1984: CONHECENDO, O GUITARRISTA FEJÃO

 

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Ele mesmo me disse: "Fejão sem 'i'"...

Foto: Ivaldo Cavalcante

 Conhecendo, o guitarrista Fejão

Texto: Mário Pazcheco - 10.000 dias de rock
Revisor: Luís Eduardo

 Lembrança nublada

 Testemunhei sua rápida ascensão ao panteão dos heróis das guitarras do cerrado. Acredito que longo na estreia Luiz Eduardo Ferreira "Fejão" fez história como guitarrista, talvez o mais rápido dos palcos brasilienses.
 
Seu instrumento era uma guitarra "Rei", com um captador importado. A fivela da correia no último furo deixava a guitarra caída nos joelhos. O que me chocou foi que ele tocava o fantástico solo de "Flying high again" igualzinho a uma gravação bootleg do Ozzy Osbourne & Blizzard of Ozz. – Aquele guitarrista sabia o que estava fazendo.
 

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Octogonal. 1996. Ano das mortes de Renato Russo e Fejão. Eu frequentava o ateliê do programador visual João Del Negro, que fazia os cartazes mais psicodélicos das festas, naquele momento. Ele era o fotógrafo responsável pelas imagens do Dungeon. Elas impressionavam.

O gigante Fejão aguardava escorado do lado de fora, na porta do apartamento.
De um envelope, retirou umas fotos. Ele aparecia na Esplanada dos Ministérios num carrão grande, rodeado por 'modelos'!
 
Eu disse: Muito Hendrix!
 
Ele riu! E respondeu que estava gravando um disco solo.
 
Foi a última vez. Morreu de meningite.
 
O falecido produtor e guitarrista Tom Capone disse que Fejão era o maior guitarrista do mundo! Tom, volta e meia, se lembrava dele.

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 Original Escola de Escândalo (ainda com Marielle, que foi para o Arte no Escuro) – 4 abr. / 1985 – Abaixo, à esquerda, Geraldo "Gerusa", contrabaixista e produtor, e, à direita, Fejão

Foto: Mino Pedrosa

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Fejão, Eduardo Espinoza (bateria), Bernardo Mueller (vocal) e Geraldo Ribeiro, contrabaixo
Escola de Escândalo, 21 abr. / 1986 – Correio Braziliense

Dents Kentes, mordida punk

Luiz Carlos Mansur*

O Dead Kennedys acabou, mas os Dents Kentes estão com a bola cheia. Quem são eles? Ameba (Plebe Rude) na bateria, Negrete (Legião) no baixo, Fejão (Escola de Escândalo) na guitarra, e o roadie da Plebe, Fred, nos vocais. Os Dents surgiram em 1985 como sátira ao DK, e o seu repertório dura cinco minutos. "Em comprimidos, minutos de hardcore", diria Jello Biafra. Eles estão gravando uma demo na Odeon e tocam hoje na Metrópolis, na festa de lançamento do disco Fresh fruit for rotting vegetables, dos Kennedys Mortos. Tá esperando o quê, mermão? (Jornal do Brasil / Rock & Toques, 23 jan. / 1987.)

Agora que se desligou definitivamente da Legião Urbana, que opta pelo bucolismo da fazenda que adquiriu, na região de Mauá, Rio de Janeiro, é provável que o baixista Renato Rocha, o Negrete, tenha mais tempo para se dedicar ao tipo de rock que mais curte, o hardcore.

Espera-se que com isso venha a ser reativado o Dents Kentes, grupo que se reúne vez por outra para aplaudidas performances, e que tem em sua formação, além do grande Billy, os guitarristas Ameba (Plebe Rude) e Fejão (Luiz Eduardo) (Escola de Escândalo). (Irlam Rocha Lima, Correio Braziliense, 1989.)

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Fejão, à direita, com o P.U.S no Conic, 12 mai. / 1991 – Correio Braziliense

Foto: Renato Costa

O humor do guitarrista Fejão...

Numa entrevista, para inocentar o heavy metal, tascou: “O Renato Russo tentou suicídio umas duas vezes; eu só não sei se ele estava ouvindo heavy metal ou Joy Division.”

 Dungeon

O Dungeon tem uma origem curiosa. O seu líder, vocalista e guitarrista Fejão, em um tempo muito distante, fez parte do rock Brasília, que entre outras bandas revelou Legião Urbana, Capital Inicial, sucesso a partir dos 80s.

O tempo passa e, em 1990, ele forma o Dungeon, grupo que praticou um interessante thrash metal, com algumas passagens experimentais. A banda fez seu debut em 1993, pela gravadora de Dado Villa-Lobos, então guitarrista da Legião Urbana, amigo de longa data de Fejão.

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 Na ilustração de Luiz Kiss, da esquerda para direita: Parente (guitarra), Bulhões (baixo), Fejão † (guitarra e vocal) e Elder (bateria)

 "Só pra lembrar: Fejão foi um grande amigo meu e vivia lá em casa ouvindo música e contando piadas. Saudades desse gênio da guitarra e amigão do peito." (Luiz Kiss).
 
Henrique Behr, "Alemão", vocalista e parceiro de Fejão no Anjo Caído, depois, Fallen Angel

"Era o começo do ano de 1983, quando o Luiz Kiss, que morava na 415 Sul, como eu (ele estava de mudança para a 308 Norte), disse que ia ter um 'Show de Rock' na 413 Sul, com várias bandas, e ele e uns amigos iriam tocar também (covers instrumentais). A gente já se conhecia, trocávamos uns papos de rock, ele com seu Kiss e eu com o Black Sabbath, que ouvia tanto na época.
Chegando à 413 Sul, umas 3 da tarde, vi um pessoal de camisa preta (eu também estava) que eu não conhecia, mas gostavam do mesmo estilo de rock, Heavy Metal. Me senti na minha tribo. Encontrei o Luís (batera), que me apresentou a seus amigos de banda, John (baixo) e o Fejão (guitarra), isso num gramadão em frente ao palco.

Enquanto rolavam outras bandas, o papo ia e vinha direto. O Fejão (que tinha uma presença singular) com a 'guita' (era uma Rei) apoiada na perna conversava conosco. Neste dia, vi que seus dedos no braço da 'guita' pareciam pernas de uma aranha, a tecer muito rápido, o som que queria sair... Não acreditava no que eu estava vendo. Aí me falaram que iam tocar Paranoid (do Sabbath). Fiquei de cara! Eu disse a eles que sabia a letra (cantava junto com o LP do Black Sabbath na 'vitrola' em casa, entre outros heavies)."

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 "Eu estive neste show. Fiquei emocionado ao ver, depois de muitos anos, este convite com o ‘Morcegão’, como dizia o Fejão."

   Ricardo Mattos e Fejão no grupo Nirvana, na 407 Norte

   "Lembro dessa história de cantar com o LP do Black Sabbath na vitrola. Em casa, era de praxe, pois era o que Fejão sempre fazia. Não era só o Black Sabbath, mas também o Led Zeppelin, e ele afinava a voz e a guitarra juntos. O meu contrabaixo se perdia naquele som e no solo da guitarra,sem conseguir fazer o acompanhamento, pois Fejão era muito veloz. Quando Dona Mirian, mãe do Fejão, chegava para reclamar com aquela barulhada, ao abrir a porta, ele olhava para ela, com um sorriso, e pedia a ela para levar banana com yogurte e pimenta. Daí era explosão total, os dois choravam, o Fejão e a guitarra... Aquela foi a melhor época da minha vida...

   Eu também estava na 413 Sul, e levava comigo o meu contrabaixo dentro de um estojo, que parecia uma caixão. Eu usava uma calça e uma jaqueta jeans com a logo do Nirvana. A nossa logo era o símbolo da raiz quadrada, sendo o 'V' nas laterais mais prolongado, como se fosse um 'V' com asas, e abaixo dele o globo terrestre. O 'V' era a letra do Nir 'V' ana. Aquele estojo-caixão ficou famoso, principalmente quando eu abria e tirava o meu baixo cor verde, e ainda por cima era acústico! Foram bons tempos...

   A guitarra vermelha do Fejão era igual, mas igual mesmo, à do Robertinho do Recife. Tanto é que o próprio Robertinho desafiou a ele, e sua resposta foi, palavras que escutei pessoalmente do Fejão: 'Eu não faço competições, não existe bom nem ruim, o que existe são talentos, e o meu talento eu uso para as músicas que eu toco...' Essa foi uma revelação que ele fez a nós, quando estávamos ensaiando no meio da rua, porque não tinhamos dinheiro suficiente para alugar uma sala ou um estúdio..."

   Queridos amigos e fãs. Existe uma história que não foi contada, mas aqui estou, vivo e com saúde. Eu, Ricardo Mattos, conhecido na época por Ricardinho, morei na 407 Norte, onde surgiu o Nirvana.

   Conheci o pessoal da Blitx64 e do Aborto Elétrico na 408 Norte, quando ensaiavam no apartamento do Geruza, irmão do Marquinhos, ex-guitarrista do Capital Inicial, conhecido como Loro, segundo apelidado pelo Fejão.

Eu seguia o ritmo no meu primeiro contrabaixo Gibson acústico, cor verde, mesmo modelo dos Beatles; Fejão, guitarrista solo – Renato Rocha, do Legião Urbana, fabricou e vendeu uma guitarra-'modelo não existente no mercado' para o Dimas, guitarrista base e vocal; e Carlos Mosmann, depois de uma bateria improvisada, comprou uma de verdade. Em 1982, formamos o Nirvana, e conhecemos o Luiz Kiss. Fejão estava presente, com a alma do Rock Progressivo. Na época, Fejão só tinha 13 anos de idade, e uma guitarrinha, de brinquedo, que o pai dele havia comprado na Alemanha. Ela se transformou em uma guitarra de verdade. Daí surgiu um mito do rock brasileiro, apelidado por uma senhora de Fejão. Seu pai era um grande músico, saxofonista de primeira, que tocava blues e jazz.

Assim surgia em Brasília o Nirvana, com a música Blues cidade louca. A característica do Nirvana era um rock progressivo, e a nossa maior inspiração foi Led Zeppelin, Black Sabbath e Pink Floyd. Nosso primeiro show foi no Teatro Galpão, ao lado de Renato Russo, depois surgiram várias oportunidades, e tocamos também na 308 Norte, junto com Luiz Kiss, John e outros amigos da Asa Sul etc. Essa foi uma época que marcou a minha vida.

Tenho fotos da época, mas não tenho do Nirvana, pois não nos inspirávamos em fotos. Tenho quatro músicas que foram recuperadas pelo Lelo Nirvana. Se existir alguma foto, o Tadeu, que foi o nosso vocalista, e também do do Beta Pictoris, talvez tenha, mas acho muito difícil. Tenho letras, caso necessite para algum trabalho. Penso em regravá-las. Se você entrar no meu ‘facebook’ (Rick Mattos ex-Nirvana) e solicitar amizade, poderá entrar nos meu álbuns, com algumas fotos da época. Vai encontrar muitas fotos de muitas bandas, inclusive internacionais. Só posso dizer que a nossa história, apesar de que o Tadeu não concorda com isso, pode-se apagar. O Tadeu vive hoje em dia em Los Angeles, e eu estou no Paraguai, a caminho da África do Sul, onde vou iniciar um projeto Rock Total.

Nosso baterista Carlos Mossmann, segundo informações, abriu uma escola de bateristas em Brasília. Infelizmente, o meu irmãozinho querido Fejão faleceu, na década de 90.

Caso necessite de algum material do Fejão, como os últimos CDs, lançados por ele quando ainda estava preso na Papuda, eu tenho como conseguir para a história, pois conheço e sou amigo da mãe dele, que tenho como uma tia. Ali eu fui o último a estar com ele antes de sua morte. Ele me revelou muitas coisas, inclusive sobre as suas músicas que escreveu ainda na prisão. Para mim, Fejão foi o melhor guitarrista que o Brasil já teve; ele foi o Jimi Hendrix junto com Jimmy Page! Ele fazia tanto a guitarra quanto a bateria gritarem! Isso era rock!

Hoje em dia, eu tenho 46 anos, e para o próximo ano estarei retornando ao rock brasileiro, mas jamais esquecerei o Grande Fejão, guitarrista de todos os tempos, até os dias de hoje.

Vendi meu contrabaixo com muita raiva. Porque o Nirvana ameaçava terminar o caminho, e acabei vendendo. Depois, eu tinha que ficar pedindo emprestado a um e a outro, como por exemplo, num dos shows que fizemos Na Escola de Música de Brasília, junto com o Capital Inicial, que pela primeira vez acabaram me emprestando um Fender. Aquela foi a melhor das melhores vezes que eu pude me apresentar com um Fender de primeira geração. Que época, meu! 

 Foto: Ivaldo Cavalcante

   O Tadeu sempre usou a jaqueta preta. Em 2011, eu falei com ele por telefone durante quatro horas, ele em Los Angeles. Eu queria o retorno do Nirvana, mesmo que fosse com outro nome, mas Tadeu não quer. Ele não quer ter lembranças, e me disse que o Nirvana não era nada, e que nunca foi nada. Fiquei triste, pois Fejão sempre foi tudo, não só para a banda, mas para todos que estiveram com ele, e que lutaram por um único propósito na vida, promover a paz através da música. Hoje em dia, eu não estou tocando, mas tenho meu pequeno estúdio, em casa, onde sempre estou compondo e tocando, solitariamente. Quem me deu força para reaparecer foi o meu grande irmão de São Paulo, da cidade de Guarulhos, o Aldo di Julho, ex-vocal da banda Chernobil e ex-empresário dos Mamonas Assassinas. Ele inclusive tem a sua própria produtora em São Paulo. E me reconheceu quando eu estava na África do Sul; igualmente, um baterista de uma banda internacional, que agora não me lembro o nome. Eles me deram força para retornar a compor e trabalhar pela música. Meus pensamentos renascerem, por isso comprei um contrabaixo recuperado, da banda do Jimi Hendrix, avaliado em 30.000 dólares. Recuperei de um libanês em Londres, esse é o valor histórico, e não comercial. Depois, comprei um sax alto, um teclado Yamaha 560 X, com 700 efeitos sonoros. Estou solitário, mas com muita fé na música. Ainda levarei um tempo fora do Brasil, e pretendo retornar nos próximos cinco anos. Meu desejo é reunir a turma no dia 21 de abril, em Brasília, reunir todos para uma grande festa em homenagem ao Fejão. Eu residi, depois do término do Nirvana, no Guará II, na QE 15.”

   Aqui o meu e-mail, para quem quiser entrar em contato: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

   A 5 de maio e em outro show no dia 13 de julho de 1984, foi quando assisti ao guitarrista Fejão no palco... do Rolla Pedra. Nas costas deste convite há um carimbo com a data e rubricado! Tinha que ter uma certa moral para conseguir um destes... “Eu estive neste show... Fiquei emocionado ao ver depois de muitos anos este convite com o ‘Morcegão’ como dizia o Fejão... "O Tadeu sempre usou a jaqueta preta. No ano passado, eu falei com ele por telefone durante quatro horas, ele em Los Angeles. Eu queria o retorno do Nirvana mesmo que fosse com outro nome, mas Tadeu não quer... Ele não quer ter lembranças e me disse que o Nirvana não era nada e nunca foi nada Fiquei triste, pois Fejão sempre foi tudo, não só para a banda, mas para todos que tiveram com ele e lutaram por um único propósito na vida... Promover a paz através da música... Hoje em dia eu não estou tocando, mas tenho meu pequeno estúdio em casa onde sempre estou compondo e tocando solitariamente. Quem me deu força para reaparecer foi o meu grande irmão de São Paulo, da cidade de Guarulhos, o Aldo di Julho, ex-vocal da banda Chernobil e ex-empresário dos Mamonas Assassinas. Ele inclusive tem a sua própria produtora em São Paulo. E me reconheceu quando eu estava na África do Sul, igualmente um baterista de uma banda internacional que agora não me lembro o nome, eles me deram força para retornar a compor e trabalhar pela música. Meus pensamentos renascerem, por isso comprei um contrabaixo recuperado da banda do Jimi Hendrix, avaliado em 30.000 dólares... Recuperei de um libanês em Londres, esse é o valor histórico e não comercial. Depois comprei um sax alto, um teclado Yamaha 560 X, com 700 efeitos sonoros. Ainda estou solitário, mas com muita fé na música. Ainda levarei um tempo fora do Brasil, e pretendo retornar nos próximos cinco anos... Meu desejo é reunir a turma no dia 21 de abril, em Brasília, reunir todos para uma grande festa em homenagem ao Fejão. Eu residi, depois do término do Nirvana, no Guará II, na QE 15”. (Ricardo Matos)

 

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