícil. E para mudar sistemas, não adianta tentar pelo lado de fora quando se é um só indivíduo e sem vastos recursos, a não ser que se faça como aquele cara magnífico que pousou de teco-teco na Praça Vermelha e derrubou um ministro, se é que não derrubou tudo. O jeito é fazer feito aqueloutro cara mirífico (que, se não tivesse nascido, outro decerto surgiria pra fazer igual) que tinha manchas na testa e, POR DENTRO DO SISTEMA, infiltrando-se, conseguiu mudá-lo drasticamente, usando-lhe a própria força. É esse o jeito mais "fácil" de se mudar um sistema. Por dentro dele. É só por isso que eu fico dentro (...), mesmo que pareça estar "por fora", ora na acepção da gíria". (CCDB).
Preâmbulo de CCDB para Alienbalada
- "Alienbalada"? Que será isso, com o "erro de grafia" logo no meio da palavra, onde aparece um "n" em vez de um "m" antes do "b"? Ou seria erro proposital, para chamar a atenção? Haveria outra explicação para essa palavra maluca?
- É o que alguns (quem sabe Você) pensarão, ao lerem o título da obra.
E responde-se: Alienbalada é o nome do disco voador de Ardo, irmão de Clausar e de Sérias, cuja história está no escrito chamado "Géa", de autoria de Cláudio César Dias Baptista - CCDB, apresentado no site www.ccdb.gea.nom.br.
Nos treze livros de "Géa", Você conhecerá também o grupo musical denominado "Atlantes", uma contraparte dos "Mutantes" nesse planeta homônimo da obra. Também conhecerá "Os Etéreos", ou "Etéreos", e seu CD chamado "Éter", gravado na Terra por tais alienígenas, que neste planeta usam outro nome.
Quanto a "Géa", é a maior obra literária de todos os tempos; e, se Você não acredita nisso, navegue o site www.ccdb.gea.nom.br e verá. Portanto, a divulgação de "Géa" será um benefício para o Brasil, onde tal obra foi escrita, e, conseqüentemente, para Você, que é brasileiro ou que gosta do Brasil.
No nome "Alienbalada", o prefixo "Alien" (mantendo-se a letra "n" antes do "b") tem duas acepções: a primeira é a de "alienígena"; a segunda, de "louco", via "alienado". E o sufixo "balada" é simplesmente "balada"; ou seja: "canção para dançar, de estrutura variável" - conforme o Dicionário Aurélio Eletrônico. Mas "balada" tem os outros significados, que Você já conhece.
Por tudo isso, "Alienbalada" equivale, e num só vocábulo, ao título "Balada do Louco", o qual, na Terra, é a música imortal de Arnaldo (Dias) Baptista; e, no planeta Géa, designa canção mui parecida, criada por Ardo. Do nome dessa canção derivou o do disco voador que Ardo pilota. Claro! "Balada do Louco" é outrossim o título do ótimo livro de Mário Pacheco sobre Arnaldo.
A obra "Alienbalada" continua a ser, pois, assim como o livro "Balada do Louco", a história de Arnaldo; porém, ora inclui um pouco da biografia de CCDB, sem faltarem os outros membros do conjunto "Mutantes". Portanto, "Alienbalada" realiza afinal, para os Mutantes, a expressão "uma pessoa só".
O sistema de propulsão atmosférica do disco voador de Ardo, que é o protótipo da nave inda mais aperfeiçoada, chamada Laranja, está completamente explicado no site www.ccdb.gea.nom.br e, melhor ainda, na obra "Géa". A exposição é minuciosa a ponto de permitir a criação de protótipos, e a visitação do site pelos militares norte-americanos aponta-lhes o inteligente interesse.
O disco voador Alienbalada só tem o sistema de vôo atmosférico e pode apenas incursionar com breves vôos no espaço exterior; a Laranja pode voar em qualquer espaço, perfurar estrelas, viajar no tempo e noutras dimensões.
Que o nome do disco de Ardo, Alienbalada, traga ao livro homônimo o augúrio de um vôo inda mais vasto!
Cláudio César Dias Baptista - CCDB
Outro preâmbulo
(Mário PaZcheco)
A gênese literária de Balada do Louco surgiu em 1986 quando quatro discos dos Mutantes, foram relançados pelo selo independente paulista, Baratos Afins, depois em março de 1987, e ao ler as duas partes do artigo "Elo Perdido" de Thomas Pappon na revista Bizz foram o impulso. Aconteceu também o lançamento do LP "Faremos uma noitada excelente..." de Arnaldo e A Patrulha do Espaço que recolocava o roque brasileiro da década de 70 nas prateleiras e encorpava o "renascimento". Simultaneamente era lançado "Disco Voador" o solo pós-salto lapso de Arnaldo Baptista. Seqüencialmente foram lançados os LPs "Elo perdido" de Arnaldo e A Patrulha do Espaço e ainda o tributo "Sanguinho Novo". Teve também o vídeo "Maldito Popular Brasileiro" e a autobiografia Balada do louco escorraçada e ignorada pela mídia paulista, bairrismo? Talvez as linhas tenham desagradado aos editores das revistas musicais ou porque era apaixonadamente mal escrito...
Em maio de 2003, eu tive a felicidade de conhecer Lourdes, a esposa de Serginho, e a primeira pergunta que ela fez foi - Você vai reescrever Balada do louco? Secamente respondi, — Não! O Não não verbalizou a tempestade de encontros e desencontros que envolvem uma biografia que esgota também as relações.
Dezessete anos depois de Disco Voador Arnaldo Baptista conseguia lançar o seu tão adiado e aguardado Let it bed. É claro que em 1992 houve o relançamento dos discos dos Mutantes em CD e finalmente O A E O Z foi ouvido Tecnicolor também. Com o lançamento de Let it bed! surgiram novas reportagens, aparições na tevê e a comunidade dos Mutantes no Orkut reviveram as velhas rixas com a ótica apaixonada dos fãs mais tenros e outros contemporâneos dos fatos.
Tudo conspirava para a reforma da antiga biografia. Mas o fator fundamental foi a obra Géa, através dela tive a oportunidade de conhecer, Cláudio César Dias Baptista que sempre me motivou enviando-me CDs com textos e fotos e músicas, seus prospectos CCDB a história de uma grande marca. Durante o último ano trocamos 600 mensagens eletrônicas e nos dispusemos a resgatar os detalhes técnicos aparentemente nunca desvendados ou relevados e fatos importantes e sigilosos exibidos em avant premier. Nunca se escreveu tanto sobre a guitarra de ouro Regvlvs Modelo Raphael. Nunca tantas fotos foram reunidas. Em parceria escrevemos 10 textos divulgando Géa, áudio, amplificadores valvulados e transistorizados e mesas de som. Os textos foram transcritos em outros sites, recebemos mensagens eletrônicas nos dizendo que eram os melhores artigos sobre som que haviam lidos. Fomos tema de debate em vários fóruns até dos Beatles e dos 500 índices deste CD-ROM, Mutantes é o mais acessado e o artigo Transistorizados e valvulados, ambos adoro!, de Cláudio César Dias Baptista é um dos mais procurados.
Alienbalada foi o título escolhido para compor os meus textos anteriores e as correções e acréscimos e esclarecimentos de Cláudio César Dias Baptista. Disponibilizamos a primeira parte cobrindo desde a genealogia da família Dias Baptista até 1973, ano que registra a saída de Arnaldo Baptista dos Mutantes.
Para evitar comparações nós não recorremos às biografias existentes. Recriamos os detalhes e contamos a história como se ela não tivesse ocorrido há mais de 40 anos. Quanto à carreira solo do Arnaldo que é o conteúdo da segunda parte, momentaneamente está reclusa aguardando autorizações de reprodução de imagens e o mergulho novamente em várias páginas do próprio punho do Arnaldo para validar uma nova edição.
Como eu vejo Cláudio
(Mário Pazcheco)
Cláudio César Dias Baptista é o escritor em luta diária para perpetuar a sua obra Géa, vê-la em pé de igualdade aos clássicos da literatura brasileira. Sua cabeça nunca funciona como a da maioria das pessoas: não sabe as letras das músicas, não guarda nomes, jamais teve e nem terá ídolos intocáveis, e por isso ele esquece os nomes. Sempre apoiado em anotações numa infindável coleção de papeizinhos. Na sua memória vivem fragmentos da infância dos mutantes, sem ilusões, guarda o legado artístico de seus pais: literatura, música, política e uma imbatível capacidade de relacionamento: fatos da vida social, como ser a pessoa mais rica do mundo e coisas assim, escapa-lhe fácil.
O paradigma: Alienbalada não é só conjunto das suas respostas a Balada do Louco; sim, a obra inteira de Géa. O intuito de suas respostas é Géa, fato não totalmente desvendado pelos fãs, repórteres ou representantes de qualquer mídia que o tem procurado para publicar matéria sobre a sua vida e a dos Mutantes. Sendo as suas respostas a Alienbalada um resumo que ele próprio fez este lhe pertence, no mínimo porque coincidem com a verdade dos fatos da sua vida, a qual não poderia narrar diferentemente sem se apartar da verdade.
Fama
(CCDB)
"Lembrem-se: já sou mais do que famoso. Sou famoso até demais e gostaria de ser bem menos. Não se esqueça da Nova Eletrônica, que dirigi e onde publiquei setecentas páginas de meus próprios artigos, com tiragem mensal de sessenta mil exemplares no Brasil e países de língua portuguesa. E não se esqueça dos milhares de amplificadores e centenas de mesas de som e de guitarras e tal que produzi em quarenta anos de trabalho. E também não olvide os meus Clientes, milhares! Tudo isso, muito mais que não cabe aqui arrolar; e também a história dos Mutantes, da qual participei do jeito que agora você já sabe, tornou-me famoso. O herói da música brasileira ao ser entrevistado no Fantástico abre a boca e dedica a primeiríssima palavra a mim. Portanto, não confundamos as coisas. Famoso eu já sou. Mesmo no exterior, onde sou conhecido como AES - Audio Engineering Society Member, e em muitas fábricas de equipamento de áudio, sem falar em tudo quanto se refere a Mutantes e sua história, que consta de enciclopédias (Mirador, por exemplo) e diversos livros. E absolutamente não quero fama; sim, a divulgação de Géa, como está esclarecido naquela página 'Amodéstia' que já lhe enviei e continua no site". (CCDB).
Excerto de 'A Eneida' de Vergílio, e faz parte do capítulo 'Ky' de Géa
Isso mostra o quanto me interessa a fama pessoal. Eis o excerto:
E Espica escande ritmicamente cada palavra do fecho: - Sua chama chama, achamos nós da 'Cubo', a atenção do muuuundo!...
O locutor é advertido de pronto pelos fones e cobra a expressão de sempre, feliz por ter acinte 'esquecido' de citar novelas e não ser posto de catrâmbias no olho da rua:
- Meu deus do céu!!! Meu deus do céu!!! Meu deus do céu!!! É dramático! patético! incrível! Agora a coisa ficou bonita mesmo! telespectadores... Os dois vêm na ponta, no sprint, na arrancada final! Os dois vão ganhar os automóveis, as motocas, a dinheirama do prêmio principal! minha população querida. Ou, ao menos, ela, a bailarina, pois começou do começo a prova... Vejam! O Cento-e-Quarenta-e-Quatro emparelha de novo com Ansata; e os dois vão queimando o asfalto; juntos; olhos nos olhos; lado a lado; nem um nem outro se adianta um centímetro, meus amigos, meus queridos da cadeira de balanço, meus companheiros da cervejinha, meus caríssimos telespectadores do Brasil e do mundo, nesta estupenda cobertura intercontinental! Um homem e uma mulher, ou uma mulher e um homem; não treinaram em Londres, não têm experiência de maratonas, não usaram táticas, não são atletas consagrados de alto nível, e mesmo assim erguem os braços, meus compatriotas; erguem os braços, dão mais uma acelerada, vão cruzar a faixa... E vencem os dois!!!... Valeu!!! Valeu!!!... Brasil!!! Brasil!!!... Empate feminino e masculino no primeiro lugar! meus irmãos; coisa inédita em todos os tempos!!!... - Soa o sinal dos comerciais, e de estudo a rede televisual interrompe a transmissão no instante supremo, capturando e subjugando a mente de bilhões em todos os continentes.
Ave horrenda! de plumas admiráveis;
E nestas, oh prodígio! sempre alerta,
Há olhos e ouvidos incontáveis.... ... ...
E traz, e leva, as coisas mentirosas,
Assim como a notícia verdadeira. - desse modo, n'A Eneida, Vergílio previu a televisão, cantando a deusa Fama!
Ansata e Clausar (ou Clausar e Ansata) esvaziam o peito, sofreiam o passo, e não param. Ansata logra livrar-se do magnetismo dos avizinhados írios de Clausar e insiste em não lhe dar oportunidade para explicar o inexplicável, por explicado estar.
Fim do excerto da obra Géa, autorizado exclusivamente para o CD-ROM Doprópriobolso. (CCDB).
Trata-se mais de sentimento e menos de razão
(CCDB)
"Suponhamos que Edson Arantes do Nascimento haja cometido mil e um atos indignos. Isso é coisa que todos os seres humanos cometem, inda mais se se envolvem com política e com os poderosos. É esse justamente o risco que os empresários correm, e essa é a defesa capitalista a favor de que lucrem.
Como já lhe disse, o site é seu: você corre o mesmo risco que Edson, se fizer bobagem. Mas acho que ninguém chegará a fazer uma charge de você chutando o Pelé, porque para isso seria preciso alcançar-lhe a canela, e o chute doer. Você precisaria tomar um avião e mergulhar nessa canela, feito os árabes nas torres norte-americanas... mas acho que lhe falta algo para tanto. E quem o vir chutando o dedão do Pelé vai rir de você, feito quem visse o Osama chutando as torres gêmeas.
Se águias não pegam moscas, muito menos moscas pegam águias. E não ache ruim de eu o chamar de mosca, pois me incluo entre as moscas: a águia é Géa. Só ela está à altura de Pelé e, arrisco-me a dizer: mais alto ainda. O máximo que moscas conseguem é serem ridículas: vão sorrir da charge... e rir de você e do seu site, se a publicar.
Mas as moscas que somos têm uma vantagem sobre as moscas de verdade: podemos virar águias, se não insistirmos em ser moscas e pararmos de orbitar e importunar as águias. Se nos dedicarmos pacientemente a mudarmos de forma e crescermos.
No escrito Géa, só transformei certa pessoa do mundo 'real' no personagem Skiné para fazer a quem me beneficiou um singelo agradecimento; porém, de maneira a não me aproveitar da imagem dessa pessoa, porque o fiz dentro (e não fora) da minha obra: quem ler lá, já terá comprado os livros; portanto, não será mau uso da imagem.
Caso me dê a honra de ler o capítulo Ardo, Livro Sexto, início na página 1339, informo que o episódio que se refere a eu ter carregado Arnaldo nas costas está mais no fim do capítulo; todavia, se você tiver paciência, pode ler Ardo desde o começo, pra ambientar-se à leitura, embora o começo e o meio do capítulo não se relacionem direto com o fato em questão.
O motivo de eu ter escrito Ardo (e, não, Arnaldo) difere daquele de ter escrito Skiné (e, não, aqueloutra pessoa do mundo chamado 'real'); caso contrário, não teria respondido ao Balada do Louco e não aceitaria a publicação do que digo sobre o relacionamento entre os Mutantes. Acontece que Géa não é o lugar para historiar fatos da vida dos Mutantes: isso desviaria a obra do rumo, que é infinitamente mais alto do que Mutantes, roque, irmãos Dias Baptista e tal; mais alto inclusive do que aquela tal pessoa do mundo 'real'. Para não desorientar Géa, prefiro essas matérias noutros veículos e nem mesmo no site www.ccdb.gea.nom.br a abordo.
Aceite os meus mais sinceros votos de sucesso no seu site, apesar de sua compulsão irresistível em publicar a charge contra o Pelé." (CCDB).
Géa
"Por enquanto, acho que seria contraproducentíssimo Géa ser lançada por empresas que se liguem a filosofias, seitas, religiões e tal; sim, por gente neutra, por profissionais, de preferência que visassem o que as empresas costumam: o de jeito algum condenável dinheiro, o lucro, desde que honestamente. (CCDB)."
fim de viagem...
Passamos da Terra ao céu
(Mário Pazcheco & Cláudio César Dias Baptista)
Torquato Neto completou 28 anos em novembro de 1972, no dia seguinte escreveu uma longa carta em três folhas de caderno. Seguiu para o banheiro e teve o cuidado de trancar a porta, o gás que vazava na cozinha penetrou em todos os cômodos do apartamento. O corpo de Torquato foi encontrado no chão de bruços, já sem vida. Deixou cerca de trinta letras, vários poemas e muitas críticas de cinema ao lado de textos desgarrados que posteriormente seriam lançados em livro.
"Existem muitas maneiras de fazer música e eu prefiro todas". (Torquato Neto).
"Glauber Rocha é o artista mais radical do Brasil. O político que fizer um projeto para o Brasil tem de ver os filmes de Glauber Rocha e não só os filmes de Glauber Rocha, mas os trabalhos de todos os artistas progressistas inventivos, íntegros. Sem respeitas estes artistas expressivos não se fará nenhum Brasil. Glauber pensou um Brasil livre, criativo, independente. Torquato Neto resistiu o quanto pôde. Era a cabeça poética e de resistência estético-ética do tropicalismo. Estuporou logo, não só pela questão mais geral do País. A tragédia brasileira leva as pessoas a se introjetarem de tal forma que acabam alimentando as suas próprias doenças. Então um dia tudo explode. Isto é um dado histórico. Glauber não se matou, Torquato não se matou porque quis. Esta situação nacional trágica leva alguns brasileiros ao desespero". (Jards Macalé).
1973. Um ano difícil de recessão econômica para o Ocidente. Os Mutantes novamente reagrupados com seus novos moldes musicais, desenvolvem a técnica e refinam ainda mais a aparelhagem desenvolvida por CCDB (Cláudio César Dias Baptista), apresentando-se em qualquer parte do país, Brasília, São Lourenço, Salvador, atingindo um estágio muito grande de popularidade graças talvez principalmente, à requintada aparelhagem eletrônica que se tornaria marca registrada do grupo.
Arnaldo é um dos pioneiros no uso do órgão Hammond, e o primeiro músico brasileiro a ter uma caixa Leslie, união perfeita entre o órgão e a amplificação, resultando num som mais bonito.
"Foi meu irmão que trouxe uma Fender Stratocaster, para mim quando ele foi aos Estados Unidos comprar equipamento. Eu nem usava ela, né, porque eu tinha mesmo era a outra e também porque a Strato é muito dura. Você apanha dela até aprender a tocar e você tem realmente que usar uma parafernália de pedais assim enorme para criar um som dela. Mas aí, roubaram a guirtarra Regulus que eu tenho aí naquele Festival de São Lourenço, mas aconteceu uma coisa incrível, porque ela tem uma maldição que nós fizemos, tirada dos livros de Bruxaria. É a maldição do Sábado, que é assim a mais porreta. Você invoca os anjos: Gabriel & CO., para que defendam a coisa. Então, foi incrível, porque a Regulus funciona toda a base de pilhas. Ela usa quatro pilhas. Daí a pessoa que roubou provavelmente deixou as pilhas ligadas e em três dias parou de funcionar. Aí a pessoa voltou para me entregar a dita como se tivesse comprado de um cara no ônibus para ver se ganhava uma grana de mim porque ele não ia conseguir vender a guitarra pra ninguém porque ela não funcionava assim, ela voltou às minhas mãos de novo. (...)
"Foi aí que eu fui obrigado a aprender a tocar na Strato. Foi uma reviravolta na minha técnica, que se baseava toda em mexer em botões na guitarra. Eu não sabia tocar com os pedais, daí eu aprendi e consegui tirar muita coisa da Strato. A minha relação com ela é fantástica. Foi nessa época que eu comecei a fazer pedaleira, porque eu vi que o Steve Howe tava fazendo som com pedaleira, o Arnaldo foi ver o show e viu como é que era, chegouperto do palco e viu a pedaleira dele e daí eu fiz uma pedaleira: um Theta-Phase, um Wha-wha, um distorcedor e um pedal de volume. (Sergio Dias...)
"A Fender Stratocaster, é realmente uma guitarra fantástica um cabo incrível, eu gosto muito do som dela e a alavanca dela é uma coisa que me seduz demais e o legal dela é que ela é uma guitarra muito pessoal, isto é, com cada pessoa ela dá um som, não é como a Gibson que sempre tem o mesmo som. A Strato me deu mais liberdade e foi aí que eu comecei a comprar pedais".
(Sérgio Dias ao Jornal de Música, números 36 e 37, dez./1977 - jan./1978. Coluna SOM.
"Quem fez a 'maldição' não fomos 'nós': fui só EU". (CCDB)
"A história está mal contada. A maldição era em verdade uma 'invocação dos espíritos do mal' (o Mal é coisa que não existe, e eu já sabia disso; portanto, não tive escrúpulos e nem medo de usar). Essa invocação foi gravada na face interna da placa dourada que fechava a abertura detrás da Guitarra de Ouro. Na face externa, eu gravara um augúrio (este, sim, que pode ser chamado de maldição, em certos de seus aspectos, mas que tinha muito de predição ou vaticínio, como o tempo confirmou) de minha exclusiva autoria, o qual dizia que 'o instrumento retornará intacto ao seu legítimo possuidor' e amaldiçoava, sim, quem o furtasse. Essa placa foi manufaturada e gravada por mim antes de a Guitarra de Ouro ficar pronta e Sérgio a tocar pela primeiríssima vez. A história completa da maldição está num dos prospectos 'CCDB: História de uma Grande Marca'. No dia em que manuscrevi no papel de certa reportagem que a reproduzia e assinei uma frase desfazendo a maldição, a Guitarra de Ouro foi furtada. Escrevi isso mesmo sem crer nas forças do Mal e nele próprio, porque não queria as pessoas acreditando nessa bobagem por minha causa. Mesmo assim, cumpriu-se o vaticínio: a Guitarra de Ouro retornou intata ao seu legítimo possuidor. Infelizmente, este a vendeu - e nenhum tostão recebi por isso. Muito mais tarde, Sérgio deixou-me em casa uma Guitarra de Ouro, a terceira que lhe fiz, cujo braço foi desenhado e estreitado por mim para determinado uso seu em acompanhamento, mas que não mais se lhe adaptou à mão, quando esta cresceu, nem a esse uso, que abandonou. Dessa terceira Guitarra de Ouro, Sérgio me pediu que retirasse as chaves, que eu construía de um jeito especial, para substituir as chaves gastas da Guitarra de Ouro II. Fiz isso, e a III ficou semi-morta, até que meu filho Rafael lhe criou e instalou uma parte elétrica provisória para poder exercitar-se. Quando Josy se mostrou apaixonado pelo instrumento, mesmo nessas condições, eu lho presenteei. Conquanto o cabo seja estreito e só sirva em certas mãos, Josy me disse que restaurará essa Guitarra de Ouro; por isso lhe forneci os circuitos secretíssimos. Não sei se Josy teve tempo e condições de a restaurar, mas Guitarras de Ouro não se desmancham fácil e podem esperar... A Guitarra de Ouro II, que eu reformara naquelas cento e trinta e cinco horas, resistiu à queda de um sujeito gordo sobre ela, no estúdio do Sérgio, feito este me contou. Porém rachou-se-lhe um pouco uma lateral, e o cabo se inclinou, elevando as cordas. Minhas mãos e os olhos não me permitem mais trabalhos assim, e Sérgio a entregou a um artesão que, segundo Sérgio, a reparou, deixando-a em perfeitas condições. Tomara...". (CCDB).
"A Fender Stratocaster 'é' tudo isso, mas seu mi bordão (a sexta corda) não presta, não tem som definido por causa da pouca massa, da baixa rigidez do instrumento e da flexibilidade da alavanca. Bom, na Strato, é o desenho, a 'pegada', a ergonomia, do cabo e os ajustes que admite, para a otimização do resultado. A leveza e o desenho da Strato são rebeldes. A Gibson Les Paul é incomparavelmente superior em qualidade de sinal e firmeza de som. A Strato com dificuldade, mas esta com facilidade, pode ser afinada por 'batimento acústico', tanta é a sustentação do som dessa Gibson, máxime se for do modelo 'Recording'. Porém a Gibson Les Paul é mais pesada, atarracada, tem desenho antigo, não sugere rebeldia e não possui alavanca. Essa Gibson é a guitarra sólida purista; a Strato, a rebelde. E a(s) Strato(s) do Sérgio só dava e dá tanto som porque contém a melhor parte elétrica ativa do mundo: a CCDB Guitartrek (marca registrada no INPI). Ao contrário do que muitos pensam, a lendária Guitartrek não modifica o som original do instrumento; sim, preserva-o. Não é desenhada para produzir efeitos. Seu objetivo é melhorar - e muito! a qualidade do sinal de qualquer guitarra ou contrabaixo onde se instale. Nenhuma parte elétrica passiva tem sinal de boa qualidade. Podem-se escrever vários livros sobre partes elétricas (circuitos) de guitarras, e mesmo assim não esgotar o assunto. Só a correspondência que tive com o Sérgio e seu técnico atual (que não posso ir aonde meu irmão mora), para restaurarem a Guitartrek de uma de suas Stratos, dá um livro. Os dois teimaram em certos preconceitos... e acabaram por aprender um bocado sobre partes elétricas, máxime a Guitartrek. Conquanto a meta seja a preservação e otimização do som original do instrumento, a Guitartrek oferece recursos que este não possui de fábrica, como: conexão balanceada de captadores; manutenção do nível do sinal quando se acionam mais de um captador; ligação de um, dois, ou todos os captadores em conjunto sem queda no sinal; bem como desligamento de todos, para que a guitarra não soe por si ao ser colocada num pedestal próximo a seu amplificador ou retorno, num palco. Permite o uso de uma ou mais chaves de inversão de fase de captadores, sem que o nível do sinal caia, o que ninguém jamais conseguiu com partes elétricas outras, passivas ou ativas. A Guitartrek não tem adrede equalizadores de efeito extremo, qual os paramétricos que estão nas mesas e amplificadores CCDB; e nem seria boa ideia instalá-los numa guitarra, porque equalizadores assim alteram muito o nível do sinal e isso assaz prejudica o funcionamento dos pedais que inevitavelmente seguem guitarras sólidas (igual você constata no seu próprio livro). Esses equalizadores fortes devem situar-se depois da pedaleira, no amplificador do músico etaut na mesa de áudio. O Sintetizador CCDB para Instrumentos Musicais e Vozes do qual Sérgio teve um exemplar e cujo projeto publiquei na Nova Eletrônica, leva ao limite o controle do músico sobre o sinal, abrindo ao meio os 'noise gates' (que em uso normal não dão bons resultados) e colocando-lhes entre as duas metades os módulos de efeitos, o que permite ao músico trabalhar com pleno silêncio nas pausas, mesmo usando distorcedores e sustainers em série, coisa doutra maneira impossível. Esse sintetizador segue o princípio de preservação do nível do sinal que aplico na Guitartrek, onde não faço uso de compressores-limitadores-sustainers para obter esse resultado no nível, porque estes aparelhos modificariam os envelopes (ADSR) das notas e acordes. Os controles de graves e agudos da Guitartrek, que para contrabaixo se chama Basstrek, também minha marca registrada, não mudam o nível do sinal quando os acionamos. Se você atenua os graves num controle, os agudos se enfatizam por si (pelo circuito); e o nível do sinal, bem como os ajustes dos pedais, não se afeta. Se você atenua os agudos noutro controle, os graves se destacam, e o sinal novamente não se altera em nível. A impedância de todo o circuito é mui baixa, e isso o imuniza ao ronco e ao ruído que vêm do exterior. Também essa impedância e o circuito ativo permitem que os potenciômetros da Guitartrek trabalhem com grande linearidade ao longo de todo o seu curso, em lugar de serem 'tudo ou nada', feito os da Strato e cia. O circuito da Guitartrek é o meu mais antigo, e por isso mesmo o mais requintado, em sua cristalina simplicidade que engana os engenheiros quando o analisam. Nessa aparente simplicidade, que em verdade é o número reduzido de componentes, há ideias das mais altas que tive. Uma análise profunda da Guitartrek, feito a que fiz na citada correspondência recente com Sérgio e seu técnico, traz gratas surpresas. Você pode encontrar detalhes sobre a Guitartrek nos prospectos CCDB, onde inclusive está reproduzida uma dedicatória de Sérgio a mim. Guitarras sólidas é que têm som fixo, Strato inclusive; por isso exigem pedais, que lhes dão a personalidade faltante. Não é vero, portanto, dizer que a Strato que 'permitiu' ao Sérgio usar pedais; sim, que 'exigiu' isso dele... O Sérgio sempre teve guitarras sólidas e pedais, que ambos eu lhe fazia grátis. Passou a comprar pedais porque me pedia que modificasse os estrangeiros e os instalasse com os meu circuitos e efeitos em pedaleiras, muitas das quais também lhe construí, e outras que ele mesmo aprendeu a fazer comigo. Esses meus circuitos ocultavam-se debaixo do painel (as pedaleiras são ocas), e também as fontes de alimentação que eu montava para todos os pedais ali afixados. Os pedais estrangeiros impõem respeito aos guitarristas que se embasbacam perante as pedaleiras onde se encontram. E pedaleiras permitem a troca de circuitos obsoletos pelos novos, coisa mais difícil numa guitarra que os contenha. Por outro lado, circuitos em guitarras dão a ação mais rápida ao guitarrista, e inventei mesmo chaves detrás do cabo, cuja patente pedi, mas o especialista que redigiu o pedido o fez imperfeito, e este foi recusado, sob a alegação (correta) de que cravelhas e cia também são chaves detrás do cabo. Esse especialista esqueceu-se de especificar 'chaves eletrônicas' ou equivalente, e de separar o caso das tarrachas e tal. Produzi mesmo assim muitas guitarras sólidas com chaves detrás do cabo, que o músico operava com o polegar enquanto tocava - a ação mais rápida possível, que não interrompe a execução musical e que não exclui a ação dos pés sobre pedais nem a da mão direita, que tem de parar de tocar para acionar chaves convencionais no escudo do instrumento comum. Guitarras acústicas têm personalidade (a personalidade que lhes confere a acústica), têm os próprios sons, que são muito melhores comparados aos das sólidas. Não cabem tantos aparelhos de efeitos dentro de guitarras acústicas, ao pé das pedaleiras. E ficam pesadas quanto mais circuitos lhes acrescentarmos. Hoje seriam mais leves se as fizessem com novos materiais e circuitos. Quando Pier Angelo Cerfoglia e eu fabricávamos pedais, estávamos estudando profundamente e já testando novos desenhos, materiais e circuitos para concebermos e produzirmos guitarras acústicas supremas, que até hoje ninguém criou. Infelizmente ele se acidentou, como já contei... e o sonho ficou, mas essa realidade acabou. Guitarras acústicas 'normais' têm limite de volume sonoro quando se expõem ao som dos amplificadores e retornos, a ponto de não se conseguirem tocar, quando suas cordas e tábuas de harmonia vibram em demasia, descontroladamente. As Guitarras de Ouro podem ser chamadas de acústicas, ou de semi-acústicas, porque suas tábuas de harmonia eram amortecidas exatamente ao ponto de aceitarem qualquer nível de intensidade sonora nos amplificadores e retornos, sem perderem o benefício da realimentação controlada e do som contínuo que permitem. Guitarras sólidas admitem níveis extremos de intensidade sonora sobre si, que, se os captadores forem bons e sem partes soltas, não darão realimentação descontrolada. Esse é um dos motivos de as encontrarmos mais nos espetáculos de roque e símiles, sob altos níveis acústicos - que as Guitarras de Ouro também aceitam e aproveitam. Guitarras sólidas são como os amplificadores transistorizados: neutras. Exigem efeitos para terem som com 'personalidade', corretamente timbrado, modificado,'envelopado' e tal. O som de uma Strato sem efeito algum é horrível e nada diz. Experimente e o constatará. Incluam-se entre esses efeitos os amplificadores valvulados para guitarras, que são efeitos em si. Estes se parecem com as guitarras acústicas". (CCDB).
Os Mutantes, com Arnaldo no fim de sua vida artística e com os caríssimos instrumentos, entram em estúdio para gravarem o sexto álbum, o primeiro sem Rita e com a melhor aparelhagem que o grupo já teve
Arnaldo pilota o precioso órgão Hammond, um mellotron que durante cinco segundos toca em cada tecla um instrumento de orquestra gravado numa fita cassete, o som pode ser de flautas, violinos ou violoncelos. Sérgio Dias segura uma guitarra Fender Stratocaster, ligada a um amplificador Dual Show Man, os efeitos são um Wha-wha cry baby acoplado numa câmara de eco Echoplex. Liminha e seu contrabaixo Rickenbaker onde predominam os agudos. E o Dinho fazendo a marcação e acompanhando o baixo numa bateria Ludwig Rock Duo. O contrabaixo quase nunca apóia a bateria, em som e no tocar sincopadamente do bumbão e dos ton-tons.
A Stratocaster de Sérgio continha a CCDB Guitartrek; e os efeitos eram muito mais do que o wah-wah, já explicado. O órgão Hammond de Arnaldo era um modelo novo, transistorizado, que esse meu irmão adquiriu para substituir o antigo, valvulado. Tanto um quanto outro órgãos consertei muitas vezes. Ninguém (você inclusive, Mário) cita um teclado do Arnaldo que este aproveitou até melhor, ao pé do órgão: o piano elétrico Honner, que consistia de cordas e um captador magnético símil ao das guitarras, mas já com alguns recursos inteligentes de fase, que lhe conferia vários sons, certo dele puxado ao de Duane Eddy. Era instrumento de pequena espessura, leve, quase invisível sobre o órgão e colorido de vermelho. (CCDB
Arnaldo usou este teclado Honner durante muito tempo, mesmo ainda nos Mutantes; CCDB carregou esse instrumento nas mãos, montou e desmontou no palco, transportou pra lá e pra cá e lhe dando manutenção
O disco polêmico foi batizado de O A E O Z, tinha segundo Arnaldo um sentido bíblico e foi baseado no Apocalipse. Redescobriria a figura de Deus "o cara que cuida de tudo", registrado em 16 canais no Estúdio Eldorado, a fita mostra a que nível chegara "o clube do Bolinha", algo bem próximo da perfeição musical. Os destaques ficam por conta dos lindos vocais agudos de Serginho, que sempre cantou bem e o desempenho instrumental-sensacional de Arnaldo e o órgão Hammond. Esse instrumento tem uma história interessante: foi comprado na Itália, transportado até a Inglaterra, onde permaneceu na casa dos baianos por alguns meses e, só depois, seria embarcado para o Brasil. Pois quando o grupo estava comprando aparelhagem na Europa, o limite alfandegário não permitia que o órgão fosse despachado de imediato para o Brasil.
A cozinha rítmica mutante nunca esteve tão sincronizada. Liminha registra a sua mais criativa linha melódica e a bateria de Dinho está impecável, lembrando, em alguns passagens, as viradas de Carl Palmer, o baterista do ELP (Emerson, Lake e Palmer).
"Eu sou o começo, sou o fim / eu sou o A e o Z / Meu bem, ouça o meu rock'n'roll / Tudo bem pelos séculos amém / Eu sou o A e o Z / Numa pessoa só".
"O A E O Z", prefixo transformado numa longa suíte quatro músicos e seus instrumentos reunidos numa pessoa só, partilhando a viagem. Intervenções precisas e seguiras. Pitadas do rock lisérgico que vai desde Steppenwolf até os riffs de Steve Howe.
A segunda faixa, Rolling Stone, fala da briga de Mick Killingbeck e André Midani, "o homem da Companhia de Discos ficou bravo com o homem do átomo", o pivô da discussão foi esse verso:
"Estava lendo Rolling Stone / Li um cara que me abriu a cabeça / Fui correndo e tropecei".
Midani após ouvir o verso resmungou: - Então, eles fazem propaganda da Rolling Stone, né?
O grupo não fazia propaganda, apenas a música que vinha do coração, e o todo "poderoso chefão" da máfia do disco não teve a sensibilidade suficiente para entender a proposta musical dos Mutantes.
Apesar das turbulências, a viagem prossegue e num tema complicado, com escalas fantásticas e um duelo de cordas entre violão e bandolim, usando um slide, Liminha e Sérgio encerram esse lado da fita, num exercício lírico e emocional, planando acima da Serra.
"...Você sabe o que eu pensei? / Eu também pensei o que você pensou...".
Algumas músicas não possuem nome o próprio Arnaldo ainda não colocou nome em todas, apenas as mais óbvias.
O canto de um galo seguido de uma frase musical psicodélica marca o início desse lado B da fita. A melodia vai crescendo aos poucos, retornando num som preguiço, hipnótico, demoro a assimilar a melodia, quando entra o vocal:
"Som para acordar / Amanheceu, tudo azul / para cantar na música / O vento, terra e o ar / Soprando aqui na luz / Do luar, na luz do sol / Na luz de Deus / Todos juntos / Na luz do sol / Na luz de Deus".
A faixa seguinte revela uma melodia bem ao estilo do Yes "pois é, tudo bem meu bem". Na sequência o ponto alto da fita, a versão original e completa de Uma pessoa só, com tantos teclados e recursos eletrônicos é ótimo ouvir a única passagem de piano acústico da fita. Uma melodia inconfundível e uma das mais lindas, Arnaldo canta:
"Eu sou, você também é / e todos juntos somos nós / estamos aqui reunidos / numa pessoa, numa pessoa, só / você também está tocando / você também está tocando / estamos numa boa / pescando pessoas no mar / aqui numa pessoa só / Sou o início, sou o fim / Sou o começo, sou o fim/ Sou o A e o Z / numa pessoa, numa pessoa / Só".
"O A E O Z", um álbum conceitual, com letras e temas interligados, várias peças em um único tabuleiro, e o maior mérito dele é manter a energia pulsando através da magia da música que continua enfeitiçando após os 32 anos de seu registro.
A última música da fita, Gosto muito de você, é uma balada marcada pelo barulho da chuva, efeito conseguido através do mellotron, um ritmo contagiante, balada inspirada nos dias escolares, um rock'n'roll das antigas:
"Eu sei que eu não faço nada, mas eu / Gosto muito de você, de você, de você / Você não acredita em nada mas eu gosto / Gosto muito de você, de você, de você / Alimente essa que eu ainda vou transar / com você / Não esquente a cuca, o principal é eu gostar de você / Andam dizendo que a vida não tá com nada / Eu acho que não, e digo tá-tá-tá / De todo o meu coração / Legal / Eu sei que não vou na escola mas / Eu gosto, gosto muito (de você) / Eu sei que não faço nada / Eu gosto, gosto muito (de você) /Venham vós ao nosso reino aqui no Brasil / Rock'n'roll paz e amor aqui no Brasil / E talvez o fim de semana não tenha mais fim / E talvez nossa música não tenha mais fim / E talvez a nossa vida não tenha mais fim".
Gosto muito de você termina com os ruídos de uma tormenta, um sinal das futuras tempestades que se abateriam sobre o grupo.
O barulho da chuva não era efeito do Mellotron, que aliás não fazia efeito algum: só reproduzia o que se lhe gravasse nas fitas. Era um sampler a fita, precursor dos modernos, de circuitos integrados transistorizados, que todos usam - certo Mutante inclusive. O barulho da chuva era chuva mesmo, e também o trovão, exatamente aquilo que já citei, gravado pelo Leo Wolf: uma chuvarada com o som produzido pelos raios, na Serra da Cantareira, que em sua primeira reprodução, num espetáculo que sonorizei para os Mutantes, destruiu o driver JBL 2482, um dos JBL preferidos sempre por nós, Arnaldo inclusive, aos Altec Lansing e a todos mais... senão aos Gauss, inda melhores, que surgiram mais tarde. Um destes, que estava numa daquelas maiores caixas-cornetas portáteis deste planeta, projetadas por mim e usadas pelos Mutantes, encontra-se bem aqui no Subwoofer Labiríntico Central, projeto meu publicado por mim na Nova Eletrônica. Esse alto-falante me foi presenteado por meu irmão Sérgio, pelo que sempre lhe fui grato - e continuo sendo. Quando o ganhei, presenteei a Arnaldo o alto-falante nacional de 21" que estava em meu air-coupler (um sub-woofer cujo projeto publiquei também na NE). Este alto-falante eu modificara pra poder funcionar no air-coupler, e tal modificação publiquei também na NE, ensinando a Leitora, o Leitor, a fazê-la. Arnaldo, nessa época, já passara por aquele suicídio que o não matou; e começou a se corresponder comigo, o que me deixou sumamente feliz. Porém, suas cartas iniciaram aparentemente 'normais', e, aos poucos, foram se colorindo por sua ideia-fixa, a das válvulas versus transistores, a ponto de chegar a ameaçar-me de contar ao mundo que eu escrevera um livro onde propagava a ideia dos transistores... Referia-se a 'CCDB - Gavação Profissional', que ele nunca lera. Em lugar de rir-me, talvez tenha chorado (mais uma vez?) por causa de Arnaldo, pois, por mais que eu tentasse, não logrei mudar o curso do diálogo, onde ele se exaltava mais e mais. Interrompi a comunicação, avisando-o de que só a retomaria se abandonasse a ideia fixa, e ele reiniciou a correspondência, com um estilo novamente 'normal', que outra vez se foi carregando do mesmo conteúdo fixo: válvula versus transistor. Depois de algumas tentativas minhas, precisei abandonar de vez a correspondência, porque concluí que lhe estava fazendo mais mal do que bem. Pela primeiríssima vez recebi cartas de Lucinha, sua esposa, que chegou a me perguntar se 'Arnaldo era assim' antes de se atirar da janela. Pensei bem se devia mentir... e disse que não, que não era assim, que era magnífico. Espero que o tenha ajudado. Infelizmente, Arnaldo volta ao tema na entrevista com o Fantástico, e agora a coisa me escapa das mãos. (CCDB)
Ainda sob contrato com a Philips, o grupo entrega as fitas para a gravadora que financiou as horas no estúdio e também decidiu que o disco não seria lançado pois o som não era comercial. Por trás disso tudo, o dedo de André Midani, ou seriam os seus ouvidos que acharam o som não comercial?
A capa estava também pronta: um desenho de uma cachoeira feita pelo artista plástico, Antonio Peticov. E os Mutantes são dispensados do cast da gravadora, sob a alegação de que o som da banda não era vendável e que poucos no Brasil de 73 absorveriam o conteúdo e o propósito das músicas e além do mais Rita Lee não estava mais no grupo.
"André Midani (o homem que mais prejudicou os Mutantes junto às gravadoras) ficou bravo com Mick Killlingbeck, e o LP só seria lançado se os Mutantes viessem a pagar as horas de estúdio (Cr$ 20.000.000,00) só pela quantidade de zeros dá pra imaginar que era muita grana. E o jeito que Killingbeck arrumou foi vender a revista-jornal Rolling Stone, para com o dinheiro pagar a Midani. Porém, esse dinheiro foi utilizado para pagar a fiança do empresário musical Hilary Baynes, o sócio de Mick Killingbeck, que estava em cana por drogas. Então os 45 minutos de som nunca saíram. Killingbeck inglês e Midani francês; será que houve algo aí? (...)
"Os Mutantes atravessavam, nessa fase, a maior falta de liderança, pois se André Midani ou Michel Killingbeck queriam uma opinião dos Mutantes o resultado era o de sempre: nenhuma pessoa. Pois os Mutantes eram empresariados segundo alguns por Killingbeck que era amante de Rita Lee. (Arnaldo Baptista...)
"Quando declaro algo pertencente a essa época, sei que minhas informações são incompletas. Assim como as de qualquer um. Restou-me possuir a fita do LP 'O A E O Z'. Lembro-me haver perguntado por carta à gravadora se havia algum contrato, assinado, relativo a essa época e a resposta foi: não possuo a carta. Dizem que o nome Mutantes me pertence. Contrato assinado, eu espero poder ler esse contrato que não me lembro, então de posse dele, à partir daí, lançarei o A E O Z". (Arnaldo Baptista...)
"Preciso de uma autorização do Dinho, Liminha e do Sérgio. Quando conseguir, lançarei esse álbum dos Mutantes, que é o mais elaborado do grupo. (Arnaldo Baptista...)
"Ignoro que o nome Mutantes me pertença, agradeceria se alguém pudesse informar-me. Registar novamente esse nome, seria interessante. Pois aí saberia se já é registrado e pertencente à alguém". (Arnaldo Baptista).
"O A E O Z não saiu porque uma vez que a Rita tinha saído da banda e a Polygram já tinha o que queria e vinha querendo a muito tempo isto é uma artista solo, usou esta história de não comercial pois não interessava a eles a banda principalmente tocando o que estávamos tocando agora lembrem-se do que era comercial na época sim? E os estúdios (como éramos contratados) era e foi pago pela gravadora ou então ela (Universal) NÃO TERIA DIREITO NENHUM SOBRE ELE E SIM O ESTÚDIO sacou ???
Quem te informou... errou...
PS. Isso fora todas as outras implicações que quando eu resolver escrever o livro real ... ai eu falarei". (Sérgio Dias).
Entrar no Eldorado, tomar ácido, se sentar no chão e começar a criar, claramente implica na conta do relógio.
"O Sr. A é o que eu considero representando a perfeição que eu não gosto e o Sr. Z é a perfeição que eu gosto, então darei aqui as marcas de predileção de cada um dos dois 'O A E O Z'. Que chega a determinar um grau de aceitação de algo que não é o apocalipse, mas sim o após-calipso. Eis aqui portanto (tente entender como é enorme isso):
Sr. A - possui um automóvel marca: Rolls Royce (modelo Silver Ghost).
Sr. Z - possui um Gurgel, modelo Itaipu, que é elétrico e nunca polui.
Sr. A - possui um gravador da marca Ampex (que não é digital).
Sr. Z - possui um gravador da marca Sony (modelo 2500 digital).
Sr. A - possui um amplificador na vitrola marca CCDB (transistorizado).
Sr. Z - possui um amplificador na vitrola marca Audio Research (valvulado) de 100 watts.
Sr. Z - também possui alto falantes, marca Snake (modelo MS-235).
Então aparece em cena alguém que tenta fazer da própria vida um fator reconciliador das duas crenças, chama-se Sr. Y.
Sr. Y - possui um automóvel Ferrari modelo Boxer).
- um gravador marca Studer (não digital, mas pouco conhecido).
- no amplificador a marca dele é Music Man (híbrido transistor e valvulado).
- o alto falante é marca Altec Lansing.
Continua-se a competição entre as três vidas-gostos:
Sr. A - guitarra marca: Fender (Stratocaster).
Sr. Z - guitarra marca: Gibson (Les Paul).
Sr. Y - guitarra marca: Grestch.
Sr. A - religião anglicana (protestante).
Sr. Z - religião nenhuma!
Sr. Y - mormon combinada com Quaker.
Então o Sr. Y (Rita?) conduz à insatisfação.
"Onde A (Sérgio) e Z (Arnaldo), satisfeitos possuem vidas antagônicas. Até que aparece um mágico no contestar o Sr. K (Michael Killingbeck?). Porém nessa etapa tudo quase vira soco ou pontapé, o que aconteceu com os Mutantes". (Arnaldo Baptista).
Em 'Sr. Z possui um gravador da marca Sony, modelo 2500 digital', note uma (...) contradição em Arnaldo: os gravadores digitais que ele aqui eleva à 'perfeição que gosta' são inteiramente transistorizados e têm todos os defeitos dos transistores, somados a mais alguns dos circuitos digitais. Os gravadores AMPEX que Arnaldo compara à 'perfeição que não gosta' vêm do tempo das válvulas, são analógicos; e a distorção que produzem nas fitas equivale à dos amplificadores valvulados, que soa bem. (CCDB).
Em Sr. A possui amplificadores na vitrola marca CCDB transistorizados, já comentei mais que o bastante, nas mensagens que trocamos, Mário, a questão válvulas e transistores. (CCDB).
Em 'também possui alto-falantes marca SNAKE', isso é propaganda de Arnaldo para a SNAKE, fábrica nacional que sempre copiou, e mal, os alto-falantes JBL, norte-americanos. Em tempo: conquanto as cópias não chegassem aos pés dos originais, eu próprio, quando meus Clientes não podiam adquirir os JBL, recomendava os SNAKE, porque eram os melhores nacionais. Devo expor inclusive, que a SNAKE certa época me presenteou alto-falantes de sua fabricação para que os destruísse com meus testes, de modo a dar-lhe o retorno dos resultados, o que fiz com prazer - e sempre; ou seja: sempre destruí a todos, jamais me aproveitando do presente para outros fins. Note que aqui Arnaldo não cita os alto-falantes do Sr.A, ou que, se os mencionou, você não os incluiu em seu livro, Mário. Qual seriam estes?... (CCDB).
Em 'Sr. Y'. No amplificador a marca usada por esse sr. fictício é Music Man, 'híbrido transistor e valvulados'. Esse amplificador é o que há de ruim! Foi um projeto infeliz de Leo Fender, que combinou o que o transistor e a válvula têm de mau, sem aproveitar o que possuem de bom. Ele pôs os transistores no pré-amplificador e as válvulas na seção de potência, quando deveria ter feito o contrário, caso pusesse o som em primeiro lugar perante outras questões técnicas e mercadológicas. A distorção bonita da válvula, o tal 'som de válvula' se dá nos triodos (ou duplos triodos), como a 12AX7 e sua versão anti-microfônica 7025, dos pré-amplificadores, cuja distorção por saturação produz sinal assimétrico, arredondado e rico em harmônicos pares; não, nos pentodos, como as 6L6GC ou as EL34 e cia. das seções de potência, cuja distorção é simétrica e abrupta, símil à dos transistores saturados. Quanto à distorção feia dos transistores, acontece em qualquer seção, de pré ou de potência, caso não seja eliminada por um bom projeto, o que é fácil e costuma ser feito. As vantagens que Leo Fender obteve nesse projeto não estão no som; sim, na redução do ronco da pré-amplificação, porque se evita o filamento das válvulas, que sói ser alimentado por corrente alternada (a que insere o ronco no sinal), mas pode sê-lo por corrente contínua (que o não insere). Na seção de potência do amplificador Music Man, a extensão da resposta a freqüências que as válvulas têm (caso se usem com alto-falantes convencionais dinâmicos de baixa impedância, como é o caso de todos os amplificadores para instrumentos musicais deste planeta) é reduzida pelo transformador de saída, que o transistorizado não precisa ter. Ambos os amplificadores, a válvula e a transistor, podem ter resposta extensa, se bem projetados - e não se esqueça dos long-channel MOS-FET de potência para áudio, transistores cujas curvas de transferência e a extensão da resposta se equiparam às das válvulas, sem os problemas destas. (CCDB).
O alto-falante Altec Lansing', é de uma empresa que James Bullough Lansing (Jim Lansing) criou e dirigiu durante certo período para um poderoso grupo industrial: a Standard Electric, se não me engano - a história certa e completa está nos catálogos da JBL. Jim abandonou a Altec e criou sua própria empresa, a inda mais lendária JBL (note que a trigla foi tirada do próprio nome inteiro do fundador, bem como acontece com CCDB), cujos alto-falantes e mais produtos sempre manteve um passo adiante dos da Altec, empresa cujo nome foi mudado de Altec Lansing para Altec, quando o fundador a abandonou. Não é à toa que a Altec se sumiu do mercado por uns tempos, retornando com produtos para computadores, enquanto a JBL continua, cada vez maior e melhor, como talvez venha a acontecer conosco, quando meu filho Rafael retomar a produção 'da' CCDB. Não se comparam os motivos pelos quais a Altec se eclipsou e pelos quais a CCDB pausou: o desta se liga a uma obra incomparavelmente maior: a superna Géa. Seria o JBL, transdutor que recomendei e introduzi nos sistemas dos Mutantes, o alto-falante do Sr. A? Sobre as guitarras dos três senhores inventados por Arnaldo, já teci meus comentários. Não sei o motivo de Arnaldo não ter tido a coragem de mencionar as guitarras, guitarras-baixo, guitarras de doze cordas, contrabaixos e tal que fiz etaut modifiquei para ele e Sérgio (se não quisermos estender o nome de Mutantes a Liminha e a outros participantes do grupo), as quais ambos sempre usaram. Talvez Arnaldo esquecesse minhas guitarras porque fossem inatingíveis pelos três senhores: elas se achavam e acham acima da perfeição. Toda a história dos três senhores de Arnaldo é ideia boa, mas a realização foi péssima, aleatória, despreocupada em atingir este ou aquele indivíduo, esta ou aquela empresa, sem base sólida: um verdadeiro 'chute', e que me sabe deveras proposital. (CCDB).
Dentro da série de shows musicais Phono 73, organizados pela Phonogram (ex-Philips, e depois Polygram) durante o mês de maio, os Mutantes eram a grande atração da noite. Na mesma noite aconteceu a única apresentação das Cilibrinas do Éden, nome escolhido por Rita e Lúcia Turnbull, um delicado e acústico duo, vítimas de uma vaia homérica, mas o ponto alto do show era a apresentação de Chico Buarque e Gilberto Gil, que apresentariam Cálice recente e até hoje única composição da dupla.
O primeiro encontro de Odair José com Caetano veloso também aconteceu neste espetáculo. Na ocasião, Odair cantou junto com Caetano, o que provocou mais vaias que aplausos, fato que deixou Caetano irritado e o fez reagir com a antológica frase "não há nada mais Z do que a classe A", numa crítica a o comportamento elitista do público, que não admitia o encontro de dois representantes de platéias tão distantes quanto a esclarecida e o "povão".
Acomodados nos banquinhos e com os violões afinados, Gil e Chico deram início, mas a platéia não ouviu som algum. Os dois entreolharam-se desconfiados e recomeçaram novamente: ainda nada. Os microfones continuavam emudecidos, microfones que minutos antes funcionavam perfeitamente. A platéia, que recebera a dupla num respeitosos silêncio, começava a ficar impaciente. Impacientes estavam também Chico e Gil. Uma terceira e frustrada tentativa, desistiram. Entre o espanto da platéia e a decepção estampada na cara dos autores, receberam vaias e aplausos, ninguém entendia o que estava acontecendo.
Chico rosnou: "vamos ao que pode" e foi claramente ouvido em todo o Palácio do Anhembi, os microfones estavam milagrosamente recuperados e o que se ouviu foi uma versão irada de Jorge Maravilha.
Foi pelos idos de 68 que a Censura passou a fazer parte, concretamente, do cotidiano do brasileiro. Devido à ação palpável e real da tesoura federal, os compositores, cineastas, teatrólogos, escritores e jornalistas passaram a desenvolver uma linguagem própria, impregnada de metáforas, visando a não modificação total da criação ou texto, boa parte da produção mesmo assim permaneceu engavetada ou perdeu sentido e força devido aos cortes e vetos da Censura Militar.
Os presentes no Phono 73 presenciaram o hisatórico episódio da música Cálice (julgada imprópria para audição pública), e como Chico e Gil não abriram mão de apresentá-la, só restou um recurso extremo cortar o som! Decisão da gravadora ou da polícia?
Segundo relato do Jornal da Tarde, "a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones de Chico, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada".
A comunicação abriu os canais para o "jeitinho brasileiro", falar da realidade com ginga de malandro, ceder um pouquinho aqui e ousar um tanto ali, evitar que o texto seja arquivado ou que os cortes deixem a obra sem sentido, maneira que o receptor entenda a ideia original.
Expediente que realçaria o brilho da MPB, que sob todas as formas de pressão, conseguiu ser original e ousada.
Os anos de 1973/74 foram difíceis com um pique notável de vetos, impedindo a divulgação e o trabalho dos autores. Pouquíssima gente escapava, desde Gonzaguinha, Roberto e Erasmo aos mais obscuros grupos de rock de garagem.
O Made in Brazil trocou o verso "Eu quero chupar o seu sorvete" por um mais ameno "Eu só quero tomar um sorvete", já os cariocas do extinto Faia que descreviam o dia-a-dia de uma prostituta na sua Petunia Macadame, tiveram a música vetada com a justificativa: "não existe semelhante problema no Brasil".
Roberto e Erasmo Carlos tiveram duas músicas censuradas em 1974, revelou a Folha de S. Paulo. Vida Blue, que contava a história de um nordestino que é morto pelo Esquadrão da Morte, continua inédita. Patu teve seu nome mudado para Baby e acabou sendo liberada, saindo num compacto de Erasmo.
Quem não tem colírio usa óculos escuros, canção inteiramente vetada de Raul Seixas e Paulo Coelho, foi subitamente liberada com outro título: Como vovó já dizia, graças ao velho expediente de trocar o título.
Chico Buarque de Hollanda, velho conhecido da Censura, integrante do grupo dos "mais censurados", lançaria em 1970 o LP "Apesar de você" foi recolhido das lojas, o disco "Calabar", após diversos cortes nas letras teve de mudar o nome original para "Chico Canta", (chegou a sair uma capa, logo recolhida, com a palavra Calabar pichada num muro). Em "Calabar" estava a letra de Vence na vida quem diz sim que permaneceria censurada por muitos anos ainda...
Flor da idade, foi uma das várias composições de Chico vetadas pela Censura e o público não pôde cantar versos como "A gente faz hora faz fila na vila do meio-dia / Que agonia...".
Chico chegou a abandonar os palcos pois não conseguia liberação do repertório de seus espetáculos junto às autoridades.
"Considero Chico Buarque, como é justo, o maior letrista brasileiro, de todos os tempos. Divirjo de Chico Buarque numa questão fundamental: ele é cubanófilo. Eu sou democrata. Como apreciador da música popular continuo achando que Chico Buarque é um extraordinário talento. É uma pena que de vez em quando ele descambe a elogiar Fidel Castro". (Armando Falcão).
Dentro do incômodo grupo dos censurados estavam Milton Nascimento, Luís Gonzaga Jr., Zé Rodrix, Taiguara e anos mais tarde as duplas João Bosco/Aldir Blanc e Ivan Lins/Vítor Martins adeririam ao estranho grupo.
Em seu LP desse ano, "Milagre dos Peixes", Milton Nascimento sofreu o veto total de três músicas: Cadê, Escravos de Jó e Hoje é dia de el Rey, vetos que transformaram o LP num disco praticamente instrumental.
"Como artista, não posso admitir que a Censura exista. Eu queria, sinceramente, que ela sumisse para sempre! (Milton Nascimento).
Gonzaguinha além de ter o seu disco de estréia retirado das lojas sofreu ainda mais quando viu o lindo repertório do seu terceiro disco impiedosamente castigado pelos censores, desgostoso Gonzaguinha adoeceu mas não caiu.
Outra vítima, Zé Rodrix, que recentemente havia se desligado de Sá e Guarabira, teve a sua safra musical desse ano armazenada nos porões por muitos anos entre os títulos: Liberdade é uma porta com a chave do lado de dentro, Canção do operário de obra, uma de suas prediletas, e Fora das grades feita em homenagem a Lennie Dale, preso naquela época.
Nem os Secos e Molhados escaparam, Tristeza militar, uma canção de João Ricardo antes liberada para shows, posteriormente foi proibida quando o conjunto alcançou sucesso nacional: "Não há mais hora H / Ou medo de gritar / Tristeza militar".
A grana foi ficando escassa, as músicas não pintavam e durante um ensaio na Cantareira, os Mutantes foram interrompidos aos gritos pelo motorista Sardinha. Na hora de dar a partida no caminhão do grupo, surgiu uma faísca que deu início a um incêndio. Passaram horas tentando apagar o fogo, ao final, salvaram poucas coisas. O órgão Hammond ficou tão danificado que nem substituindo uma peça de metal, ficaria bom de novo. Os roadies do grupo estavam encanados. "Começamos a pensar que alguém tinha feito macumba para nós". (Arnaldo).
Os Mutantes, na metade do ano, em julho apresentam-se em Salvador, e Arnaldo manifesta o seu desejo de abandonar o grupo. Depois da apresentação, Arnaldo parte solitariamente para um festival na cidade de São Lourenço, em Minas, onde ele solicita ao prefeito doze fogueiras, representando os doze signos zodiacais; uma ideia dele, inspirada no louquíssimo "Rainbow Bridge", um concerto de Jimi Hendrix no Havaí, onde cada facção do público devia vir numa cor do arco-íris e depois dos shows tentar entrar em contato com "inteligências superiores". Foi nesse festival que Arnaldo conheceria Maria Lúcia Barbosa; a Lucinha uma pessoa que seria importantíssima em seu futuro, uma das maiores fãs dos Mutantes e especialmente de Arnaldo e que, ao longo dos anos, reuniria, pacientemente, recortes de jornais, fotos, ingressos, roteiros, panfletos de shows, dados e até participando na produção do guarda-roupa e no registro de alguns shows num gravador portátil.
"O A E O Z, foi inspirado em Deus pelo Yes, e eu odiei isso". Arnaldo observava que o grupo não estava mais na sua viagem musical: "Serginho tocava Fender porque gostava de Jimi Hendrix; Liminha tocava Rickenbaker porque gostava de Chris Squire; eu tocava Hammond porque gostava do Jimmy Smith e o Dinho eu acho que ele gostava do Billy Cobham, um baterista que eu também gosto. Não existia nada assim naquele tempo, nada se comparava, era uma mistura pessoal, muito difícil e que não estava dando certo. (Arnaldo Baptista...)
"Nossa viagem musical teria continuado se eles optassem por instrumentos Gibson. A guitarra Fender só produz um som riquíssimo em médios desprovida de peso, já o baixo Rickenbaker é um som agudíssimo mas também sem peso, resultando numa enorme diferença: um buraco. (Arnaldo Baptista...)
"Tento tangenciar o quanto existe de diferença entre os amplificadores valvulados e os transistorizados. Quando, acima de 75% de volumes graves e agudos também decai em 35% a 45%, o som sub-harmônico em relação a nota dó. E isso pode parecer ínfimo agora, mas num show acima de 6000 watts fica enormíssimo! O som decai em grande escala. O que prejudica em muito o tecladista. Então pedi ao meu irmão Cláudio César Dias Baptista (CCDB), que construísse amplificadores valvulados para mim, e ele respondeu que não iria construir amplificadores valvulados nunca. Então eu disse aos Mutantes, eu vou abandonar-vos! E eles nem ligaram ou fizeram o que eu queria. (Arnaldo).
"Não é verdade de Arnaldo que eu lhe tenha dito que 'nunca construiria amplificadores valvulados para ele'. O que aconteceu: ele e eu discutimos em minha casa a respeito das vantagens e desvantagens de ambos os tipos de aparelhos; e, como discutimos, e ele não queria entender a realidade, acabei não lhe construindo amplificador algum. Se Arnaldo quisesse amplificadores transistorizados e houvesse discutido assim comigo, com toda a certeza também não os teria obtido de mim. Inclusive porque nunca nem ele nem nenhum dos outros Mutantes me pagavam pelo trabalho; e inda está a aparecer neste planeta quem trabalhe de graça para quem o ofende, quando não seja escravo de paixão, de amor, de fato e tal. Escravo eu jamais seria, nem no tempo da escravidão: meu pai devia estar certo quando dizia que temos sangue tupi. Dado curioso: o equipamento que eu criara para meu próprio uso em 1972 já funcionava há um ano na época em que Arnaldo e eu discutimos e cá está em minha casa a pleno vapor funcionando até hoje e sendo freqüentemente elogiado por quem o descobre como 'o melhor som que já ouviu', já com trinta e três anos de existência e sem assistência técnica a partes fixas. Mas isso não é 'culpa' dos transistores, pois o som seria igualmente bom se valvulado: é a multiamplificação, o projeto das caixas acústicas e a qualidade dos transdutores. Claro que, se fosse valvulado, jamais teria suportado trinta e dois anos sem assistência, mesmo porque válvulas envelhecem naturalmente em muito menos tempo, precisam ser trocadas; o circuito onde se inserem, recalibrado... e tal - como já lhes contei. (CCDB). |
O pensador e idealizador dos Mutantes parte para a carreira solo. Cansado, ele ainda seria chamado várias vezes para ocupar o seu posto, o que só ocorreria esporadicamente durante participações, seja operando a mesa de som para o grupo ou na abertura dos shows finais do grupo em 1978.
Arnaldo resolveu dedicar algum tempo como produtor e chegou a produzir o primeiro compacto do Joelho de Porco, "Se você vai de xaxado, eu vou re rock'n'roll/Fly America", lançado pelo selo Sinter da Phonogram, que infelizmente não aconteceu.
O ano de 1973 foi negro para o rock e a MPB. Ali morria o som original dos Mutantes e no território da MPB, além dos cortes da censura, perdia um dos maiores vultos de sua história, o compositor e multiinstrumentista Alfredo da Rocha Viana Jr., o Pixinguinha. É o ano da inflação, do flagelo mundial, a crise do petróleo, que se se aprofundaria daí por diante, onde o ministro Delfim Neto lançava por todo o Brasil os cartazes da campanha: "Diga não a inflação".
Com a saída de Arnaldo, entra em seu lugar Manito (ex-Incrivéis), um organista experiente "voando atrás de Keith Emerson e caindo a meio caminho sem fôlego". (Jornal de Música e Som).
"Neste momento, com a saída da Rita e logo depois a do Arnaldo, muitos músicos transaram com a gente: Liminha, Dinho, Manito entre outros. Influenciávamos muito por tudo que vinha de fora, o apuro técnico, o espelho. Eu punha na vitrola os disco dos melhores guitarristas, pegava um violão e ficava escutando milhões de vezes, até acertar completamente todos os solos, pois minha preocupação principal era conseguir tirar um som igual ao de um John McLaughlin ou um Steve Howe". (Sérgio Dias ao Jornal de Música e Som, nº 21, 8/1976).
Ronaldo Leme, o Dinho, baterista dos Mutantes guarda em sua casa um tesouro: a gravação de um show dos Mutantes. "Ele [o disco] é incrível, muito bom. Só que foi numa época final do grupo, já sem o Arnaldo", conta Dinho. O show foi gravado em Goiânia, quando Arnaldo Baptista (voz e teclados) e Rita Lee (voz) já haviam deixado o grupo. Na época, os Mutantes eram: Sérgio Dias (guitarra e voz), Liminha (baixo) e Dinho, ao lado de Manito (teclados, sax). Essa foi a época de maior popularidade dos Mutantes, quando faziam shows que atraíam de três a cinco mil pessoas. "Eu tenho metade [dessa fita] e o Liminha tem a outra. Eu fiquei com o final e ele com o começo", explica o baterista. "É um rock pesado, ao vivo, tem solo de bateria muito bonito, solo de baixo, de sax." O repertório da gravação se baseia no disco "A e o Z".
"Sérgio fala sem emoção das diversas escalações porque os Mutantes passaram após a saída de Rita: eu nunca sei em que dia, mês e ano estamos. Só sei que essa foi uma fase de muita loucura. Depois saiu Arnaldo, e entrou Manito. Saiu Manito e Dinho e entraram Túlio e Rui. Saiu Liminha e entrou Pedro". (Revista Rock,a história e a Glória, nº9).
Dinho saiu por problemas de controle motor e os Novos Mutantes estreariam em um show em Ribeirão Preto para 400 pessoas, com a seguinte escalação: Sérgio nas guitarras; Túlio Mourão nos teclados; Rui na bateria e Antonio Pedro no baixo.
Esse Pedro é Pedro Fortuna, mais tarde participante do grupo Blitz. Pedro, já nesse grupo, comprou-me um amplificador CCDB para seu contrabaixo e encomendou-me um par de caixas acústicas que se tornaram as lendárias CCDB-Blitz, cujo projeto publiquei na Nova Eletrônica e muita gente usa té hoje. (CCDB).
Em 31 de outubro de 1974, os Mutantes apresentam as novas músicas e a nova formação aos cariocas dentro do projeto "Abertura da Temporada de Verão", no Teatro João Caetano, ao lado do Terço e do Veludo.
Em novembro é lançado, pela Som Livre, o álbum "Tudo foi feito pelo sol" com suas melodias suaves e brincadeiras, como mostram as faixas Pítagoras e Desanuviar. O som do disco é inferior ao som do "A E O Z" e mostra os Mutantes navegando nos mares da auto-indulgência.
"Os Mutantes eram o Arnaldo, eu sempre disse isso, sempre achei isso. Era a base dele, da loucura dele, que o Serginho completava com aquele perfeccionismo dele, como o ótimo músico que ele era e é. Eu dava mais os lances visuais. Mas o coração era o Arnaldo. Tanto que eu saí, mas os Mutantes só desbaratinaram quando o Arnaldo sartou. Os Mutantes de hoje... Olha, acho que o Serginho devia ter trocado de nome, aquilo não tem nada a ver com os Mutantes. É uma coisa bem feita, o Serginho é excelente, mas é aquela frieza, aquele Mahavishnu todo... e eu que me lembro do Serginho bem tchã... tchã... cheio de balanço. (Rita Lee ao Jornal de Música e Som, 1977).
"Os Mutantes foram um grupo muito bom e muito importante para a música pop. Certamente será uma lacuna difícil de se preencher. Rita tomou seu caminho, eu estou me preparando para algumas excursões, e Sérgio continua firme com a ideologia dos Mutantes. Uma pena a separação". (Arnaldo).
"Estávamos sentados ao redor de um anjo de cemitério - que enfeitava o quintal da casa de Arnaldo - eu, ele, Serginho e Liminha. Perguntamo-nos o que fazer e naquele momento sentimos que o grupo havia acabado. Choramos bastante juntos e fomos embora". (Dinho).
'Os Mutantes eram o Arnaldo'. Será? Sem o Cláudio, não eram! Com Arnaldo, Sérgio e Rita, formavam o triângulo tão estudado pelos rosacruzes (ou rosa-cruzes). Esse triângulo se repete em várias obras de autores que lhe conhecem o efeito; entre elas, Startrek, onde as personalidades dos três Mutantes e respectivamente na seqüência correspondente, é a de Mc Coy, Spock e Kirk. Sim, Rita seria Kirk. E Sérgio, com sua aparente frieza, é o mais humano, conquanto Spock seja vulcano... mesmo porque essa frieza é a máscara para o que só lhe sai das cordas nas entrelinhas, vezes mais líricas e pungentes que as manifestações dos demais. O episódio de Mc Coy drogado, que foge por um portal do tempo rumo ao passado da Terra e quase morre, serve como ilustração da personalidade de Arnaldo. E mesmo o resto desse episódio é extremamente relacionado, por meio da 'sincronicidade' e tão a gosto de Jung; mas melhor ainda pela 'biorrelatividade' de Clausar, com a corrida dos companheiros atrás do doutor, para salvá-lo... Porém... sem Gene Roddenberry... Sem a tecnologia... (CCDB)
"A minha primeira internação como louco no Hospital Boa Vista foi feita por Rita Lee, que acreditou nas palavras de um padre: a amplificação valvulada, defendida pelo Arnaldo, é um pacto com o demônio que ele fez". (Arnaldo Baptista).
"Lembrei-me do fato que desencadeou essa atual fabricação dos amplificadores transistorizados. Na época que antecede em um ano o lançamento aqui no Brasil do primeiro amplificador transistorizado: Phelpa 40 Watts. Houve nos Estados Unidos um pronunciamento da NASA a respeito da proibição da utilização de aparelhos valvulados em todos os aeroplanos. Porque eram pesados e quebradiços, então numa decorrência estúpida, a fábrica Kenwood, que construía uma linha de montagem de amplificadores de conjunto transistorizados, declarou que as válvulas, eram passado da NASA". (Arnaldo Baptista).
"Cinco vezes internado injustamente só porque defendi a amplificação válvula". (Arnaldo Baptista).
A furada no nariz (CCDB©)
"Os Atlantes, acabamos por causa do KSE, Kier! Não acha, Cinda?
— Os Atlantes eram só Sérias, Ardo e Ree. Ardo se deu mal.
— Os Atlantes éramos nós e o Té, Cinda.
— Eu não tocava mais.
— Não precisava tocar para ser sempre um Atlante.
— Obrigado... Isso não tem mais importância. Minha preocupação é com o Cray.
Principalmente por seu aviso, Kier, ao contatar a tal Irmandade. Ele tem andado muito estranho! Outro cromat, pediu-me para furar-lhe o nariz e pôr-lhe um brinco, sem empregar anestesia. Relutei, o Cray insistiu, e satisfiz-lhe a vontade: afiei em ponta uma chave de espira, desinfetei-a e perfurei-lhe com ela a cartilagem lobular. Não achei estranho o fato de o Cray usar esse adorno: muita genk dita sã faz disso seu encanto; assustadora era a feição, a expressão dele, enquanto eu enfiava-lhe nessa carne tão sensível a chave de espira! Ardo tinha os írios esgazeados, tremia e respirava ofegantemente, como se a dor causasse-lhe o mais intenso prazer!
Como se me ferisse, ao ser ferido por mim!"
* O episódio inteiro está descrito em Géa - página 1356, Livro Sexto.
** Nota: Onde se lê "chave de espira", (quer dizer "chave de parafuso"); onde está "írios", a tradução é "olhos".
http://www.ccdb.gea.nom.br/