1988: DANIEL MATTOS, GUITARRISTA E PRODUTOR (DEJA-VÙ)
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DANIEL MATTOS, GUITARRISTA E PRODUTOR
1979. Morávamos na QE 34. No conjunto E, conheci "Danny", ainda garoto, em cima da sua bicicleta importada, de cubos de alumínio. Ele era atazanado por seu vizinho Zenas de Oliveira. Daniel Mattos era um grande colecionador de gibis Disney, e começava a montar uma coleção de super-heróis. O que ele não sabe, até hoje, é que os gibis Heróis da TV que completavam a sua coleção haviam sido surrupiados da minha, tomados emprestados por Alexandre. Ora, eles nunca me foram devolvidos, mas trocados com Daniel. Bem, desde aqueles dias, e até hoje, impossível oferecer resistência a Alexandre Luthor, sem uma alta dose de Doril...
Passou algum tempo... e o colecionador voraz de gibis mirou o heavy metal. Primeiro o Kiss, depois o Ozzy.
Los Angeles – 13 de janeiro de 1984
Caras, vocês não vão acreditar no que vem acontecendo com a gente aqui!
Primeiro foi o cancelamento do voo, por constatarem que o combustível vazava pela asa do avião. Isso ocorreu no Galeão, quando o avião já estava na cabeceira da pista, pronto para levantar voo. Nos atrasamos duas horas.
O segundo imprevisto foi já no aeroporto dos Estados Unidos, quando uma panaca de uma mulher viu que minha camisa tinha escrituras em inglês, e pensou que eu morava aqui. Aí foi a maior confusão. Nós fomos revistados, e tivemos que provar que a roupa era feita no Brasil.
Passado o susto, nós fomos olhar a cidade, e aí, velho(s), eu resolvi entrar numa loja de discos. Caras, por pouco, não caí para trás de tanta coisa. Comprei os a seguir:
Tam, tam, tam!!!
1) Picture disc do Piece of mind (Iron Maiden);
2) I (Scorpions):
3) Live in Japan (Judas Priest);
4) Sabotage (Black Sabbath – com a parte de trás colorida).
Colaborador
Na sua estante, um oceano de informações, as revistas importadas Circus e Hit Parader, novinhas, preservadas no plástico. Nelas eu pescava as últimas pro zine.
A secretária do seu pai traduzia livros como Black Sabbath (Chris Welch), ou Led Zeppelin in the light. Seu pai, advogado, tirava recortes sobre músicas dos jornais cariocas, e cuidadosamente os datava. Acabei por herdá-los.
Na sua sala, vi quase todos os filmes de rock, e vídeos musicais, disponíveis na década de oitenta. Material importado, do melhor.
Por suas mãos passaram gerações de amplificadores, e guitarras, e pedais. Foi a primeira vez que segurei uma Gibson Flying V. Na guitarra, ele incansavelmente praticava o seu objetivo, ser um ás. Uma de suas influências marcantes era o blues, e o guitarrista B. B. King, que viu algumas vezes em São Paulo. Acho que gostava também de Vinnie Vincent, Randy Rhoads era seu deus, e algumas vezes ficava tocando a introdução de "Mr. Crowley" num tecladinho. Do tempo do ronca. Longos blues improvisados com o também guitarrista Julho “Page”. Até hoje não sei se Daniel é autodidata, ou se estudou onde, ou com quem. Parece que ele superava os professores que encontrava.
De colecionador para apresentador de programa de rádio de rock, para os palcos, para os estúdios: “Além de levar os discos e produzir as informações, querem agora que eu arrume patrocínio...”
Daniel Mattos, guitarrista-solo, primeiro à esquerda
A Deja Vù era um quinteto heavy metal clássico, que mesclava covers com suas próprias composições, em inglês.
Tocaram no Rock Verão II, do Bom Demais, ao lado dos grupos Flammea e Volkana. Fizeram o maior sucesso.
Em março, tocaram no primeiro concerto de 1989, no Gran Circo Lar. Participaram do Sábado Negro Parte II, da Mosh Produtora, que reuniu também as bandas Terminator, de Goiânia, e Mutilator, de Belo Horizonte.
Na calada da noite, no Briva's Bar, ou no Quiosque do Sinval, o cervejista Daniel Mattos acompanha o seu time da estrela solitária. Se a partida vai bem, ele se empolga. Caso contrário, vai embora: “Não foi uma boa noite.”
Sua dúvida crucial é tocar! No final da década de 80, Daniel quase foi atropelado por um containner, de lixo, empurrado rampa abaixo do Teatro Garagem. As grades de proteção na entrada da bilheteria ficaram retorcidas.
Anos depois, no Guará, na rua do supermercado na QE 13, Daniel não conseguiu se desviar do desatento motorista de uma Kombi. O carro acertou-o no braço, o membro mais importante da sua vida, naquele momento, e o impediu de tocar. Era através da música que ele buscava a saída das armadilhas que a vida lhe propunha. Pretendia se mudar de casa.
Daniel Mattos voltou tocando menos e compondo mais, de técnico de estúdio a produtor de respeitáveis discos de heavy metal gravados em Brasília. Particularmente no Zen Studio, onde trabalhou. – Um de seus métodos era conhecer uma amostra do tipo de som que os grupos queriam soar... Ele analisava, e respondia que conseguiria tal resultado, de tantos por cento daquilo. Ele não se enganava. Sempre teve os pés no chão, mesmo vestido no traje da NASA.
Ético até os dentes, evitava comentários do showbusiness. Um de seus rápidos comentários me deixou chapado: “Você não sabe do que esses caras são capazes para chegar lá.” Sabendo de quem ele falava, você poderia imaginar o tipo de favor cobrado, concedido.
Daniel Mattos no centro, na gráfica do Correio Braziliense
Despedíamo-nos com um "você vai voltar a tocar"... E voltou. Está legal. Mais brutal.