1984: FANZINE 'SLEEPING VILLAGE SABBATH ROCK CLUB' Nº 5
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SHOWS DE ROCK NESSE VILAREJO ADORMECIDO
texto Mário Pazcheco
Shows de rock nesse vilarejo adormecido
Sempre pensei que show de rock fosse para encontrar os amigos e se divertir, mas aqui nesse cerrado é ao contrário: show de rock é sinal de violência militar e de vandalismo dos maloqueiros e agitadores, que se dizem rockeiros.
Cena um
Em recente concerto do grupo Malas & Bagagens (Rock do Balão, na 405 Sul), só se testemunhou cenas de violência entre espectadores, que jogavam água ou cerveja nos amplificadores. O resultado foi que o amplificador pifou. E o show acabou. Essa violência sempre é um baixo astral, que acontece em qualquer show em Brasília. Foi assim no Estádio do Pelezão, quando Rita Lee se apresentava.
Repetiu-se também nos concertos Rock Way, cujo destaque foi a violência dos seguranças ignorantes, mal-nutridos e certamente pouco remunerados, que desabafam seus recalques em cima dos jovens, inclusive das garotas.
Os PMs também contribuem para isso, acostumados que são no trato com os diversos marginais. E com a subversão eles têm certeza de que os jovens são igualzinhos, e assim mandam ver cassetetes na garotada, que tratam como se fosse uma turba de bandidos agressores, que não são. Então, como resistir a eles, se estão de armas em punho? É desse modo que a repressão se faz presente.
No Teatro de Arena do Cave, a cena se repete
Mel da Terra • Lado A • Guilherme Lassance • Escola de Escândalo • Breakers
9 set. / 1984 – Para o povão, show ao ar livre deveria ser de graça. Como os organizadores podem ter coragem de cobrar 3.000,00 cruzeiros?! Ainda num show com cinco bandas, em que nenhuma se destaca? Sem promoção, sem patrocinador, sem infraestrutura, ninguém consegue nada. O que se viu foram 50 pessoas no Teatro de Arena do Cave. Com certeza, a renda mais baixa de todos os tempos. Contam-se no entanto dez PMs, mais igual número de seguranças, duas dezenas de músicos, fora claro os promotores e seus convidados. A renda total foi de dez pagantes. Os que pularam a cerca não entram nesta conta.
Sempre um inocente vai em cana, ou leva uma garrafada. E nossos pais pagam os impostos, que pagam os PMs, e esses metem a porrada na gente. Os promotores? Ainda escondem esses bastardos.
De repente, eles começaram a cobrir um jovem, e uma garota começou a gritar, desesperada! A turma ficou irritada com eles, e começou a jogar garrafas, a pular e depredar as portas e muros. Em 10 segundos, os PMs partiram para cima da massa de rapazes e moças interessados na festa do rock. Uns assim caem, outros vão para o cubículo. Alguns são coagidos, e há os que se safam, pulam a cerca e desaparecem na noite.
Resultado Negativo
Seria melhor que conjuntos como Mel da Terra, Lado A, Guilherme Lassance, Escola de Escândalo e Breakers pegassem um nível maior de profissionalização, ou então que cumprissem a promessa que fizeram de nunca mais tocar no Guará.
O mais interessante é quando uma banda pequena se apresenta, ou se está na sua primeira apresentação... O som costuma ficar embolado, pouco nítido. Mas quando é a vez de uma mais estruturada, o som fica mixado, equalizado, claro, perfeitamente audível. Será que o operador da mesa de canais e tal banda se mancomunaram? Vocês já perceberam isso nos shows? Para evitar a violência, mas também o prejuízo, não será plausível os concertos serem realizados em teatros fechados, e ainda o concurso de patrocínios?
Nota dissonante: De 3.000,00, o ingresso passou para 1.000,00 cruzeiros!?
Fanzine Sleeping Village Sabbath Rock Club, nº 5 - set. out. nov. 1984