ROCK DO BRASIL DOS ANOS 70 É REVIGORADO PELOS RELANÇAMENTOS DE 'SNEGS' E 'LOKI?'
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Rock do Brasil dos anos 70 têm relançamentos de 'Snegs' e 'Loki?'
"Uiah! e nós já tínhamos feito isso 30 anos atrás."
(Luiz Carlos Calanca, produtor fundador barra legal do selo paulista Baratos Afins)
Sim, sim - alguém tinha que trazer a pedra filosofal à tona só que agora esse aspecto de remasterização digital direto das fitas originais ganha forma e podemos reouvir reexistir através das nossas obras primas musicais, digo que são várias como as dos ingleses dos americanos e mundiais (claro que também refiro às da MPB) - forte abraço Kalanca, el guerrillero
por Mário Pazcheco
Fotos da sesssão da capa do Loki? por Leila Lisboa
21 mai. / 2017 - Loki? é o disco que mais me provoca estranheza até hoje, ouví-lo me amedronta, me maravilha de noite ou dia eu o ouço em mês sim e não
Em 1978, eu era et em relação a Arnaldo Baptista, eu nem sabia que ele existia mas sabia que o amava. Para mim, Os Mutantes eram aqueles meninos paulistas alegres fãs dos Beatles e só isso, claro que conhecia a saga de "Caminhante Noturno". Na Abril Cultural naquele disquinho de 10 polegadas lemos alguma coisa com mais consistência sobre os Mutantes escrito pelo Ezequiel Neves. Em 1978 as coisas escritas sobre eles estavam ralas e raras. NUm primeiro momento em observação pessoal achei que Ezequiel Neves não gostava de Arnaldo Baptista, anos depois na tevê Ezequiel falou com saudosismo de Arnaldo: "ele agora vive em Juiz de Fora, terra de Itamar".
Mutações de um ídolo imortal
Em julho de 1974, saiu na imprensa pela primeira vez o nome do novo grupo de Arnaldo, a Patrulha do Espaço depois de Space Patrol e um pouco antes Arnaldo e os Cometas mas o que vingou foi Patrulha do Espaço...
"Arnaldo era o próprio cowboy, sabe? Se vestia de country, bota e aquelas coisas." (Roberto Menescal).
"Ele era aquele cara que se achava um ídolo mundial que ninguém no mundo chegava perto do que ele fazia." (Marco Mazzola)
"Quem não se lembra dos gigantescos shows dos Mutantes de Serginho no Teatro Bandeirantes na avenida Brigadeiro Luís Antônio? E quem não se lembra das participações especiais de um cara esquisito que entrava vestido de cowboy e ficava tocando piano e cantando umas letras não menos esquisitas, e que era vaiado por pelo menos metade do público? Pois é, este era o Arnaldo." (revista bizz, n. 20? estou cego
Texto de rememorais sem recorrer a artigos e o preciosismo de datas
Geralmente os discos de rock nacional levavam 50 horas para serem gravados, Loki? bateu um recorde foi gravado em apenas seis horas...
"Não é tecnicamente perfeita [a gravação], foi muito espontânea. Fica claro que se priorizou mais as performances do que o apuro, a perfeição. É muito ele mesmo (...) Pegamos a fita original da mixagem do disco e foi muito interessante. Não estava na ordem, a gente teve que montar, mas tinha ainda os comentários do Arnaldo, anotações nas faixas" (Ricardo Garcia engenheiro de som no relançamento de Loki? Em 180 gramas).
"'Te Amo, Podes Crer', uma balada de amour fou, encarna o pranto de um abandonado que revela: 'Dentro de algum tempo eu paro de tocar/espero o apocalipse de então eu te encontrar', um verso que resumiria profeticamente seu futuro." (Fernando Naporano in Discoteca Básica da Revista Bizz – Edição 43 de Fevereiro de 1989.)
Arnaldo a divulgar o LP Loki? (1975). Deu no tabloide Hit-Pop que Arnaldo de agora em diante só tocaria bateria e ponto. É a primeira vez que essa foto aparece sem corte. Outra foto com esse corte de cabelo foi perdida quando colei uma matéria dos Beatles, ainda sonho com a foto!
Rita Lee Songbook Vol. 1 por Almir Chediak
Rita Lee teria se apresentou com os Mutantes em 1974? O milionário espetáculo do Tutti-Frutti seria dividido com os Mutantes no Tijuca Tenis Clube (RJ) e no programa estava a rápida e única apresentação de Rita com os Mutantes que estavam se despedindo da produção da empresária Mônica Lisboa...
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Feitas as pazes no final de 1974, Rita Lee participou do Loki?
Disseram que Arnaldo não gostou do título Loki - Décadas depois saiu na coluna social no jornal paulista que Arnaldo queria entrar para o Tutti-Frutti tocando teclados. Zé Brasil, baterista e membro relembrou que as canções de Loki? Foram formatas ainda na Space Patrol. O único membro da Space Patrol a gravar no Loki? foi o falecido contrabaixista Sérgio Kaffa em 'Desculpe'. Na capa de Loki? o suposto revolver é um esguicho pistola d'água para bebidas
Aniversário de São Paulo a 25 jan. / 1974. À esquerda em meia-face, Kokinho, futuro baixista da
Patrulha do Espaço, no palco, Arnaldo, Zé Brasil e Marcelo Aranha
Foto: Sue Cunningham
Patrulha do Espaço e o Rock da Cantareira
Por Zé BRasil
Resisti até hoje mas, nesta manhã de domingo paulistano, depois do sabiá residente cantar pra mim e ficar olhando na minha cara, não dá mais. A única ligação que existe entre a Patrulha do Espaço e o Rock da Cantareira (denominação que resultou do mágico encontro entre os meninos da zona norte com o Zé BRasil, este ‘mad old school rock'n'roller’ da zona sul, em pleno século XXI) é a origem bastarda dela, batizada pelo Alan Kraus como Space Patrol. Tanto meu compadre Rolando Castelo Júnior, que herdou o nome e a missão patrulheira do fundador Loki? Baptista, como meu saudoso amigo Kokinho, sempre omitiram essa origem talvez por vergonha da mãe solteira. Mas a Space Patrol foi um grande início e um grande conjunto apesar de ter durado pouco. Dois grandes resultados (sem falar do Apokalypsis grupo que surgiu durante os ensaios na Serra da Cantareira) atestam minha afirmação: o memorável Show de Aniversário de São Paulo no Parque do Ibirapuera em janeiro de 1974 e o antológico/genial disco Loki?, que de longe é a obra-prima do Mutante Arnaldo Dias Baptista e que foi formatado exaustivamente pelos fundadores da Space Patrol (Arnaldo Baptista, Marcelo Aranha e Zé BRasil).
Doze momentos de quem viveu ou curte os 70s
por Antônio Celso Barbieri – Memórias do Rock Brasileiro
Um... Teatro Aquarius. É o aniversário da morte de Jimi Hendrix com vários artistas convidados. No palco quatro baterias montadas, me lembro do baterista do Mona. Tony Osanah sola emocionadamente, cada vez mais intenso e próximo de atingir o pico, o cabo da guitarra que é curto despluga-se do amplificador. Tony Osanah perde o controle e joga sua guitarra longe ao mesmo tempo que também se joga atrás dela esborrachando-se no chão. Ele permanece caído e nós de boca aberta, sem saber o que fazer ou falar... foi triste e chocante...
Dois... Teatro São Pedro, acho que foi no show do Mona. O vocalista usa o microfone como um pênis e faz gestos eróticos, ele é preso ali mesmo. Era a ditadura militar e “os homens” por todo lugar procuravam uma desculpa para prender os artistas e o povo em geral. Antes do show foi colocado na frente do palco, no chão, um gravador de rolo ligado direto na mesa de som. De cara, tocaram dois sons que eu jamais havia ouvido. Os primeiros acordes de “Roundabout” executados pelo Yes tirado do álbum Fragile e o segundo “School’s Out” por Alice Cooper em seu álbum homônimo. No outro dia no Museu do Disco, eu comprei os dois álbuns importados porque os mesmos ainda aguardavam seus lançamentos no Brasil;
Três... Colégio Equipe na Caio Prado. Show dos Novos Baianos. Dentro do colégio entra um buggy dirigido por Arnaldo Baptista com a Rita Lee ao lado. Eu era apaixonado por ela. Rita era a minha Yoko. Para mim foi mais emocionante do que o show dos Novos Baianos que nunca era rock como eu queria. Bom, os Novos Baianos também tinham uma gatinha interessante;
Quatro... Parque do Ibirapuera, Made in Brazil com Cornelius no vocal juntos a uma ala de percussionistas de escola de samba executam “Sympathy for the Devil” dos Stones. Histórico!
Cinco... TUCA, Mutantes - No meio do show atrás do palco, as pessoas começam a atirar pratinhos de papelão na plateia que adere à brincadeira e devolvem-nos de volta, uns nos outros. O efeito das luzes estroboscópicas é fabuloso, parece uma invasão de discos voadores. Usei essa ideia anos depois, num show da Avenger, uma das primeiras bandas paulistas de heavy metal que eu empresariei e produzi seus shows;
Seis... Bom Retiro, 1972, Minha primeira produção - O Show que Não Tem Preço, Pague-nos Com a Sua Presença. Apresentaram-se os grupos John, Duda (Neves), Palhinha e Marcão + US Mail (com Percy nos vocais) além de uma banda chamada Canabis. Deu o maior rolo porque o show não havia sido liberado. A polícia chegou e eu tive que me esconder no teto do palco perto dos holofotes. Gravei o show e emprestei a fita para o Duda Neves outra fita jamais devolvida... que pena!
Sete... Teatro 13 de maio no Bexiga. Show do grupo Dzi Croquettes com o genial bailarino Lennie Dale no comando. Eu assisti várias vezes. Não perdia o Band 13 na TV Bandeirantes só para ver a introdução. Me matriculei numa escola de balé, mas, não aguentei a viadagem reinante. Naquela época para aprender jazz e sapateado você tinha que passar primeiro pelo balé clássico. Eu acabei mesmo aprendendo expressão corporal foi com Joe Cocker no filme Woodstock.
Oito... Ibirapuera. É tarde da noite e o concerto sofre uma pausa no som, tipo intervalo para o público dar uma cochilada. A madrugada rola e o dia começa a raiar e o Som Nosso de Cada Dia com Manito detonam em “O Guarani”. Que jeito maravilhoso de começar o dia. Inesquecível!
Meu irmão tinha um gravador cassete Phillips estéreo. O bicho era elétrico e não funcionava com pilhas. Levei uma extensão enorme fui no técnico de som e pedi para ele uma saída elétrica. O cara na maior gentileza do mundo me arrumou uma tomada. Ele era o Léo Wolf. Não existe mais gente assim sem frescura. Todo mundo fica preocupado com direito autoral e cheio de ego. Gravei umas cinco fitas que fiz a besteira de emprestar para o Magnólio. Ele nunca mais me devolveu...
Nove... Teatro Municipal. Mutantes e Terço. Comprei ingresso na primeira fileira, no meio na frente do palco para todos os dias. Foi ótimo!
Dez... Parque do Ibirapuera, atrás do palco vejo o Sérgio Dias Baptista com uma latinha Singer passando óleo nas cordas da guitarra. Isto me soou como uma revelação;
Onze... Teatro Porto Seguro próximo a Rua José Paulino no Bom Retiro. A Patrulha do Espaço termina de executar uma música e alguém grita: “Toca Novos Baianos!”. O Júnior imediatamente grita: “Quer Novos Baianos? Vá lá para a Bahia!”;
Doze... Júnior baterista da Patrulha do Espaço, chega à Baratos Afins, loja de discos e um dos clientes olha para ele e solta a bomba: “O seu guitarrista já aprendeu a tocar?” (referia-se ao falecido Dudu). Júnior pergunta: “Você toca algum instrumento?”. O cara nem termina de balançar a cabeça negativamente e já leva uma rasteira acompanhada do famoso: “Vá tomar no meio do seu cu!”.
Mais...
+ Circa de 1971, os Mutantes estavam sendo entrevistados por Nelsinho Motta na tevê ao perguntar se eles curtiam alguma coisa da antiga. "Um dos gêmeos" respondeu vagamente que não. No outro dia, crônicas analisavam a resposta citando até influência do imperialismo...
+ Não sabíamos que os Mutantes gostavam tanto de cães - o álbum Mutantes no País do Bauretz foi lançado numa feira paulista de cães numa tarde de sábado de abril em 1972. Este lançamento foi bastante comentado...
+ "Mande um Abraço para Zélia" teve que mudar seu nome, não se sabe por pressão da censura ou da produção do FIC...
+ Alguma coisa aconteceu no FIC de 1972 e os Mutantes resolveram não mais se apresentar em locais fechados "afinal eles tinham a própria aparelhagem" e seu caminhão. Parte da plateia alegava que eles estavam tirando sarro em cima dele com "Mande um Abraço pra velha" e a outra parte do público curtiu a apresentação. Os Mutantes levaram meia hora para afinarem os instrumentos e repetiram a canção várias vezes...
+ Para fazer o álbum ao vivo dos Mutantes foram gravados oito concertos. As 20 horas de gravação viraram os 30 minutos do disco. Não me pergunte se tem o dedo do dono da gravadora, o Guto Graça...
+ Os Mutantes foram recebidos com coletiva e espaço na televisão italiana, porém ao ouvirem os discos comentaram que existiam uma centena de grupos lá com a mesma sonoridade e que esperavam algo mais brasileiro. O grupo começou a ensaiar um novo material com homenagem a Chico Buarque. No Brasil comentaram que eles só deram ouvidos às críticas somente quando foram publicadas em italiano. Mário Buonfilgio era o empresário a frente...
Senti no pescoço as marteladas do CD 'Snegs'
Foi o que eu senti da audição do CD Snegs claro que meus sentidos estavam alterados
Porém interrompi a narrativa, pois estou a fim de que o baterista Tiago Rabelo também partilhe observações sobre a atualização do Som Nosso de Cada Dia - na mais pura sinestesia senti que o contrabaixo de Sérgio Kaffa e o de Pedro Baldanza oscilavam nos mesmos graves no potenciômetro
Serviço: CD Snegs - cortesia de PSICOBR.COM.BR / Facebook