Entrevista: Toninho Buda, Músico Que Participou Do Documentário ‘Raul – O Início, O Fim E O Meio’ (2012)

 

 
Toninho Buda, músico que participou do documentário ‘Raul – O início, o fim e o meio’
POR BRUNO CALIXTO

18 abr. / 2012 - Lamentando que muitos jovens pensem que, para ser fã do Raul Seixas, é preciso estar sempre com um copo de bebida na mão e embriagado de qualquer porcaria, o músico local Toninho Buda tem o seu próprio conceito sobre a metamorfose ambulante do rock. O Raul, ao jeito dele, desprezou profundamente o aspecto escravagista e dominador da nossa sociedade, que faz com que todas as pessoas se transformem em meros consumidores, destacou Buda, durante bate-papo com a Tribuna. Ele falou sobre sua participação no documentário Raul – O início, o fim e o meio, em cartaz pela terceira semana em Juiz de Fora, e as idiossincrasias que o mantinham ligado ao ídolo da contracultura.

Tribuna de Minas – Quanto à discussão no Facebook sobre a polêmica participação de Paulo Coelho no filme, o que pensa sobre? Houve um racha na amizade ou não?

Toninho Buda - A relação Raul Seixas versus Paulo Coelho sempre foi um ponto polêmico dentro da sociedade alternativa. O Paulo sempre disse, inclusive, que eles eram inimigos íntimos, e isso ficou muito claro no último encontro deles, no show do Raul no Canecão, em 1989, que aparece muito bem documentado no filme. De minha parte, lamento profundamente essa ruptura entre os dois, mas sempre fiquei do lado de Raul Seixas. Eu sempre denunciei o aparente arrependimento do Paulo, a partir de 1989 (logo após a morte do Raul), que renegou a contracultura para fazer um discurso mergulhado no catecismo mais rasteiro do cristianismo, inclusive rotulando a obra do antigo parceiro de magia negra. O Paulo pode ser muito esperto, mas se existe alguém autêntico e verdadeiro na cultura desse país, esse alguém foi Raul Seixas.

- Quem te convocou para a produção? Como foi o contato com Walter Carvalho?

- Quem me indicou para o filme foi a Kika Seixas (ex-mulher do Raul e mãe de uma de suas filhas). E levei comigo o Euclydes Lacerda de Almeida, que havia sido instrutor do Raul Seixas e Paulo Coelho dentro da temida ordem secreta O.T.O. Foi ótimo, porque o Euclydes nunca havia aparecido em público antes e resolveu falar porque fui eu quem pediu a ele que fizesse este depoimento para a posteridade (por sinal, ele morreu alguns meses depois). Mas o início não foi fácil, pois o Walter Carvalho ficou extremamente assustado com tudo o que nós falamos.


- Ninguém achou pesado não?

- Ele disse, inclusive, que nada daquilo poderia ser colocado no filme, porque ele não queria falar de coisas tão pesadas e estranhas (como magia, esoterismo, bodes, e principalmente de um tal Aleister Crowley, que se dizia a Besta 666!). Mas os meses se passaram e finalmente a ficha caiu para o diretor, principalmente a partir da entrevista com Paulo Coelho, na Suíça. Lá ele percebeu que nós estávamos falando a verdade e que aquilo tudo tinha uma profunda importância na obra de Raul Seixas. Tanto é que no próprio cartaz do filme está escrito Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei, que é a frase principal da obra da tal Besta 666, que Raul utilizava nos shows. E isto aparece fartamente documentado no filme. Eu – orgulhosamente – me sinto responsável por aquela frase estar lá no cartaz, apesar disso irritar muita gente, pois tem uma turminha que quer apagar essas coisas estranhas da vida e obra do Raul.

- O que as pessoas têm dito sobre sua participação para lá de esotérica no documentário?

- Bem, a minha participação no documentário do Raul Seixas é a mais polêmica e chocante, pois a produção do filme ficou apaixonada pelo meu filme Contatos imediatos do IV Graal, feito em Juiz de Fora em 1979 e ganhador do primeiro Festival de Cinema Super/8 da cidade (quem fez o Festival foi o grande cineasta Décio Lopes, que morreu há semanas). Este filme é uma crítica feroz à sociedade convencional e é o único de propaganda da sociedade alternativa que existe. Ele ridiculariza todo tipo de religião e também todo tipo de misticismo e bruxaria. As cenas mais fortes foram colocadas no documentário do Raul e estão sendo interpretadas como magia negra, o que é um grande engano, porque as cenas são exatamente de ridicularizarão dessas práticas. No entanto, como nosso objetivo era chocar as pessoas, hoje eu fico feliz com o fato de isto estar acontecendo a nível nacional. Toda pessoa que produz uma obra de arte quer que ela seja vista e produza impacto. Em 1979, eu jamais poderia esperar uma repercussão tão grande. Tive que esperar 33 anos para ver isso acontecendo.Aliás, 33 é a idade daquele rapaz (risos). Deixa para lá.

- Sei que o contato com Paulo Coelho e Raul passou por aqui…

- No final dos anos 70 e início dos 80, nós tínhamos um restaurante macrobiótico em Juiz de Fora, que era um dos núcleos alternativos da cidade. Lá se encontravam todas as correntes da contracultura, tanto de medicina alternativa, quanto das religiões alternativas, alimentações alternativas, cerveja natural, danças eróticas, terapias alternativas, ou seja, viajantes de todas as naves e gente disposta a experimentar de tudo nessa vida. Raul Seixas e Paulo Coelho eram expoentes desses movimentos todos. Eu conheci Paulo num encontro alternativo no Rio em 1981 e, em 1983, nós trouxemos Raul Seixas e Erasmo Carlos à Manchester Mineira, para cantar no primeiro Festival de Rock de Juiz de Fora, numa sexta-feira 13, com lua cheia no céu.

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- Imagino o que vocês não aprontaram…

- Lá pelas 3h (da madrugada) foram vistos gnomos, duendes e ogros andando no meio da plateia, mas ninguém ligava. No festival, eu estava com uma batina de padre e cantei várias músicas com o Raul (as fotos são históricas e foram feitas pelo Humberto Nicoline). O festival provocou um alvoroço tão grande que foi alvo de protestos intensos na imprensa local, protestos esses feitos pelas agremiações religiosas e pessoas defensoras dos bons costumes.

- O que pretende agora com o sucesso do documentário?

- Hoje eu sou um pacato professor de educação física que trabalha na Secretaria de Esporte e Lazer e acabo de defender meu mestrado pela UFJF. Minha vida continua sendo alternativa, porque eu sempre defendo prioritariamente métodos naturais de cura, recuperação e modo de vida das pessoas. Por outro lado, continuo falando desta fantástica história da contracultura no Brasil e meu próximo compromisso é fazer uma palestra no mês que vem sobre a vida e obra de Raul Seixas, no Salão do Livro de Guarulhos, em São Paulo. O convite veio do fato de que tenho três livros escritos sobre o Maluco Beleza. Mas tem outras coisas também. Por exemplo, como desde 1990 eu costumo fazer shows cantando músicas do Raul, tem sempre alguém me chamando para dar uma canja em botequins, festa de aniversário, quermesse e festa junina aqui e ali. E assim eu vou levando, do jeito como o próprio Raul diz numa canção. Não sei onde eu tô indo, mas sei que eu tô no meu caminho! Enquanto você me critica, eu tô no meu caminho! E se você quiser contar comigo é melhor não me chamar prá jogar bola… eu tô quebrando o muro com o Zezinho no fundo do quintal da escola…

 

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